Capitulo 24
O sol estava baixo no horizonte quando Gabriela entrou na sala de conferências da delegacia, sentindo o peso do ar. Ela se sentou ao lado de Olívia, que estava com os braços cruzados, atenta aos detalhes de uma nova investigação que surgira de repente: um assassinato brutal, que parecia ser uma repetição de outro caso não resolvido ocorrido há anos.
Hugo, o chefe, estava em pé, observando as fotos da nova vítima. Seu rosto estava grave, e o peso da situação era claro. "O caso de 2010," ele disse, virando-se para a equipe, "esse assassinato tem todas as características de um caso antigo que nunca conseguimos resolver. Uma mulher jovem, estrangulada, com um padrão de violência semelhante. Não podemos ignorar a conexão. Alguém decidiu reabrir a ferida."
Gabriela olhou para as fotos, a expressão distante. Não era apenas o caso de uma morte sem explicação, mas o peso de algo não resolvido, de um mistério que se arrastava pela cidade. A mulher morta, naquela vez, tinha sido a filha de um empresário local. Ela era conhecida por sua beleza e pela vida aparentemente perfeita. O caso jamais foi esclarecido, e, embora a polícia tenha seguido diversas pistas, nada levou a uma conclusão concreta.
Olívia se inclinou para frente, absorvendo cada detalhe das fotos. A raiva que sentia pelo caso antigo, pela frustração de não ter resolvido, começava a ressurgir. Ela sabia que a dor de um crime não resolvido era algo que se entranhava nas pessoas, mas ela não esperava que a dor voltasse tão rapidamente. Ela olhou para Gabriela, sem dizer nada, mas seu olhar foi o suficiente para que Gabriela soubesse que as coisas estavam prestes a mudar.
Lucas estava sentado à mesa, distraído como sempre, mas dessa vez parecia mais atento ao clima pesado da sala. Ele olhou para Gabriela e, depois, para Olívia, notando a troca silenciosa de olhares. Não gostava de como as duas se evitavam, mas também não entendia a tensão que existia entre elas.
"Então, temos um novo assassino ou um assassino antigo?" Lucas perguntou, tentando quebrar a tensão. "E qual é o nosso próximo passo?"
Hugo olhou para todos. "Precisamos investigar o passado. Precisamos rever cada detalhe daquele caso. Talvez a resposta esteja nas pessoas envolvidas, nas testemunhas. Vamos começar com as famílias, com aqueles que estavam perto da vítima, e descobrir quem mais tinha algo a ganhar com a morte dela."
Olívia se levantou abruptamente. "Temos que ir atrás das testemunhas de novo. Precisamos revisar os depoimentos. Talvez haja algo que passou despercebido."
Gabriela, que estava perdida em pensamentos, finalmente olhou para Olívia, sentindo uma pressão crescente em seu peito. "Eu vou com você. Eu posso ajudar."
Olívia a encarou por um momento, a surpresa em seus olhos. O convite estava nas palavras, mas havia algo mais por trás delas. Gabriela sabia que aquilo era algo importante, e ela não queria ficar de fora, mesmo que soubesse que trabalhar lado a lado com Olívia traria uma tensão ainda maior.
Enquanto a conversa sobre o caso seguia, Fernanda entrou na sala, descontraída como sempre, e, ao perceber o clima tenso, deu um sorriso travesso. "O que está acontecendo aqui? Estão discutindo o novo assassinato ou só brigando entre si?" Ela lançou um olhar a Olívia e Gabriela, percebendo a carga emocional que havia no ar.
Mas, em um instante, Fernanda desarmou a situação. Ela, com seu jeito irreverente, não podia perder a chance de brincar, e a tensão momentânea se quebrou, se transformando em algo mais leve. "Aliás, Olívia," ela começou com uma risada maliciosa, "me conta: você ficaria brava se eu desse em cima da doutora Rafaela? Ela é o tipo de mulher que, se fosse para fazer algo errado, seria... bem, algo interessante."
A piada de Fernanda fez todos rirem, mas o desconforto de Gabriela e Olívia não desapareceu. Ao contrário, ele cresceu. Gabriela percebeu a inquietação crescente de Olívia, e a ideia de Rafaela a deixou mais nervosa do que ela gostaria de admitir. Ela tentou se concentrar no caso, tentando afastar os pensamentos sobre Olívia, mas a proximidade das duas era difícil de ignorar.
No momento em que a reunião terminou, todos se dispersaram. Gabriela e Olívia ficaram para trás, suas mãos quase se tocando de maneira involuntária. O caso estava prestes a esquentar, mas era claro que havia algo mais ardente entre elas do que qualquer assassinato.
"Você realmente acha que podemos resolver isso?" Gabriela perguntou baixinho, mais para quebrar o silêncio do que para buscar uma resposta definitiva. Ela queria saber se Olívia ainda acreditava que o caso poderia ter uma solução, se ela acreditava que poderiam desvendar o mistério.
Olívia olhou para Gabriela com uma expressão enigmática. "Eu não sei, Gabriela. Mas uma coisa é certa: quem quer que esteja por trás disso, cometeu um erro ao trazer de volta esse caso, isso não vai acabar bem." Ela deu um passo em direção à porta. "Você precisa ter cuidado, ok? Não estamos lidando mais com ladrões de galinhas aqui."
Gabriela ficou ali, com o olhar fixo em Olívia, enquanto ela saía da sala. A tensão entre elas se amplificava a cada palavra não dita, a cada olhar trocado. Olívia, sempre tão controlada, parecia agora uma bomba prestes a explodir. Gabriela sentiu a força da advertência em suas palavras, mas não pôde deixar de sentir que algo mais estava por trás da frieza de Olívia. O que ela queria dizer com “não estamos lidando mais com ladrões de galinhas”? Gabriela se perguntava, enquanto se perdia em suas próprias dúvidas sobre o caso e sobre o que estava se formando entre elas.
Lucas, que havia ficado para trás, observava a interação com atenção. Ele sabia que havia algo acontecendo entre Gabriela e Olívia, mas, como sempre, não sabia como lidar com isso. Ele se aproximou de Gabriela, tentando trazer alguma leveza para a situação, mas seu olhar estava distante, preocupado.
"Ei, Gabriela," Lucas disse suavemente, "não fique tão pensativa. Vamos resolver isso, juntos. E não só o caso, ok? Vamos focar no que está na nossa frente."
Gabriela esboçou um sorriso fraco, mas o peso de tudo o que estava por vir ainda estava em seu peito. "Eu sei, Lucas. Só... tudo isso é complicado."
Enquanto os dois conversavam, Fernanda passou pela porta e olhou para trás, brincando com o sorriso habitual. "Vamos, pessoal. Não vamos deixar esse caso nos engolir. Temos uma cidade inteira para salvar, não é?" Ela piscou para eles, aliviando a atmosfera tensa antes de sair.
Fim do capítulo
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