POV Luisa

Faz quase 8 meses desde que aquela pirralha loira entrou na minha sala, com aqueles olhos verdes que me tiram do sério. Como é que alguém tão nova e aparentemente ingênua poderia me deixar assim? Sério, às vezes me pergunto como ainda não consegui arrancar aquilo de dentro de mim, mas a verdade é que… eu tento. Eu tento bem mais ou menos, sabe?

Eu sempre ouvi aquele ditado: “Mantenha os amigos perto, mas os inimigos ainda mais perto.” Não que eu considere a Bianca uma inimiga. Ok, talvez um pouco. Ela tem o dom de me deixar fora de controle, e esse controle, por mais que eu tente, me escapa sempre que ela aparece. Então, mantenho ela por perto, bem ocupada, ocupada demais para perceber o bando de pirralho que vive babando por ela.

E quem entra na minha sala sem bater, como sempre? Mariana. Ela é uma das professoras que trabalha comigo, dá aula de Operações unitárias 2, e parece que já entendeu o que se passa aqui. Ela entra, como se já soubesse do que se trata, e começa com aquela risadinha debochada. Eu não gosto disso, mas não posso evitar. Mariana é direta, às vezes até demais, realmente, intimidade é um problema.

"Pensando na sua novinha?" Ela fala com aquele sorriso irreverente.

Novinha? Ah, não, ela está começando a me irritar já.

Eu respiro fundo e tento desviar. "Não sei do que você está falando, Mari. Eu não tenho novinha nenhuma."

Mariana solta uma risada baixa, como se soubesse muito bem o que está acontecendo. "Sério, Lu, você tem que dar um tempo pra aquela garota, ou dar uns pegas bem dados nela. A coitada tá destruída."

Eu não gosto disso. Não gosto de ver Bianca assim. Mas também não posso admitir que o que Mariana está dizendo faz sentido. A Bianca… ela me tira do sério, mas, por outro lado, é impossível não perceber o que acontece quando ela está na minha sala. A energia dela, a forma como ela me olha, me desafia, ao mesmo tempo, essa ousadia disfarçada… isso me atrai, mais do que eu gostaria de admitir.

Eu tento manter minha pose. "Qual é, Mari, a Bia tá bem. Eu tô de olho."

Mariana rola os olhos. "De olho? Você sempre está de olho, né amiga?" Ela ri, mas, no fundo, sabe que é mais do que isso. E, se eu soubesse o que fazer, talvez até mesmo tomasse uma atitude mais direta. Mas não posso. Não posso ceder a essa tentação, não posso me envolver com ela de uma forma que comprometa o meu controle sobre tudo, ela é só uma aluna e eu sou uma professora, uma professora muito profissional.

Ainda assim, a pressão de manter esse controle não está fácil. Mariana não para, e a verdade é que ela tem razão em parte. "Ainda acho que você devia pegar a loirinha de jeito. Ia resolver dois problemas seus: o seu mal humor e o dela."

Eu me recosto na cadeira e tento esconder o desconforto. Não estou pronta para ouvir isso, mas já deveria ter esperado. Mariana não sabe o que está falando, e a Bianca é muito mais complicada do que ela imagina, é minha aluna, treze anos mais jovem, tem a vida toda pela frente.

Eu tento mudar de assunto, mas antes que eu possa, Mariana dispara novamente. "Acredita que hoje o Rafael chamou ela pra sair? E ela pediu pra ele olhar na cara dela, pra ver se ela tinha cara de trouxa?"

O que? Rafael? Aquele cara estranho da sala dela? Eu não posso acreditar. Eu tento controlar a raiva que começa a crescer dentro de mim. Como assim, Rafael? Aquele moleque que não tem nem o que fazer, querendo dar em cima da minha garota?

"Como assim o Rafael pediu pra sair com ela?" Eu pergunto, tentando não deixar transparecer o ódio crescente. "Aquele Rafael da sala dela? Aquele muleque esquisito?"

Mariana continua rindo, mas com um tom um pouco mais alto agora. "Esses moleques não tem o que fazer, não?  A culpa é sua, Mari. Se você não desse moleza, se elas tivessem o que estudar, não estariam dando em cima da minha garota."

Eu quero estourar. A Bianca não pode, de forma alguma, se envolver com esse tipo de gente. Ela deveria estar mais focada, mais interessada em mim… Digo no projeto, no futuro. Mas Marina está certa sobre uma coisa: a culpa é minha.Mas eu não posso mais deixar isso continuar. Não posso mais apenas ficar de braços cruzados, observando tudo de longe.

Fim do capítulo