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Bodas de Odio por Thaa

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Palavras: 6403
Acessos: 1555   |  Postado em: 12/01/2025

Capitulo 9

 

 

Capítulo 9

— Duquesa? — Chamou o empregado, parando de digitar as palavras na tela do computador. Mirou o rosto sério da bela morena, ela parecia viajar a quilômetros dali. A expressão carrancuda denotava certo desagrado com a pergunta feita. — O que posso fazer, Duquesa Amerah?

Ela o encarou, como que regressando à realidade.

Passou uma das mãos pelos cabelos sedosos.

Depois de alguns minutos, soltou um suspiro longo, cômodo e disse:

— Acrescente que nenhuma das duas dormirá no mesmo quarto. E que a parte contratada deverá comparecer a ocasiões públicas sempre que for necessário, ao lado de sua esposa.

—  E a data da resolução do contrato? Alguma específica? — Indagou o rapaz num franzir de cenho.

— Essa parte ficará a meu critério, porém, este contrato não poderá exceder dois anos.

O rapaz assentiu e continuou a bater nas teclas do notebook.

Tudo feito, ele voltou a falar.

— A senhora gostaria de ler?

— Por favor. — Esticou a mão e pegou o notebook, arrastando-o até que ficasse posicionado de frente para ela. Em alguns minutos leu tudo cuidadosamente, por fim, disse:

— Não há mais nada a acrescentar. Está tudo perfeito, a meu ver.

— Posso imprimir e amanhã mesmo pegar a assinatura da dona Júlia?

— Sim, faça isso. Agora vamos jantar, pois estou faminta.

Ele sorriu e assentiu.

Salvou o contrato no aplicativo, para que no dia seguinte pudesse imprimir e levar para Júlia.

***

Paredes de pedras cinzas protegeram os corpos humanos do frio do inverno, por longos anos dentro, daquele palacete de mobília que remotava ao terceiro rei da Espanha. Na esparsa sala de jantar de paredes cor cinza invernal e piso de madeira tão lustrosa que podia até mesmo se assemelhar ao brilho lapidado de um diamante, vozes de mulheres se misturavam num timbre hora agudo, hora mórbido, hora melancólico, hora feliz.

Na sala estavam Júlia, Alice, Aurora, Maria, Claudinha, Cândida e Camila degustavam de um saboroso jantar feito especialmente por dona Cândida, que já há muitos governava aquele lugar.

Todas as mulheres conversavam, mas Júlia estava em outra dimensão completamente alheia às paralelas conversas. Ainda entorpecida pelo reencontro com Amerah. Esposa. Outra vez a vida, injustamente, a arrastava para o caminho daquela mulher. Um suspiro apavorado escapou de seus lábios. Temia que seu coração sucumbisse outra vez aos encantos daquela nobre fera enraivecida.

Alice estava em seu colo, brincando com alguns pedaços de maçã, os quais já enjoara do adocicado sabor e agora os fazia de um mero brinquedo sem valor.

— Você viu a minha irmã, Júlia? Ela veio para falar contigo. — Perguntou Aurora, mirando a expressão preocupada e o rosto tingido de vermelho, da jornalista.

— Eu a vi, sim, Aurora, falei com ela.

— O que ela queria?

A jovem demonstrava certa tensão disfarçada de curiosidade.

— Mas ela não veio pedir para você ir embora daqui não, né? Se ela fez isso, posso falar com o meu pai para interceder por você.

Júlia esboçou um sorriso de gratidão, para a garota.

— Não, querida, felizmente sua irmã não chegou a esse ponto.

— Nossa! Ufa! Assim fico bem mais tranquila.

Aurora sorriu.

— Não se preocupe. — Júlia ficou de pé. — Claudinha, você consegue me acompanhar até o escritório?

— Claro, Júlia.

A mulher se pôs se de pé, prontamente.

— Posso ficar com Alice, Júlia? — Aurora foi logo perguntando.

— Claro que pode, querida, mas peço que não saia do palacete, está um pouco frio lá fora.

 A garota assentiu, enquanto caminhava até Júlia para pegar a criança.

— Faça companhia a Duquesa, Camila. — Pediu Claudinha, à filha adolescente.

— Tudo bem, mãe.

— Podemos ficar na sala de piano, Camila, não sei se você já entrou lá, mas é um lugar bem legal para passar o tempo, se divertir.

Juntas, as adolescentes, com Alice, deixaram a sala de jantar. Depois Júlia e Claudinha também se afastaram, ficando no recinto apenas Cândida e Maria.

Júlia adentrou o escritório e se sentou atrás da escrivaninha, Claudinha estava em sua cola. Acabou sentando-se sobre uma cadeira que ficava de frente para a escrivaninha em que Júlia estava.

— O que houve, Júlia? Você parece bastante preocupada, amiga.

— Hoje recebi uma ligação do empresário Ricardo Almonte a respeito do contrato que fizemos. Ele disse que para formalizarmos, precisamos também da assinatura de Amerah.

— Nossa, Júlia, não acho que isso será algo fácil, até porque como bem sabemos, a Duquesa decidiu esquecer desse lugar há muitos anos.

Júlia fechou os olhos e respirou fundo.

— Vou eu mesma falar com ela, há homens, famílias que precisam trabalhar por estas terras para poder ganharem o seu sustento, colocar pão de cada dia à mesa para seus filhos.

