capitulo trinta e quatro: o atentado
POV ANNA
Finalmente abro os meus olhos, mas quando vejo a claridade natural do quarto, fico incomodada. Passo a mão no travesseiro de Fernanda e noto que ela não está, provavelmente deve ter ido trabalhar, já que a Dra Baldez deu folga para mim e não para ela. Olho para o meu pulso e não vejo meu smartwatch, devo tê-lo esquecido no banheiro ontem à noite durante o banho. Pego meu celular que fica debaixo do travesseiro como de costume e noto que são 10h30 da manhã.
Sento-me na cama e movimento meu pescoço de um lado e para o outro, para que a tensão que existe nele vá embora. Em vão. Meu sono não foi exatamente um sono tranquilo, eu fiquei bem agitada durante a noite, cheguei a sonhar que fazia drift com meu carro. Dou uma risada contida do meu sonho ridículo, que subconsciente de merd*.
León estava no quarto da Fê, olhando para minha cara. O chamo e ele vem se esfregando nas minhas pernas, deveria estar com fome. Pego o pote da ração que fica no quarto e ponho um pouco de comida pra ele, que cheira e ignora completamente meu gesto. Reviro os olhos, já me encaminhando para o banheiro para tomar uma ducha rápida.
Após o banho, abro o guarda-roupa da minha ruiva e vejo a roupa mais all black possível. A gente tinha essa mania de combinar looks e pegar emprestado uma da outra quando estávamos a fim. Essa era a vantagem de namorar uma mulher e trabalhar no mesmo ramo que ela. Ao pegar meu telefone, noto 5 mensagens não lidas. Uma de Fernanda, uma da Dra Baldez, uma de um número privado e uma no Instagram de um perfil fake.
Decido clicar na mensagem do número privado, que dizia:
“Espero que tenha gostado do novo visual do seu carro. Eu disse que o ano prometia surpresas. Aguarde as próximas. Assinado: X.”
Só não jogo meu celular na parede nesse momento, pois não posso lidar com mais um dano.
“Aguarde as próximas”
Isso está longe de acabar. Para esse babaca, isso era um jogo e ele queria me ver desistindo. Meu nome é Anna Florence, eu não ia desistir nunca. Decido ignorar meu celular e continuar me maquiando e me arrumando, coloco um batom vermelho que destaca meus lábios e um rímel para dar volume aos olhos.
Meu celular mais uma vez apita, mas vejo que na notificação está escrito “monstrinha” e meu coração se acalma.
A primeira que ela me mandou é realmente muito fofa e demonstra a preocupação que ela sente em relação ao meu estado de espírito com tudo que está acontecendo.
"Bom dia, amor. Espero que tenha dormido melhor. Qualquer coisa me liga. Estou preocupada com você, mesmo com o calmante não dormiu legal. Se precisar conversar, me manda mensagem ou me liga, estarei a manhã toda com o celular pendurado em mim.”
A segunda:
“Anna, você acordou? Responde quando der, não me deixe preocupada. Amo você”
Decido respondê-la e assim que digo que estou a caminho, ela diz que vai me esperar na minha sala. A resposta dela faz meu coração ficar quentinho, mas não o suficiente para abafar a raiva que ainda sinto.
Em seguida, resolvo ler a da Dra Baldez.
“Bom dia, Anna. Espero que tenha conseguido dormir. Preciso que venha ao escritório assim que possível. Trabalhei a noite toda para descobrir algumas coisas e quero te mostrar antes de mostrar à polícia.”
O tom dela mesmo em texto é sério. Termino de me arrumar rapidamente e saio sem tomar café, peço um carro por aplicativo. Pego a mensagem do perfil fake no Instagram e hesito. A última coisa que preciso agora é de mais provocações.
“Irei no escritório hoje resolver algumas questões do meu divórcio. Terei uma reunião com Roberto e sua namorada. Você falou que não queria mais me ver, mas estou avisando pois me verá.”
Era só o que me faltava. Os inimigos e minha ex me assombrando a todo momento depois de uma semana inteira que passei bem. O que é bom dura pouco mesmo, né?
Chegando na entrada do prédio do escritório, eu hesito. Eu realmente não queria entrar. Eu mal tinha acordado e minha mente já estava a um turbilhão de emoções. A cada passo que eu dava, achava que teria alguma pegadinha no chão que iria me fazer pisar em falso e iria me fazer cair embaixo da terra.
