Capitulo 6
A noite estava tranquila quando Gabriela finalmente saiu da delegacia. O peso do caso Costa ainda pairava sobre ela e a frustração com a intervenção da Polícia Federal a deixaram ainda mais pensativa. Ela precisava de um tempo sozinha, longe de toda a pressão e das questões não resolvidas.
Ao entrar no carro, o som do motor sendo ligado parecia distante. Gabriela olhou pela janela, observando as luzes da cidade, que pareciam tão pacíficas e inofensivas à primeira vista. Ela desejava que a vida fosse tão simples quanto aquilo. Mas sabia que não era. Sabia que, enquanto ela dirigia de volta para casa, o jogo que estava se desenrolando com Costa tomava proporções cada vez mais difíceis de ignorar.
Ela estacionou o carro na garagem e, ao sair, sentiu a noite fria tocar sua pele. A casa estava silenciosa, como sempre, mas o silêncio agora parecia mais denso, como se a própria casa estivesse absorvendo suas dúvidas e frustrações. Gabriela entrou e trancou a porta atrás de si, mas não se sentiu em casa. Algo estava faltando, e não era só a falta de resposta sobre o caso. Era a sensação de estar presa, de estar sendo manipulada sem saber por quem nem por quê.
Subiu as escadas lentamente, cada passo um lembrete do quanto estava longe de ter controle sobre o que estava acontecendo. Ela passou pelo espelho no corredor e se olhou por um momento, tentando reconhecer a mulher refletida. Seus olhos estavam cansados, mas ainda havia uma chama ali — a chama de alguém que não desistiria facilmente.
Olhou pela janela do quarto, para a cidade iluminada à distância. A cidade pequena, onde todos se conheciam, onde as coisas aconteciam e rapidamente se espalhavam. Quem mais sabia do caso Costa? Quem estava envolvido nisso tudo além da equipe? Talvez a resposta estivesse lá fora, na rua silenciosa que ela observava, nas conexões que ainda não haviam sido descobertas.
Se deitar, tentar dormir, também parecia inútil. Ela sentia que seu corpo e sua mente estavam em constante alerta, prontos para algo grande que ela ainda não entendia completamente.
Ela pegou a chave do carro, hesitou por um instante, mas logo tomou a decisão. Algo simples, algo que poderia ajudar a colocar as coisas em perspectiva. O pensamento de ir até a casa dos pais era acolhedor. Não via sua família há algum tempo, e sabia que a presença deles, mesmo que por poucas horas, poderia trazer-lhe um pouco da paz que tanto precisava.
Gabriela trocou rapidamente de roupa, colocando algo mais confortável e leve, e pegou a chave do carro antes de sair. Estava em busca de um refúgio temporário, longe da tensão da delegacia e das investigações. Precisava de algo simples para voltar a se encontrar.
Ao dirigir pelas ruas tranquilas da cidade, ela sentiu um alívio momentâneo. O movimento do carro, a cidade adormecida, tudo parecia mais calmo. As luzes das casas, através dos vidros embaçados pela noite, davam uma sensação de aconchego que ela sentia falta. Ela pensava nas conversas de sempre, nas piadas de seu pai, na comida simples da mãe. Havia algo de tranquilizador em retornar às raízes, a um lugar onde ela não era uma investigadora, mas apenas uma filha, alguém que poderia se deixar ser cuidada por algumas horas.
Quando chegou à casa dos pais, a primeira coisa que percebeu foi o cheiro familiar de café recém-passado e o som da televisão ao fundo. A casa ainda estava iluminada, e um sorriso espontâneo apareceu em seu rosto. Ela tocou a campainha e, logo em seguida, ouviu os passos apressados de sua mãe indo em sua direção.
— Gabriela! Que bom que você veio! — Sua mãe, sempre acolhedora, abriu a porta com um sorriso largo, antes de envolvê-la em um abraço apertado. — Como foi o seu dia? Você precisa descansar um pouco, não é?
Gabriela se entregou ao abraço por um momento, fechando os olhos. Estava ali, no lugar onde tudo parecia mais simples. Sentia-se acolhida, e por mais que sua mente ainda estivesse cheia de dúvidas, a presença dos pais trazia um alívio.
— Eu só precisava de um tempo, mãe. — Gabriela respondeu, sorrindo. — E de um bom pedaço de sobremesa.
— Está servida. — Sua mãe indicou a mesa, onde havia uma fatia generosa de bolo de chocolate, sua sobremesa favorita. — Sente-se, vou fazer um café fresquinho. Já estava esperando por você.
Gabriela se sentou à mesa, sentindo-se quase como uma criança novamente. O café estava quente, o bolo macio, e a conversa fluiu naturalmente, como sempre. Sua mãe fez perguntas sobre a polícia, mas Gabriela evitou entrar em detalhes. Sabia que não conseguiria explicar tudo, nem queria. Pelo menos por aquele momento, não precisava. Ela só queria aproveitar aquele momento de normalidade, onde não havia investigações, conspirações ou traições.
Enquanto saboreava o bolo, a casa dos pais parecia ser um pedaço de calmaria que ela não via há muito tempo. Mas no fundo, ela sabia que, quando deixasse a casa, a realidade voltaria com força total. Por enquanto, no entanto, ela estava ali, e isso era o suficiente.
— Você parece mais tranquila agora. — Sua mãe comentou, como se fosse uma constatação natural, algo que ela sabia sem precisar perguntar.
Gabriela sorriu, forçando uma leveza em sua expressão, mas suas palavras saíram com um tom suave de vulnerabilidade.
— Às vezes, só preciso de um pouco de normalidade, mãe. Para recarregar.
A mãe de Gabriela não respondeu, apenas lhe deu um beijo na testa antes de a acompanhar até a porta. O abraço de despedida foi mais apertado do que o normal, como se sua mãe soubesse da confusão que estava em sua mente.
Fim do capítulo
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