— Eu espero, sinceramente, minha amiga, que ela te ouça.

— Ela vai me ouvir.

***

Amerah regressou à capital antes mesmo dos primeiros raios do sol, não gostaria de ter, por hora, mais nenhum tipo de contato com Júlia. Recomendou assim que o contrato fosse assinado pela ex-esposa, que o seu secretário levasse o documento imediatamente para ela.

Assim que chegou a grande metrópole, passou em casa, tomou um banho rápido, colocou um terno formal, preto, um scarpin marrom titânio e seguiu diretamente para a empresa de radiofusão, a qual, lamentavelmente, comandava junto com Isabela.

Passou uma das mãos pelos cabelos e respirou fundo.

Não tolerava a aquela mulher.

A madrasta era, profundamente, intragável.

Só a via porque tinha dois olhos na cara.

— Aqui está bom. — Disse ao motorista, que parou o veículo preto à entrada do prédio. Com a bolsa na mão, desceu do veículo. Passou pelo saguão, cumprimentou algumas pessoas que encontrou pelo caminho e seguiu até as portas metálicas do elevador. Clicou no botão do andar em que ficava seu escritório e em poucos minutos estava imersa a um ambiente quadrado, amadeirado, formal, repleto de mesas, cadeiras de escritórios, computadores, papéis, impressoras e inúmeras cabeças trabalhando em cada uma daquelas mesas. Aquelas cabeças eram a sua equipe de trabalho.

Ao perceberem a chegada a chefe, os empregados logo pararam de conversar entre si e ficaram num silencio descomunal. Foram cumprimentados com um breve gesto de cabeça, por parte da bela mulher e, em um só couro, disseram: Bom dia, Duquesa.

Amerah passou por aquele ambiente e, ultrapassou um corredor, e chegou à sua sala, num lugar mais discreto, onde podia trabalhar e fazer reuniões sem ser interrompida ou se sentir observada por olhares curiosos.

Adentrou o escritório e sentou-se na cadeira de couro preta, posta atrás da escrivaninha rustica. Apoiou as costas no couro macio e fechou os olhos. Em sua mente martelava a ideia de manter Júlia ao seu lado como sua esposa. De alguma maneira, a estava protegendo. Mas por quê? Por que fazia aquilo? Por que proteger aquela infeliz? Depois de tudo o que ela fez com aquele maldito Gustav? Fechou o punho e bateu com força na madeira.

Quem teria tirado aquela maldita foto no dia do encontro com Júlia?

Quem poderia ter sido capaz de colocar a foto em um jornal?

Sabia que tinha grandes inimigos querendo tomar o poder, com aquelas fotos nas manchetes dos jornais da sua antagônica na radiofusão, tinha certeza de que estava sendo seguida em cada passo seu. Deveria tomar mais cuidado, e pediria para que Bárbara fizesse o mesmo.

Quando era só uma criança inocente, sempre ouvia uma antiga frase celta dita por seu avô: "Quando se entra no jogo da política, ou você lidera, ou é condenado ao ergástulo abismo”.

Àquela época não tinha discernimento para compreender aquela frase, mas hoje em dia a compreendia perfeitamente e sabia a quão verdadeira e poderosa era ela.

Assim que o novo presidente fosse escolhido anunciaria o seu divórcio e extraditaria Júlia ao país de origem dela.

Ainda de olhos fechados, lembrou da linda criança de cabelos negros, com alguns pequenos cachos, semelhante a um daqueles anjos que alegram até mesmo o mais duro dos corações.

Mas...

De quem seria aquela pirralha?

Seria mesmo filha de Júlia?

Amerah experimentou o estômago revirar ao imaginar a ex-esposa nos braços de outra pessoa.

***

Nos limites da cidade, onde as luzes dos postes se perdiam na névoa e o silêncio era cortado apenas pelo distanciamento dos veículos na estrada, erguia-se um estabelecimento enigmático. De fachada discreta, com janelas opacas e uma placa sem nome, o lugar parecia apenas mais um prédio abandonado à primeira vista. Porém, para aqueles que conheciam sua verdadeira função, ele era um santuário para os segredos mais sombrios e inconfessáveis.

Isabela, sua irmã Ingrid e Gustav atravessaram a entrada sem alarde, seus passos ecoando suavemente no piso de madeira envelhecida. O interior era um labirinto de corredores estreitos, iluminados por luzes fracas que projetavam sombras sinuosas nas paredes. Cada porta ao longo desses corredores dava acesso a pequenas salas, cada uma mobiliada com simplicidade — uma mesa, algumas cadeiras e uma lâmpada perturbada, criando um ambiente de austeridade que combinava com a gravidade das conversas que ali ocorriam.

Era um lugar feito sob medida para a confidencialidade, onde cada palavra dita parecia se dissipar no ar assim que era pronunciada, engolida pelas paredes espessas. Nos cantos, câmeras de vigilância discretas garantimos que ninguém pudesse sair de suas linhas sem autorização, mas as gravações eram seletivamente protegidas ou destruídas, dependendo da natureza dos encontros.

Ali, os três se reuniram em uma das salas mais afastadas. O ar estava pesado, impregnado por um cheiro sutil de cigarro antigo e café amargo.

