Capitulo 10
Lucas foi o primeiro a quebrar o silêncio na sala.
— Então, vamos agir rápido — disse ele, com o tom firme, como se a decisão já estivesse tomada. — Precisamos falar com o dono da joalheria o quanto antes e ver se ele está disposto a abrir mão da denúncia. Caso contrário, voltamos ao protocolo.
— E, caso contrário, Gabriela... — Fernanda completou, com um sorriso enigmático, — você vai ter que engolir um pouco da sua indignação, porque a lei é a lei.
Gabriela a encarou, sem um sorriso, mas com uma leve, embora relutante, aceitação. Ela sabia que Fernanda estava tentando aliviar a tensão, mas ainda sentia que algo estava fora de lugar.
Antes que alguém pudesse responder, Hugo entrou na sala, os olhos se fixando nos membros da equipe. Ele parecia um pouco mais cansado do que o habitual, e isso só aumentava a pressão sobre o que estava por vir.
— Ouvi falar que a situação está... difícil — Hugo disse, sua voz grave e ponderada. — Decidiram algo?
Lucas foi direto.
— Estamos tentando resolver com o dono da joalheria. Queremos evitar um processo e ver se ele aceita não fazer a denúncia. Caso contrário, seguiremos o protocolo, chefe.
Scott assentiu, a expressão indecifrável.
— Isso parece razoável. Apenas não se esqueçam de que a palavra "justiça" tem muitos significados. O que para alguns pode parecer uma falha, para outros pode ser a solução. Fiquem atentos.
Ele se virou para sair, mas antes que a porta se fechasse, olhou para Gabriela e Olívia, um leve sorriso em seus lábios.
— E, por favor, tentem não destruir a delegacia no processo.
O riso desconfortável que se seguiu aliviou um pouco a tensão, mas ninguém parecia muito disposto a relaxar. A verdade era que a equipe estava dividida, e a situação, apesar de tentarem resolver, ainda estava longe de ser simples.
Algumas horas depois, o grupo se reuniu no estacionamento da delegacia, a conversa mais prática e direta do que as anteriores. O plano estava definido: Lucas e Gabriela iriam até a joalheria para conversar com o dono, enquanto Olívia ficaria na delegacia, mantendo o caso sob controle. Fernanda e Ricardo permaneceriam em apoio, prontos para intervir, se necessário.
Antes de saírem, Gabriela deu um último olhar para Olívia, que estava reclinada contra o carro, os braços cruzados, observando a movimentação.
— Então é isso? Você vai esperar aqui enquanto a gente resolve tudo? — Gabriela perguntou, a voz um pouco mais ácida do que pretendia.
Olívia olhou para ela com um sorriso desconcertante, como se estivesse se divertindo com a frustração evidente da colega.
— Não vou resolver por vocês, Gabi. Já disse que, se isso não funcionar, você tem total liberdade para seguir o protocolo. Mas o que eu sei é que, às vezes, a lei precisa de uma ajudinha.
Gabriela revirou os olhos, mas não respondeu. Ela sabia que Olívia não acreditava em regras rígidas, mas, por algum motivo, algo na sua postura fazia sentido, embora ela fosse relutante em admitir.
— Vamos logo — disse Lucas, interrompendo a tensão crescente. — Não temos muito tempo.
Eles partiram, com Hugo e Olívia observando enquanto o carro da delegacia se afastava. O clima era de expectativa, mas ninguém sabia exatamente o que encontrariam ao chegar à joalheria.
Ao chegarem à joalheria, o clima era diferente. O proprietário, um homem idoso e de semblante severo, os recebeu com uma expressão fechada. Havia um toque de desconfiança em seus olhos, e Gabriela podia sentir a tensão no ar.
— O que os traz aqui? — perguntou o homem, com voz firme.
Lucas foi direto.
— Viemos falar sobre o roubo. Sabemos que você estava considerando fazer uma denuncia, mas gostaríamos de discutir outra solução.
Gabriela observava o homem de perto, pronta para agir, caso fosse necessário. Ela sabia que o caso não era simples e que o homem provavelmente estava decidido a ver justiça, mas também havia uma dor visível em seus olhos. Ele provavelmente não estava apenas preocupado com o valor das joias, mas também com o que o roubo significava para ele pessoalmente.
— O que querem que eu faça? — perguntou o homem, seus olhos agora voltados para Gabriela.
Ela respirou fundo, sentindo a pressão aumentar.
— Queremos que você repense a denúncia. A senhora que cometeu o roubo estava agindo por desespero, ela foi até a delegacia devolver as joias. Sua neta está doente, e ela só fez isso por amor. Um gesto de bondade pode ser mais justo do que seguir o caminho da punição.
O homem olhou para ela, e o silêncio se estendeu por longos segundos. Ele parecia ponderar suas palavras, uma guerra interna travando em sua mente.
— Não sei, garota... — ele começou, sua voz mais suave. — Como você quer que eu esqueça o que ela fez? O que eu diria para os outros? E se isso acontecer de novo?
Lucas tomou a palavra.
— Sabemos que não é fácil. Mas estamos propondo uma solução em que ninguém precise ser punido, em que a senhora não sofra mais. Se ela conseguir arcar com as consequências de outra forma, isso pode ser melhor para todos.
O dono da joalheria olhou para eles, ainda ponderando. Ele sabia que uma decisão como aquela não seria simples.
— Vou pensar sobre isso. Mas não prometo nada.
Gabriela deu um pequeno aceno com a cabeça, já ciente de que o caso não estava resolvido. Mas, por ora, havia aberto uma janela de possibilidade.
De volta à delegacia, a equipe se reuniu novamente. Olívia estava observando com atenção enquanto Lucas e Gabriela entravam. O clima estava mais leve, mas a tensão ainda pairava no ar.
— E então? — Olívia perguntou, com um leve sorriso. — Conseguiram algo?
Gabriela e Lucas trocaram olhares. A verdade era que a situação estava longe de ser resolvida. Mas, por enquanto, havia uma chance de que o caso tomasse outro rumo.
— Ele não tomou uma decisão ainda — respondeu Lucas, olhando para Gabriela. — Mas ele vai pensar.
Olívia inclinou a cabeça, como se absorvesse a informação antes de falar.
— Bom, é um começo — disse ela, a voz neutra. — Mas vocês sabem que nem sempre é tão simples, certo? O dilema moral do cara pode ser complicado. Ele precisa acreditar na bondade da intenção, não apenas na situação da senhora.
Gabriela franziu a testa, um pouco desconfortável com a maneira que Olívia via as coisas. Ela estava começando a entender, mas não sabia se conseguia aceitar o pragmatismo da colega.
Fim do capítulo
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