E, como se não bastasse isso tudo, eu teria que lidar com Beatriz e Fernanda em uma mesma sala. Já está bom, Universo. O que você ainda vai enviar para me desestabilizar?
Pego o elevador com o maior número de pessoas possíveis, pois o cara que estava tentando me desestabilizar não ia tentar me matar se eu estivesse com um monte de inocentes, não é? Ou ia?
Hoje eu estou fazendo muitas perguntas, mas a maioria não tem resposta.
Quando a porta do elevador abriu no meu andar, Fernanda já estava lá, encostada no batente da minha sala. Ela sorriu ao me ver, mas rapidamente ela franziu o cenho, notando algo na minha expressão.
Que legal. Eu teria que contar pra ela da reunião inesperada de hoje. Hora da minha morte: 12h02.
Ela me abraça discretamente, pois estamos no escritório e tínhamos que manter a ética, mas eu juro que queria abraçá-la por mais alguns minutos. Abri a porta da minha sala e fiz sinal para que ela entrasse. Quando ela entrou, agarrei-a pela cintura e a abracei com força.
— O que foi, meu amor? Aconteceu algo? – Diz ela, em seguida dando um beijo na minha cabeça.
Não consegui responder de imediato. O calor de sua presença era reconfortante, mas meu silêncio apenas fez sua expressão se tornar mais tensa.
— Amor, hoje o dia não vai ser fácil. — Suspiro. — Depois te conto, preciso ver a Dra Baldez antes que tudo desmorone.
— Eu estou aqui, tá? Não importa o que aconteça.
— Eu sei, amor. — Sorri de leve. — Você sempre está.
Dei um beijo rápido nela e segui para a sala da Dra Baldez, deixando Fê na minha sala. Diana assentiu com a cabeça, era um sinal que eu poderia entrar sem bater, pois ela estava me esperando. Roberta estava em pé na sua mesa, com o corpo curvado em direção ao computador, olhando impacientemente para a tela. O cansaço dela era visível, mas do jeito que eu a conhecia, imparável como ela é, só ia descansar quando resolvesse essa situação.
— Senta, Anna. — disse ela, sem olhar para mim, indicando uma cadeira com a mão.
Sentei-me e esperei enquanto ela colocava a impressora para imprimir algo, até finalmente se sentar do outro lado da mesa.
— Trabalhei a noite toda para descobrir isso — começou ela, empurrando uma pasta na minha direção. — São informações que consegui cruzar sobre as mensagens e as possíveis conexões com os acontecimentos recentes.
— Dormiu aqui? — Digo, surpresa.
— Eu não dormi. – Diz em tom firme — Eu não ia conseguir dormir sabendo que tem alguém te ameaçando e passando dos limites aqui. Eu mandei seguranças para sua casa ontem, está tudo em ordem lá. Eles tiveram que entrar na casa, ok? Mas me assegurei que não mexessem em nada. Eles também não viram nada de anormal.
— Você não tinha que ter uma conversa com Renata sobe o relacionamento de vocês? – Pergunto – Não precisava, Roberta. Você também tem sua vida. A vida é mais do que esse escritório. Para esse babaca que está me ameaçando, a vida dele é só isso aqui.
— Eu liguei pra Rê – Ela sorri – Ela não só me incentivou a ficar aqui, como veio pra cá e ficou comigo a noite toda. Não trabalhei sozinha, minha esposa estava ao meu lado. Eu decidi seguir seu conselho, Anna. Ontem foi a primeira vez que Renata veio aqui no escritório, ela nunca veio aqui, nunca deixei que viesse. — Disse com pesar.
— Que bom que você tirou proveito disso — Brinco com a situação e ela arremessa uma caneta em mim — E o que você descobriu?
Ela vira o monitor do computador na minha direção e me mostra imagens das câmeras. As imagens foram adulteradas, por esse motivo a equipe de segurança não achou nada de anormal. Quem fez isso, hackeou o sistema.
— Conheço um cara que pode conseguir as imagens originais. — Digo
— Eu já consegui. — Ela digita um atalho no computador e a imagem se abre
Um homem, encapuzado e de boné vermelho com uma roupa de motociclista. Não conseguia ver seu rosto, mas pelas imagens era possível ver que ele não era um terceiro, ele era familiarizado com o ambiente e que sabia todos os atalhos e todos os pontos cegos de cor. Não era alguém de fora da empresa, era alguém de dentro.