Sentaram-se em torno de uma mesa quadrada marcada por sombras e manchas, testemunho de encontros anteriores que, muito provavelmente, mudaram muitas vidas.

A conversa era tensa, cada palavra medida. Era o tipo de lugar onde conspiradores sussurravam sobre mortes cuidadosamente planejadas, onde pactos de vingança eram selados, e onde segredos capazes de destruir famílias ou derrubar sistemas inteiros eram confiados. Uma revelação descoberta ali, um deslize de confiança, poderia desencadear uma ocorrência em cadeia catastrófica — um efeito dominó altamente destrutivo.

Enquanto discutiam, os olhares dos três traíam a gravidade de seus interesses. Isabela mantinha uma expressão dura, os dedos tamborilando na mesa em um ritmo controlado. Ingrid, mais nervosa, desviava os olhos, como se temesse ser ouvida até mesmo pelo silêncio. Gustav, por sua vez, foi implacável, suas palavras diretas, transmitidas com nenhum remorso ou piedade.

O ambiente ao redor parecia conspirar com eles, um cúmplice silencioso de seus planos. Lá fora, a cidade continuava sua rotina, alheia ao que estava sendo planejada dentro daquelas paredes espessas. Mal sabiam que, do interior daquele lugar discreto, havia as ações que estavam sendo articuladas e que poderiam mudar o destino de muitos — e deixar um rastro de terror por onde passasse.

Sentados sobre um tapete luxuoso persa, cujas intrincadas estampas em tons de rubi e dourados deixam claro contar histórias de eras passadas, os três conspiradores se reúnem ao redor de uma mesa baixa de madeira escura. O ambiente era decorado com sofisticação opulenta, mas discreta, como se projetado para criar um contraste entre a beleza externa e a gravidade das intenções.

Sobre a mesa, um conjunto de garrafas de cristal impecável refletia a luz bruxuleante de velas cuidadosamente posicionadas. Cada garrafa continha líquidos de núcleos distintos: âmbar profundo de um conhaque orgânico, vermelho escarlate de um vinho importado, e o transparente absoluto de uma água aromatizada com limão e hortelã. Pequenas cálices relatados estavam ao lado, sua delicadeza um testemunho irônico da brutalidade dos planos que foram planejados.

Entre as bebidas, os pratos finos estavam disponíveis com precisão. Havia tâmaras recheadas com nozes, pedaços de queijo maturado, azeitonas marinadas em especiarias exóticas, e fatias de pão artesanal ainda quente, exalando um aroma tentador. Mas, embora a comida estivesse ali para proporcionar conforto, ela era apenas um pano de fundo, ignorado pela maioria.

Os três sentaram-se em almofadas adornadas com bordados complexos, mas suas posturas traíam a tensão. Isabela, com seus olhos fixos no mapa estendido no centro da mesa, analisava cada rota e marcação com uma precisão que fazia jus à sua confiança. Seus dedos finos traçaram linhas invisíveis, como se já pudessem enxergar o desenrolar da tragédia que planejaram para os nobres de Valloni.

Ingrid estava menos confiante. Seu olhar oscilava entre o mapa e a porta, como se esperasse que alguém entrasse a qualquer momento. Apesar do nervosismo evidente, havia uma determinação silenciosa em seu semblante — uma força que nascia do ódio acumulado de um passado distante.

Gustav, por sua vez, era a personificação da frieza calculada. Com as mãos cruzadas sobre os joelhos e uma expressão imperturbável, ele falava com uma voz grave, controlada, que parecia carregar o peso de cada palavra. Ele desenhou os detalhes do golpe com clareza militar, descrevendo como cada nobre seria subjugado, como o caos seria orquestrado para parecer resolvido, e como eles se posicionariam como os novos líderes de Estado.

O ar dentro da sala exalava preocupações sombrias. A chama das velas tremulava, lançando sombras dançantes nas paredes adornadas com tapeçarias antigas e armas decorativas. Era como se o próprio ambiente conspirasse com eles, compactando silenciosamente com a tragédia que planejavam.

Do lado de fora, o mundo continuava em ignorância. Mas naquela sala, ao redor daquele tapete persa e daquela mesa de chão, o destino dos nobres de Valloni estava sendo decidido — um destino que carregava a promessa de muito sangue e desgraça.

— O baile real acontecerá em duas semanas, será a oportunidade perfeita para tirarmos do nosso caminho o velho gagá do rei. Aquele velho já está fazendo hora extra nesta vida. — Falou Isabela, com escárnio. Os olhos se estreitaram eivados de uma crueldade assombrosa.

— Ainda acho muito arriscado esse plano, Isa. — Protestou a irmã.

Isabela fuzilou a irmã com os olhos.

— Você não passa de uma jovem tola, Ingrid, jovem demais para entender que a vida é feita de perigo desde que pisamos os pés neste mundo de gente perversa.

— Como você pensa em tirar a vida um monarca tão importante?

Isabela soltou uma gargalhada maquiavélica.

— Edward está um velho sem a mínima condição até mesmo de pronunciar uma palavra. Claro que todos os olhares estarão voltados para o futuro rei deste país, o príncipe Felipe — mirou profundamente a irmã — seu futuro marido, aliás. — Gustav, como estão os diálogos com os parlamentares? Você acha que conseguirá a maioria?

O rapaz sorriu.

