Capitulo 26
O vento cortante da noite trouxe um arrepio à pele de Gabriela enquanto ela se afastava da delegacia. A tensão em seu corpo não vinha apenas do caso, mas de algo mais profundo. Algo entre ela e Olívia, que parecia crescer a cada dia. O caso estava se tornando cada vez mais pessoal, e, de alguma forma, isso complicava tudo. Ela olhou por cima do ombro, mas não viu Olívia. Elas haviam se separado na delegacia, e Gabriela agora estava sozinha com seus pensamentos.
O som de passos fez seu coração bater mais rápido, e ao se virar, viu Lucas se aproximando. Seu sorriso tranquilo contrastava com a seriedade do momento, mas Gabriela não conseguia se desarmar. Ele sempre soubera como aliviar a tensão, mas agora parecia difícil confiar nisso.
"Ei, tudo bem? Parece que o dia foi tenso", Lucas disse, com um tom suave, seus olhos observando cada movimento dela.
Gabriela forçou um sorriso, mas não era suficiente para esconder a apreensão que sentia. "Só mais um dia difícil", ela respondeu, tentando manter a leveza na voz.
Lucas a analisou por um instante, percebendo a tensão que ela tentava esconder. "Você não me parece convencida", disse ele com uma pitada de preocupação, sua postura mais séria agora. "Quer falar sobre isso?"
Gabriela hesitou, as palavras estavam pesadas demais para serem ditas. Ela queria falar, mas sabia que não era o momento certo. "Não é sobre o trabalho, Lucas. É... complicado."
Ela olhou para a delegacia, onde Olívia ainda estava. O peso do caso não resolvido, a sensação constante de ser observada pela mulher, a maneira como os olhos de Olívia pareciam penetrar em sua alma, tudo isso estava criando um nó no estômago de Gabriela. Ela queria se afastar, mas sabia que não seria tão fácil.
Lucas, percebendo a direção do olhar de Gabriela, deu um passo à frente. "Se quiser, posso dar uma volta com você. Só para clarear a cabeça."
"Eu aprecio isso", Gabriela respondeu, com um sorriso forçado. "Mas... eu só preciso de um tempo sozinha."
"Entendo", Lucas disse, com um olhar compreensivo. "Mas lembre-se, estou por aqui. Sempre que precisar de alguém."
Ele deu um passo atrás, mas antes que se afastasse, franziu a testa, sua expressão mais grave agora. "Só tome cuidado, Gabriela. Nem tudo é o que parece por aqui."
Ela não teve tempo de processar suas palavras antes que o som de um toque de celular cortasse o ar. Uma mensagem urgente que rapidamente a trouxe de volta à realidade. Sem hesitar, ela olhou para Lucas e, em seguida, os dois correram em direção ao som das sirenes.
Quando chegaram à cena do crime, a tensão no ar era palpável. Ricardo estava lá, parado em frente ao prédio, sua expressão grave como nunca. Ao ver Gabriela e Lucas se aproximando, ele não precisou dizer mais nada. O olhar em seu rosto dizia tudo.
"Temos um problema", disse Ricardo, com um tom baixo e pesado. "Encontraram o corpo de uma mulher. A mesma coisa, o mesmo modus operandi... a mesma violência."
Gabriela sentiu o estômago revirar. A sensação de déjà vu foi esmagadora. O caso não resolvido de anos atrás estava voltando à tona, e parecia que as coisas estavam muito mais perigosas do que imaginava. Cada detalhe estava se conectando, e ela sabia que algo maior estava em jogo agora.
Enquanto se aproximava da cena do crime, Gabriela sentiu uma presença. Era como se o ar ao redor ficasse denso, carregado. Ela olhou ao redor, e então, entre a multidão de policiais e investigadores, viu Olívia. Sua postura rígida, os olhos fixos na cena, como se a dor da lembrança do caso de anos atrás ainda estivesse viva nela. A presença de Olívia parecia dominar o local, como uma sombra que não podia ser ignorada.
Fernanda estava ali também, mas, ao contrário de sua habitual atitude irreverente, ela estava quieta, o rosto sério. Gabriela percebeu que, se Fernanda estava calada, isso só mostrava o quanto a situação era grave. Algo não estava certo, e todos sentiam isso. Olívia olhou para ela por um instante, e o olhar, embora carregado de frieza, não disfarçava o peso do que as duas estavam enfrentando.
As palavras de Lucas voltaram à mente de Gabriela: "Nem tudo é o que parece." Ele estava certo. Eles estavam em um jogo muito mais perigoso agora. O caso não era mais apenas uma investigação. Era uma batalha com forças que não podiam ser completamente compreendidas.
