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Entre Você & Eu por EriOli

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Palavras: 4333
Acessos: 897   |  Postado em: 25/09/2020

Capitulo 21 ? REPUDIUM: o ?valor? que não se merece

Capitulo 21 – REPUDIUM: o “valor” que não se merece

Vir ao mundo será precisamente, o início de um verdadeiro romance dolorido e se soubéssemos o que nos aguardaria ao longo do tempo vindouro, provavelmente sequer nos atreveríamos a vencer àquela corrida de espermatozoides. No entanto, o nascimento também é a conclusão de um longo processo. Um processo complexo que para uns é um instante de realização, enquanto para outros pode tornar-se um momento de angústia e repulsão. E é decepcionante que algo feito para ser lindo acabe por trazer medo. Medo da rejeição. Mas é exatamente esse tal medo que faz o ser humano rejeitar o objeto indesejado. E bom isso causa feridas profundas em todos os envolvidos, feridas muito difíceis de curar. Difíceis até para o famoso TEMPO. Nunca havia refletido sobre isso até essa noite.

Desci do taxi ainda sem ter certeza de estar a fazer o certo, mas já que estava ali, não custava entrar, ao menos foi o que pensei. Como sempre, os seguranças não impediram minha entrada. Respirei fundo enquanto decidia se era mesmo uma boa ideia ter vindo. Quando finalmente decidi, a porta se abriu antes mesmo que eu tocasse a campainha. Tia Verônica me abraçou quase emocionada por me ver ali, fiquei até um pouco vexada. Atravessamos o saguão e passamos em frente à sala de TV, “aquela maldita sala”, foi inevitável reviver um dos piores momentos da minha vida, os flashes me alcançaram e uma vertigem ameaçou me atingir. Não me sentia na melhor das posições e “maldita hora que aceitei vir até aqui”, pensei me arrependendo logo de cara. Respirei fundo disfarçadamente e passei a me concentrar no que tia Verônica relatava.

— Que bom que você veio minha filha, eu realmente não consigo entender o que está acontecendo. Já faz alguns meses que a Marizinha anda estranha e triste pelos cantos, mas é claro que ela não me fala nada. E a verdade é que o período coincide exatamente com o tempo que ela não fala em você e ela sempre falou de você pelos cotovelos, por isso te procurei no mês passado. Principalmente porque você não tem aparecido por aqui há tempos. Mas hoje foi a gota d’água, ela simplesmente surtou e o Henrique queria chamar os bombeiros, a polícia, agentes de alguma clínica para loucos. Imagina só, a Marizinha numa clínica dessas! Um escândalo!

Tia Verônica desatou a falar enquanto me conduzia escadaria acima. E eu? Eu apenas balançava a cabeça e soltava algum “uhum”. Ouvir tudo aquilo não estava sendo nada fácil, principalmente porque tia Verônica nunca soube a real natureza da relação entre Mari e eu.

— Eu entendo tia — me forcei a dizer. — Fica tranquila, vou tentar conversar com ela, mas não prometo nada.

Finalizei no exato momento em que chegamos ao quarto dela, um caminho tão conhecido e que agora não passava de uma dolorida lembrança. Fiquei alguns segundos encarando aquele pedaço de madeira em forma de porta.

— Bom, vou te deixar tentar e se conseguir, por favor, a faça comer alguma coisa!

Tia Verônica falou parecendo perceber minha hesitação. Assenti e agradeci mentalmente quando ela se afastou. Respirei fundo novamente, sentindo o desconforto como um mau presságio percorrer meu corpo antes de bater na porta.

— Vá embora, mãe! — A voz dela saiu brava e eu ignorei, alcancei a maçaneta e girei pra tentar a sorte, mas a porta continuava trancada. — Já disse pra ir embora, me deixem em paz, não quero nada, só quero morrer! — Ela esbravejou novamente lá de dentro, a última frase saiu embargada e ao mesmo tempo cheia de desespero. “Pra quê tanto drama?!” pensei comigo mesma, porém logo me repreendi, fazia alguns meses que não a escutava e ouvi-la desse jeito fez meu coração palpitar de apreensão. Ainda me preocupava com ela, a quem eu queria enganar, afinal. Inspirei e respirei profundamente antes de me pronunciar.

— Mariana! Sou eu, abre, por favor!

Silêncio. Por uns longos minutos foi tudo o que obtive.

— É sério, Mari, sou eu, a Patrícia! Abre essa maldita porta, por favor!