— Ora, mas é claro, milady. Você sabe que sempre consigo o que quero.

— Sempre? — Ela ironizou.

— Quase sempre.

— Bom, preparem-se para o baile — ficou de pé — esse dia e esse baile ficarão na história e na memória de toda a Espanha. — Fez um ar de riso cruel.

***

Sentada diante da escrivaninha da imponente biblioteca, Júlia encarava o documento à sua frente com olhos fixos, movidos por uma mistura de nervosismo e antecipação. A madeira escura da escrivaninha exalava o aroma suave de cera antiga, e os tecidos dourados de luz do entardecer atravessavam as cortinas pesadas, iluminando o papel com um brilho morno, quase teatral.

Ela havia acabado de ler cada linha, cada cláusula do contrato que formalizava um recomeço de sua vida ao lado de Amerah. Suas mãos, apoiadas no tampo frio da escrivaninha, tremiam levemente, treinando a inquietação que borbulhava sob sua fachada controlada. As palavras escritas, tão precisas e legais, tinham o peso de uma sentença — um pacto que prometia estabilidade, mas que trazia consigo as sombras de um relacionamento cheio de lacunas e dúvidas não ditas.

Ao finalizar a última linha, Júlia soltou um suspiro profundo, como quem acaba de emergir de um mergulho em águas profundas. Um frio na barriga a aquecia com força ao se lembrar de um detalhe inquietante: Amerah tinha amantes.

“Aquela infeliz deve ter amantes”, inventou, e sua mente foi tomada por uma onda de fúria que subiu como fogo pelas veias. Suas mãos apertaram a borda da escrivaninha, os dedos afundando no entalhe esculpido da madeira. O calor de sua raiva contrastava com a frieza do raciocínio que se desenrolava em sua cabeça.

Ela poderia imaginar Amerah, com sua postura imponente e olhar calculista, se envolvida em encontros clandestinos, tramando coisas que Júlia sequer poderia adivinhar. Essa ideia era como veneno, espalhando-se rapidamente, e o silêncio da biblioteca amplificava cada pensamento, cada teoria que criava em sua mente.

A sala ao redor parecia conspirar com seus sentimentos. As estantes altas, repletas de livros que guardavam segredos e histórias de outros tempos, obviamente observava tudo com indiferença. A única testemunha de sua inquietação foi o relógio de pêndulo no canto da sala, marcando o tempo com um som surdo, lento e implacável.

Júlia atraiu os olhos para a janela, mas lá fora o mundo parecia distante, quase inalcançável. O peso de suas emoções era esmagado, uma fúria contida que ameaçava explodir a qualquer momento.

“Sim, aquela desgraçada deve ter amantes.”

Pensou enfurecida.

“Ela deve ser amante daquela deputada.”

Experimentou outro fervor de raiava.

— Bem... — pegou uma caneta, inclinou-se sobre a escrivaninha e assinou o contrato na última página, as outras, apenas rubricou-as. — Ela ainda se encontra por aqui?

— Não, dona Júlia. Infelizmente a Duquesa partiu logo cedo. Ela tinha alguns compromissos.

— E você, como vai daqui até Madri?

— O jatinho vem me buscar às duas da tarde.

— Certo. Então irei com você até Madri. Preciso falar com a sua Duquesa, ela não foi nem capaz de vir até eu trazer este pedaço de papel. — Referia-se ao contrato. Bem, você sabe que isso aqui é apenas um contrato, a duquesa na verdade me odeia. Não sei se acho isso acordo cômico ou trágico. Não entendo por que ela está fazendo isso.

— Ela pode até não ter vindo aqui, dona Júlia, mas sinto que o único motivo de ela ter feito isso foi para protegê-la.

— A ela mesma.

— Não, proteger a senhora. — Ele ficou de pé, ajeitou o terno e pegou a maleta. — Partiremos às duas da tarde.

— Eu mesma entregarei o contrato a sua Duquesa.

“proteger a senhora.”

A frase ficou martelando na cabeça de Júlia por longos minutos. Ela fez tudo naquela manhã pensando no que o capacho de Amerah dissera. Tomou café, conversou, deu banho em Alice, tomou banho, arrumou algumas coisas que levaria para a capital, e a frase continuava rondando sua cabeça.  

Não acreditava que Amerah fosse capaz de proteger ninguém além de ela mesma.

Sim, a arrogante Duquesa de Valloni já não era mais a mesma mulher amável que conheceu anos atrás e com quem se casou...a quem amou...amava.

“Ai, Deus, como viverei ao lado dela sem deixar meu coração sucumbir?”

Pensava Júlia, aflita.

***

Uma mulher poderosa, dinâmica e completamente com o controle do jogo corporativo, ela era o exemplo vivo de liderança em uma empresa de radiodifusão de renome como a Vision TV. Com uma postura confiante, trajetórias impecáveis ​​e um olhar que transmitia determinação, ela começava seu dia cedo, antes mesmo que o sol nascesse e naquela manhã não estava sendo muito diferente.

Após três reuniões que chegaram ao fim perto das duas da tarde, Amerah pediu um almoço para dois, pois receberia a deputada Bárbara em seu escritório.

Às exatas 14:15 da tarde, Bárbara chegou ao escritório de Amerah e foi recebida com aquela mesma expressão séria de sempre.

