Capitulo 67
Cap 66
Eu esperei apenas o tempo da tal Milena assinar o depoimento dela para continuar a trabalhar. Sou experiente demais na arte investigativa para acionar o próximo escalão sem a confirmação formal de algo. Então assim que a loira assinou o depoimento eu peguei meu celular e liguei para a Isabelle. Acho que se eu pudesse eu teria soltado fogos dentro do departamento de polícia. Pelo que entendi nesse micro vilarejo portugues não tem telefone com facilidade, então aproveitei que na delegacia tinha sinal e wifi e já liguei pra Isabelle.
- Isa..
- Cara, me dá boas noticias, por favor Flávia - era sensível a ansiedade na voz da Isa.
- Manda prender, fechou aqui.
- Confirmou? É sério? - perguntou
- Tenho uma confissão da menina aqui, confirmando o sequestro, confirmando que mexe com tráfico de órgãos e de pessoas e confirmando que a Mayra é a Das Letras.
- Confirmou que ela está envolvida?
- Sim, confirmado que está envolvida. A suspeita aqui deu detalhes de como a organização funciona, como a Das Letras trabalha, o que ela faz, quais as rotas, frequência.
- Jura Flávia? Não tá fazendo graça comigo né?!
- Claro que não, Isa. Piada tem limite.
- Me manda foto desse depoimento assinado. A Marjorie já acionou o escalão dela?
- Ela está conversando com o chefe de polícia e depois vai acionar. Devem estar negociando custodia ou alguma outra coisa.
- Então me manda o depoimento o mais rápido possível que vou acionar a juíza do caso.
- Manda a escolta ficar em cima da Mayra, ela vai “meter o pé se os caras piscarem”.
- Isso é verdade. Mas ela está bloqueada no aeroporto também.
- Só não confio nela. Vou te mandar o documento. Aqui é bem ruim de sinal, praticamente não tem.
- Ah, Flávia. Falou com a Bia por agora?
- Não, deixei ela no alojamento do hospital e vim resolver essa situação.
- Tá bom.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, não, nada.
- Tá, vou providenciar o documento, me aciona qualquer coisa - eu fiquei com uma pulguinha atrás da orelha. Será que aconteceu alguma coisa? Não deu nem tempo, eu deixei a Bia no alojamento do hospital, um lugar seguro, sem nenhum problema conhecido. Nem deu tempo de termos problemas aqui. Acho que estou um pouco paranoica, não é pra menos. Sou fortona, sou firme, mas apanhar o quanto apanhei não é nem um pouco fácil, mais ainda a recuperação.
Ali no hall da delegacia mesmo eu sentei e escanei o documento, montei um pdf e encaminhei para Isa. Não pude deixar de dar uma risadinha mental ao pensar na felicidade da Isabelle em ir atazanar a juíza, claro que com muitas outras intenções. E sei que estamos com tanta intensidade nesse caso que ela vai ir pessoalmente, não vai mandar recado não, trata-se de uma prisão preventiva, caso internacional, crime organizado, pacote completo.
Eu até subi a escada para auxiliar e dar uma moral para a Marjorie, mas nem precisei. Ela já havia conversado com o chefe de polícia e no caso dela, envolve questões de embaixada, política, coisas que eu não sei resolver. No máximo posso dar uma moral emocional.
- Flávia, você precisa de mais alguma coisa daqui? - ela me perguntou
- Não doutora. Eu enviei o depoimento para a Dra Isabelle. Ela já iria acionar a juíza do caso.
- Ótimo. Então vão pedir a prisão preventiva? É o correto a se fazer.
- Sim, e há um grande risco de fuga nesse caso. Se passar a fronteira, não pegamos mais. Como vai ficar em relação ao sequestro da Caroline? A Milena responde aqui? Responde no Brasil.
- Então, na bucha ela emitiu a ordem de fora do Brasil e não executou nada no Brasil. Isso por si já nos tira a necessidade de extradição. Ela é portuguesa, tem residência aqui, uma família importante da região, esses pequenos detalhes somados, vai permitir que ela cumpra a pena aqui em Portugal.