— Me mandaram mais uma mensagem hoje de manhã, provavelmente ele vai atacar. — Mostro a mensagem em meu celular pra ela
— Eu não tenho a mínima paciência para esperar a polícia resolver, por mais que eu coloque pressão, não posso permitir que isso vá para a mídia, pois é péssimo pra imagem do escritório. Tentarei resolver com os meus meios, caso não consiga, espero a investigação, mas eu não vou descansar enquanto eu não fizer esse filho da puta pagar pelos próprios erros — Ela diz, fechando as mãos em punho. — Eu contratei dois seguranças para ficar com você e lhe acompanhar. Você vai perder a privacidade um pouco, mas seja paciente e não os expulse, por favor.
Incrível que, em poucos meses trabalhando comigo a Dra Baldez me conhecia o suficiente para entender que, com o meu temperamento, a qualquer momento eu poderia mandar os seguranças para a casa do caralh*.
— Entendido. Preciso te contar mais uma coisa. Na verdade, é uma coisa que cruza o meu lado pessoal e profissional, então eu preciso ouvir tanto a Roberta quanto a Dra Baldez, ok?
— O que aconteceu? — Ela franze o cenho
— Beatriz criou um fake para me mandar uma mensagem e dizer que vem aqui hoje, para uma reunião com Roberto e Fernanda. Tenho que contar à Fernanda, acredito que ela não saiba disso, mas temo que isso implique na nossa relação.
— Roberto não tem nada que marcar reunião com essa mulher e Fernanda, isso é extremamente antiético e eu vou intervir. Aqui não é palco para as implicâncias dele, aqui é um escritório de advocacia. — Diz irritada, mas muda a expressão — Será que é ele que está por trás disso tudo, Anna? Será que não é ele que está te mandando essas ameaças?
— A troco de quê, Roberta? – Pergunto – Ele é civil, sou criminal. Ele é advogado master, sou advogada júnior. Ele sempre está acima de mim, por qual motivo... — Minha mente dá um estalo e na minha cabeça me vem uma pessoa — RALF! — Meu tom de voz sai mais alto do que o normal, respiro fundo e normalizo o tom — Pode ser Ralf. Ele tem motivo, razões e circunstâncias. Ele é apaixonado por Fernanda e quando nós começamos a nos relacionar, ele parou de falar comigo. Depois ficou puto quando fui promovida.
— Fernanda e ele tiveram alguma coisa? — Pergunta, perplexa.
— Não! — Trato de me explicar. — Ela é lésbica, nunca deu bola alguma para ele. Ele se iludiu sozinho. Na verdade, ela sempre foi apaixonada por mim. — Digo, convencida. Dra Baldez revira os olhos e sorri também — Enfim, é uma história que lhe contarei em detalhes depois, mas é isso.
— Eu fico chocada o quanto esse escritório parece uma novela mexicana e claro, eu sempre sou a última a saber. — Diz em exasperação — Vou pedir à Diana que me deixe a par dessa reunião de hoje. Conte à Fernanda, não a deixe no escuro.
Depois da minha conversa com a Dra Baldez, voltei à minha sala e encontrei Fernanda trabalhando no meu computador. Ela estava linda hoje, com seus cabelos meio soltos e meio presos em uma trança, uma blusa azul clara e uma calça larga preta. Estava tão concentrada no trabalho que nem me ouviu chegar.
— Oi, amor. Demorei? — Pergunto, dando um beijo em sua testa em seguida.
— Eu nem vi o tempo passar, estava tão ocupada aqui. Como foi a conversa? Dra Baldez descobriu alguma coisa?
— Sim, mas antes disso... eu preciso te contar uma coisa. — Digo apreensiva, já me preparando para a conversa com o nome da minha ex.
Fernanda parou o que estava fazendo no computador e olhou diretamente para mim. Seu olhar misturava curiosidade e preocupação.
— Fala, Anna. O que aconteceu?
Suspirei, tentando organizar as palavras. Sabia que mencionar Beatriz sempre era delicado, mas não podia deixar Fernanda no escuro. Roberta tinha razão: não contar só criaria mais problemas.
— É sobre a Beatriz — comecei, observando a expressão dela mudar quase imediatamente. Seus olhos estreitaram, e sua postura ficou mais rígida. Ai, ai, ai. Eu estava com mais medo dessa expressão da minha namorada do que medo do próprio cara que estava me ameaçando.
— O que tem ela? — perguntou, o tom de voz controlado, mas com uma pitada de ciúme.
— Ela mandou uma mensagem hoje, de um perfil fake no Instagram. Disse que vem ao escritório para uma reunião com Roberto... e com você.
