Capitulo 22 - REALITÉ: realidade é ter os pés no chão
Capitulo 22 – Realité: realidade é ter os pés no chão
Ninguém é capaz de controlar o futuro, certo? Nos relacionamentos então, putz, nem se fala. É por isso que é impossível saber como as coisas vão acontecer e pensando por essa perspectiva é compreensível que queiramos saber e sentir que se têm os pés firmados ao chão e, portanto, tendo a realidade como nossa guia, não viveremos de ilusões, pois haverá um super cuidado em não nos expor com tamanha facilidade, chegando somente até onde é necessário. Só que, a parte que não nos contam é que, ter os pés no chão não é garantia de que vamos caminhar sem sofrer com os arranhões deixados pela vida. Não é garantia de que os acontecimentos não nos provoquem dias de mal-estar. Pelo contrário, é inevitável, na verdade. Por quê? Porque todos têm uma bagagem. E é por isso, que embora penoso, temos que aprender que ter os pés no chão na verdade significa que, mesmo e apesar de todas as coisas chatas que possam vir acontecer, quase nada poderá ser capaz de causar uma separação. Pelo contrário, deve ser uma oportunidade de construir um relacionamento resiliente e afetivamente responsável.
Depois daquela noite quase insólita, me obriguei a sair da cama bem cedinho. Liguei imediatamente para Luna e como era de se esperar, o aparelho não estava mais desligado, porém ela continuava a me evitar, chamou até cair na caixa postal, na segunda tentativa ela simplesmente rejeitou de cara. Enfim, precisava conversar com ela de qualquer jeito e não a deixaria fugir para sempre. Passei na padaria da esquina e comprei café e alguns pães de queijo, era provável que ela não tenha comido nada antes de sair. Faltavam apenas cinco minutos para as sete da manhã, quando cheguei ao escritório dela. Só ela pra me arrastar a um escritório jurídico àquela hora da manhã.
— Bom dia, Viv! Tudo bem? — Cumprimentei Vivian, a secretária, que já me conhecia há algum tempo.
— Bom dia, dona Patrícia. Tudo bem, sim e a senhora? Procurando a doutora Luna, eu presumo.
— É, pois é. Tudo indo. Sabes me dizer se a Luna já está por aí? E nada de me chamar de senhora, qual é, já falamos sobre isso.
— É o hábito, don... Paty. Melhorou?
— Fantasticamente, eu diria — sorri e ela me retribuiu com a gentileza de sempre.
— Ela está em uma reunião, que provavelmente não levará muito mais tempo. Que tal esperar na sala dela?
— Lestes meus pensamentos, por isso, você é a melhor! Obrigada e não diz que estou aqui, quero fazer uma surpresa.
Dei uma piscadela e Vivian sorriu cumplice. Entrei na sala e me deparei com o ambiente formal, típico das salas de advogados, tão estranho quanto desconfortável. Mesmo porque não era exatamente o tipo de espaço que combinava comigo e o meu constante estado de desastre ambulante. Alguns minutos se passaram e eu fiquei fazendo a única coisa que me restara, admirar o porta-retratos sobre a estante bem ao lado da mesa, com a foto da minha Luna. Ela vestia um terninho cinza, toda séria, mas como sempre linda. Sorri bobamente admirando-a e distraí-me tanto que sequer percebi Luna entrar na sala, quase fiz a moldura espelhada se espatifar tamanha a minha destreza.
— Bom dia, amor!
Disse depois de pôr a foto em seu devido lugar, me aproximei e tentei beijá-la, mas Luna desviou e acabei acertando sua bochecha. Um a zero para ela. Inspirei profundamente, não queria piorar as coisas entre nós.
— O que veio fazer aqui?!
Ela foi curta e grossa. Deixando bem claro o descontentamento com minha presença. É. A surpresa não foi das melhores.
— Trouxe café da manhã! — Me aproximei da mesa e levantei o copo e o saco de papel, sorrindo. Ela continuou com a cara fechada. Engoli em seco.
— Ah, por favor, amor. Até quando você vai me castigar?