- Aqui nesse vilarejo?
- Segundo o chefe não, ela deve seguir para uma cidade maior, com presídio, onde ficará melhor supervisionada.
- Marjorie e esse alerta que ela deu, do modus operandi da facção de simular suicidio? - ela fez uma careta nessa hora
- Vamos andando para o carro, acho que aqui não é o melhor lugar - eu confirmei que entendi a mensagem e seguimos para a van que estava na frente da delegacia nos esperando. Enquanto o motorista entrava, ela completou - Eles estão cagando para essa informação, falou que ela está alucinando, inventando, que isso não acontece em Portugal.
- Capaz dele mesmo ser um informante ou facilitador - eu joguei no vento.
- Exatamente, é muito provável que essa menina morra e morra do jeito que ela falou, de suicidio.
- Suicidio programado - completei extremamente indignada com essa situação.
- Exatamente, suicidio programado por terceiros - o motorista entrou na van no mesmo momento que finalizamos nossa conversa. Acho que ambas nos prendemos em nossos próprios pensamentos, próprias demandas. Apesar de eu ser bem firme quanto a quem comete crimes, eu sou contra execuções. Acho que se errou, pague pelo seu erro. Se é para ficar preso, que fique preso. Não acho que alguem tem o direito de vir e matar como se fosse uma pena a ser cumprida. Nesse caso, há um aviso explícito de que haverá um assassinato e aqueles que devem proteger essa presa estão cagando. Ainda mais com ela sendo de uma família tradicional da regiao, sei lá, talvez penda pra vários lados.
Eu, individualmente, estava exausta, só de encostar no banco da van eu senti a musculatura relaxando. Meu corpo está se recuperando e me exigindo calma, meu rosto estava pulsando e a mão direita, quebrada, está dormente. Já imagino a Bia quando me ver, dando broncas que eu preciso descansar, que não deveria ter vindo, consigo imaginar as bochechas vermelhas de raiva e uma bolsinha de gelo na mão.
Bia, não tem como eu não ficar mais e mais encantada com o cuidado que ela tem comigo. Claro que eu não sou melosa, nem consigo mudar isso pra ser, mas não dá pra ignorar esse carinho e cuidado que temos entre nós. E mesmo sem dever, dá pra pensar que a Bruna jamais viajaria comigo pra me acompanhar, cuidar de mim, essas coisas. Ter alguém se importando comigo é algo que tinha com a Fabi, que sentia muita falta e com a Bia voltei a ter, sabem.. um lugar pra onde voltar.
A van parou em frente ao pequeno hospital de 4 andares, um pouco mais afastado do centro da vila de Urros. Desci do veículo e senti o frio batendo nos ossos. Esperei a Marjorie descer também para descobrirmos juntas onde é o alojamento. Pedimos informação para o próprio motorista que nos indicou por cima o caminho e depois perguntamos para mais um funcionário. O alojamento fica no último andar do prédio, foi um pouco difícil de achar depois de chegar no andar, mas com a ajuda de um funcionário, deu certo.
O espaço era separado em alojamento feminino e masculino. Entramos em silêncio no feminino, afinal já estava tarde, mas assim que abrimos a porta percebemos que a luz estava acesa. Nossas malas todas em um cantinho do quarto, encostadas na parede. Haviam tres ou quatro beliches, algumas sem lençol e tres arrumadas. Em uma delas a Bia estava sentada, ela levantou o rosto, me procurando. Seu olhar veio direto ao meu como se pedisse carinho, abraço.
- Tudo bem? - foi a primeira coisa que perguntei, sem verbalizar, só com o movimento da boca. A resposta dela foi um não com a cabeça cabisbaixa enquanto eu me aproximava dela. Minha primeira reação foi esticar os braços oferecendo meu torax dolorido pra ela. Não sei o que aconteceu, mas estou aqui. A Bia com toda sua carência e fragilidade me abraçou e encostou a cabeça com cuidado em mim. Passei minha mãe na sua nuca e fiquei ali parada dando o carinho que ela precisava, sempre falando “eu tô aqui”, “tô aqui”. A Marjorie percebeu que estava acontecendo alguma coisa, mexeu em sua mala, pegou algumas peças e seguiu para o banheiro. Eu aproveitei e sentei na cama com a Bia - Linda, olha pra mim, o que aconteceu?