— Ué? Mas por que essa expressão tão séria, Duquesa? Que bicho será que a mordeu? Ah, nem me diga! Já sei, a sua ex-esposa. — Sorriu descontraída.

— Não estou para brincadeiras. Sente-se, vamos almoçar, preciso falar com você.

— Ora, mas é claro, Vossa Graça. — Mais um sorriso irônico e se sentou num dos sofás que circundava um centro de madeira clássica. Ficou de frente para a morena, que não expressa uma feição muito agradável.

Amerah a mirou por um longo tempo, depois começou a falar.

— Cadê os seus seguranças?

— Como assim?

— Disse para não andar por aí sozinha, sem seguranças.

— Até onde sei, não estou prestes a sofrer nenhum atentado.

— Antes, não, mas agora você é uma das fortes candidatas na corrida presidencial, preciso que tome mais cuidado, precisa ser cautelosa.

— Até então, não vejo razão para isso.

— A política é mais podre do que você imagina. As pessoas comuns conseguem enxergar apenas a ponta do iceberg. A partir de hoje, andará com dois seguranças, pessoas de confiança que eu mesma tomei a liberdade de contratar.

— Hum... — fez um ar de riso — devo ficar lisonjeada com a sua preocupação? — Fitou a bela morena de cima a baixo — a propósito, você está linda hoje, combina de roupas pretas, esses terninhos te deixam bastante sensual.

Amerah a encarou de maneira extremamente séria, ignorando completamente os dizeres nada ortodoxos da deputada.

— Engraçado, noutras épocas essa esma mulher já teria tirado a minha roupa e feito sex* comigo aqui mesmo, neste tapete, mas às vezes esqueço que ela é uma mulher casa agora. Aliás, sempre foi...e não me equivoco em dizer que ela ainda ama uma certa jornalista.

— Basta, Bárbara! Não a chamei aqui para falarmos sobre minha vida com Júlia. Chamie você aqui para discutirmos sobre o início da campanha presidencial. Você precisa ganhar o carisma do público, é essencial que tenha uma equipe competente e preparada para auxiliar você durante toda a campanha.

— Ah, querida, quanto a isso não se preocupe, meus assessores são os melhores e bastante profissionais.

— Faremos uma reunião com o príncipe, você precisa ganhar a confiança de meu primo.

— Mas o rei ainda é o seu tio Edward.

— Sim, sei disso, mas tio Edward sempre segue à risca o que Felipe diz para ele.

Bárbara fez um gesto positivo com a cabeça.

— Bom, sendo assim, farei o meu possível.

— Conto com você. Isabela e Gustav estão juntos para elegê-lo como presidente. E, como bem sabemos, Gustav de Lutero é também um forte concorrente. Será uma campanha acirrada. Farei de tudo para protegê-la.

— Não fale assim, Duquesa, não quero me iludir. Falando assim você me seduz em segundos.

Amerah se levantou e foi se sentar ao lado de Bárbara. Tomou-lhe as mãos e as beijou com delicadeza.

— Você sabe que tenho um enorme respeito e carinho por você, eu nunca me perdoaria se alguma coisa acontecesse contigo. Meu interesse não é apenas político, eu realmente a considero como uma irmã.

— Uma irmã, Duquesa. Ora, não me faça rir.

Amerah beijou-lhe novamente as mãos, desta vez, de maneira mais demorada.

Júlia abriu a porta da sala com um leve rangido, e o que encontrou do outro lado a deixou paralisada, como se o tempo tivesse congelado ao seu redor. O ambiente, antes preenchido por um murmúrio abafado de conversas, silenciou abruptamente, e o ar pareceu se tornar pesado e sufocante.

Nos braços, ela segurava Alice, cuja presença inocente contrastava brutalmente com a cena diante de seus olhos. A garotinha brincava distraída com uma mecha de cabelo de Júlia, alheia ao choque que a tomava. Júlia apresentou imóvel, sua figura esguia iluminada pela luz difusa que vinha do corredor, enquanto sua mente tentava processar o que seus olhos esmeralda viam.

No centro da sala, duas mulheres pararam, surpresas pela entrada repentina de Júlia. Uma delas, alta e elegante, a Duquesa de Valloni, tinha uma postura desafiadora. Seu olhar negro como um abismo cruzado o de Júlia, emanando uma frieza cortante e uma arrogância deliberada. Mas havia algo mais escondido naquele olhar — um brilho sarcástico, uma ponta de ironia que parecia dizer: "Eu sabia que isso iria te atingir."

— O que faz aqui? Quem te deu permissão para entrar em minha sala dessa maneira mal-educada? Sem bater à porta? — Amerah inquiriu, ultrajada, mas a pose permanecia com aquela mesma serenidade sádica de sempre, aquele comportamento único, calculista, se portava como se fosse ela mesma a autoridade suprema daquele país, a própria rainha da Espanha.

Júlia teve vontade de rasgar o contrato em pedacinhos e jogar nos pés dela.

“Desgraçada!”

“Maldita seja, Duquesa!”

Pensou, controlando-se para não externar seus pensamentos em gritos estridentes.

Estava claro que ela e aquela deputada eram amantes.  

Como poderia, depois daquela cena, aceitar se tornar esposa da Duquesa de Valloni?

Mas...que escolha teria, quando sua sentença ainda estava em execução naquele maldito país?