Luna respirou fundo antes de me dirigir a palavra novamente.
— Não se trata de castigo.
— Não?! Mas parece.
— Jura?! Sabes que não levamos sequer 24 horas longe uma da outra, não é o fim do mundo, Patrícia!
— Talvez seja, já que você está tão chateada comigo!
— Não sou nenhuma criança para estar de pirraça com você, Patrícia. Portanto serei breve em minhas palavras — Luna soltou uma lufada de ar antes de continuar e eu senti medo pelo que viria a seguir. — Não é a hora e nem o momento de conversarmos sobre nada, estou em meu local de trabalho e você está me trazendo um problema pessoal enquanto tenho mil processos para analisar. Se não sabes o que significa separar o pessoal do profissional, eu sei, portanto, conversaremos em outro momento. Irei até sua casa essa noite, estamos acertadas?!
Ela perguntara firme sem nem me deixar escolha, logicamente que preferia sair dali com as coisas resolvidas entre nós, no entanto, era melhor escutá-la, ao menos ela prometera que conversaríamos ainda naquela noite. Seria um saco esperar! Baixei a cabeça e soltei um suspiro de frustração antes de responder.
— E eu tenho escolha? — Ainda alfinetei fazendo com que ela revirasse os olhos instintivamente. Segurei o riso, pois amava essa impaciência dela. — Ok, eu já entendi, não vou mais insistir, te vejo a noite, então. Será que posso ganhar um, beijo?
Tentei fazendo uma careta pidona, ela revirou novamente os olhos e balançou a cabeça em negativa soltando um sorriso discreto. Levantou-se e veio em minha direção, passou os braços ao redor do meu pescoço e eu a puxei pela cintura aumentando nosso contato e me perdi naqueles lábios que me deixavam cheia de saudades só de pensar em ter que ficar longe. Aprofundei o beijo e minhas mãos começaram a passear por vontade própria. Apertei-a em meus braços e nossas respirações se tornaram ofegantes. No entanto, antes que eu pudesse dar vazão ao calor que se espalhara por meu corpo, Luna nos interrompeu, para minha frustração.
— Não abusa! — Ela censurou limpando o batom borrado. Nos separamos depois de alguns segundos naquela posição, por mim não a soltaria nunca, mas ela precisava trabalhar e eu precisava pôr as ideias em ordem. Despedimo-nos e segui para casa.
O dia transcorrera lento e quando a noite chegou trouxe com ela a chuva, que resolveu cair vertiginosamente, de uma leve garoa logo se tornara torrencial. O trânsito àquela altura deveria estar um caos, e isso significava ter que esperar Luna por muito mais tempo. Suspirei um tanto desanimada olhando a chuva bater na vidraça de meu quarto. Ainda assim, resolvi preparar uma lasanha rápida, algo que Luna amava. Espantei-me quando, algum tempo depois que a lasanha já estava pronta, ouvi a campainha tocar. Ué? Será que Luna esqueceu a chave? Deixei a travessa descansando em cima do balcão e caminhei até a porta.
— Você?!
— Não vai me convidar para entrar? Nem por caridade?
Suspirei antes de abrir passagem para uma Mariana totalmente encharcada e com um visível hematoma no alto da testa. Pressionei a têmpora direita com o indicador e o polegar, preocupada e já pressentindo que aquela noite estava longe de ser agradável ou mesmo confortável.
— Você precisa se secar e vestir roupas secas ou vai pegar um baita resfriado. E que porr* de machucado é esse???!!! Você tá bem?? O que houve? Não me diga que aquele imbecil...
Falei sem conseguir completar e tentando afastar toda tensão... Estranheza... Climão mesmo, sensações estranhas que haviam se instaurado sem que eu pudesse fazer qualquer coisa. Ela continuou parada e se encolheu por segundos que pareceram uma eternidade.
— E...
— É...
Falamos ao mesmo tempo e eu desviei o olhar por conta de todo constrangimento, tão diferente de tempos atrás, quando algo assim acontecia o momento era preenchido por risadas sinceras e agora, isso. Ainda que tenhamos conversado na madrugada anterior, as feridas não cicatrizam do dia para a noite.