Tentei mais uma vez. Bufei com a teimosia dela. Eu não tinha lá muita paciência. Encostei minha cabeça na porta batendo levemente, foi quando percebi um movimento de dentro do quarto. Endireitei-me e esperei mais alguns segundos até escutar o barulho característico das chaves e ver a maçaneta remexer-se me fazendo vibrar em expectativa. “Diabos, o que está acontecendo comigo?” pensei, mas afastei esse pensamento no mesmo instante em que, vagarosamente, ela entreabriu a porta e me olhou com surpresa. Soltei o ar com vontade e só aí percebi que estava segurando a respiração.

— Será que eu posso entrar? — disse receosa e nem sei dizer exatamente qual era o real motivo do meu receio.

Ela apenas balançou a cabeça e abriu passagem. Atravessei o vão sentindo meu coração disparar. A primeira coisa que vi foi o completo caos que se encontrava aquele quarto que antes era de uma organização impecável. Era como se todas aquelas coisas tivessem sido cuspidas de um buraco negro e caíram ali de qualquer jeito. Roupas, livros rasgados, papéis, fotos amassadas, tudo espalhado e misturado a cacos de vidro. Dei uma volta completa pra olhar todo o estrago e parei de frente para o grande espelho, que antes ia do chão ao teto, ela adorava aquele espelho e agora não passava de um monte de pedaços no chão e o que ainda restava na parede, jazia trincado. Vi-me através do reflexo rachado e logo atrás estava Mariana, um verdadeiro retrato de como nossa relação se encontrava. Quebrada.

Ela mordiscava a manga esticada do moletom, o rosto abatido, lábios ressecados, olheiras profundas, olhos muitíssimo vermelhos e inchados. Marcas de muitas horas sem dormir e de muito choro. Parecia bem mais magra e a pele muito pálida. Vi tudo isso sem nem olhar diretamente para ela. Quando virei-me, ela me encarou envergonhada, cruzou os braços e agarrou o próprio corpo desviando olhar.

— O que...você... tá fazendo aqui?

Ela perguntou quase num fio de voz, entre pausas e pigarros. O tom estava rouco, arrastado. Cheguei a pensar que vê-la me faria reviver e sentir toda a raiva daquela noite horrenda. Mas não, vê-la naquele estado deplorável me fez engolir em seco na verdade e um sentimento de... Indulgência, pena mesmo, eu acho, sei lá, me invadiu e tudo o que queria era poder toma-la em meus braços e cuidar dela. Ali eu não enxergava a Mariana que me traiu. Ali eu só conseguia enxergar a Mariana, a amiga, agora muito deprimida e fragilizada. Mas ainda conseguia enxergar aquela que me abraçou e chorou junto comigo, por muitos dias e noites, a morte dos meus pais. Aquela que ouviu sobre todas as minhas alegrias e decepções durante muitos anos. Aquela que fazia de tudo pra me fazer sorrir quando as coisas não saíam como eu planejava me deixando puta da vida. Sorri de lado com todas as lembranças. Limpei a garganta antes de voltar a falar.

— Vim ver você, saber o que houve. Agora me fala, o que aconteceu com você, Mari? Fala pra mim, por favor!

Tentei soar amigável. Ela riu com amargor e seu rosto franziu como se sentisse uma dor profunda. Sua feição se tornou uma careta entre a dor e o sarcasmo. Então vi seus olhos encherem-se de lágrimas que foram logo derramadas.

— O que aconteceu?! Por que você se importa? E justamente agora? — Ela virou-se dando as costas para mim tentando conter as lágrimas. — Mas é claro, também pudera, nunca saímos da zona da amizade mesmo!

— Zona da amizade? É disso que se trata? — quase fui rude.

— É, zona da amizade — ela fez aspas com as mãos.

— Para com isso, sabes que sempre fostes pra mim muito mais que isso. Somos quase...

— Cala a boca! — ela tentou gritar, mas foi mais uma tentativa frustrada já que a rouquidão era grande. — Se a palavra IRMÂ está pretendendo sair dessa boca, é melhor você parar porque isso eu não vou aguentar! — ela me olhou com profunda tristeza antes de continuar. — Achas que foi fácil naquela época? Eu estive sempre do seu lado, sendo o ombro amigo, a que está sempre disposta a ajudar, sendo a confidente, aquela que escuta os problemas, aguenta as crises como se fosse a namorada, mas nunca sendo realmente a namorada e quando finalmente consegui uma chance, tudo deu errado! Aquela lá apareceu e te roubou de mim! — os olhos encheram-se novamente de lágrimas, a raiva era quase palpável — E quer saber? Nem era pra você estar aqui, você me expulsou da sua vida, não lembras? E eu duvido que sua nova namoradinha concorde com sua presença aqui! Então, só volta pra ela e me deixa em paz, ok! — ela virou-se ficando de costas para mim.