- O Ricardo… - ela puxou o ar fundo, tentando achar palavras.
- Soltaram o filha da puta? Porque não faz sentido, vou acionar a Isa. Já tinha sido negado fiança pra ele.
- Não, não soltaram ele. Ele… ele… acho que ele se matou, suicídio pelo que parece.
- O Ricardo cometeu suicidio? - falei assustada, sem juntar os pontos - Como assim? Me explica com calma amor.
- Meu pai me ligou agora a pouco, acho que faz uma hora. Perguntou onde eu estava. Eu falei que estava trabalhando. Ele bem educado, falou para eu ir na casa dele agora, urgente. Expliquei que estava trabalhando em Portugal, que eu não estava no Brasil.
- Não tinha avisado eles da viagem né?!
- não, claro que não. Na verdade não falo com meus pais desde que sai de casa pra dividir o apartamento com você.
- Tá.
- Aí meu pai foi seco e falou: tá trabalhando em Portugal agora? Que missão é essa? Super grosseiro. Aí soltou: é verdade que você tá casada com uma mulher? Você abandonou tudo pra ser uma fanchona?.
- Fanchona! Acho tão feio esse termo, tão pejorativo. Não tinha contado pra eles também né?!
- Fla, não achei importante. Para ser sincera queria afastamento da minha família, do Ricardo. Pra que contar algo que seriam contra e que eu iria cagar pra opinião deles?
- Sim, o importante é você estar se sentindo bem, não se eles gostam ou desgostam. Tá ele falou isso e…
- Aí falei pra ele que era verdade. Falei que eu estava morando junto com uma investigadora, que estava gostando muito de você, e que não me importava com a opinião dele ou da mãe em relação a isso. Cara, aí ele começou a me jogar pra baixo, falando bem ríspido que eu era uma vergonha pra ele e pro Ricardo, que não me dava respeito. Que ele não acreditou quando o Ricardo ligou pra ele avisando. Que estava certo o Ricardo ter te batido e que deveria ter me batido também pra eu pegar no tranco, voltar pro meu corpo. Até aí, eu até esperava essa reação ridícula e desnecessária do meu pai.
- Reação desrespeitosa e homofóbica que cabia um lindo processo.
- Sim, achei bem desrespeitoso. Aí ele falou que já que eu estava viajando em Portugal e curtindo a vida, era importante eu saber que o Ricardo tinha se matado hoje. Que depois de ser preso por minha culpa, ele preferiu se matar que viver comm o desgosto de ter namorado comigo.
- Você ligou pra alguém e confirmou essa informação, amor? Porque poderia ser, entre aspas, uma agressão gratuita do seu pai.
- Eu liguei pro Gabriel, pedi pra ele se informar com a Isa ou com alguém. Se informar na corregedoria. E faz uns 30 minutos que o Gabriel me respondeu que o Ricardo foi encontrado na cela, enforcado. Ele ainda vai passar por perícia, necropsia, essas coisas, mas a investigação inicial aponta para suicidio.
- Suicídio? Isso não faz sentido Bia.
- Achei estranho, amor. O Ricardo era grosso, mal encarado, sei lá, egoísta, bandido. Mas ele era um cara muito certo das ideias bostas dele, não encaixa suicídio. Ainda mais enforcado. Sei lá, não faz sentido pra mim.
- Bi, linda, como você está com essa informação? Saber que ele morreu, isso independente se morte morrida ou morte matada.
- Aí Fla, é foda.
- Amor, lembra o que eu te falo sempre, sentimentos e vivências não acabam de uma hora por toda, porque a gente quer, porque brigamos, porque fomos pra outra casa. Você tem raiva e dor por tudo que ele te fez, mas você também tem carinho, consideração pelo que vocês viveram. Ele morrer, pode ser um alívio, mas pode ser uma facada de tão doloroso.