Diante do olhar frio, buscou forças em seu interior, para falar.

— Estou aqui para entregar o contrato que você tanto deseja. O nosso contrato de casamento.

Desconfiada, Bárbara se levantou com movimentos lentos e calculados, mantendo a jornalista sob seu olhar atento. A tensão em seu corpo era evidente, os ombros rígidos e a postura transmitiam uma mistura de alerta e domínio. Seus olhos examinavam cada detalhe da figura à sua frente, avaliando a mulher que, de alguma forma, parecia exalar tanto mistério quanto e sedução.

A jornalista ficou parada em silêncio, com as mãos levemente abraçadas ao corpo da criança em seus braços. Suas vestimentas eram simples: uma blusa de algodão em tons neutros e uma calça jeans surrada que moldava sua silhueta com naturalidade. Não havia joias ou acessórios extravagantes, apenas uma pulseira fina de ouro no pulso esquerdo, desgastada pelo tempo. Era evidente que ela não se importava com as aparências. Contudo, sua simplicidade era cativante, realçando uma beleza natural adorável.

O cabelo loiro, levemente desalinhado, caiu de forma despreocupada pelos ombros. Algumas mechas se rebelaram escapando, insinuando que talvez ela tivesse corrido ou passado os dedos pelos fios em um momento de frustração. Apesar da falta de cuidado aparente, havia algo cativante em sua aparência despretensiosa, uma força sutil que parecia desafiar o tempo.

Porém, o que mais chamou a atenção de Bárbara foram os olhos. Era de um verde profundo, quase hipnotizante, mas carregava uma tristeza tão palpável que parecia preencher o ar ao redor. Esses olhos não apenas viam o mundo, eles o sentiam, como se cada dor, cada perda, cada desilusão tivesse deixado marcas invisíveis em sua alma. Agora, enquanto encarava Bárbara, a tristeza parecia se misturar com algo mais — uma decepção amarga, indecifrável.

Embora houvesse fragilidade em seus olhos, sua postura sugeria o oposto. A jornalista exalava uma força quase tangível, como alguém que já passou por tempestades e sobreviveu. Não era a força de quem nunca sofreu, mas a de quem aprendeu a se erguer repetidas vezes, mesmo quando tudo ao redor desmoronava.

Bárbara sentiu uma confusão de emoções ao analisá-la. Havia algo desconcertante na mulher — uma combinação de vulnerabilidade e resiliência que se tornava difícil de ignorar.

— E por que não deixou com o meu secretário, como pedi?

Impaciente, Júlia respirou fundo.

— Porque preciso falar com você, mas volto outro dia, já que, como bem estou vendo, você está bem ocupada.

Bárbara riu.

— Ah, não! Eu já estava de saída, querida. — Virou-se para Amerah e disse — vamos conversando, Duquesa. — Piscou um olho, pegou a bolsa e começou a sair, à porta, onde Júlia estava com a filha nos braços, ainda brincou a criança, dizendo que ela tinha a beleza aterradora dos nobres de Valloni.

“Minha filha não tem absolutamente nada a ver com essa família, Júlia disse baixinho, mas Amerah ouviu.

Bárbara saiu e Amerah foi até a porta, fechá-la. Parou perto de Júlia e ficou olhando-a com a criança nos braços.

— Oi!

Amerah foi surpreendida pela voz da criança. Logo em seguida a viu sorrir, um sorriso que parecia de um anjo.

— Oi. — Respondeu, ainda surpreendida.

— Aqui está o seu contrato. — Entregou nas mãos de Amerah.

— Não imagino que tenha vindo aqui apenas me entregar o contrato pessoalmente. — Passou por Júlia e foi se sentar na cadeira imponente.

— Vim porque também preciso falar com você.

— Sou toda ouvidos.

— Preciso que assine um contrato com os donos da fazenda vizinha, com os empresários Almonte.

Amerah franziu o cenho, confusa.

— E que tipo de contrato seria esse?

— Há homens e mulheres que passaram anos de suas vidas trabalhando para sua família, depois você simplesmente os abandonou, deixou-os à própria sorte, deixou que o palacete e todas as terras que o rodeiam caíssem no abismo do esquecimento, do descaso, do desprezo.

Elas trocaram um olhar demorado, como que se recordando dos velhos e bons tempos.  

— Muito bem, quero que me explique como funciona esse contrato, cada mínimo detalhe.

Em poucos minutos, Júlia folheou novamente o contrato, os olhos ágeis cumprindo as cláusulas com uma precisão que misturava nervosismo e determinação. O papel era grosso e amarelado, com letras bem definidas que destacavam a formalidade do acordo. Com um lápis nas mãos, ela sublinhou os pontos mais relevantes, resumindo em voz alta o essencial para garantir que tudo fosse claro: o contrato permitia o arrendamento das vastas terras dos Almonte para o plantio de café, um empreendimento que, se bem-sucedido, poderia transformar completamente aquela propriedade esquecida.

As condições estavam claramente delineadas. O lucro seria dividido igualmente entre as partes, mas as despesas também seriam divididas. No entanto, a responsabilidade pelo planejamento — desde a escolha das sementes até a contratação e gerenciamento dos trabalhadores — recairia integrada sobre Júlia. Era um fardo significativo, mas ela aceitou sem hesitar. Havia em sua voz um tom de verdade, como se o contrato fosse não apenas um negócio, mas uma oportunidade de recomeçar, de provar algo a si mesma e, talvez, mudar a vida daqueles pobres homens e mulheres do campo.

