No dia seguinte, a delegacia estava movimentada com mais casos para resolver, mas havia uma tensão no ar que não passava despercebida. Gabriela estava organizando alguns documentos na sua mesa quando Lucas se aproximou mais uma vez, seu sorriso usual no rosto.

"Oi, Gabriela. Então, sobre o jantar de ontem... Que tal sairmos hoje? Eu pensei que talvez fosse uma boa oportunidade para conversarmos e dar uma relaxada O que acha?"

Gabriela olhou para ele, sentindo o mesmo desconforto de antes. Ela não queria ser rude, mas também não sabia como lidar com o convite sem ser evasiva. "Ah, eu já... já tenho outros planos hoje. Talvez em outra hora," ela respondeu, sua voz suave, mas um pouco apressada.

Lucas parecia desconcertado, como se esperasse uma resposta diferente. Ele tentou sorrir, mas sua expressão traía uma frustração contida. "Claro, tudo bem... talvez em breve então," ele murmurou, tentando esconder a decepção.

Foi nesse momento que Olívia, que estava observando a cena com um sorriso malicioso, não resistiu. "Lucas, você realmente não percebe, né?" Ela falou com uma leve risada, sua voz alta o suficiente para que todos na sala ouvissem. "Gabriela não está afim. É melhor você superar essa paixonite adolescente logo e parar de fazer essa cena, é desconfortável."

A sala inteira caiu em um silêncio constrangedor. Todos os olhares se voltaram para Lucas, que ficou em pé, parado, a face se fechando em uma expressão de raiva contida. Gabriela ficou sem palavras, não sabendo como reagir. Ela não queria que aquilo fosse um assunto público.

"Olívia, não precisa ser tão direta assim," disse Gabriela, tentando amenizar o clima, mas a tensão era palpável.

Lucas, no entanto, não parecia se importar com a tentativa de Gabriela de suavizar a situação. Sua expressão estava tensa, e seus olhos estavam fixos em Olívia, como se ela tivesse tocado em um ponto que ele já tentava ignorar. "Eu não sei o que você está tentando fazer, Olívia, mas isso não é da sua conta," ele respondeu, a voz mais baixa, mas cheia de frustração.

Fernanda, sempre disposta a aliviar a tensão, tentou mudar o rumo da conversa com uma piada. "Pessoal, acho que todo mundo aqui já percebeu que Lucas tem um fraco por Gabriela, mas vamos combinar, não é hora de terapia em grupo. Que tal uma pausa para o café antes de alguém desmaiar de tanto constrangimento?" Ela disse, tentando fazer todos rirem, mas parecia que nem ela mesma acreditava muito na leveza que tentava trazer.

Ricardo, que estava observando a cena em silêncio até aquele momento, deu uma risada baixa antes de começar a assobiar. Ele não tinha a intenção de se meter, mas a tensão estava tão óbvia que ele não conseguiu evitar. Depois de alguns segundos, ele parou e, com um sorriso irônico, comentou: "Olívia tem razão, Lucas. Está começando a ficar desconfortável para todo mundo, cara. Acho que está na hora de seguir em frente, não?"

Lucas ficou em silêncio, os punhos cerrados ao lado do corpo. Ele sabia que seus sentimentos não eram segredo, mas a forma como Olívia e os outros estavam lidando com isso era demais. Ele não estava pronto para admitir que estava sendo alvo de piadas, especialmente no trabalho.

Gabriela, por sua vez, sentiu o peso do silêncio. Ela não queria que isso se tornasse algo maior, mas, ao mesmo tempo, não sabia como agir sem fazer mais mal-entendidos. Ela olhou para Lucas, sentindo uma pitada de culpa, mas também sabia que suas escolhas estavam sendo distorcidas por todos ao redor. Ela respirou fundo, tentando focar no que realmente importava: o trabalho.

Olívia, por outro lado, estava satisfeita com a reação que provocou. Ela sabia que o jogo de palavras tinha sido um pouco cru, mas não estava nem um pouco arrependida. Para ela, era só mais uma maneira de lidar com a situação sem perder o controle da situação.

A atmosfera na delegacia, que já estava tensa, ficou ainda mais pesada. A piada de Fernanda não parecia ter feito efeito, e a troca de farpas só aumentou a sensação de desconforto que pairava no ar. Mas ninguém queria tocar no assunto de novo. 

O ambiente na delegacia estava carregado. Mesmo após a tentativa de Fernanda de aliviar a tensão com uma piada, o clima continuava denso. Cada pessoa parecia absorver a energia do momento de forma diferente. Enquanto Lucas se afastava em silêncio, tentando digerir as palavras e os olhares que o cercavam, Gabriela sentiu um peso crescente sobre seus ombros. Não conseguia se livrar da sensação de que tudo estava se tornando mais complicado do que deveria ser.

Olívia, aparentemente alheia ao desconforto que causara, voltou a se concentrar em seus papéis, um leve sorriso ainda presente em seus lábios. Para ela, o que acontecera não passava de mais uma jogada de controle, mais uma maneira de reafirmar seu poder na dinâmica do grupo. Gabriela sabia disso, mas sentia-se impotente diante da maneira como as coisas estavam se desenrolando. Não queria se envolver, não queria ser o centro desse jogo, mas, de algum modo, já estava.

Ricardo olhou para Gabriela com um olhar compreensivo, como se percebesse o peso que ela estava carregando. Ele se aproximou discretamente, colocando a mão no ombro dela em um gesto de apoio. "Vamos dar um tempo, Gabriela. As coisas vão se acalmar." Ele tentou transmitir uma sensação de calma, embora fosse óbvio que ninguém sabia como lidar com aquela situação desconfortável.

Gabriela apenas assentiu, forçando um sorriso. "Eu sei, Ricardo. Só... acho que isso poderia ser mais fácil."

Fernanda, ainda tentando trazer alguma leveza, fez um comentário sobre o café. "Eu disse que era melhor deixar esse assunto de lado. E, olha, se ninguém mais for, vou tomar meu café sozinha. Talvez o aroma da cafeína seja a única coisa que consiga salvar essa manhã."

Lucas, que estava se afastando para seu escritório, parou por um instante e olhou para o grupo. Ele não parecia ter vontade de continuar aquela conversa, mas o peso da situação o impedia de sair completamente. "Vou... dar uma olhada nos relatórios do caso," disse ele, sua voz mais fria, um reflexo claro de seu desconforto.

Olívia, como sempre, parecia intocável, mas, dentro dela, algo havia mudado. Ela se permitiu observar a dinâmica ao seu redor com mais atenção, sem a arrogância usual. Era claro que havia algo mais em jogo ali, algo que ela não conseguia descifrar completamente, mas que estava sentindo.

O resto do dia passou lentamente, com cada um tentando lidar com a tensão de maneiras diferentes. Gabriela sabia que as coisas entre ela e Lucas não poderiam continuar dessa forma. Ao mesmo tempo, o comportamento de Olívia a deixava perplexa. Ela queria entender o que realmente estava acontecendo, mas parecia que, quanto mais se esforçava para desvendar a situação, mais complexa ela se tornava.

Quando o expediente finalmente acabou, Gabriela saiu da delegacia, com os olhos perdidos nas ruas da cidade. Ela sabia que as coisas estavam mudando, mas não sabia para onde isso a levaria. Algo estava começando a se formar dentro de ela, um misto de emoções que nem ela mesma conseguia compreender totalmente. Mas, no fundo, ela sentia que esse turbilhão de sentimentos era o que a fazia sentir-se mais viva do que nunca.

Fim do capítulo