Capitulo 14
O silêncio da montanha envolvia Olívia enquanto ela se acomodava em sua cama, os pensamentos ainda ecoando na sua mente. Ela se permitiu adormecer, mas o descanso não foi profundo. Durante a noite, acordou várias vezes, ouvindo o vento sussurrar através das árvores lá fora. A tranquilidade do lugar parecia sempre em contraste com as tempestades internas que ela não sabia como controlar.
No dia seguinte, a luz suave da manhã filtrava pelas cortinas do quarto. Olívia acordou, sentindo uma leveza que, embora passageira, trazia consigo a sensação de que talvez as respostas que ela buscava estivessem mais próximas do que imaginava. Ela se levantou, vestiu-se rapidamente e foi até a varanda, onde a vista para as montanhas ainda parecia imbatível.
Enquanto tomava seu café, seus pensamentos voltaram para o dia anterior. A festa na cidade, a interação com os colegas, a piada de Lucas... Tudo aquilo parecia pequeno agora, mas, de alguma forma, ainda mexia com ela. Olívia sabia que sua relação com Lucas sempre seria complicada. Ele tinha essa maneira desconcertante de provocar, e, embora ela soubesse que ele não tinha intenção de machucá-la, ele sempre conseguia atingir um ponto sensível nela.
O que mais a incomodava era a falta de clareza sobre o que ela realmente queria de tudo isso. O que ela buscava nas relações, no trabalho, e até mesmo na sua vida pessoal. Havia momentos em que ela sentia que tudo ao seu redor estava perfeitamente arrumado — como sua vida na montanha, com seus pais e o luxo ao qual estava acostumada. Mas havia outros momentos, como na festa na cidade, quando ela se sentia deslocada, quase uma espectadora da própria vida.
Enquanto ela refletia, ouviu o som do telefone vibrando na mesa. Era uma mensagem de Fernanda, sem rodeios:
"Vamos lá hoje de novo? A cidade precisa de mais diversão, e acho que você também."
Olívia sorriu, vendo a provocação de Fernanda, mas ao mesmo tempo se sentiu tentada. Talvez fosse uma boa oportunidade para se libertar um pouco daquela sensação de estar presa entre mundos diferentes.
Olívia desceu as escadas da casa com um suspiro, o peso da decisão ainda pairando sobre ela. A casa estava tranquila, o tipo de silêncio que sempre a acolhia, mas agora parecia mais opressor do que nunca.
Sua mãe, Eleonor, estava na cozinha, preparando o café da manhã, enquanto seu pai, Jorge, lia o jornal na sala. A cena era a mesma de todos os dias, e Olívia sabia que não poderia passar o resto da vida apenas na segurança desse lar. Sentia falta de algo mais, de uma conexão com o mundo fora da bolha que sua família sempre procurou manter.
Felipe, seu irmão mais novo, estava na sala com o pai, distraído com o videogame, mas logo percebeu a presença de Olívia e deu-lhe um olhar curioso.
"Vai dar um rolê na cidade hoje?", ele perguntou com um sorriso travesso.
Olívia hesitou por um momento, olhando para ele e para os pais, como se buscasse uma aprovação silenciosa. Depois de alguns segundos, decidiu que era hora de enfrentar a cidade novamente, não só pela diversão, mas também para tentar entender um pouco mais sobre quem ela era nesse outro mundo.
"Sim, vou dar uma passada lá", respondeu, tentando disfarçar a insegurança na voz. "Não sei, só preciso sair um pouco daqui."
Eleonor levantou o olhar da cozinha e sorriu. "A cidade vai fazer bem para você, filha. Aproveite um pouco, dê umas risadas."
Olívia se vestiu rapidamente, escolheu algo simples, mas elegante, e desceu até a garagem, onde a família já estava se preparando para sair. Seu pai, Jorge, estava ajustando o carro, enquanto Felipe, animado, falava sobre o que queria fazer na cidade.
"Vamos todos?", Olívia perguntou, observando os três se prepararem.
"Claro", respondeu Eleonor com um sorriso. "Vamos dar um passeio, aproveitar o dia em família. Está na hora de sair da montanha por um tempo, né?"
Os quatro se acomodaram no carro, e a viagem pela estrada sinuosa da montanha começou. Olívia sentia uma mistura de ansiedade e alívio. Ela estava se afastando da tranquilidade que tanto a acolhia, mas, ao mesmo tempo, sabia que precisava se misturar mais com o mundo que estava além das paredes de sua casa. O silêncio do carro era confortável, mas a tensão que se formava em sua mente não a deixava em paz.
Enquanto desciam a montanha, a vista deslumbrante se transformava aos poucos, com as árvores e o verde dando lugar às construções simples da cidade. A atmosfera vibrante da cidade parecia agora distante, como um lugar de outro mundo.
Quando chegaram à praça central, a festa estava começando a tomar forma. Luzes coloridas iluminavam a rua, e o som de risadas e música se espalhava pelo ar. Olívia sentiu seu peito apertar um pouco ao se aproximar da movimentação, mas quando olhou para a família ao seu redor, viu que eles estavam em sintonia. Eles não precisavam de mais nada além de estar juntos.
"Vamos dar uma volta", sugeriu Jorge, sorrindo e puxando Eleonor pela mão.
Felipe, entusiasmado com a possibilidade de explorar mais a cidade, já corria em direção ao grupo de jovens que estava próximo à praça. Olívia, ainda hesitante, sentiu um impulso de seguir seu irmão, mas foi ao lado dos pais, sentindo o conforto da companhia deles.
A cidade parecia ter uma energia única, algo que ela não conseguia entender totalmente, mas ao estar ali, com sua família ao lado, ela se sentia menos deslocada. Como se o caos ao redor fosse menos avassalador quando compartilhado com quem mais a entendia.
"Está se divertindo?" Eleonor perguntou com um sorriso enquanto olhava Olívia. Ela estava observando a movimentação na praça, talvez pensando na vida fora daquela cidade pequena.
"É... diferente", Olívia respondeu, tentando se abrir, mesmo que ainda se sentisse como uma visitante naquele cenário.
Os quatro passaram a tarde juntos, andando pela feira, experimentando comidas, e observando a alegria das pessoas. Olívia ainda não se sentia completamente à vontade, mas algo na maneira como sua família estava ali, descontraída e feliz, fez com que ela relaxasse um pouco. Ela se lembrou de como, na sua infância, sempre sentiu que a cidade era apenas um lugar de passagem. Talvez não como hoje.
Fim do capítulo
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