— Pode falar — disse contornando a estranheza do momento.
— É só que...eu não...não sabia pra onde ir. E não, o Thomas não tem nada com esse machucado, eu me bati na porta do armário. Meu pai descobriu a gravidez!
Mariana desatou a chorar soluçando e eu passei as mãos pelos cabelos, incapaz de me aproximar ou dizer qualquer coisa. Meu peito era um bolo gelado naquele momento, a visita fora tão inesperada que aquela estranheza toda não passaria nunca. Então, só tentei ser gentil.
— Tudo bem, primeiro você se seca e depois cuidamos desse machucado e então, conversaremos, ok! Você pode usar o banheiro do corredor, tem toalhas limpas no armário, já levo algo pra você vestir.
Mariana virou-se em direção ao corredor parecendo constrangida e debilitada ao mesmo tempo, eu apenas suspirei resignada. Fui à busca de roupas secas e deixei as peças no pequeno balcão que ornava o banheiro social e me retirei para a sala pensando em tudo e em nada, mas principalmente me perguntando o que eu faria em relação àquela visita indesejada. Uns dez ou quinze minutos mais tarde, não sei ao certo, Mariana surge com os cabelos molhados, vestida numa antiga calça de moleton que pertencia a ela e que ainda jazia no fundo de uma de minhas gavetas, completando com uma de minhas velhas camisetas, larga e surrada. Um look um tanto íntimo demais para a situação, devo confessar. E como se não bastasse minha predileção ao azar, Luna, que por um instante havia esquecido que estava para chegar, resolvera finalmente dar o ar da graça, o que de certo era um péssimo momento e um péssimo cenário. Principalmente tendo em vista o abalo em nosso relacionamento. Puta merd*! Foi o que consegui pensar quando as duas se fitaram.
— Ah, qual é, dá pra ser mais clichê?! ― Pensei em voz alta sem me dar conta. — Não é o que você está pensando, eu posso explicar!
Péssima escolha de palavras. Arrependi-me no mesmo instante em que Luna me fuzilara com o olhar. Ok, eu era um completo desastre!
— Visita?! Não está muito cedo?
Luna foi irônica, mas tentava se controlar. Eu sabia o quanto ela não suportava dar uma de louca ciumenta. Mas as situações estavam ficando recorrentes. Quem poderia julgá-la por isso, não é mesmo?
— É... Vou até a cozinha.... Se me dão licença...
Constrangida Mariana falou e saiu apressada em direção à cozinha. Então, sem dar tempo de Luna ir embora, arrastei-a até o estúdio. Mas, ela sequer me dera chances de explicar. Mal entramos e ela desabafou tudo o que pensava.
— Não quero ouvir explicações ou desculpas, quero apenas que você me ouça! — Luna dissera muito séria, mais que isso, perecendo muito desapontada e ter aquele olhar dirigido a mim era como um soco no estômago. Concordei com o que ela dissera e continuei calada para que prosseguisse. — Sei que estar num relacionamento implica conviver com as diferenças, compreender, respeitar e resolver os pormenores em parceria, todo mundo sabe disso. Mas sabe o que não implica Patrícia?! — A pergunta foi retórica e eu engoli em seco. — Não implica em aceitar sua ex pairando sobre nossa relação como um fantasma, não implica ter que aceitar você largar tudo o que está fazendo todas as vezes que ela gritar porque quebrou uma unha. Não implica chegar aqui e dar de cara com ela como se ela fosse a dona da casa. Como se ELA fosse a namorada e eu a intrusa. Não sou do tipo que protagoniza cenas, você o sabe muito bem, no entanto, não é a primeira vez que isso acontece e não quero e jamais vou aceitar te dividir com ela ou qualquer outra! Então, resolva suas pendências com ela de uma vez por todas e aí nós conversamos. Porque eu cansei, PATRÍCIA! Cansei de enxugar suas lágrimas sempre que ela te magoou! Cansei de ser sempre a “outra”! — Fez aspas com as mãos enquanto eu me sentia um bichinho acuado.
