Capitulo 5
O campus estava mais quieto naquele dia. O sol brilhava com força, mas a primavera parecia ter trazido consigo uma sensação de tensão que Bianca não conseguia ignorar. O que antes era apenas uma escola, um lugar de aprendizado e crescimento, agora parecia um campo de batalha silencioso. Cada sala, cada corredor, parecia carregar o peso de algo que ela ainda não conseguia definir.
Bianca entrou na sala de aula com o coração acelerado. Um dia, ela se sentia desafiada pela professora, e no outro, quase como se estivesse sendo puxada por algo que ela não entendia. Ela sabia que as coisas estavam mudando entre elas, e o simples fato de não saber para onde isso a levaria a deixava inquieta. O que mais a assustava era o silêncio de Luisa, aquele silêncio carregado de intenções e observações não ditas. Quando Luisa olhava para ela, era como se soubesse de algo que Bianca ainda não compreendia sobre si mesma.
“Bom dia, turma”, Luisa disse com sua voz suave, mas firme, quando entrou na sala. Ela estava mais distante do que nunca. Seu olhar parecia atravessar os alunos, mas Bianca sentiu que ela estava procurando algo nela. Algo que talvez nem ela mesma soubesse o que era.
A aula começou, e Luisa se moveu com a precisão e segurança que sempre a caracterizavam. Os alunos estavam acostumados ao seu estilo rigoroso e, ao mesmo tempo, instigante. Mas Bianca não conseguia prestar atenção em nada daquilo. Seus olhos estavam fixos na professora, observando cada movimento, cada palavra. Era um jogo, um jogo que ela não sabia como jogar, mas que não podia deixar de tentar.
Luisa estava explicando os conceitos de reações catalíticas em ambientes de alta pressão, mas a atmosfera na sala parecia outra. Havia uma tensão no ar, algo não dito, que pairava sobre Bianca como uma sombra. Ela sentia, por mais que tentasse ignorar, que Luisa a observava o tempo todo. Os olhares furtivos que se trocavam eram carregados de significado, embora nenhum dos dois falasse abertamente sobre isso. Era uma comunicação silenciosa, feita de gestos, olhares e pequenas pausas que faziam Bianca perder o foco.
Era uma sensação estranha, desconcertante, como se cada palavra de Luisa estivesse impregnada de algo mais do que apenas conteúdo acadêmico. A professora não estava apenas ensinando; ela estava testando, desafiando, provocando. E, no fundo, Bianca sabia que a reação que Luisa esperava dela não seria apenas acadêmica. Havia algo mais ali. Algo que Bianca não conseguia definir, mas que a atraía de uma forma avassaladora.
“Bianca, você pode explicar o que ocorre durante a reação catalítica sob alta pressão?” Luisa perguntou, interrompendo os pensamentos de Bianca.
O olhar de Luisa era fixo, frio, mas havia algo mais ali. Algo como um convite. A pergunta parecia simples, mas Bianca sentiu o peso de cada palavra. A classe estava quieta, aguardando sua resposta.
Bianca engoliu em seco, tentando reunir seus pensamentos. Ela se sentia como se estivesse em uma armadilha, sem saber qual resposta seria a certa. Mas, ao mesmo tempo, não poderia falhar. Não na frente de Luisa. Não depois de tudo o que tinha acontecido entre elas nas últimas semanas.
“Bem, professora... A reação catalítica é um processo em que um catalisador acelera a taxa de uma reação química sem ser consumido. Sob pressão, a reação pode ser mais eficiente, pois as moléculas se encontram com maior frequência, aumentando a probabilidade de colisões e, consequentemente, a taxa de reação”, Bianca disse, sua voz um pouco mais baixa do que ela gostaria.
Luisa não respondeu de imediato. Ela a observou com um olhar intenso, como se estivesse analisando algo mais do que apenas o conteúdo da resposta.
“Interessante”, Luisa murmurou, sua voz suave, mas penetrante. “Mas você não explicou por que a pressão influencia a reação. Faltou profundidade na sua análise.”
O comentário fez o rosto de Bianca corar. Ela sabia que Luisa estava aguardando mais, sempre mais. Era como se ela estivesse sendo constantemente desafiada, testada, não apenas na sua habilidade acadêmica, mas em algo mais profundo. Algo que Bianca não sabia se queria explorar, mas que, ao mesmo tempo, não conseguia evitar.
A aula continuou, mas Bianca não conseguia mais se concentrar. O olhar de Luisa, suas palavras, o peso da pressão acadêmica e pessoal, tudo isso estava tomando conta de sua mente. Ela sentia-se como uma experimentadora, sendo colocada em um ambiente de alta pressão, onde cada reação poderia ser decisiva.
No intervalo, Bianca se afastou um pouco dos outros alunos, buscando um momento de tranquilidade. Mas logo ouviu passos se aproximando. Ela sabia quem era antes mesmo de olhar para trás. O som dos saltos de Luisa ecoava no corredor.
“Bianca”, a voz de Luisa soou atrás dela. “Quero conversar com você.”
Bianca se virou, o coração batendo forte no peito. Estava sozinha, e não sabia o que Luisa queria. Mas sabia que não poderia fugir.
“Sim, professora?” Bianca perguntou, tentando manter a calma, embora o nervosismo fosse evidente em sua voz.
Luisa olhou para ela com um sorriso enigmático, mas que não parecia amigável. “Você tem potencial. Mas parece que ainda não percebe o quanto está se sabotando.”
Bianca não soube o que dizer. O que Luisa queria dizer com aquilo? Ela se sentia perdida, sem saber se aquilo era apenas uma crítica acadêmica ou algo mais pessoal.
“Você está no meu radar, Bianca”, Luisa continuou, seu tom mais baixo agora. “E quero ver até onde você pode ir. Se realmente quer entrar no meu projeto de pesquisa, terá que provar que está pronta para mais do que apenas responder perguntas de forma técnica e decorada.”
Bianca sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Não era apenas sobre química. Era sobre ela. Sobre o que Luisa esperava dela. Ela sabia que esse momento estava se tornando algo muito maior do que uma simples relação entre aluna e professora.
“Estou pronta”, Bianca disse, sentindo-se mais desafiada do que nunca.
Luisa a observou por mais alguns segundos antes de se afastar, seu olhar ainda fixo e calculista.
“Veremos. Até mais, Bianca.”
E quando Luisa se virou para ir embora, Bianca soube que as regras do jogo tinham mudado. Ela não sabia onde isso a levaria, mas algo dentro dela dizia que não havia mais volta.
Fim do capítulo
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