BIANCA
DILL POV
- Alan! Coloca o despertador pra não perder a hora. Conseguimos uma consulta amanhã em São Paulo, conseguimos a cetamina. - falo logo que chego em casa
- Aleluia mãe! Nossa. Eu vou ficar bom. Vamos ser felizes. Eu vou. Agora você precisa também. Tenho visto a senhora muito triste ultimamente. Saiba que te apoio em tudo. Sempre estarei do seu lado. - deu um beijo no meu rosto e foi dormir.
Foi um alento depois daquele dia.
Peguei meu celular e olhei as mensagens que o contador mandou. Cocei as têmporas. Não tinha muito a fazer.
Acordei bem cedo, partimos cheio de esperança. Lidar com essa depressão de Alan tem sido muito difícil. Toda vez que precisava deixá-lo sozinho eu sofria. Essa era a esperança de dias melhores. Chegando na clínica, as atendentes nos colocaram na sala onde seria o procedimento e nos explicaram que em alguns casos, pacientes têm crises e precisam ser controladas. Assim que ele entrou, praticamente me joguei na cadeira e chorei. Um choro que estava contido a muito tempo, parecia que era eu quem precisava daquelas injeções. A montanha - russa que tem sido minha vida. No que eu havia me tornado e o que estava perdendo com minhas atitudes. Sinto a mão de uma das atendentes em meu ombro, dizendo que tudo ia ficar bem.
Me acalmo e ligo para o Mario, meu contador.
- Mário eu estava vendo o balanite que você me mandou. Como assim, se eu vender minha parte, perderei tudo?
- Adriana, você está devendo muito. Com suas dívidas, se encontrar um sócio ele praticamente fica com a loja. Sinto muito. Meu conselho é que você não passe para um sócio. Vamos tentar outras formas nos bancos. - ele tentava me convencer a todo custo.
- Tudo bem! Eu vou pensar. Obrigada.
Depois de algumas horas, Alan é liberado, o levo para casa e penso em ir para a loja, quando estava guardando meu carro no estacionamento, vejo de longe Juliana junto com sua ex, elas estavam conversando bem próximas uma da outra, com tamanha intimidade. Meu coração doeu. Entro na loja direto para meu escritório, tento segurar o choro, mas não consigo.
Novamente, me vejo em lágrimas, debruçada sobre minha mesa, sem coragem de ser quem gostaria.
JULIANA POV
A semana começou dura, com muitas aulas. Tenho evitado dividir os mesmos ambientes que Adriana. Sempre que ela se aproximava, eu dava uma desculpa para me afastar, claro que era uma forma de proteção. Carla tem me rodeado, o que tem me deixado um pouco mais feliz. Tenho notado que Dill tem estado mais cabisbaixa, porém não queria me aproximar, sabia da barra que estava passando com seu filho, torcia pelos dois. Mas a distância.
Hoje fui ao centro buscar meu novo notebook. Carla foi junto. Nos divertimos no caminho, lembrando de coisas do nosso passado. Paramos para comer um salgado, num famoso bar do centro da cidade.
- Ju! Lembra daquela vez no carnaval que descemos essa rua, bêbadas com aquele seu amigo? Como ele se chama mesmo? - ela fazia um gesto de me empurrar com os ombros.
- Rodrigo. Nossa! Ele estava muito viado, dançando com aquelas asas de anjo- o imitei. Gargalhamos juntas.
- Sinto saudade daquela época. - percebi em suas palavras, um certo arrependimento.
- Era muito bom mesmo. Curti muito com ele antes de você. - tentei desconversar
- Estou falando da gente. - segurou de leve minha mão.
- Carla. Não tenho mais raiva de você, das traições, mas nosso tempo já passou.
- Mudei muito. Aprendi com meus erros. A gente se dava tão bem. - puxei minha mão de volta.
- Olha. Gosto muito de você. Será sempre uma grande amiga, mas não estou bem para estar com ninguém. - tentei ser carinhosa.
- Não diz nada agora, só peço que pense um pouco. Você está sozinha e eu também, ficamos tantos anos juntas. Temos muita história. Por favor.
- Tudo bem! Não te prometo nada. Preciso de um tempo tá bom?
- O tempo que precisar. Só quero estar do seu lado. - me deu um beijo de leve no rosto.
- Obrigada! Vamos que tenho de trabalhar ainda.
Não contei para ela que estava na loja da Adriana, só espiei com os olhos de longe, mas não consegui vê-la.
DILL POV
Debruçada sobre minha mesa, sem coragem de ser quem gostaria. Vejo Bianca entrar e trancar a porta.
- Por favor me deixa sozinha! - tentei me recompor.