Um silêncio sepulcral se fizera, antes que eu recobrasse a consciência e impedisse que Luna saísse antes que eu pudesse contrapor.
— Espera! — Quase gritei. — Eu sei, eu sei... talvez você tenha razão e não mereça nem que me escutes...
― A questão não é ter a razão e menos ainda, merecimento, Patrícia! O que me incomoda é essa sensação de estar vivendo um triangulo amoroso!
— Triangulo amoroso? Mas que droga é essa agora?! Eu jamais te colocaria em uma situação assim!
— Só que, é justamente assim que me fazes sentir quando você sai correndo atrás dela!
— Eu não corro atrás dela! — Retruquei muito indignada, mais parecendo uma criança mimada do que alguém adulto com um argumento! — Eu só.... Atendi a um pedido da MÃE dela! Não foi nada demais!
— Jura?! — Ela foi sarcástica. — Então me responde: Até quando você vai ter que resolver os problemas da Mariana?
— Também não é assim!
— E é como, Patrícia?! Me explica, porque foi exatamente o que aconteceu. Você sequer perguntou se eu queria te acompanhar?!
— E você iria?
— Claro que não, mas a questão não é essa, você sequer me deu a oportunidade de dizer não, pois isso nem passou pela sua ideia e sabe por quê? Porque sua única preocupação era ela, você simplesmente me largou aqui, no meio da noite e saiu correndo para salvar a donzela em perigo! Me diz uma coisa, estás confusa é isso, percebeste que estar comigo não é realmente o que queres? Porque eu já não sei o que pensar!
Ela me olhava em desafio.
— Quê?! Claro que não! Qual é Luna, assim também não dá para conversar!
— É mesmo?! Pois eu acho o momento maravilhosamente oportuno, já que foi você mesma quem insistiu nessa conversa!
— Tá ok! Me expressei mal, só tenta me escutar, por favor! — Luna caminhou até a janela e mirou o horizonte de luzes, da cidade e dos raios que cortavam o céu ficando em silêncio. Entendi que podia continuar — Eu realmente sinto muito que minhas escolhas tenham criado todas essas confusões entre nós. E me sinto realmente envergonhada por fazer você se sentir dessa forma. Mas só que muito, além disso, queria agradecer por ainda assim, estares ao meu lado. Não posso prometer que essa nuvem passe logo, mas prometo que farei tudo para que passe. Sempre vou estar aqui para você! Eu te amo e claro que quero estar contigo!!! E só queria que você soubesse entendesse isso! Não existe confusão ou qualquer dúvida.
— O problema, Patrícia, é que muitas vezes nós pensamos querer estar em um determinado lugar, mas ao chegar nesse lugar nos damos conta de que, na realidade não queríamos estar ali, e quando isso acontece todos os envolvidos sofrem! E não quero mais estar envolvida nisso, não me envolvas mais em tuas confusões.
— Meu amor, eu garanto que não é isso que está acontecendo, já disse que te amo e que quero estar contigo, por que é tão difícil de entenderes isso?
— Talvez seja porque suas atitudes demonstram o contrário, Patrícia! — ela respondeu com a voz embargada.
Tentei me aproximar quando vi que ela enxugou uma lágrima, porém ela se afastou rapidamente, me olhou com tristeza e virando-se saiu sem olhar para trás. Ainda fiquei alguns poucos segundos sem reação apenas me achando a criatura mais imbecil do planeta, até que o barulho estrondoso de um trovão me tirou daquela letargia de autopiedade. Apressei-me, no entanto, antes de atravessar o vão de acesso ao corredor, detive meus passos assim que escutei a voz de Luna em um tom nenhum pouco amigável.
“...até você vai querer DR comigo? Faça-me o favor!” — Ela fora sarcástica.
— Desculpa, mas não pude deixar de ouvir o que você falou e saiba que o fato de me encontrar aqui não foi culpa dela, ok — escutei a voz de Mariana.