Mesmo com toda a rouquidão, a última frase foi dita quase como um escárnio, podia sentir os ciúmes e a frustração em suas palavras. Suspirei resignada e controlei a vontade de responder de forma nada educada, afinal alguém devia ter o controle, mesmo porque não queria que nossa conversa assumisse esse rumo.

— Eu não vou sair! Não vamos revirar o passado, isso só vai nos machucar! Achas que eu que eu queria magoar você tão profundamente? Achas que é isso que eu desejo pra você? Te ver nesse estado deplorável? Ver-te assim me dói como em todas as vezes que já te vi machucada e, eu sei o que você tá tentando fazer e vou logo dizendo, não vai funcionar, só saio daqui quando você abrir o verbo! Sei que não é por causa do que aconteceu entre a gente que você está assim! — Me aproximei enquanto ela respirava fundo e limpava as lágrimas ainda de costas.

— Foi a minha mãe quem te chamou, não é? — Ela falou mais afirmando do que perguntando, já virando de frente.

— Mãe é mãe, cê sabe — dei de ombros— elas nunca deixarão de se preocupar!

Sorri de forma amistosa. Ela apenas arqueou umas das sobrancelhas balançando a cabeça um tanto contrariada e caminhou até a cama, afastou uma pilha de roupas e sentou passando as mãos pelos fios loiros. Acompanhei seus movimentos e em seguida ergui uma cadeira que jazia de pernas para o ar. Escolhi um lugar próximo a ela e abri espaço entre as coisas jogadas ao chão. Posicionei a cadeira, sentei e aguardei por um tempo bem considerável. Aguardei que ela se entregasse as lágrimas mais uma vez, completamente desolada. Ela finalmente havia abaixado à guarda e, além disso, eu sabia que todo aquele discurso era somente uma forma de tentar me afastar.

— Como o mundo dá voltas não é mesmo? — ela iniciou com uma pergunta retórica. — Achei que conhecíamos uma a outra mais que qualquer pessoa no mundo e em outros tempos eu não teria dúvidas de que você seria a primeira pessoa a quem eu contaria qualquer coisa que me acontecesse. De certa forma ainda não existe qualquer pessoa pra quem eu quisesse tanto contar o que está havendo. Merda! Meu pai vai me matar! Acabou tudo! Tudo! O mundo inteiro desabou aqui ó — ela apontou para o topo da própria cabeça e começou chorar novamente — sonhos, planos, metas... Tá tudo arruinado!

— Calma Mari — me aproximei e ajoelhei diante dela, levei a mão pra limpar seu rosto molhado e ergui pelo queixo fazendo-a olhar para mim. — Olha só, não há nada nesse mundo que quebre e não possa ser consertado. Vamos dar um jeito, ok.

Tentei ser gentil.

— Até pra gente?! — Fiquei pensando em que sentido ela perguntava e engoli em seco, magoá-la não era bem o que eu queria naquele momento, mesmo e apesar de tudo o que havia acontecido.

— Por que não? — disse e sorri cautelosa, depois de um tempo. — Quem sabe possamos recuperar nossa amizade, talvez não como aquela de antes, mas ainda assim uma amizade — completei.

Ela pareceu um tanto decepcionada, mas o que eu poderia dizer? A paixão já não existia e isso era em mim uma certeza completamente absoluta. Então ela começou a chorar novamente, e eu não tinha o que fazer. Voltei a sentar, mas agora sentei ao lado dela, na cama. Abracei-a e logo ela se agarrou a mim.

— EEE...eu...eu não posso! Não posso!

Ela disse balançando a cabeça de forma negativa depois de um tempo, quando nos separamos.

— Só... Tenta, por favor! — Disse ainda segurando em seu rosto.

Mas então do nada ela resvalou a boca na minha forçando um beijo, ou ao menos foi o que ela tentou fazer.

— Não! — Interrompi. — Para com isso — eu a segurei pelos ombros e afastei nossos corpos me levantando logo em seguida.

— Mas você diss...

