capitulo trinta e cinco: linha de fogo
POV ANNA
O cliente ligou para cancelar a reunião e eu decidi ficar escondida nos meus próprios pensamentos. Decidi ir para a sala de Fernanda e me sentar em sua mesa. Realmente, ela precisava urgentemente de uma cadeira mais confortável. Ligo o seu computador protegido por senha e decido tentar brincar de descobrir a senha da minha namorada.
Digito sua data de aniversário, dá incorreta. Seu nome, sua matéria preferida, nome da sua mãe, tudo deu incorreto. Até que decido digitar nossa data de namoro. Coloquei a sequência e, para minha surpresa, o computador desbloqueou. Dou um largo sorriso. Típico de Fernanda. Ela brincava comigo dizendo que eu era brega, mas existia coisa mais brega que isso? Eu mal podia esperar para zoar com a sua cara.
Decido ver no que ela está trabalhando e abro suas petições. Eram todas muito bem escritas, elaboradas. Tinham seu toque pessoal. Continuo olhando cada palavra, me impressionando ainda mais com sua habilidade. Fernanda era tão competente, tão capaz. Eu mal podia esperar para ver ela finalmente passar nessa maldita prova e se tornar uma advogada. Assistente jurídica? Aquilo era pouco para ela. E, por mais que ela duvidasse tanto de si mesma, eu sabia que ela tinha o potencial de ser uma advogada mil vezes melhor que eu. Era algo que eu acreditava muito. Ela era brilhante, como eu podia ser tão sortuda assim?
Eu me perguntava se ela sabia o quanto ela era incrível ou se a insegurança ainda tomava conta de suas ações. De qualquer forma, o que eu mais queria era vê-la conquistar tudo o que merecia. Uma ideia surge na minha mente e eu dou um sorriso. Eu iria transformar o quarto vazio lá de casa em um escritório. Seria o nosso cantinho de estudos. Eu ia amar fazer essa surpresa pra ela, mas como eu vou transformar o quarto em escritório sem que ela veja?
Fernanda e eu estamos cada vez mais próximas. Éramos como uma só. Eu estava apaixonada tanto quanto ela, pensava na minha ruiva o dia todo e quando estávamos longe, eu ficava triste de não poder estar perto. Fernanda não saía lá de casa, quem olhasse diria que já estávamos morando juntas, mas não era verdade. Eu queria muito pedir para que ela fosse morar comigo, mas achava muito cedo. Prometemos uma para outra que não iríamos pular etapas, mas eu necessitava da presença dela, do amor dela, do cheiro, do sorriso todas as manhãs. Nós não fazíamos sex*, fazíamos amor até quando nosso tesão estava no nível hard.
Penso na reunião com Kevin, Roberto e Beatriz, o trio do mal. Não sei como ela pode estar se saindo, mas espero que bem e torço muito para que isso não implique no nosso relacionamento novamente. Tudo o que eu menos queria era perdê-la. Eu havia encontrado a mulher da minha vida e iria lutar para que ela permanecesse nela.
Meus pensamentos são interrompidos com um estrondo alto vindo do andar de cima, a mesa de Fernanda estremece com o impacto e ouço um burburinho vindo dos corredores. Abro a porta e me dirijo até lá, paro para conversar com alguns associados e eles não sabem me dizer o que aconteceu. O alarme do incêndio começa a tocar e as pessoas começam a correr desesperadas em direção às escadas de emergência. Merda. Esqueci o celular na sala de Fê.
Vou até a sala de reuniões que Fernanda estava para encontrá-la, mas ela está vazia. Noto alguns papéis em cima da mesa e vejo que Beatriz assinou o divórcio. Dou um sorriso, Fernanda havia conseguido.
Decido ir até a saída de emergência, talvez Fernanda tivesse se dispersado com os funcionários quando ouviu o alarme de incêndio, mas se algo tinha explodido lá em cima, o que seria? Ao invés de descer as escadas decido subi-las em direção ao 13º andar, quando abro a porta, noto que no 13º está tudo normal. Meu coração gela. Dra Baldez.
Subo as escadas lentamente para o 14º, uma fumaça preta está no ambiente, o que me deixa com dificuldade de enxergar. Tusso. Meu peito aperta, meu coração bate mais rápido a cada passo que eu subo. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas o medo de encontrar algo pior me empurrava para frente.