- Tenho tanta sorte em ter você comigo.
- Não Bi, a sorte é minha. Vem cá, deita a cabeça aqui na minha perna, você precisa de cafuné hoje, um espaço seguro para sua dor - Eu encostei meu corpo na parede lateral da cama e estiquei minhas pernas, oferecendo para que ela deitasse e se encaixasse de modo confortável. Minha mão quebrada foi em cima do ombro dela e a mão esquerda em seu cabelo, enchendo ela de cafuné. Não demorou muito para aquele colo ser um espaço seguro e permitir que o choro viesse. A Bia começou a chorar baixinho, depois foi aumentando, chorando de soluçar.
Eu me mantive ali, em silêncio, apenas estando presente, continuando a oferecer o lugar seguro pra ela. Imagino como ela está emocionalmente, não deixa de ser um exame namorado, alguém com quem ela viveu. Claro, a raiva pelas violências, o ódio pela dor que ele causou. Acho que o que mais me culpei quando a Fabi finalmente faleceu foi de ter agradecido pela morte dela, foi um alívio ver ela partindo. Isso não me exclui da saudade diária que tenho dela e de desejar todos os dias que ela estivesse aqui, só mais um pouquinho.
Quando a Marjorie voltou do banho, uns 20 minutos depois eu precisava conversar com ela. Ela terminou de guardar seus materiais, estava pronta para deitar um pouco para relaxar, mexer no celular, mas eu olhei pra ela e falei baixinho: preciso falar com você. Ela, nitidamente exausta, apenas concordou com a cabeça. Com cuidado levantei a Bia com a mão não quebrada, ela acabou dormindo depois de chorar até a exaustão. Apoiei ela na cama enquanto eu devagarinho puxava meu corpo. Acenei com a cabeça paraa sairmos do quarto, ela só me seguiu.
- Tudo bem? - ela me perguntou.
- Vamos um pouco mais ali pra frente - nos afastamos da área do dormitório, quando achei um lugar um pouco mais seguro parei, a Marjorie ficou me olhando, esperando eu começar a falar e passar uma informação suficientemente importante pra incomodar ela - Não sei o quanto a Sra sabe do caso completo, não sei o quanto a Isabelle te passou.
- Dei uma lida no quadro geral, nos relatórios e depoimentos. Mas não sei os detalhes, as vírgulas.
- Tá, é… a Sra foi informada de um delegado da PC preso por envolvimento no tráfico de pessoas, agiotagem e vários homicídios?
- Sim, o cara da corregedoria? Soube sim. A Isa me passou que iria apresentar as outras acusações dele essa semana.
- Isso. Então, esse cara estava na carceragem da corregedoria e foi encontrado hoje a tarde enforcado, a investigação inicial aponta pra…
- Suicídio! Cacete! Alguém da família consegue dizer pra gente se ele estava deprimido, triste, alguma coisa que justificasse o suicídio?
- Então, a Beatriz é ex-namorada dele - a expressão da Marjorie ficou indescritível mas como se várias dúvidas tivessem sido solucionadas - Segundo ela, ele era bem consciente das coisas que fazia, pra ela não encaixa muito um suicidio, ela achou estranho.
- Desculpa, só pra eu entender, ela é sua namorada e ex-namorada de um acusado de um caso que você acompanha?
- Eu sei que eticamente é bem errado, a Isabelle sabe de tudo, a questão é que ele foi aparecendo no decorrer de um caso de ocultação de cadáver que eu estava mexendo. Na verdade, o caso de ocultação evoluiu para tráfico de órgãos. O sequestro da Dra Caroline entrou no tráfico de órgãos. Com o sequestro dela chegamos a quadrilha e descobrimos do delegado, também conhecido como Juba e da jornalista Das Letras.
- Eu entendo que as coisas foram indo, mas eticamente continua sendo errado. Enfim, não tenho nada a ver com essa parte ética, você me parece uma pessoa bem correta. Então vamos voltar, quando ele foi dado como suicida?