— O que eu quis dizer é que você pode contar comigo, não que teremos algo a mais, só quero ajudar você, mas tô começando a achar que foi um erro ter vindo até aqui.

Ela me olhou envergonhada e ficou de pé novamente, começou a andar de um lado para o outro antes de voltar a falar.

— É complicado... Você... Você não entenderia e desta vez não há o que você possa fazer pra consertar. — E entre novas lágrimas ela finalmente completou. — Eu tô gravida! GRAVIDA! Entende agora? É capaz de entender a porr* da merd* que aconteceu comigo?! — ela abriu os braços gesticulando para todos os lados e encostou-se a parede ao lado da porta que dava para a varanda. — E justo agora que ganhamos uma chance de nos apresentar em uma das melhores companhias de dança contemporânea de Nova York, daqui a seis meses! Isso não podia ter acontecido! Eu não posso ter esse bebê! Eu não posso!!!

Ela terminou a frase levando as duas mãos ao alto da cabeça enquanto suas costas escorregavam pela parede até seu corpo estar completamente no chão, chorando compulsivamente como um bichinho acuado. E eu? Eu só fiquei ali parada olhando para ela, totalmente sem reação, abri e fechei a boca infinitas vezes. Embasbacada com tamanha revelação. Ela era sempre tão cheia de certezas e em pleno século XXI é quase impossível conceber a ideia de que uma mulher adulta e instruída seja tão irresponsável e se permita uma gravidez indesejada, principalmente com tantas formas de prevenção! Mas de uma coisa ela tinha razão, o tio Henrique iria matá-la e imagina a tia Verônica, tão socialite, iria ter um treco gigante. Porr*!

— Você nem consegue dizer nada — ela voltou a falar depois de controlar um pouco o choro — tudo o que me resta é isso, chorar. Foi tudo o que consegui fazer desde que descobri, há duas semanas. Você deve está me achando uma idiota e tem toda a raz...

— Não! Você não sabe o que eu tô pensando, é talvez você tenha sido um tanto irresponsável com você mesma, mas quem nunca, não é? O fato é que o que foi feito, está feito, ponto. Você já falou com o Thomas? — perguntei já intuindo a resposta, que veio logo em seguida em forma de uma nova choradeira. — Claro que falou, não é? E é por isso que você tá assim. Óbvio! Aquele babaca disse o quê, hein?! Responde! — Tá eu me exaltei um pouquinho, mas só de imaginar o que aquele rato devia ter falado me subia uma ira. Respirei fundo novamente e voltei a me recompor.

— O que você acha? — Ela respondeu soluçando — Por que você acha que eu não faço outra coisa além de chorar? Ele foi bem claro, não quer esse filho, na verdade ele quer que eu vá a uma clínica de... — outro soluço amargurado e ela não conseguiu completar imediatamente — ele me culpa por ter engravidado, por estragar os planos dele, me chamou de egoísta e mais um monte de xingamentos, eu tô apavorada! Só consigo chorar...choro e penso nele...choro e penso na minha família...choro e penso em abortar...choro e penso em acabar com tudo de uma vez! Mas eu sou tão covarde!

O desespero era não apenas visível, era audível também, ouvi-la e vê-la nesse estado me condoeu de tal forma que eu sequer poderia imaginar como era estar na pele dela nesse momento, só conseguia pensar em abraça-la e foi o que fiz, sentei ao seu lado e puxei-a para um abraço enquanto ela chorava e repetia que o babaca do Libélula não queria o filho, que era tudo culpa dela. “Mas que otário! Tão clichê quanto imbecil!”, pensei. Ficamos ali abraçadas por um longo tempo até que ela se acalmou.

— Olha só, eu sei que está sendo difícil e eu nem imagino como deve ser estar no seu lugar, mas quero que você saiba que eu estarei aqui pra você, ok! Já chega desse chororô, por hoje o que vamos fazer é tomar um banho, trocar de roupa e comer alguma coisa, não adianta ficar aqui se lamentando e se enchendo de talvez, o que nos resta é seguir em frente e é exatamente isso que faremos! Chega de irresponsabilidade com você mesma. Você vai tomando um banho aí, que eu darei um jeito nessa cama e pedir que te preparem algo leve, ok. Agora, já pro banho, mocinha!

Sorri amistosamente e levei-a até o banheiro, liguei o chuveiro enquanto ela se despia lentamente, em seguida deixei-a antes que ela ficasse completamente nua, tanto por respeitá-la quanto por ela estar inteiramente envergonhada em minha frente. Saí de lá e fui até a cozinha onde encontrei tia Verônica.