Quando finalmente chego ao 14º andar, vejo uma cena que me faz parar rapidamente. A porta do meu escritório estava aberta, e, dentro, a fumaça estava ainda mais densa. Ouvi um barulho vindo lá de dentro. Meu instinto de advogada – e de namorada preocupada – me impulsiona para dentro, apesar do risco.
Tinham algumas pessoas no 14º andar, mas eram poucas. Elas estavam assustadas, olhando para mim.
“Quem está aí?” Eu grito, mas minha voz mal atravessa o barulho da fumaça e dos passos ao meu redor. Meus olhos lacrimejam com essa merd*, mas eu não consigo parar. Preciso encontrar Fernanda, preciso saber se Roberta está bem... Deus! Era tanta coisa. O que poderia ter causado aquilo? O fogo, o barulho, tudo estava acontecendo tão rápido que minha percepção estava distorcida.
Lentamente, duas figuras começam a se materializar na fumaça. O meu corpo se estremece de alívio quando vejo Fernanda, com os cabelos desalinhados e o rosto coberto de algo preto, mas com uma expressão de foco, olhando em volta, como se procurasse algo. Me assusto ao perceber que ao seu lado, está Beatriz, com a mesma expressão que ela. Seria cômico se não fosse trágico.
"Fernanda!" grito, com força, mas também com o alívio de vê-la bem. Ela se vira, seus olhos se arregalam ao me ver, mas antes que ela possa se aproximar, uma explosão de fumaça nos envolve novamente. Ela tenta me puxar para o lado, mas a situação estava mais caótica do que eu imaginava.
Com muito sacrifício, eu a tiro de dentro da sala e ela me envolve em um abraço desesperado. Ela começa a chorar copiosamente, eu a abraço forte e tento tranquilizá-la.
— Está tudo bem, amor. Eu não estava aí dentro, estava na sua sala. Shhh... — Ela me abraçava mais forte, mas de repente, ouvimos o som de um tiro. Ela me soltou e me olhou em desespero.
— Beatriz está lá dentro! — Põe as mãos na cabeça.
Respiro fundo.
— Fica aqui — Digo com firmeza
— Anna, não vai...
Ignoro seu pedido e entro na sala cheia de fumaça. Sinto uma pessoa passar por cima de mim como um furacão, não consigo olhar seu rosto, pois estava coberto com uma máscara. A silhueta dele desaparece rapidamente pelo corredor, como um vulto, penso em ir atrás, mas meu foco precisa ser Beatriz.
Continuo pela sala, os olhos ardendo com a fumaça que toma o lugar. O calor é absurdamente sufocante e o cheiro de queimado impregna minhas narinas de uma forma que não sei se vou conseguir ficar ali por muito tempo, então preciso ser rápida.
— Bia! — Grito
— Anna! Aqui! — Ela grita de volta
Meus olhos vasculham o espaço, e é quando vejo Beatriz caída no chão, o braço pressionando o lado esquerdo de sua coxa. Há sangue. Ela me olha, o rosto contorcido de dor, e tenta falar, mas um gemido escapa no lugar das palavras. A fumaça ao redor não para de se intensificar, dificultando minha respiração, mas eu preciso agir.
— Fica comigo, tá? Nós vamos levantar pra sair daqui. — Digo firme, pressionando minhas mãos contra o ferimento para estancar o sangue. Ela segura meu braço com força, gesto esse que me faz constatar que ela está sentindo dor.
Puxo seu braço ao redor do meu ombro e começo a erguê-la com dificuldade. O sangue continua escorrendo, manchando minha roupa e fazendo minha respiração acelerar. Cada passo parece uma eternidade.
Chegamos à porta da sala, e é quando ouço passos rápidos à minha frente. Ele voltou. Está na porta da sala. Meu coração para por um segundo. Eu me viro e vejo uma figura mascarada emergindo da fumaça, a arma apontada diretamente para nós.
— Deixa ela. – Ele ordena, sua voz é fria e abafada.
Eu coloco Beatriz cuidadosamente encostada na parede e me posiciono na frente dela, com as mãos levantadas.
— Você não está vendo que o que você fez já é o suficiente? Você feriu uma inocente, ela não tem nada a ver com essa história. Deixe-a ir.