Do outro lado da mesa, Amerah estava recostada em uma poltrona, com uma expressão distante. A luz suave da tarde entrava pelas janelas altas, banhando seu rosto com um brilho dourado, mas nada naquela cena parecia tocá-la. Suas mãos se relacionavam no colo, os dedos cruzados em um gesto relaxado que contrastava com a intensidade de Júlia. Para Amerah, aquele contrato era apenas mais uma formalidade, naquele lugar que ela tanto desprezava.

Enquanto Júlia explicava os detalhes, Amerah apenas balançava a cabeça em concordância. Seu olhar escuro vagava pela sala, detendo-se nos móveis antigos, nas paredes bem pintadas e nos detalhes que sussurram memórias amargas. Para ela, o palacete e tudo o que mais o envolvia não tinha mais sentido. Era um peso que ela carregava por tempo demais, um espaço impregnado de lembranças que preferia esquecer.

Naquele momento, Amerah não via futuro ali, apenas o passado. A casa, as terras, as pessoas que fizeram passado por ali — tudo parecia envolto em uma névoa de dor e arrependimento. Ela se sentiu como uma estrangeira em um lugar que um dia fora seu. Cada canto parecia ecoar vozes que ela desejava silenciar para sempre.

“Está tudo certo para mim”, disse Amerah, sua voz baixa e desinteressada, interrompendo a explicação de Júlia. Seus olhos finalmente encontraram os de Júlia, mas o contato visual durou pouco. Em seguida, desviou o olhar para a janela, onde o horizonte se estendia, como se já estivesse olhando além daquele lugar, além daquele momento.

Júlia, por sua vez, hesitou por um instante, surpresa pela falta de envolvimento de Amerah. Era como se aquela terra, que tinha tanto potencial, fosse um fardo para ela. Mas Júlia não permitiu que isso abalasse. Firmando a postura, decidiu que carregaria o projeto com ou sem a paixão de Amerah. Afinal, para Júlia, aquilo não era apenas um contrato — era uma chance de construir algo novo, de transformar vidas.

— Aí está, faça como quiser. — A voz fria era quase cortante, após assinar o papel. — Teremos o Baile Real — logo entrou em outro assunto —, em dois domingos. Prepare-se, será lá que anunciarei que reatamos.

— Não sei por que ainda insiste nessa palhaçada, quando você vive a andar por aí com as suas amantes.

— Se eu ando ou não com amantes, isso não é algo que te diga respeito. Já não está no contrato que não dormiremos na mesma cama? —  Inquiriu franzindo o cenho. —  Apenas estou fazendo isso por razões políticas, geopolíticas e por questões puramente diplomáticas. Não fosse isso, jamais teria nenhum tipo de contato contigo. Não pense que esqueci do seu vergonhoso passado. Você foi considerada uma traidora da pátria, este casamento é apenas para não me colocarem como sua cumplice.

Júlia sentiu o encanto erguido pelas palavras do secretário de Amerah, mais cedo, quebrarem-se como uma redoma de vidro quando toca o chão.

— Você nunca foi capaz de me ouvir, de ficar ao meu lado...eu tinha muita coisa para te falar, mas isso já ficou no passado. — Disse, revoltada.

— Assim que a corrida presidencial chegar ao fim, você deixará este país e aí nunca mais nos veremos de novo.

Júlia experimentou um doloroso nó na garganta, fez um esforço sobre-humano para não desatar em lágrimas.

— Você não acreditaria, mas sair deste inferno é tudo o que mais quero nesta vida. — Falou mirando a esposa nos olhos frios. Mirou os trajes formais, pretos, os cabelos ébanos, pouco abaixo dos ombros, caíam displicentemente, moldurando um rosto cuja beleza poderia ser comparada à de uma deusa grega. Os lábios vermelhos, sedutores, como era linda, mas ao mesmo tempo cruel. — Em pouco tempo nossos caminhos estarão se descruzando para sempre, Duquesa de Valloni, e jamais eu e Vossa Graça nos veremos novamente.

— Antes de ir, peça para que Cândida arrume meu quarto no palacete, estarei me mudando para lá ainda esta semana.

As palavras fizeram o coração de Júlia acelerar outra vez.

Não sabia se teria forças para viver ao lado de Amerah novamente.

— Espero que você não seja cretina o suficiente para levar a sua amante para dormir em sua cama no palacete.

Amerah a encarou com um olhar cortante, carregado de algo que transcendia a raiva. Era uma mistura de perigo, de desafio e desejo contido, como se as emoções que ela tanto tentava controlar estivessem prestes a transbordar. Seus olhos escuros, profundos como a noite, prendiam os de Júlia em um laço invisível, e a tensão no ar era quase sufocante.

Num movimento rápido e inesperado, Amerah contornou a escrivaninha com a precisão de um predador encurralando sua presa. Seus passos eram firmes, mas silenciosos, e em poucos segundos estava diante de Júlia, tão próxima que o calor de seus corpos parecia preencher o espaço entre elas. O perfume sutil de Amerah, algo floral e intenso, envolveu Júlia, tornando impossível ignorar a presença magnética que ela emanava.