— Oi minha filha, conseguiu conversar com ela?! Como ela está?! Está machucada?! Ela disse o que está acontecendo?! — Aflita, ela foi logo me bombardeando com perguntas.

— Acalme-se tia, pode ficar tranquila, ela está bem na medida do possível, não está machucada, fisicamente, quero dizer. Quanto ao que está acontecendo, acho melhor que ela mesma converse com a senhora, e ela vai, eu prometo. Mas agora o que ela precisa é comer alguma coisa leve depois que sair do banho. Vou tentar dar um jeito na cama pra que ela possa descansar.

— Mas... — tia Verônica ainda tentou questionar, no entanto, logo pareceu pensar melhor e suspirou antes de continuar — ...tudo bem, vou pedir a Clara que arrume um dos quartos de hóspede e amanhã daremos um jeito no quarto dela, eu sei que você quer ficar com ela, então vou te deixar ir, enquanto isso eu mesma preparo uma sopa rápida.

— Ótimo! Obrigada tia!

— Eu é que tenho que te agradecer minha filha, eu não sabia mais o que fazer e só você veio a minha mente nesse momento, tinha certeza que ela te escutaria. — Ela falou com sinceridade e me beijou a bochecha. Fiquei sem graça.

— Que nada tia, é como a senhora disse, ela só precisava de uma amiga — respondi sorrindo e completei — bom, eu vou lá, ok!

— Tudo bem, a Clara vai em seguida!

Assenti e caminhei de volta ao quarto, ainda pensativa. Lembrei que tinha que avisar a Luna que ainda iria demorar, tentei ligar umas três vezes e todas as chamadas foram para a caixa de postal, nem minhas mensagens ela visualizara, saco. “Será que ela desligou de propósito?” Pensei. Se fosse isso quer dizer que eu estava em maus lençóis, mas enfim deixaria para resolver isso quando voltasse para casa. Entrei e Mariana ainda não havia saído do banho, fui até a porta do banheiro e perguntei se estava tudo bem, mesmo e apesar de ouvir o forte soluçar que sobressaía ao barulho de água. Levou alguns minutos até que ela respondesse que estava bem, mesmo com a voz totalmente embargada. Voltei-me para o quarto e suspirei cansada, olhei ao redor e mais uma vez me deparei com aquele caos que era o retrato exato da bagunça que devia estar o interior de dela.

Caminhei até a cama e comecei a revirar as coisas que ali estavam, achei entre os papéis amassados uma foto antiga, nela duas adolescentes sorriam abraçadas e sujas de sorvete. Imediatamente fui transportada para aquela época, tínhamos 13 anos, havia dois anos que nos conhecíamos e aquela tarde, em particular, tinha sido muito especial. Era um sábado e estávamos no meio do Parque Ecológico da cidade, os sorrisos iam de orelha a orelha. Aquele click foi feito um pouco antes de irmos ver a grande Onça Pintada, a rainha das selvas brasileiras, era assim que Mariana descrevia, e não pude deixar de sorrir com essa lembrança. A ansiedade era visível, ela dizia que a onça era como uma gatinha crescida e cismou que queria passar as mãos nos pelos fofinhos, segundo ela, da onça. Foi aí que todo o passeio terminou em bronca, para ela é claro, já que tinha soltado a mão do tio Henrique e avançado em direção a jaula num piscar de olhos, como se ela fosse conseguir saltar as barras de proteção, mesmo assim meu coração estava batendo a mil com a possibilidade de a onça ataca-la, e apesar disso eu a achei tão corajosa e me perguntava se um dia eu teria toda essa audácia indomável que ela possuía. E foi assim que ela ficou de castigo, mas dentro de mim aconteceu algo bem mais incrível, foi como se nesse dia houvesse nascido uma espécie de adoração por ela e por tudo o que ela fazia e a partir daí não nos desgrudamos mais. E agora depois de tantas voltas, ela estava tão fragilizada. Suspirei e então ouvi o barulho da porta do banheiro me arrancando daquelas lembranças.

Virei-me rapidamente para ela e seu olhar foi instantaneamente até a foto em minhas mãos.

— Achou alguma coisa interessante entre essa bagunça toda?

— Digamos que sim — sorri e levantei a foto — não sabia que essa foto ainda existia, posso ficar?

