Capitulo 15
Gabriela estava na delegacia, tentando se concentrar nos papéis espalhados sobre sua mesa, mas sua mente estava inquieta. Olívia estava na sala ao lado, discutindo um caso com Lucas, e Gabriela não conseguia ignorar a tensão que pairava no ar. Era como se a cada palavra, um fio de energia fosse cortado e refeito entre elas. Pequenas provocações, quase invisíveis, mas intensas, como se o simples ato de Olívia estar ali fosse o suficiente para acirrar seu temperamento. Algo pequeno, mas sempre presente, sempre no ar.
"Você pode, por favor, parar de achar que tem a resposta para tudo?" Gabriela disparou, sem querer, a voz mais alta do que pretendia.
Olívia a olhou de canto de olho, sem perder a compostura. "Eu só acho que você complica as coisas desnecessariamente. A lei é simples, Gabriela."
"Sim, claro, simples para quem acha que todo mundo precisa seguir o mesmo caminho. Como se a vida fosse um manual de instruções!" Gabriela rebateu, se levantando e começando a andar de um lado para o outro.
Lucas, que até então tentava se manter neutro, olhou entre as duas, como se percebesse a possibilidade de uma explosão. "Gente, vamos com calma, ok? Estamos apenas tentando resolver esse caso."
Mas Gabriela já estava fora de controle. "Não é sobre o caso, Lucas. É sobre essa mania da Olívia de querer que tudo seja no modo dela, como se fosse o único jeito certo."
Olívia, com a calma que sempre a caracterizava, sorriu suavemente, mas com firmeza. "Eu só faço o que é necessário, Gabriela. Se você não consegue entender isso, o problema não é meu."
Gabriela sentiu o coração bater mais rápido, uma mistura de raiva e algo indefinido. A cada troca de farpas, uma linha tênue parecia ser cruzada. Não era apenas uma briga qualquer, não era só sobre o caso. Era algo mais. Algo que, talvez, ela nem quisesse entender. Algo que a mantinha alerta, em constante conflito.
Ela respirou fundo, tentando se acalmar. "Está vendo? Sempre assim. Tudo vira um embate."
Olívia a olhou por um segundo, como se ponderasse as palavras de Gabriela. Depois, sem dizer mais nada, voltou ao seu trabalho. Gabriela sentiu o impulso de continuar, mas sabia que isso só alimentaria a chama da briga. Em vez disso, ela pegou mais alguns papéis e começou a organizá-los, tentando não pensar na tensão que ainda pairava no ar.
A sala caiu em um silêncio desconfortável, e Gabriela sentiu o peso da ausência de palavras. Por mais que as brigas entre elas a irritassem, havia algo ali que a mantinha focada, algo que ela não conseguia evitar. Algo que a fazia se sentir viva de uma maneira estranha, como se fosse uma parte do seu próprio ritmo diário.
Foi então que Lucas, percebendo o clima pesado, decidiu interromper. Ele se aproximou de Gabriela, sorrindo levemente. "Ei, você está bem? Eu estava pensando, talvez a gente pudesse sair para jantar hoje à noite. O que acha?"
Gabriela o olhou com surpresa. Era um convite simples, mas algo na sua voz a fez sentir um calor desconfortável no peito, não exatamente o tipo "certo".
"Ah, eu já... já tinha combinado com meus pais," ela disse rapidamente, uma mentira escapando antes que pudesse evitar. "Vou ter que passar o resto da noite com eles."
Lucas a observou por um momento, como se soubesse que algo estava sendo deixado de fora, mas apenas sorriu. "Tudo bem, então. Quem sabe outra hora."
Gabriela assentiu, tentando manter a expressão neutra, mas sentindo um desconforto crescente ao mentir para ele. No fundo, ela sabia que, talvez, a verdadeira razão fosse que ela não queria admitir para si mesma que ainda estava envolvida nas picuinhas diárias com Olívia. Algo tão insignificante, mas que, de algum jeito, a fazia sentir que algo estava acontecendo, que algo estava... mudando.
Enquanto Lucas voltava ao seu trabalho, Gabriela se sentou novamente, um sorriso involuntário surgindo em seu rosto. Ela não sabia o que estava acontecendo, mas se dava conta de que, de algum modo, aquelas briguinhas cotidianas com Olívia estavam começando a se tornar uma parte fundamental do seu dia, algo que ela ansiava, até. Disputar a última xícara de café, debater sobre o feijão em cima ou embaixo, qual era o melhor estilo musical... qualquer coisa que mantivesse a chama acesa. Algo no confronto, no desafio, parecia alimentar uma parte de quem ela era agora.
Fim do capítulo
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