Ele destrava a arma e aponta na minha direção, mas eu não tenho medo. Só não podia deixar que ele a matasse por minha causa.
— As pessoas estão vindo, você não vai sair daqui se continuar com isso. — Disse, tentando soar firme.
— E deixar você livre? – Dá uma gargalhada assustadora – Dra Florence, não seja ridícula.
Ele aponta a arma pra mim de novo, mas vejo que ele hesita, mas antes que ele possa fazer qualquer coisa, ouço outro som – passos. E, para meu alívio, Fernanda surge na fumaça com um extintor de incêndio nas mãos. Sem pensar duas vezes, ela o lança contra o homem com toda a força. O impacto é suficiente para fazê-lo cair e soltar a arma.
— Fernanda! — Grito, enquanto corro até ela. Fernanda pega a arma e aponta para o homem, que aproveita a confusão para fugir pela saída de emergência.
— Você tá maluca? Enlouqueceu? — Digo, minha voz trêmula e eu não sabia dizer o que estava sentindo: alívio ou raiva.
— Não mais do que você! — Ela rebate, vindo até mim e Beatriz. — Precisamos sair daqui agora.
Com o peso de Beatriz em nossos ombros, descemos as escadas lentamente. A fumaça começa a clarear enquanto nos aproximamos da saída, e os sons das sirenes preenchem o ar. Assim que atravessamos a porta para o lado de fora, paramédicos vêm ao nosso encontro. Eles tiram Beatriz de nossos braços e começam a atendê-la imediatamente.
Eu procuro o meio fio da calçada e desabo no chão, minhas pernas finalmente estavam cedendo ao meu emocional. Eu estava em pânico, mas a adrenalina ainda corria nas minhas veias. Fernanda se ajoelha do meu lado, segurando meu rosto com as suas duas mãos.
— Você está bem, amor? — Ela pergunta, com os olhos cheios de lágrimas.
Eu não conseguia respondê-la, mas consigo puxá-la para um abraço, sentindo seu corpo tremer tanto quanto o meu.
Aquele palhaço ainda está solto, mas naquele momento, o importante era Bia e Fê vivas e bem.
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A Dra Baldez tinha nos levado para casa dela contra a minha vontade. Quando chegamos, Renata, a esposa dela, falou comigo rapidamente e se trancou com Roberta no escritório da casa, provavelmente ela ia explicar o que havia acontecido. Beatriz estava no hospital, ferida, e eu estava ali, impotente, sendo protegida como se fosse incapaz de cuidar de mim mesma. Fernanda estava na sala ao lado, falando com alguém no telefone. Pela expressão dela, o assunto parecia tão tenso quanto o que se desenrolava a portas fechadas no escritório.
Levantei e fui até a janela de sua enorme sala, com uma vista privilegiada pelo jardim. Era verde, tão bonito. Diferente do caos que estava instaurado dentro de mim, que era cinza e sombrio. Eu não aguentava mais ser triste, não aguentava mais tudo estar às mil maravilhas e como um vendaval, tudo acabar desmoronando. Que merd*. Cinco dias de paz, dez dias no inferno.
Fernanda se aproxima de mim e me observa com atenção, ela se senta finalmente ao meu lado e me puxa para deitar com a cabeça em seu peito. Ela me acolhe e eu fico um pouco mais calma, mas uma lágrima ainda insistia em cair. Por que diabos eu choro tanto? Porque eu sinto. E sinto muito. O fato de que uma pessoa que me é cara foi ferida por minha causa mexe muito com a minha cabeça.
— No que está pensando? — Ela pergunta, fazendo cafuné em meus cabelos
— Em Beatriz. Não sei se ela vai ficar bem, eu estou preocupada. — Digo, sincera.
— Eu me certifiquei de saber para qual hospital a levaram, se você quiser pode ir lá visitá-la amanhã. Hoje, eu quero que descanse. Ouviu bem? — Ela toca o seu indicador no meu nariz para aliviar a tensão.
— Amor... — A chamo
— Oi, meu amor. Pode falar — Ela me encara com aqueles olhos azuis intensos, como se cada palavra que fosse sair da minha boca fosse tão importante, a ponto da sua pupila estar dilatada nesse momento.