— Ouvir a conversa alheia não é nenhum pouco educado e acredito que a Patrícia não precise que alguém advogue em nome dela, até porque se ela precisasse, ela tem a mim. — Luna respondera novamente cheia de sarcasmos e parecendo um tanto incomodada.
— É claro que tem e realmente, ela não precisa, mas ainda assim insisto, não fique brava com ela, só me escute por um minuto, acho que nunca nos demos uma oportunidade de trocar algumas palavras. — Mariana pareceu respirar fundo antes de continuar e eu a essa altura nem sabia mais o que pensar ou o que fazer, não sabia se interrompia antes que tudo acabasse em puxões de cabelos ou simplesmente permanecia estática com o coração a mil, resolvi continuar onde estava e ver até onde aquela conversa iria. Quando Luna não respondera nada, ouvi Mariana prosseguir, como quem luta para dizer algo extremamente difícil de ser dito.
— Odeio admitir isso, mas ela ama você — ela fizera uma pausa quase dramática antes de continuar. — E dói tanto admitir isso, porque eu sei que a perdi, sei que estraguei tudo e sei que a minha chance passou. Queria que você soubesse que estou aqui porque ela, mesmo e apesar de tudo que fiz... Bom, ela ainda me é uma boa amiga e apenas isso. — A voz de Mariana soou embargada e, pela primeira vez naquela noite, me dei conta do quanto ela estava sofrendo, senti o peito arder e engoli em seco. — Eu... Só precisava de ajuda... Sei que ela não deve ter tocado no assunto, porque não é algo que pertença a ela, mas estou grávida e completamente perdida. Meu pai descobriu hoje e tivemos uma briga feia, eu só não tinha para onde ir, me desculpa ter causado tanto desconforto. Provavelmente você não acredita em uma só palavra minha e nem tem essa obrigação, mas sabe de uma coisa? Você não deve se lembrar ou mesmo saber, mas eu sei.... Sei o exato momento em que perdi a Paty, ou melhor, que havia perdido a Paty, perdi a pessoa mais incrível desse mundo, a pessoa que faria qualquer coisa por mim, não digo que a perdi para você... pelo contrário, perdi porque fiz escolhas erradas. Mas você.... Você a conquistou e ela se apaixonou... — ouvi Mariana soltar um riso de derrota antes de continuar — e eu percebi isso na noite de ano novo, logo que voltei a quase um ano atras. Naquela noite, passamos o tempo todo correndo atrás de você na verdade. Foi assim que ela machucou o tornozelo aquele dia, porque não conseguia encontrar você em lugar algum. Ela já te amava, só não sabia disso, hoje eu também enxergo o quanto fui babaca ao ficar no caminho do amor de vocês, e peço desculpas por isso também! Então... Só... Pensa nisso, conversa com ela, não a deixe escapar como eu deixei.
Senti-me verdadeiramente tocada pelas palavras de Mariana e ainda assim não ouvi Luna responder qualquer coisa. Ouvi apenas o barulho dos saltos que ela usava indicando que ela se afastava, saí de onde estava e topei com Mariana ainda parada olhando em direção à saída.
— Obrigada por tentar — sibilei para ela.
— Não foi nada, agora não fique aí parada, vai atrás dela!
Segui o conselho de Mariana corri para alcançar minha namorada. Encontrei-a esperando o elevador. Ela batia o pé visivelmente impaciente, um charme eu diria, e poderia ficar ali só a admirando, mas a urgência do momento me impediu.
— Bater os pés nessa velocidade não fará o elevador chegar mais rápido, sabia?!
Luna nem me olhou e continuou na mesma posição. Suspirei me aproximando.
— Amor, não vá! A chuva ainda está fortíssima, a cidade alaga, é perigoso! Fica por favor!
Implorei me aproximando ainda mais antes de continuar minha súplica.
— Eu raramente sou a voz da razão para qualquer que seja a situação, mas sabes que desta vez estou certa!