- Hoje a tarde, uns 7 ou 8 dias de preso. Achei válido te falar por conta da…
- Da Milena. Sim, ela vai morrer se ficar aqui - a Marjorie puxou fundo o ar, como se tentasse se acalmar de alguma forma, pensar melhor - Hoje eu não vou conseguir fazer mais nada, está de noite aqui e no Brasil está anoitecendo. Preciso parar, comer, descansar e aí raciocinar o que vou fazer. Infelizmente o caso dela vai envolver muito mais política que direito. Obrigada por me avisar Flávia, amanhã vemos o que dá pra fazer.
- Tá bom Dra. Obrigada.
- Cara, viu algum lugar de comer por aqui? Nesse fim de mundo não deve ter aplicativo de comida.
- Acho que não deve ter, tenho o telefone da Fernanda, às vezes ela dá alguma dica. Posso mandar mensagem se quiser. E vi que lá embaixo tem um refeitório, imagino que por ser um hospital e por receber voluntários e tal, deve ter alguma comida por lá.
- Verdade. Eu vou descer primeiro e vejo se acho alguma coisa. Se eu não conseguir comer nada, aí mando mensagem pra Fernanda.
- Tá certo dra, estarei por aqui - ela seguiu dali do corredor mesmo. Confesso que ela está certa, minha barriguinha também está roncando. Fiquei um tempinho ali mesmo no corredor, olhando para a paisagem escura à minha frente. Não posso pensar como a vida deve ser diferente, um pequeno vilarejo, um ambiente em que todos se conhecem, me deu vontade de em algum momento da vida voltar aqui, com calma, conhecer os pontos turísticos. Infelizmente sei que dessa vez não vou conhecer nada, amanhã será outro dia pesado. Mas quem sabe lá na frente.
O celular no meu bolso apitou, acho que mensagem. Na verdade, desde que descemos no aeroporto eu não mexi mais no celular, não tinha sinal na estrada e depois que cheguei aqui no vilarejo, acabou a bateria e foi só trabalho. Quando abri o celular percebi diversas ligações perdidas e mensagens para eu ler. A primeira curiosidade foi, quem me ligou? Ninguém me liga. Cliquei para abrir e vi que era o número que a Mayra me ligou algumas vezes. Será que ela vai insistir até quando? Eu não negocio com vagabundo!
Ignorei e fui para as mensagens. Claro que teríamos mensagem daquele número “não rastreável” que rastreamos como sendo da Mayra. A primeira mensagem: “Não vai me atender? Vai perder o presente que preparei pra você”. Segunda: “Seu presente foi entregue, eu sei agradar bem a minha tropa”. A terceira mensagem veio após tentativas de ligação: “ Não vai atender, entendi, já deve ter recebido seu presente. Te livrei dele. Não vai mais encostar em você ou na sua aguada. Me deve uma!”. Quando eu li isso, por mais que eu seja investigadora, não consigo lidar com a maldade humana de forma tão leve não. Se o Ricardo “cometeu” suicídio, e se a Mayra me livrou dele, tenho a confirmação formal de que ela foi a mandante. Preciso ligar pra Isa. Tirei print. Mas tem mais mensagens, continuei lendo e tirando print: “Te dei uma moral, preciso que me fortaleça AGORA!”, mensagem seguida de 7 tentativas de ligação. A última mensagem foi: “Porr* vagabunda, salvei tua vida, por moral abre o bico!”.
Será que ela acha mesmo que vou abandonar minha carreira pra ajudar um indiciado? Será que acha que vou parabenizar ela por mandar “suicidar” o Ricardo. Não vou comemorar a morte dele, não é do meu feitio, mas não dá pra negar que isso traz uma paz. Mas nem que me trouxesse ouro, não vou vazar informações pra Mayra. E outra, mesmo que eu vazasse tudo, ela está bloqueada nas fronteiras, com escolta para saber onde vai, onde fica, não espero e nem vou ajudar ela com uma ou duas dicas do seu caso. E posso dizer se ela está no nível de estresse de me mandar esse tipo de mensagem, ela sabe que vai cair. Peguei meu celular e liguei pra Isa, sei que está a noite no Brasil, mas não é madrugada.
