Capitulo 3
O clima na delegacia era tenso. O som dos telefones tocando, os papéis sendo passados de mão em mão, e a luz fria das lâmpadas overhead criavam um ambiente carregado de pressa. Gabriela estava sentada em sua mesa, revisando os relatórios da operação do fim da tarde. Ela ainda sentia o peso da missão, mas havia algo mais agora: uma sensação de pertencimento. Ela não era mais uma novata completamente deslocada, mas parte de uma equipe que, apesar das diferenças, estava comprometida com o trabalho.
Lucas entrou na sala, seus passos firmes ecoando no corredor vazio. Ele parecia mais relaxado agora de madrugada, como se a missão tivesse sido apenas mais uma no longo expediente de sua vida como policial.
— Tudo certo? — ele perguntou, parando ao lado da mesa de Gabriela.
Gabriela levantou os olhos dos papéis, tentando disfarçar a tensão que ainda sentia.
— Sim, só organizando as informações. Você? — Ela respondeu, tentando parecer mais calma do que realmente estava.
Lucas sorriu. Ele sempre parecia ter uma aura de tranquilidade ao seu redor. A forma como ele se movia pela delegacia, como se conhecesse todos os cantos, fazia com que a atmosfera à sua volta fosse leve, quase familiar.
— Tudo bem, quer que te espere?
Gabriela balançou a cabeça, tentando parecer tranquila.
— Não precisa. Vai lá. — Ela sorriu, tentando ser casual.
— Ok, mas não vai embora tarde. — Lucas disse, com um brilho no olhar, brincando enquanto saía da sala.
Gabriela não conseguiu deixar de sorrir. Ele sempre tinha esse jeito protetor, ainda que de forma descontraída. Policial bom, mas também alguém com quem se sentia segura.
A manhã na delegacia foi como qualquer outra, mas com uma energia palpável no ar. Gabriela estava caminhando pelos corredores da delegacia, a mente ainda processando a operação da noite passada. Mesmo com o sucesso da missão, ela não podia ignorar o peso de sua responsabilidade. As palavras de Hugo ecoavam em sua mente, a rotina exigia atenção total.
Fernanda entrou na sala, sua risada alta e animada ecoando pelo corredor. Com seu cabelo volumoso e roupas sempre coloridas, ela era a antítese do perfil sério da delegacia. Fernanda usava um sorriso largo e estava constantemente em movimento, pronta para falar e fazer alguma piada, não importava a situação.
— E aí, Gabriela! — disse ela, quase pulando para cumprimentá-la. — Não contei pra você, mas o Ricardo disse que ficou com medo do meu estilo de combate ontem. Ele quase me abraçou, coitado.
Gabriela sorriu com a brincadeira de Fernanda. Ela sabia que a policial sabia como aliviar qualquer tensão, mas também respeitava a coragem dela. Mesmo em situações de risco, Fernanda tinha a habilidade de fazer todos se sentirem mais relaxados.
— Não fala isso, Fernanda. — Ricardo entrou na sala, balançando a cabeça. Ele tinha um porte robusto e uma postura protetora, sempre como se estivesse de olho em todo mundo. Seu rosto era geralmente sério, mas hoje, ele estava tentando disfarçar um sorriso. — Eu só não sabia se corria atrás de você ou da operação.
— Claro, Ricardo, agora você vem me bancar! — Fernanda respondeu, batendo com a mão no braço dele de forma brincalhona. — Aí sim é que eu vi quem estava realmente com medo!
Ricardo riu, mas logo seu tom se fez mais sério.
— Não estou brincando, Fernanda. Eu não ia deixar você sozinha, e você sabe disso.
— Eu sei, eu sei. — Fernanda deu de ombros, mas a expressão dela suavizou. Ela estava brincando, mas também sabia que, no fundo, Ricardo era a rocha do time. Sempre vigilante, sempre cuidando de todos, com um sorriso para iluminar qualquer momento.
Gabriela os observava em silêncio. Às vezes, a leveza de Fernanda e a postura protetora de Ricardo a surpreendiam. Pareciam ser opostos em muitos aspectos, mas ali, naquela equipe, parecia que cada um trazia um equilíbrio necessário.
— Gabriela, você fez um bom trabalho ontem, viu? — Ricardo falou, desviando a atenção para ela. — Você estava focada, não se perdeu. Eu estava preocupado, mas você mandou bem.
— Obrigada, Ricardo. Eu só... tentei não deixar o nervosismo me dominar. — Gabriela sorriu, mas ainda havia algo de inseguro em sua expressão.