— Eu amo você. — Ponho a mão no seu rosto, fazendo um afago — Quase morri de medo de te perder hoje. Não tive medo de morrer, mas tive medo de que você se ferisse, de que você fosse embora, e... eu não tô preparada pra te perder, Fernanda — Minha voz embarga nesse momento e sinto um nó na garganta terrível — E nunca vou estar. Ainda bem que você não desistiu de mim, senão eu não ia viver esse amor tão forte que eu sinto... — As lágrimas não param de cair e eu já não as seguro mais — Eu sou completamente apaixonada por você, então não me deixa. Eu tô com medo.
Ela ouve minhas palavras e então, inclina sua cabeça para me dar um beijo. Agarro no pescoço dela e ela me puxa ainda mais para si. O beijo é profundo, uma mistura de alívio e desespero. Sinto o calor de suas mãos segurando meu rosto com cuidado, como se quisesse garantir que eu realmente estivesse ali, inteira e a salvo.
Ela junta nossas testas e entrelaça nossas mãos, do jeito que ela sempre fazia.
— Nunca vou deixar você, amor. — Ela diz firme, mas é visível o quanto ela está emocionada — Eu também tive medo hoje. Medo de ter acontecido algo com você, medo de não conseguir chegar a tempo... E que bom que você estava na minha sala, não sei nem o que teria feito se algo tivesse acontecido.
— Você foi incrível. Salvou a minha vida e a de Beatriz. — Digo, com um sorriso meio trêmulo.
— Faria isso mil vezes por você. — Ela responde, e então sorri de leve.
O momento é interrompido por passos apressados no corredor. A Dra Baldez aparece na sala, o rosto sério, mas sua postura denuncia uma preocupação contida.
— Anna, Fernanda. — Ela chama, cruzando os braços. — Precisamos conversar. Agora.
Fernanda endireita a postura, mas mantém uma das mãos em mim, como se não quisesse quebrar nossa conexão.
— Sobre o que, Roberta? — Pergunto, tentando soar calma, mas minha voz ainda treme levemente.
Ela hesita, lançando um olhar rápido para Fernanda antes de voltar a mim.
— Há algo que você precisa saber. Não é apenas um ataque aleatório, Anna. Você é o alvo.
Meu corpo fica rígido, e sinto Fernanda apertar levemente minha mão.
— Por que eu? O que eu fiz para merecer isso? — Pergunto, o tom subindo de indignação.
Renata respira fundo.
— Não sei, mas acho que tem algo a ver com Proetti.
O peso de suas palavras cai sobre mim como um martelo. Por mais que eu soubesse, lá no fundo, que minhas ações poderiam ter consequências, nunca imaginei que chegariam a esse ponto.
— Isso significa que Beatriz foi ferida por minha causa... — Minha voz falha, e sinto Fernanda apertar meu ombro em apoio.
— Não foi sua culpa, Anna. — Roberta diz, com firmeza. — Mas precisamos ser estratégicas. Não podemos subestimá-lo.
— Então, qual é o plano? — Fernanda pergunta, seu tom frio e prático.
Roberta olha para nós duas, a expressão severa.
— Proteger Anna a qualquer custo. E encontrar quem está por trás disso antes que eles tentem de novo.
— Como vocês ficaram sabendo disso? — Pergunto
— Ele ligou pra mim. Para perguntar sobre o que tinha acontecido, o tom que ele usou era de deboche.
— Não é ele que está por trás disso, ele pode até ser o mandante, mas não fez isso com as próprias mãos. Tem alguém dentro do escritório trabalhando pra ele, fato. — Digo, ainda com raiva.
— Eu vou pedir uma licença pra você ao RH — Ela diz, já pegando o telefone
— Não. — Balanço a cabeça negativamente
— Anna, não seja teimosa, por favor... — Fernanda suplica ao mesmo tempo que me repreende com o olhar
— Eu não vou deixar meus clientes, meu trabalho, a minha vida por uma pessoa que... – Fernanda me interrompe
— Que tentou lhe matar. Que colocou sua ex em uma cama de hospital. Que plantou uma bomba na sua sala. Será que você não percebe que isso se tornou perigoso, Anna? — Ela diz, me olhando com raiva e indignação
Ela estava certa, eu sabia disso. Mas o meu orgulho era maior do que o meu medo.
— Eu não posso abandonar tudo porque estou sendo intimidada, amor. Se eu abandonar... eles vencem. Eu não quero ser derrotada.
