Capitulo 7
O som do despertador cortou o silêncio da manhã, e Gabriela acordou com a sensação de que a noite havia sido curta demais. Embora o refúgio em sua casa dos pais tivesse sido breve, a realidade a aguardava, e não havia como ignorá-la por mais tempo. Ela se espreguiçou, sentindo o corpo ainda cansado da exaustão mental da noite anterior.
O reflexo no espelho parecia distante. Ela ainda parecia a mesma, mas as últimas semanas a tinham mudado. A pressão constante, as dúvidas sobre a investigação, e, especialmente, a crescente sensação de que estava sendo manipulada de alguma forma, pesavam sobre ela
Ao chegar à delegacia, o clima já estava carregado. A equipe parecia cansada, com todos concentrados nos relatórios que haviam acumulado no dia anterior. Os rostos eram os mesmos, mas algo havia mudado. A tensão parecia mais palpável, como se todos soubessem que a situação estava prestes a escalar de forma inesperada.
Olívia estava em sua mesa, aparentemente concentrada em um monte de papéis. Quando Gabriela entrou, ela levantou o olhar, mas não fez nenhum movimento para iniciar uma conversa. A frieza de Olívia parecia mais presente do que nunca.
Gabriela não sabia o que esperar daquela manhã. Até Hugo entrar com uma expressão cansada, mas determinada, e todos se focarem em ouvi-lo.
— Temos um novo caso. Um roubo a uma joalheria no centro da cidade. Não é um caso grande, mas as circunstâncias podem ser mais complicadas do que parecem. Vamos manter as coisas simples por enquanto, até termos mais informações.
Olívia imediatamente começou a organizar as anotações, como se estivesse se preparando para dar uma direção mais assertiva à investigação.
Gabriela se sentou em sua cadeira, tentando afastar as lembranças da noite anterior e se concentrar no caso à sua frente. Olívia continuava a organizar as informações, como se a situação já estivesse sob controle, e isso a incomodava um pouco. Não era que Gabriela duvidasse da competência de Olívia — ela sabia que a policial era experiente e estratégica — mas havia algo em seu comportamento que a fazia se sentir desvalorizada, como se estivesse sempre um passo atrás, esperando uma autorização para agir.
Ela forçou um sorriso e se endireitou na cadeira.
— Ok, então qual é o plano? — perguntou, tentando iniciar a discussão de forma objetiva, embora uma leve tensão ainda estivesse presente em seu tom.
Olívia levantou os olhos da pilha de papéis, lançando um olhar rápido para Gabriela antes de responder.
— Como eu disse, vamos manter as coisas simples. Primeiramente, vamos coletar as imagens das câmeras de segurança da joalheria. A área está bem monitorada, e é provável que consigamos algo útil rapidamente. Depois, precisamos falar com os funcionários. Se o roubo for o que parece, os ladrões não devem ter ido embora sem deixar pistas.
Gabriela anotou as instruções, sentindo-se um pouco mais tranquila agora que o trabalho estava começando a tomar forma. Olívia estava, ao menos, sendo prática e objetiva, e isso ajudava a desviar sua mente das tensões pessoais. A delegacia estava em pleno funcionamento, e logo começaram a organizar a divisão das tarefas.
— Fernanda e Ricardo, fiquem com a parte das câmeras e conferências dos vídeos. Gabriela, você e eu vamos até a joalheria para interrogar os funcionários e observar o local. — Olívia distribuiu as tarefas com eficiência, e Gabriela notou que ela não parecia estar tentando tomar a dianteira de forma tão agressiva dessa vez.
Gabriela assentiu. Era uma boa divisão de trabalho. Mesmo com o desconforto que sentia em relação à dinâmica entre elas, a urgência do caso estava acima das tensões pessoais.
O carro da delegacia foi logo disparado pelas ruas, e a cidade parecia mais calma do que deveria. Quando chegaram à joalheria, o lugar parecia intacto, exceto pelo aviso de assalto estampado na porta. A polícia já havia feito uma perícia preliminar, mas ainda havia muito a ser feito. Olívia e Gabriela foram recebidas pelo gerente, um homem nervoso que se apressou em explicar o ocorrido.
— Foi tudo muito rápido, senhoras. Entraram, levaram algumas peças de alto valor e, antes que percebêssemos, já tinham ido embora. Nenhum dos seguranças viu nada. Aparentemente, eles usaram um disfarce muito bom. — O gerente explicou, nervoso.
Gabriela fez algumas anotações, enquanto Olívia se aproximava das vitrines quebradas, observando os detalhes como se procurasse algo além do óbvio. Gabriela tentava seguir o ritmo da investigação, mas não podia evitar a sensação de que algo ainda estava estranho. O roubo não parecia grande o suficiente para ser um caso de grande repercussão, mas havia algo de insustentável no modo como o gerente falava — a hesitação nas palavras dele, a tensão no olhar.
Olívia finalmente se afastou das vitrines e olhou para Gabriela.
— Não parece ser só um roubo comum, não é? — Gabriela questionou, com um olhar atento para os arredores. — Algo não bate.
Olívia a olhou por um momento, como se estivesse pesando suas palavras.
— Não. Tem algo mais nisso, mas ainda não sabemos o quê. Vamos ficar de olho nas câmeras e nas testemunhas. Algo vai aparecer.
Ambas se dirigiram ao escritório para ver as imagens das câmeras de segurança, e enquanto assistiam, Gabriela não conseguia escapar da sensação de que estavam perdendo algum detalhe importante. O silêncio entre ela e Olívia, antes desconfortável, agora parecia mais uma necessidade do que uma escolha. Elas estavam trabalhando, e por mais que houvesse tensão no ar, sabiam que precisavam resolver o que estava diante delas.
Fim do capítulo
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