- Fala Flávia. Atualizações?
- Falei com a Bia. Tá sabendo do Ricardo?
- Sim, era sobre isso que falei naquela hora, mas não queria quebrar a surpresa. Bota fé que o cara se matou?
- Claro que não, ele por ele mesmo não. Mas a Mayra me mandou mensagem. Na verdade um caramba de mensagens e ligaçoes. A juíza autorizou a prisão?
- Cara, ainda não, está estudando o caso. Acho que alguém deve estar pesando na dela.
- A escolta está em cima?
- Que eu saiba está!
- Olha os prints que te passei, ela confessa que mandou matar o Ricardo.
- Puta merd*. Vou atualizar a juíza.
- Não era a juíza que você conhecia, que estava investindo? Que era fácil pra negociar?
- Não cara, dei azar que ela está afastada, atuando isolado em outro caso. Essa que está, não é tão maleável.
- Da teus pulos Isa. Ela vai fugir. A Marjorie vai negociar amanhã a custódia da Milena. A própria Milena já alegou que será “suicidada” e com o suicídio do Ricardo, reforça o risco dela.
- Cara, duvido que ela consiga trazer essa mulher pro Brasil. Mas acho valido e importante tentar.
- Velho, mantém a escolta em cima da Mayra, ela vai sair. Vou acionar mais uma ficar lá.
- Como a Beatriz está?
- Chateada e aliviada, naquele misto, se culpando pelo alívio e triste pela morte. Confusa. Tô dando um suporte, fazendo meu papel de namorada.
- Tá, dá um apoio pra ela, o Cantão ficou preocupado também.
- Tô segurando aqui, tentando ser porto seguro. Mas minha cabeça tá aí, segura a Mayra aí! Não podemos perder ela.
- Tá preocupada né sapatao?
- Po, claro. Depois de tudo isso perdermos ela vai ser foda. É tipo perder o Grilo, perder o Puca. O trabalho de quase um ano inteiro.
- E seu passe pra delegada.
- Seria bom, mas sem estudar não vou passar em nenhum concurso. Foca em não perder ela.
- Não teve nenhum contato da Bruna? Não te falou nada?
- Ainda não, não quero dar corda, mas estou em alerta caso ela entre em contato. Qualquer coisa se até amanhã não aparecer nada, eu mando uma mensagem, puxo um assunto.
- Tá, mantém o foco. Você está bem? Tá dando pra segurar?
- Po Isa, tô só o fubá. Tudo doi, mas é isso, o trabalho continua mesmo com dor. Quero dar risada disso tudo no julgamento desse povo todo, quero ver o juiz pagando a sentença sem só.
- Estamos trabalhando bem, vamos conseguir. Vai descansar que vou ver o que conseguimos pra gente aqui.
- Fechou Isa. Abraço - desliguei a ligação e voltei a olhar para a noite escura portuguesa. Eu não havia pensado na Bruna novamente e longe de mim ir puxar papo com ela, mas não posso negar que uma ligação dela nos ajudaria. A juíza do caso ter mudado agora é algo que vai nos atrapalhar, temos todas as provas para prisão da Das Letras.
Eu voltei ao alojamento em uma exaustão absurda. A junção das minhas lesões, da minha recuperação, da viagem de horas e horas de avião, trabalho e estresse não me permitiram pensar em mais nada. Eu apenas tirei o tênis e deitei na beliche de baixo, ao lado da Bia, que estava dormindo leve, se mexendo. Não deitei com ela, achei desrespeitoso por estarmos em um alojamento coletivo. Meu corpo encostou na cama e a musculatura começou a doer com o relaxamento.
Não sei exatamente qual horário meu celular começou a tocar, mensagem após mensagem, ignorei, madrugada, cansaço, sono. Mas foi continuo a uma ligação. Quem me liga de madrugada? Na tela apareceu Bruna - saltos. Putz, informaçao ou pedido de ajuda? Pre
ciso atender.
Fim do capítulo
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