— Não é questão de vencer ou perder. É ser cautelosa com a sua vida, vale a pena arriscar? — Ela se levanta do sofá e fica de joelhos para ficar da minha altura e pega nas minhas mãos — Vale a pena arriscar sua vida? A nossa vida? A que estamos construindo?
Eu olho nossas alianças. Merda. Minha resistência estava começando a ceder, pois quem mandava no relacionamento claramente era Fernanda e todas as vezes que eu decidia escutá-la, ela não estava errada.
— Você não precisa fazer isso sozinha, amor. Deixa as pessoas que se importam com você ajudarem. — Ela me olha com a imensidão daquele azul, para tentar me convencer.
O silêncio caiu entre nós por alguns segundos, interrompido apenas pela voz firme da Dra. Baldez.
— Fernanda está certa, Anna. — Ela se senta no braço do sofá, ao meu lado — Por favor, se não vai me obedecer, apenas a obedeça... — Ela revira os olhos e sorri
Pego na sua mão e ela faz um afago na minha. Ela era uma mãe mesmo. Ela se importava comigo, sempre se importou.
— Ok, o que vamos fazer? – Pergunto
— Se você estiver certa... vamos descobrir quem está trabalhando para o Proetti. Se alguém do escritório estiver envolvido, vamos identificá-lo. Até lá, você fica sob proteção.
— Isso significa afastamento. — Renata completou, entrando na conversa. — Mas não precisa ser total. Trabalhe remotamente, mantenha-se conectada com seus casos, mas fique longe de onde possam te alcançar diretamente.
— Eu não...
— Por favor, Anna. — Fernanda implorou, interrompendo minha recusa. — Só por um tempo.
Respirei fundo, tentando ignorar o peso esmagador dessa decisão.
— Tá bom. — Concordei, finalmente. — Eu aceito o afastamento, mas com uma condição.
— Qual? — Roberta perguntou, com uma sobrancelha arqueada.
— Quero ser informada de tudo. Quem quer que seja o amiguinho de Proetti, quero estar envolvida na investigação.
Renata e Roberta trocaram um olhar breve antes de Roberta concordar com um aceno.
— Certo. — Ela disse. — Mas com uma condição nossa: você segue nossas instruções de segurança à risca. Vou contratar dois seguranças para ficar na sua casa. Não saia sem avisá-los, não saia escondida. Caso fique sabendo que aprontou, eu lhe demito por justa causa — Diz com o semblante sério
Ela se vira para Fernanda.
— Maria Fernanda, é ideal que você fique longe de Anna nesse momento, mas como eu sei que ela irá protestar até a última geração, fique com ela em casa, em home office também, até que a situação se normalize. Se o alvo é Anna e você é namorada dela, não pode permanecer trabalhando no escritório.
Assentimos, mas eu estava sem forças para discutir mais.
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Eram 10h da manhã quando chegamos em minha casa, já acompanhadas dos seguranças que se chamavam Robson – moreno, alto, com o semblante sempre sério e impassível, e Murillo – era careca, tinha um semblante mais sereno e era branco feito papel, tinha uma barba longa e engraçada, me pergunto como ele conseguia fazer oral numa mulher sem que ela sentisse cócegas. Caralh*, minha vida em risco e eu com esses pensamentos bizarros.
Enquanto um deles verificava se a minha casa estava ok, isso quer dizer, sem ameaça nenhuma de tiro, porr*da ou bomba, o outro ficava conosco, observando ao redor. Quando Murillo deu ok para o Robson, pudemos entrar tranquilamente. Eu coloco minha bolsa no cabideiro e Fê prende seu cabelo em um coque, indo em direção à cozinha provavelmente para ver o que tem na geladeira para fazer o almoço.
Encosto-me no batente da porta, observando-a. Acho lindo que ela no meio do caos foi simplesmente preparar o almoço. Bem filha de Dona Débora mesmo. Eu sorrio com esse pensamento e ela percebe, arqueando uma sobrancelha.
— O que foi? – Ela pergunta
— Nada, amor. — Balanço a cabeça negativamente sorrindo — Só um pensamento bobo que eu tive.
— Quer compartilhar? — Ela fecha a porta da geladeira, com uma maçã na mão e encosta na bancada da cozinha.