O corpo de Amerah quase tocava o da jornalista, a distância entre elas era mínima, de meros centímetros. A respiração de ambas estava acelerada, irregular como o compasso de uma música caótica, e o ar entre elas parecia carregado de eletricidade.

Júlia sentiu o próprio coração bater tão forte que parecia ecoar em seus ouvidos, e as mãos, antes seguras, agora tremiam levemente ao lado do corpo.

Ambas estavam quentes, como se uma chama invisível as consumisse por dentro. A proximidade era sufocante, mas também continha algo familiar. Seus olhares se cruzaram novamente, e, por um momento, era como se o mundo ao redor tivesse desaparecido. Os móveis da sala, a luz tênue que filtrava pelas cortinas, até mesmo o som distante do vento — tudo parecia ter sido engolido pelo silêncio intenso que as envolvia.

Júlia sentiu uma onda de sensações conflitantes invadi-la. A força avassaladora de Amerah a desafiava, mas ao mesmo tempo despertava algo que ela não conseguia ignorar.

O calor do corpo da outra era quase tangível, e a tensão se tornava cada vez mais forte.

Era como se, naquele instante, seus corpos se confirmassem, como se fossem peças de um quebra-cabeça que foi feito separado por tempo demais.

Uma conexão antiga, visceral, pulsava entre elas, ignorando qualquer lógica ou mágoa.

E, embora ambas estivessem trêmulas, não era de fraqueza ou medo. Era algo mais profundo — uma mistura de desejo, raiva e uma familiaridade que não precisava de palavras para se manifestar. Era como se, naquele momento, nunca tivessem se desconhecido, como se cada sentimento que compartilhavam tivesse apenas adormecido, esperando o momento de despertar de novo.

— Ainda que seja no papel, serei sua esposa e não permitirei isso. — Falava olhando nos olhos de Amerah.

A bela Duquesa inclinou levemente a cabeça, o rosto esculpido com traços de elegância quase intocáveis. Seus olhos, profundos percorriam Júlia com a intensidade de um predador estudando sua presa. Era um olhar felino, repleto de uma curiosidade astuta, mas também carregado de uma sensualidade.

Dos pés à cabeça, ela foi analisada lentamente, como se cada detalhe fosse digno de atenção. Era um escrutínio que parecia mais íntimo do que qualquer toque físico, uma espécie de invasão silenciosa que fez a pele de Júlia arrepiar-se de forma involuntária. Seu corpo reagiu antes mesmo que sua mente pudesse prever o que estava acontecendo.

Os lábios da Duquesa curvaram-se num sorriso quase imperceptível, mas carregado de intenção. Um gesto sutil, mas que carregava o peso de um milhão de palavras não ditas. Era como se ela estivesse se divertindo com o desconforto de Júlia, saboreando saber que o corpo dela ainda reagia ao seu.

Júlia conseguiu sustentar o olhar, mas sentiu o calor subir pelo rosto, tingindo-lhe as bochechas de um leve rubor. Mesmo completamente vestida, havia uma sensação desconcertante de vulnerabilidade, como se o olhar de Duquesa tivesse despido camada por camada, expondo não apenas seu corpo, mas também seus pensamentos.

A Duquesa deu um pequeno passo à frente, diminuindo ainda mais a distância entre elas. Sua voz, quando finalmente soou, era baixa, rouca e envolvente, como um murmúrio feito para ser ouvido apenas por Júlia:

— Acha que ficarei no celibato durante o tempo em que estiver casada contigo? — Os olhos brilharam intensamente dentro dos de Júlia. — Não sou de ferro, minha amada esposa, ainda que não pareça, sou uma mulher de carne e osso e tenho desejos ocultos... — murmurou com voz baixa e rouca no ouvido da jornalista.

Júlia experimentou um forte arrepio na pele.

Desnorteada, desvencilhou-se dos braços perigosos da morena.

— Não me importo que durma com suas amantes, mas como disse, não permitirei que seja dentro do palacete.

Nada mais disse.

Em silêncio, apenas pegou Alice e deu as costas para a Duquesa, deixando-a sozinha e com a estranha sensação de que Júlia sempre levava o seu coração quando partia.

 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Meninas, peço desculpas pela demora. Mas...saiu! rsrs

Bjsss, até o próximo. 

Thaa :)


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Comentários para 9 - Capitulo 9:
Sem cadastro
Sem cadastro

Em: 23/02/2025

Que tensão!

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Val Maria
Val Maria

Em: 26/01/2025

A historia está caminhando para melhor parte: A convivencia delas no mesmo teto.

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Nenete
Nenete

Em: 17/01/2025

Capítulo tenso, emocionante! 


Thaa

Thaa Em: 19/01/2025 Autora da história
Oi, Nenete!
As coisas entrando no eixo ou saindo dele.
kkkkkk

Bjss!


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Rp1999
Rp1999

Em: 16/01/2025

capitulo gostosooo


Thaa

Thaa Em: 19/01/2025 Autora da história
Oi!
O desenrolar, será? rsrs

Bjssss!!


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Mmila
Mmila

Em: 12/01/2025

Nossa, que atração!!!!!!


Thaa

Thaa Em: 19/01/2025 Autora da história
Oi, Mila!
kkkkk, as coisas ficando quentes!

Bjsss!!!


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