Tentei ser o mais convincente possível e vi uma Luna que, parecia travar uma batalha interna entre o orgulho ferido e o bom senso, respirar fundo antes de me responder muito a contragosto.
— Tudo bem, mas apenas porque está chovendo e tira esse sorrisinho idiota da cara.
Nem percebi que estava sorrindo, tentei fechar o rosto, mas era meio impossível, já que ter conseguido convencê-la me deixava com a vantagem de poder estar com ela por perto essa noite, como era o plano original. Quando entramos não vi Mariana, presumi que teria ido ao quarto de hóspedes. Seguimos para meu quarto, Luna foi direto para o banho. Suspirei profundamente, me ajeitei na cama e peguei um livro na esperança de que a leitura me fizesse relaxar enquanto esperava por ela. Depois de mais ou menos meia hora ela irrompeu o quarto com a escova de dente em riste e os lábios envoltos em uma pequena nuvem de espuma branca.
— Você a ama?! — Ela me pegou de surpresa com aquela pergunta. Abri e fechei a boca, mais perplexa do que em dúvida. No entanto, essa pequena hesitação foi suficiente para que ela pensasse que a dúvida ali era real. — Você nem consegue responder, eu sou uma idiota mesmo! — Ela girou sobre os calcanhares e voltou para o banheiro balançando a cabeça em negação.
— Amor é claro que não! — Me levantei de um salto e saí falando logo atrás dela.
— Você hesitou... — ela contestou com o olhar nublado de tristeza.
— ...eu sei, eu sei... sei que pareci hesitar,
— Não precisas tentar se justificar, eu já entendi que...
— Não, não, não... — a interrompi — ...olha pra mim, por favor — pedi tocando seu ombro com delicadeza até ficarmos de frente uma para outra. — Amor, não me entenda da forma errada, eu não hesitei, só fiquei meio chocada com a pergunta. Porque na minha cabeça, achei que era mais do que claro o que eu sinto por você!
— Desculpe, pode não parecer, mas sempre sinto essa insegurança, esse medo invadir quando se trata dela. Eu sei, parece idiota, mas não é como se ela não tivesse sido o grande amor da sua vida até ontem!
Luna fez uma expressão envergonhada, algo até fofo, mas muito, além disso, ela parecia vulnerável e isso era o completo oposto do que eu queria fazê-la sentir.
— Primeiro você não é idiota e nunca será. Segundo, eu amo você e só VOCÊ! Não é nenhum segredo que eu já amei a Mariana, amei demais, num tempo que agora parece tão distante e tão confuso que mais parece uma trágica lembrança de algo que nunca realmente existiu. Seja por nossos desencontros ou por nossa imaturidade. E quer saber? Foi melhor assim, a gente tinha que passar por tudo isso. Ou talvez eu não tivesse conhecido você e finalmente descoberto o que é o amor límpido, verdadeiro e indelével. Daqueles que vão durar uma vida inteira e até depois dela, quem sabe?! E isso, é o que eu realmente sinto, não são apenas palavras, está aqui ó!
Apontei na direção do coração e em seguida puxei a mão dela para que ela sentisse o quanto meu coração galopava como louco. Então sorri de forma significativa e vi os olhos de Luna marejarem diante de minhas palavras. Palavras essas, eu sabia, carregavam um mundo de verdades e uma longa caminhada, não como um conto de fadas e sim com os pés no chão, sabendo que passaríamos por cada percalço, desde que estivéssemos juntas.
— Posso dormir no sofá se quiseres!
Continuei enquanto segurava seu rosto entre minhas mãos.
— Mas nem pensar! Agora cala a boca e me beija!
Obedeci e confesso, já não aguentava de saudades.
— Ah, só mais uma coisa... — ela dissera quando nos separamos por alguns segundos — Desde quando usas a palavra indelével?
Ela sorria toda zombeteira. Aquele sorriso perfeito que aquecia meu coração.
— Ah! Não enche!
Respondi e não pude evitar soltar uma sonora gargalhada antes de tomar seus lábios novamente num beijo cálido e enfim aproveitar o restante da noite ao lado dela.
Fim do capítulo
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