— Estava pensando que você é bem filha da Dona Débora mesmo. O mundo se acabando e você indo preparar o almoço. — Sorri
Ela ri com a minha observação e arremessa a maçã em mim, eu a pego de imediato e dou uma mordida.
— O que você quer comer? — Pergunto
— Não sei, algo prático. Tipo... — Ela me interrompe
— Anna, não vou fazer bife com batata-frita. Pode esquecer.
Reviro os olhos, resmungando algo baixo e ela me repreende.
— O que você acha de tudo isso? — Mudo o tom da conversa para algo mais sério
— Eu não sei, amor... — Suspira — Eu acho isso tudo uma merd*. Essa briga por poder, como isso te afeta sendo que você nem está na cadeira de comando.
— Mas sou braço direito de quem está. — Dou um meio sorriso enquanto ela fica de costas pra mim, pega algo na geladeira e a tábua no armário.
— Não acha isso perigoso? Você não pensa mesmo em se demitir e tentar outras possibilidades? Eu sei que ser advogada com CLT é mais seguro financeiramente falando e que você tem um futuro promissor ali, mas... — Ela pensa um pouco — Tem valido a pena pra você?
— O que quer dizer com isso? — Dou uma mordida na maçã, enquanto cruzo os braços despretensiosamente
— Não pensa em ter seu próprio escritório? Seu nome na porta... sem precisar seguir ordens de ninguém?
Ela pega o bife já cortado em um pote no congelador e põe no micro-ondas para descongelar. Dou um sorriso pra ela, enquanto ela me aponta o dedo do meio como se dissesse: “sem comentários por fazer suas vontades”.
Vou até a geladeira e pego as batatas Asterix para cortá-las.
— Sempre pensei em crescer profissionalmente em escritório grande... Quando o procurador me indicou para esse escritório, até entrei com o pensamento de adquirir experiência para depois voar com as minhas próprias asas, mas... eu gostei de estar ali, por mais que a área cível não fosse minha praia.
— Você gosta do jogo. — Ela constata — Esse jogo de poder que existe entre vocês. Foi para isso que quis virar advogada júnior? — Ela questiona
— Sim, você tem razão. Eu gostava do jogo e não me importaria de continuar jogando, brincando de quem mata quem primeiro se não tivesse uma pessoa que eu amo envolvida. — Digo isso olhando nos seus olhos — Eu só obedeci a Dra Baldez por sua causa. Não quero lhe perder, quando disse aquilo, falei sério.
Ela suspira longamente, em seguida me dá um abraço apertado com as mãos cheias de tempero. Entretanto, eu não estava me importando com isso, eu só me importava com ela.
— Eu posso te fazer outra pergunta? Tem algo me incomodando, mas eu não queria incomodar você com isso, mas... — Ela coçou a nuca
— Pode me incomodar, eu deixo — dou um sorriso pra ela, que ruboriza. Lá vem.
— Quando Beatriz tomou um tiro no seu lugar, você sentiu algo por ela? — Ela pergunta em tom de insegurança.
Eu a encaro por um momento, absorvendo a pergunta. Minha mão para no ar com a faca que eu usava para cortar as batatas.
— Por que está perguntando isso? — devolvo, tentando não transparecer minha surpresa.
Ela dá de ombros, mas evita meus olhos, concentrando-se na borda da bancada como se fosse algo fascinante.
— É só... eu sei que você e Beatriz têm uma história, e sei que nós combinamos de abandonar o passado e viver o nosso amor, mas... sempre quando ela aparece, eu fico... — Ela respira fundo antes de continuar — Eu fico me perguntando se ela ainda ocupa um espaço que talvez eu não consiga preencher.
Deixo a faca de lado e caminho até ela, parando ao seu lado. Ergo seu rosto suavemente pelo queixo, forçando-a a me encarar.
— Fê, você acha que eu não sentiria nada vendo alguém levar um tiro por mim? — Minha voz sai baixa, quase um sussurro, mas firme. — É claro que eu senti. Gratidão, choque, culpa... Mas amor? Isso acabou faz tempo.
Ela permanece em silêncio, seus olhos procurando algo no meu rosto, talvez tentando decidir se acredita ou não no que acabei de dizer.
— Eu não nego que Beatriz fez parte da minha vida, e que, por um momento, eu deixei que isso ficasse entre nós. — Seguro suas mãos entre as minhas. — Hoje, o que eu sinto por ela – que não é amor, deixando aqui bem claro... não chega nem perto do que sinto por você.