Fernanda, percebendo a tensão de Gabriela, colocou uma mão em seu ombro e disse com um tom suave, mas com aquele brilho irreverente:
— Olha, a gente sabe que a pressão é grande, mas relaxa! Você não precisa ser perfeita, só precisa dar o melhor de si. Eu, por exemplo, nem sei o que é essa coisa de perfeição. — Ela piscou com um sorriso maroto.
Gabriela não pôde deixar de rir. Às vezes, Fernanda era uma verdadeira injeção de ânimo.
O clima na sala da delegacia estava mais leve, mas o trabalho não parava. Hugo entrou na sala com um olhar sério, interrompendo as brincadeiras.
— Precisamos revisar os relatórios da operação. — disse ele, sua voz firme como sempre. Ele olhou para Gabriela. — Gabriela, você pode me acompanhar na sala de operações? Preciso de um detalhe dos registros que você fez.
Gabriela assentiu, tentando se concentrar. Embora ainda estivesse absorvendo a experiência da noite passada, sabia que o trabalho não parava por aí. Ela se levantou e seguiu Hugo pela delegacia, enquanto Fernanda e Ricardo trocavam olhares cúmplices e voltavam a suas rotinas.
Quando entraram na sala de operações, Hugo se sentou à mesa e começou a revisar os papéis. Gabriela ficou em pé, esperando as instruções dele, mas não pôde deixar de observar como ele estava meticuloso nos detalhes. Era assim que ele liderava, com precisão. Hugo não deixava nada passar.
Por um momento, o silêncio se fez entre eles, até que Hugo ergueu os olhos e a olhou com uma expressão mais suave do que ela estava acostumada a ver.
— Como você está se sentindo? — ele perguntou, pausando por um segundo. — Sei que ontem foi um desafio. É muito diferente a academia para a vida real. Não é fácil, mas você se saiu bem. Como está sua cabeça agora?
Gabriela hesitou antes de responder. Não era fácil admitir, mas sentia uma mistura de emoções. Sentia orgulho pelo que tinha feito, mas também o peso da responsabilidade que estava começando a sentir.
— Eu... não sei. Ainda estou processando tudo. — Ela disse, tentando encontrar as palavras certas. — Foi mais difícil do que eu esperava, mas também foi... gratificante. Acho que estou começando a entender melhor o que significa estar realmente aqui.
Hugo assentiu, parecendo satisfeito com a resposta. Ele nunca foi de dar muitos elogios, mas Gabriela sabia que aquele pequeno reconhecimento era importante.
— É normal se sentir assim, Gabriela. Isso é parte do processo. O trabalho de campo nunca é fácil, e sempre vai haver algo mais para aprender. A pressão é constante, mas é isso que nos molda. Continue assim, e você vai se tornar uma policial excelente. — Ele fez uma pausa, como se estivesse avaliando suas palavras. — Mas lembre-se: você não está sozinha. Você tem uma equipe, e todos nós confiamos em você.
Gabriela sentiu uma onda de gratidão, mas também uma sensação de alívio. Hugo, com sua postura rigorosa, acabava de lhe dar um pequeno voto de confiança, e isso a fez sentir que estava, de fato, no caminho certo. Ela olhou para ele, agradecida.
— Obrigada, Hugo. Vou continuar dando o meu melhor.
Hugo fez um gesto com a cabeça, indicando que o assunto estava encerrado, e logo Gabriela se retirou da sala. Quando voltou para a sala principal, encontrou Fernanda e Ricardo, que a esperavam com olhares curiosos.
— E aí? O que ele disse? — Fernanda perguntou, com um sorriso travesso.
Gabriela sorriu, mais segura desta vez.
— Ele disse que estou indo bem. — respondeu Gabriela, com uma confiança recém-adquirida. — E que o Ricardo não vai precisar correr atrás de mim se eu continuar assim.
— Ah, Gabriela, isso aí! — Ricardo respondeu brincando, mas com um sorriso protetor.
— Claro, Ricardo! Não vai precisar bancar o herói agora. — Fernanda interrompeu, piscando para Gabriela, e todos riram.
O dia passou rápido, com a rotina se estabelecendo enquanto novos casos surgiam na mesa. A cada relatório preenchido, Gabriela se sentia mais à vontade. Ela tinha se tornado parte daquele ambiente. Mas, ao final do expediente, o peso da responsabilidade ainda estava ali, uma sombra constante, lembrando-a de que ser policial não significava apenas lidar com o que estava na superfície, mas também com o que estava por trás de cada caso, cada operação.
Quando finalmente encerraram, Gabriela, Fernanda e Ricardo se despediram na porta da delegacia. O céu estava tingido de rosa e azul, e ela sentiu uma sensação de calmaria, como se o peso da noite tivesse ficado para trás.
Fim do capítulo
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