Capitulo 18
Duas semanas se passaram desde tudo o que aconteceu. Larissa voltou para sua casa, ainda muito abalada, mas queria retomar sua rotina. E eu sabia que isso era necessário. Como dizem, a vida tem que continuar.
Nesses dias, comecei a conviver não só com Larissa, Lais e Mariana, que às vezes dormia aqui, mas também a adotar uma nova rotina, que eu realmente passei a gostar. Eu adorava ter Mariana por perto; me sentia completa com as três e o Enzo, o cachorro que eu dei para a Lais. Ali, com elas, estavam as pessoas mais importantes da minha vida.
Então quando Larissa se foi, sentir falta dela, ficou um vazio novamente, um silencio que eu já não estava mais acostumada.
Era meio da semana, e eu estava voltando para casa. A única pessoa que sabia que era meu aniversário era Larissa. Nunca fui de comemorar essas coisas, e também não sou fã de surpresas. Mas sabia que, conhecendo Larissa, ela jamais contaria para ninguém, especialmente para Mariana. Sabia que, se soubesse, ela provavelmente faria algo.
Estava quase em casa quando, na rádio, começou a tocar uma música da Vanessa da Mata, uma das minhas favoritas. Fui cantando até chegar em frente à minha casa, abri o portão e guardei o carro na garagem. Peguei minha bolsa e, ao tentar abrir a porta, percebi que tudo estava escuro. Tinha certeza de que deixara a luz da sala acesa, justamente porque sabia que chegaria tarde.
Abri a porta com cautela, e, ao invés do sofá, encontrei uma mesa no lugar. A cena parecia estranha, deslocada. A mesa estava impecavelmente arrumada, e só então percebi que as velas já estavam acesas sobre ela.
- Quem está aí? - perguntei, mas, em resposta, uma música dançante começou a tocar, seguida por um bolero suave.
Levantei o olhar para a escada e a vi: Mariana, vestida com um vestido vermelho, os cabelos soltos, e aquele sorriso que parecia tocar minha alma.
- Você sabia que invadir a casa dos outros assim é contra a lei? - perguntei, tentando disfarçar a surpresa. Ela, no entanto, soltou uma gargalhada e balançou a cabeça.
- Você entrou em meu coração, e nem por isso vou mandar te prender - respondeu, erguendo as mãos em sinal de rendição e caminhando em minha direção. - Eu só queria celebrar sua vida.
Aquelas palavras aqueceram meu coração. Quando nos aproximamos, ela me puxou pela cintura e seu beijo suave tocou meu pescoço.
- Dança comigo? - perguntou, e eu apenas sorri, movendo a cabeça em sinal de consentimento.
Seus dedos entrelaçaram com os meus, e nossos corpos se aproximaram. Naquele instante, nada mais importava. Nem a música, nem o mundo ao redor - tudo se dissolvia naquele momento.
O tempo parecia desacelerar enquanto dançávamos. Eu estava completamente imersa em Mariana, e o mundo exterior parecia distante, irrelevante. As velas lançavam uma luz suave sobre seu rosto, e por um segundo, pensei que nunca havia visto alguém tão radiante. O jeito como ela me olhava, com aquele sorriso que parecia entender todas as minhas dúvidas e medos, fez com que eu sentisse que estava finalmente em casa.
Dançávamos em silêncio, mas as palavras eram desnecessárias. O ritmo da música nos guiava, e nossos passos se sincronizavam com uma naturalidade que só quem já experimentou uma conexão profunda pode entender. O toque da pele dela na minha, a respiração entrecortada, tudo parecia tão íntimo, tão único.
- Eu não esperava por isso... - sussurrei, o peito apertado por uma emoção que eu não sabia definir.
Mariana afastou-se um pouco, como se quisesse me observar melhor. Seus olhos brilhavam com uma intensidade que quase me cegou.
- Às vezes, a vida tem uma maneira engraçada de nos surpreender - respondeu, com a voz suave, mas cheia de significado. - Eu também não esperava por isso, mas não vou deixar passar.
Eu a encarei, sem saber o que dizer. Mas então percebi que, talvez, não fosse necessário. O que quer que estivesse acontecendo entre nós, naquele momento, estava ali, bem ali. Não havia pressa, nem medo. Apenas a sensação de que, por algum motivo inexplicável, tudo estava certo.