Ela aperta meus dedos, mas seus olhos continuam mostrando um ponto de interrogação.
— É difícil não pensar nisso, Anna. Ver como ela ainda parece disposta a tudo por você... às vezes eu me sinto... pequena.
Seguro seu rosto com ambas as mãos, meu tom mais intenso agora.
— Fernanda, escuta bem o que eu vou dizer. Você nunca vai ser pequena pra mim. Nunca.
Ela suspira e me abraça novamente, ainda parecendo carregar um peso.
— Eu amo você, monstrinha. Eu amo você, quero você, sou apaixonada por você.
Puxo-a para um abraço apertado e, sem aviso, rodopio-a no ar. Fernanda solta um gritinho surpreso que logo se transforma em uma risada alta, daquelas que iluminam o ambiente. Ela dobra os joelhos, suas mãos agarrando firmemente meus ombros, enquanto um sorriso típico dela — o sorriso "Fernanda" — toma conta do seu rosto.
— Para, amor!
— Só se prometer parar de duvidar do quanto eu amo você.
Ela me dá um olhar dramático, cruzando os braços assim que seus pés tocam o chão novamente.
Eu sempre fui aquela que se entrega demais. A que ama mais, nunca em equilíbrio com o outro. Intensa, 'muito'. Mas o que me ofereciam em troca sempre foi pouco, insuficiente. Não sabia o que era ser amada na mesma medida. Sem jogos, sem loucuras, sem o peso de sofrer por algo duvidoso... até que ela chegou.
Quando comecei a duvidar do amor, quando meu coração estava em estilhaços no chão e eu já não sabia como consertá-lo, ela apareceu e me deu um novo. Aquele que eu tinha, partido, ficou para trás, jogado em um lugar onde nunca iria encontrá-lo. E esse novo coração é fruto de algo que estamos construindo juntas, do zero, passo a passo. Eu sou outra mulher agora, inteira.
Com Fê, não quero restos do passado. Quero um futuro feito das nossas próprias lembranças. Quando digo que ela é a mulher da minha vida, não é força de expressão. Fernanda é a mulher mais doce que já conheci. Ela me transformou, ela lutou por mim, nunca desistiu. Está ao meu lado em todos os momentos — bons ou ruins. E saber que, não importa o que aconteça, ela sempre estará aqui... é o maior conforto que já tive.
Sempre vai ser ela. Não há espaço para mais ninguém.
Fim do capítulo
Cheguei um pouco tarde com o capítulo, mas cheguei!
Hoje meu filho estava com uma otite bacteriana aguda e tive que levá-lo ao médico, mas tudo correu bem, graças a Deus.
Como prometido, capítulo de domingo saindo do forninho.
Vocês querem mais fortes emoções ou já está bom? Hahaha
Até quinta! =)
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Mmila
Em: 06/01/2025
Nossa, que sufoco.
Fernanda é o bom senso da dupla, mais razão. Eu tinha um pensamento anterior que a Fernanda seria sempre passional, mas com o desenvolver da história, mudou. Ela tem a balança de equilíbrio já aferida com as emoções vividas.
Dra Baldez, a fo......., procurando e encontrando caminhos.
Anna, sossega a mente mulher. Você está com ladeada por três guerreiras. Isso sem contar com o jeito torto da Beatriz.
Até suporto mais emoções autora, mas vamos balancear isso.
Adorando cada capítulo.
nath.rodriguess
Em: 06/01/2025
Autora da história
Tanto a Fernanda quanto a Anna tiveram que amadurecer ao longo da trama para que elas pudessem, enfim, se relacionar sem medos e confiar uma na outra que iriam fazer dar certo.
Os próximos capítulos serão decisivos, prometo que vou dosar na medida certa para todo mundo ficar feliz.
Obrigada por comentarem, fico extremamente feliz com esses feedbacks, é minha primeira história, obrigada por me acolherem! (não dá pra colocar emoji de coraçãozinho aqui no site, então finja que tem um coraçãozinho aqui) kkkkk
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nath.rodriguess Em: 09/01/2025 Autora da história
Ele está bem, terça foi aniversário dele e, apesar da dor de ouvido, curtiu bastante.
Obrigada por perguntar, vocês são uns amores!