Quando Gabriela olhou para Olívia mais uma vez, algo a fez hesitar. Era uma sensação estranha, como se a tensão entre elas fosse mais do que apenas o caso. O modo como Olívia se mantinha à distância, como se quisesse estar em controle, mas ao mesmo tempo visivelmente perturbada... algo estava acontecendo. Gabriela não sabia o que exatamente, mas podia sentir que o perigo estava prestes a explodir, e ela não poderia escapar dele.
Fernanda se aproximou delas, interrompendo o momento de silêncio. "Esse caso está ficando fora de controle, não é?" Ela disse, com um tom sério.
Gabriela olhou para Olívia, esperando uma resposta, mas nada foi dito. O olhar de Olívia apenas indicava que ela estava tão imersa na investigação quanto todos os outros. Mas, ao olhar para Gabriela, algo mais parecia passar entre elas. Algo não dito. Algo que apenas o tempo revelaria.
A noite estava apenas começando, mas Gabriela sabia que, naquele momento, nada mais seria o mesmo. O caso, a cidade, a tensão com Olívia, tudo estava prestes a mudar. E ela não sabia o que estava por vir, mas sentia que, com cada passo que dava, o perigo se aproximava cada vez mais.
O silêncio voltou a se instaurar entre elas, e Gabriela sentiu a tensão, agora mais palpável, se alastrar pelo ambiente. Olívia, apesar de sua postura fria e imperturbável, parecia carregar um peso invisível. Gabriela, por mais que tentasse se concentrar no caso, não conseguia deixar de pensar naqueles momentos fugazes de vulnerabilidade que haviam escapado de Olívia. Era como se houvesse mais do que apenas o trabalho entre elas, mas ela não sabia o que era, e isso a fazia se sentir ainda mais desconfortável.
Olívia finalmente se afastou da mesa, seus passos ecoando na sala. "Vou revisar os depoimentos da outra testemunha. Não queremos deixar passar nada." Ela falou com firmeza, como se voltasse ao papel de líder, mas havia algo de diferente na maneira como suas palavras se caíam no ar, algo que Gabriela não soubera identificar.
"Ok," Gabriela respondeu, sua voz mais baixa do que gostaria. Ela não queria dar a impressão de que estava preocupada com algo além do caso, mas sabia que não podia mentir para si mesma. Havia uma conexão crescente entre elas, e isso parecia mais complicado do que qualquer assassinato.
Olívia saiu da sala, e Gabriela permaneceu ali, olhando para os papéis espalhados sobre a mesa. O caso de 2010 parecia cada vez mais emaranhado, mas agora, de alguma forma, ela sentia que o maior desafio seria lidar com o que se passava dentro de si. O que ela sentia por Olívia? Aquelas palavras de Olívia, a suavidade no tom, as trocas de olhares... Gabriela não sabia, mas sabia que, ao contrário de antes, agora não podia mais ignorar.
As horas passaram, e Gabriela se viu presa entre o desejo de resolver o caso e a necessidade de entender o que estava acontecendo com ela. Cada página virada parecia revelar mais do mistério da investigação, mas também parecia aprofundar ainda mais o mistério dentro de si. Ela não conseguia escapar de seus próprios sentimentos, e isso a estava consumindo tanto quanto o caso.
Quando a porta se abriu novamente, Gabriela levantou a cabeça, quase automaticamente, esperando ver Olívia entrar novamente. Mas era Lucas, com um sorriso descontraído e o semblante mais leve. "E aí, Gabi, tudo certo por aqui?" Ele perguntou, sem perceber a tensão que ainda pairava no ar.
Gabriela sorriu de volta, tentando se distrair. "Sim, só tentando fazer sentido de tudo isso," ela respondeu, pegando mais alguns papéis. Lucas percebeu a mudança no clima, mas não comentou, talvez por respeito ao espaço que ela estava tentando criar para si mesma.
"Bom, o pessoal está voltando de jantar, já devem estar aqui logo. Acho que é hora de uma pausa, né? Vai me dizer que você ainda não foi comer?" Lucas tentou arrancar uma risada de Gabriela, mas ela não estava realmente presente no momento. Sua mente ainda estava distante, perdida entre as peças do quebra-cabeça, tanto o do assassinato quanto o da relação que crescia entre ela e Olívia.
"Talvez daqui a pouco," Gabriela respondeu, sorrindo para ele de maneira forçada. Ela queria mais do que uma pausa. Ela queria respostas.
Enquanto Lucas saia, Gabriela voltou seu olhar para a porta, como se esperasse que Olívia entrasse de novo. Mas ninguém apareceu. Ela se sentiu estranha, como se estivesse dividida entre o que queria e o que deveria fazer. O caso ainda era importante, claro, mas agora tudo parecia entrelaçado com algo mais profundo e inexplorado. Ela olhou para o relógio, observando as horas passarem lentamente.
Fim do capítulo
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