Ela me puxou mais perto, seus dedos explorando meu cabelo enquanto eu acariciava sua nuca com leveza. E, nesse instante, as palavras se tornaram desnecessárias. Fechei os olhos, sentindo o toque dela na minha pele, o perfume suave que ela usava. Eu sabia que, por mais que o futuro fosse incerto, havia algo imensurável de beleza naquele instante.
A música terminou, mas permanecemos ali, parados, nossos corações batendo juntos, no silêncio que agora fazia sentido.
O clima entre nós parecia suspenso, como se o mundo tivesse desaparecido, deixando apenas aquele momento. Antes que o silêncio se tornasse denso demais, Mariana se afastou de mim com um sorriso enigmático. Olhei-a, confusa, enquanto ela se dirigia à mesa e pegava uma caixa delicada ao lado das velas.
- Espera, tem mais uma coisa - disse, com um brilho travesso nos olhos, como se estivesse prestes a revelar um segredo.
Ela abriu a caixa com cuidado, retirando de dentro um pedaço de seda vermelha. Ao puxá-lo, pude ver o que estava ali: um colar dourado, fino e delicado, com um pequeno pingente de pedra vermelha, que refletia a luz das velas.
- Para você - disse ela, aproximando-se e segurando o presente com os dedos.
Eu fiquei sem palavras. Não esperava nada, muito menos algo tão significativo. Mas seu gesto, tão simples e ao mesmo tempo cheio de significado, fez meu coração bater mais forte.
- Mariana, eu... - comecei, mas não consegui continuar. As palavras não saíam como eu queria.
Ela sorriu suavemente, como se soubesse exatamente o que eu estava sentindo.
- Helena, eu te dei esse colar não porque você precise de algo material. Eu te dei porque, assim como essa pedra, você tem o poder de iluminar os caminhos de quem está ao seu redor. Mesmo nos dias mais escuros, você é a luz.
Fiquei em silêncio, tomada pela sinceridade de suas palavras. Era como se ela tivesse lido meus pensamentos, como se soubesse das dúvidas e inseguranças que eu carregava. A maneira como ela falava de mim, com tanto carinho e verdade, me fez sentir algo que há muito tempo eu não sentia: a certeza de que estava no lugar onde realmente pertencia.
- Eu... - falei finalmente, a voz embargada. - Eu não sei o que fazer com tudo isso, Mariana. Eu não estou acostumada a receber... tanto.
Ela riu, colocando o colar em meu pescoço com uma delicadeza que me fez arrepiar.
- Não precisa fazer nada, Helena. Apenas... permita-se. A vida é feita de momentos, e o que importa é vivê-los plenamente. Como agora, por exemplo.
Olhei para o pingente em meu pescoço, o ouro refletindo a luz das velas. Então, lentamente, voltei meu olhar para ela. O sorriso em seu rosto era acolhedor, cheio de uma certeza que me trouxe paz, como se finalmente tivesse encontrado meu porto seguro.
- Você está certa. Só... obrigada, Mariana.
Ela se aproximou novamente, e dessa vez, não foi a música ou o ambiente que nos uniu, mas a simples verdade do que sentimos. Eu não sabia o que o futuro nos reservava, mas naquele momento, ao lado dela, eu não precisava de mais nada. Mariana havia me dado mais do que um colar: ela me deu a confiança para me entregar ao que viria, sem medo, sem reservas.
Depois disso, Mariana apontou para a mesa e puxou a cadeira para que eu me sentasse. Assim que o fiz, ela levantou meu queixo, fazendo-me olhar para ela, e depositou um beijo demorado em meus lábios, me fazendo suspirar ao final.
Foi em direção à cozinha e voltou com dois pratos. Colocou um diante de mim e o outro na ponta oposta da mesa, onde ela se sentaria. Saiu novamente, voltando com uma garrafa de vinho, servindo-me uma taça e fazendo o mesmo com a dela antes de se sentar à mesa.
- Como foi o trabalho hoje? - começou a conversar, enquanto começava a comer. Era sempre assim, ela sempre perguntava sobre o meu dia, e eu sempre tinha algo para contar. Porém, o dia dela sempre parecia mais corrido do que o meu.
Mariana era uma mulher incrível. Além de administrar o restaurante, ela também cozinhava, falava com os fornecedores e, às vezes, até atuava como garçom. Ela era uma verdadeira caixinha de surpresas, capaz de me surpreender como ninguém.
Mas nada me surpreendeu tanto quanto quando ela me pediu algo que eu sempre quis que ela pedisse...
Fim do capítulo
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