Ela pareceu me analisar antes de responder.

— Claro, me desculpe pelos amassados, talvez se você tivesse vindo ontem ou não, quem sabe, talvez ela tivesse sido poupada?

Sorrimos com a “piada” carregada de ironias.

— Aposto que sim, vai ver era meu destino recebe-la nesse estado. Quem sabe?

Rebati igualmente irônica e ela novamente sorriu dando de ombros. Nossos olhares se encontraram, livres de lágrimas, porém o dela era um imenso vazio, opaco. E eu duvido que ela tenha encontrado no meu algo mais que uma profunda pena. Ela desviou antes que novas lágrimas surgissem.

— Com licença, meninas — era tia Verônica nos interrompendo e eu agradecendo as deusas por essa entrada. — Meu Deus! — Ela pôs uma das mãos sobre a boca olhando ao redor. — O que houve aqui?

Mariana se retraiu ainda mais envergonhada.

— Desculpe, mãe. Prometo que vou dar um jeito e...

— Tudo bem, filha, não tem importância, amanhã daremos um jeito. Só vim avisar que o quarto está pronto e a sopa também, está tudo lá. Quero que você se alimente e descanse, quando estiveres pronta pra falar comigo estarei esperando — tia Verônica se aproximou da filha e beijou-lhe a testa.

Mariana pareceu ligeiramente emocionada com aquele gesto e isso foi o suficiente para se jogar nos braços da mãe aos prantos. Eu apenas observei a cena calada. Esperei que aquele choro todo diminuísse antes de falar.

— Acho que agora você já pode se alimentar que tal? E eu já vou indo e...

— Não! — a voz de Mariana subiu algumas oitavas ao me interromper — Quer dizer, fica mais um pouco, por favor!

O pedido saiu quase como uma súplica, então, suspirei e sorri um tanto sem graça antes de me decidir.

— Ok, só mais um pouquinho, tá bem?

Ela sorriu de volta e assentiu antes de irmos para o outro quarto. Tia Verônica se despediu ainda no corredor e retirou-se. Ao chegar ao quarto ajudei-a a se recostar na cabeceira e servi a sopa a ela. Quando terminou ela me chamou para sentar com ela, fui até lá e ela deitou-se apoiando a cabeça sobre minhas pernas.

— Foi nessa posição que você chorou por muitos crushs.

Falei enquanto acariciava seus cabelos, como naqueles dias em que éramos apenas duas adolescentes conversando sobre paixonites.

— Olha quem fala? Achas que eu não me lembro de cada namoradinha que te fez chorar nessa mesma posição? — Ela rebateu depois que sorrimos.

— Touchet!

Rimos outra vez, provavelmente cada uma com sua própria lembrança desses momentos. Depois ficamos em silêncio nessa mesma posição por um longo tempo, até que a senti relaxar e o som característico do ressonar. Levantei vagarosamente e a cobri. Olhei-a uma ultima vez antes de sair de fininho. Desci as escadas e encontrei tia Verônica na odiosa sala de TV, deixei um recado para Mariana. Resolvi voltar para casa, para minha Luna o quanto antes, eu estava bem emocionalmente abalada. Já passavam das 2h da manhã quando entrei em casa. Fui direto ao quarto, eu só queria tomar um banho e aproveitar o aconchego dos braços da minha namorada, mas para a minha total surpresa, ela não estava lá! Ainda procurei pelo restante do apartamento e nada. Droga, ferrou! Suspirei derrotada ao voltar para o quarto. Tomei um banho e deitei, mas virei de um lado a outro sobre a cama naquela sobra de noite. Os pensamentos eram povoados ora por Mariana e tudo o que havia me contado, ora por Luna e sua capacidade de me deixar sem respostas, sei que era meio que um castigo, mas não foi nada agradável ligar para Lucas só para ter certeza de que ela estava em casa, a boa parte é que a confirmação me trouxera um certo alívio. E nesse vai e vem comtemplei as últimas horas da noite e as primeiras daquele novo dia.

Fim do capítulo


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Comentários para 21 - Capitulo 21 ? REPUDIUM: o ?valor? que não se merece:
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Em: 30/07/2025

"Era como se todas aquelas coisas tivessem sido cuspidas de um buraco negro e caíram ali de qualquer jeito."

Isso me traz lembranças antigas, fragmentos de um passado longínquo... eram fragmentos de mim própria, espalhados pelo chão e que jamais voltariam a ser inteiros. 

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