- Já deixei tempo demais. - sentou-se à minha frente. -Você sempre me ajudou, tem sido uma patroa excelente, não posso mais te ver desse jeito e não fazer nada. - não gostava de me abrir com ninguém, mas naquele momento eu agradecia por alguém estar preocupada comigo. Veio me abraçando. Não me contive e chorei.
- Eu sou uma fraude!
- Porque diz isso de você?
- Bianca! Vivo uma vida de fachada. Tenho um ex que me chantageia porque amo alguém que não devo.
- Como assim está te chantageando? Dá queixa dele! - esbravejou.
- Não consigo! Não quero pagar o preço.
- Entendi. Se ama alguém que não deve, é porque essa pessoa ou é casado ou é mulher. - soltou um riso baixo, senti meu rosto corar. - Dri! Eu sou lésbica. Meu radar já passou por você. - arregalei o olhos.
- Bianca, por favor! - ela se ajoelhou na minha frente.
- Calma. Eu nunca falaria nada. Já passei por isso. Não foi fácil sair do armário também.
- Como foi com sua família? fui me acalmando.
- Minha mãe jurava que ia se matar se eu saísse com mulher. Me bateu, quase me colocou para fora de casa. Ficou sem falar comigo por um bom tempo, depois relaxou. Hoje sabe onde ela está?
- Onde?
- Na casa da minha sogra. Estão fazendo doces juntas. Viramos uma grande família. - sua fala animada, me deixava mais calma.
- Eles vão se decepcionar comigo Bianca! E se ela tiver um troço. Eu era casada, tenho um filho, quase 50 anos. Não vai entender que a filha dela quer sair do armário.
- Não tenho a sua idade, mas imagino sim que deva ser difícil. Olha quantas pessoas se separam depois de anos vivendo juntos. É difícil, mas se não fizer vai se arrepender depois.
- Eu sei! - suspirei fundo, ela me abraçou e depois saiu.
Depois dessa conversa, saí mais leve para dar aula. Juliana não foi trabalhar, foi levar a mãe ao médico.
Cheguei em casa, cumprimentei Alan que estava em seu quarto, jogando vídeo game. Parecia mais calmo. Perguntei sobre seu pai.
- Está no quarto, naquele computador. Pior que eu no game.
- Preciso conversar com você. - fiz menção para desligar o jogo.
- Deixa eu terminar aqui. - neguei com a cabeça, dizendo que era importante.
- Filho vou tomar uma decisão muito importante. Só você me importa.- senti uma lágrimas escorrer.
- Vai mandar o pai embora?- soltou rapidamente.
- O que pensa sobre eu e ele? - sentei me encostando na parede e ele fez igual.
- Ele nunca pareceu gostar de mim de verdade. Só implica comigo. De verdade, eu gostaria que ele fosse embora.-
- Você sabe que eu e ele não temos mais nada e que vou seguir com minha vida.- eu tentava uma forma de entrar no assunto com ele.
- Te amo tanto mãe! Sei que está difícil minha situação, se não fiz nada até hoje é por você, porque não quero te decepcionar.
- Para com isso Alan! - meu choro veio forte.
- Eu vou lutar a vida inteira contra isso mãe. - me abraçou.
- Se eu encontrar alguém filho?
- Só quero que você seja feliz mãe. Nós vamos ser. - choramos juntos.
Me refaço e sigo para o quarto de André, assim como em outras vezes, entro sem bater. Olho rapidamente para a tela do computador, noto um monte de mulher pelada. Ele fecha a janela do navegador.
- Veio trazer meu dinheiro Adriana! - não pareceu nem um pouco envergonhado com o que havia acabado de ver.
- Amanhã André! É por isso que vim. - saio do quarto e sem mais explicações vou tomar banho.
ANDRÉ POV
Vibro após Adriana sair do quarto. Ligo para Patrícia.
- Meu amor! Tenho uma novidade! - quase não me contenho de felicidade.
- Oi Garanhão! É sobre o dinheiro?
- Sim! Adriana disse que amanhã vai me dar. Não sei como ela fez, mas disse que será amanhã.
- Que bom meu gostoso. João teve aqui ontem. Quase contou para o Paulo.
- Relaxa! Falta pouco.
- Tá bom! Paulo está chegando. Te amo meu gostoso.
Meu sorriso se abriu. Que mulher linda. Não poderia perdê-la por nada.
- Vou fazer as malas, assim que ela me der o dinheiro, eu saio daqui. Beijo minha linda.
JULIANA POV
- Obrigada Carla! Sua carona foi útil ontem. Minha mãe agradeceu horrores depois. - eu enviava por mensagem o agradecimento.
- Imagina! Sei que faria o mesmo por mim.
- Estou te devendo uma, por isso, quero te chamar para tomar algo.
- Olha! Super aceito.
Fim do capítulo
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