Capitulo 23
Olívia entrou em sua casa, os passos pesados ecoando no corredor vazio. Ela sempre soubera que sua mãe poderia perceber qualquer mudança em seu comportamento, mas hoje parecia que o ar estava mais denso, como se estivesse pressionada por algo invisível. O jantar com Gabriela havia sido evitado, e, inevitavelmente, Dra. Eleanor faria a pergunta. Olívia sabia disso.
"Vou ao meu quarto," Olívia murmurou, tentando escapar de mais perguntas, mas sua mãe já estava atrás dela.
"Olívia," Dra. Eleanor disse, a voz calma, mas com uma intensidade silenciosa. "Por que não trouxe Gabriela para o jantar? Não achou que seria... bom?"
Olívia virou-se para ela, o olhar endurecido. "Eu não queria que ela estivesse aqui, mãe. Não é nada de mais. A gente até brigou de novo. Como podemos jantar assim?"
Dra. Eleanor não insistiu, mas seu olhar a acompanhava. Ela sabia que havia algo mais, mas não pressionou. Sabia que sua filha falaria quando estivesse pronta.
Enquanto isso, na casa de Gabriela, o clima também estava carregado. Seus pais observavam-na, notando a tensão que tomava conta de seu comportamento. A mãe de Gabriela, sempre atenta aos detalhes, percebeu rapidamente que algo estava errado. Ela trocou um olhar com o marido, ambos com a mesma preocupação não dita.
"Gabriela, você está bem?" Sua mãe perguntou, a suavidade na voz não conseguindo esconder a apreensão. "Você parece tensa."
Gabriela tentou disfarçar, oferecendo um sorriso forçado. "Claro, só estou cansada," respondeu rapidamente, buscando evitar mais explicações.
"Eu percebo," disse seu pai, a voz grave e ponderada. "Você parece diferente. Algo aconteceu?"
Gabriela, perdida em seus próprios pensamentos, evitou a resposta direta. Ela ainda não sabia o que pensar sobre a conversa com a mãe de Lucas. As palavras dela ainda ressoavam em sua mente: Seria perfeito se você e Lucas ficassem juntos... Como podia alguém tão previsível ser tão idealizado por sua mãe? Ela olhou ao redor, tentando se concentrar no ambiente familiar, mas a pergunta sobre o que ela realmente queria persistia.
Após o jantar, seu pai a chamou em um tom diferente, mais sério, como se soubesse algo que ela ainda não queria admitir.
"Gabriela," ele disse calmamente, com aquele olhar penetrante, "Lucas é um bom rapaz, mas ele não é a pessoa certa para você."
Gabriela franziu a testa, surpresa com a afirmação. "O que você quer dizer com isso?" Ela tentava entender, mas a confusão estava estampada em seu rosto.
Seu pai a observou com um brilho de compreensão nos olhos, algo que ela raramente via nele. "Você precisa de alguém que te desafie, filha. Alguém que te faça querer viver... Lucas é bom, bom, sabe? Você sempre foi atraída pelo que não pode ter. Nunca gostou das coisas fáceis. E Lucas não é esse tipo de desafio."
Gabriela ficou em silêncio, as palavras de seu pai ecoando em sua mente. Ela nunca gostara das coisas fáceis, sempre se sentindo atraída pelo risco, pela emoção do desconhecido. Lucas, com sua previsibilidade, parecia agora um reflexo do que ela já sabia. Mas isso significava que ele não era suficiente? Ou, pior, ela estava em busca de algo que Lucas não poderia oferecer? A lembrança de Olívia invadiu sua mente, como uma chama que não se apagava, sorrindo levemente enquanto observava o céu lá fora, com a mente tumultuada.
Olívia, por sua vez, também estava em seu quarto, jogada na cama, o olhar perdido. Ela tentava afastar a ideia de Gabriela, mas a atração, as discussões, as distâncias... tudo isso ainda a atormentava. Sua mãe, com aquele olhar que parecia penetrar em sua alma, questionava constantemente: Por que você não trouxe Gabriela para o jantar? Aquelas palavras ecoavam em sua mente, como um lembrete do que ela ainda não queria enfrentar.
Olívia fechou os olhos por um momento, tentando encontrar alguma resposta, mas não conseguia. Eu não quero isso, não mais, pensou, mas sabia que Gabriela estava sempre ali, desafiando-a de maneira sutil e inevitável. Gabriela representava tudo o que Olívia não podia controlar: imprevisível, intensa, provocante.
Ela se levantou e foi até a janela, olhando para o céu escuro iluminado pela lua. Estava em uma encruzilhada, sem saber qual caminho seguir. O desafio que Gabriela representava era algo que Olívia não conseguia ignorar, mas ela sabia que isso significava um risco que ela não poderia mais correr. Já tinha ignorado por tempo demais.
Ambas estavam em mundos paralelos, refletindo sobre suas vidas, sobre as expectativas de suas famílias e sobre o que realmente queriam. Para Gabriela, a ideia de um relacionamento com Lucas parecia cada vez mais distante. Ela sabia o que os outros pensavam, mas nunca se sentiu à vontade nesse papel. Porém, a atração por Olívia consumia-a, feroz e rápida. Bem, não tão rápida, pensava. Ela já havia observado Olívia por anos, a princesa intocável dos Santori. Agora, já não parecia tão intocável assim. Gabriela sorriu para si mesma, lembrando-se dos momentos que já compartilhara com Olívia — suas mãos, suas bocas, as sensações que estavam mais vivas do que nunca.
Fim do capítulo
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