— Oi? Comigo? Eu não tenho reunião nenhuma marcada com essa... — Ela aperta os lábios e fecha os olhos, respirando fundo. Seus punhos se fecham e ela continua — mulher.
Eu me sentei na cadeira ao lado dela, buscando sua mão e apertando-a com firmeza.
— Roberto é um cuzão. Provavelmente ele quem marcou esse circo, mas Dra. Baldez também ficou indignada. Ela disse que vai intervir e investigar isso, mas... queria que você soubesse antes de ser pega de surpresa.
Fernanda ficou em silêncio por um momento, processando a informação. Sua mão permaneceu na minha, mas sua expressão alternava entre confusão e irritação.
— Por que ela ainda insiste em aparecer? — murmurou, mais para si mesma do que para mim.
— Porque ela acha que vai mexer comigo — respondi, a voz mais baixa. — Mas não vai. Ela não vai mais interferir no meu relacionamento e nem na minha vida, muito menos no meu trabalho. Se ela não aprende por bem, aprenderá por mal – Digo, fechando a cara enquanto Fernanda avalia minha expressão
— Não se preocupe. Eu resolvo — Diz, já se levantando.
— Amor, o que vai fazer? — Digo me levantando e indo atrás dela, enquanto ela anda em passos rápidos até a porta.
— Anna. — Suspira — Me deixa quietinha, por favor.
— Está brava comigo? — Pergunto, abaixando o olhar
— Não, meu amor. — Ela faz um afago no meu rosto — Me desculpa, eu só... não esperava essa visita ilustre, mas vou enfrentá-la. Estou cansada desse fantasma entre nós.
— Não esquece que não se trata somente de nós e sim do seu profissional também. Haja com cautela, Roberto está armando. — Advirto
Ela balança a cabeça afirmativamente e a puxo pela cintura, olhando nos seus olhos. Coloco uma mecha do seu cabelo para trás e Fernanda fecha os olhos, sentindo meu gesto. Colo nossas testas e dou um beijo no seu nariz, ela sorri e entrelaça suas mãos nas minhas.
— Eu te amo, Fê.
Ela procura minha aliança com seu dedo e quando encontra, puxa minha mão em direção aos seus lábios e a beija.
— Eu também amo você. — Ela sorri — Agora deixe-me trabalhar, me manda o arquivo que eu estava digitando para o meu e-mail, que eu vou continuar esse contrato de compra e venda lá na minha sala. Qualquer coisa te mando mensagem.
Nos despedimos e eu me dirigi até a minha mesa, decidi trabalhar em uma resposta à acusação que tinha para fazer e o som das teclas do computador era o único que quebrava o silêncio enquanto eu enviava o arquivo do contrato de compra e venda para o e-mail de Fernanda. Eu estava tentando manter a mente ocupada, mas, no fundo, minha cabeça estava a mil. A situação com Beatriz, a ameaça misteriosa, o comportamento de Roberto... tudo parecia um grande nó que eu não conseguia desatar. E mesmo com a promessa de Fernanda de lidar com isso, uma parte de mim ainda temia as consequências.
POV FERNANDA
Após sair da sala de Anna, desci em passos rápidos para o 12º andar. Quando me aproximava da minha sala, Andressa me chamou discretamente em direção à copa. Era um sinal claro de que seria hora do café com fofoca, como ela sempre dizia. Ela me pegou ligeiramente pelo braço, conduzindo-me até a máquina de café enquanto me sentava na cadeira.
— Roberto estava te procurando. Aquela tal da ex da Anna está aí, o marido ou ex-marido também está. — Ela sussurrou, com um olhar desconfiado, como se soubesse que a situação estava prestes a esquentar.
Droga. Hoje o dia ia ser difícil, como Anna já havia previsto.
Andressa sabia que a visita de Beatriz e a presença do ex-marido de Anna não eram um bom sinal pro meu relacionamento. Eu havia tentado afastar esse pensamento da minha cabeça, mas agora ele se materializava diante de mim, e a sensação de incômodo só aumentava.
— Quando chegaram? — Perguntei, tentando manter a calma, mesmo com o coração acelerado.
— Chegaram faz pouco. Não sei ao certo o que querem, mas... — Andressa parou por um momento, olhando ao redor antes de continuar em tom baixo — se alguém tivesse avisado que a ex estava vindo, teria sido melhor se esconder, né?
Eu ri, mas não com vontade. A situação não estava mais para risos. Olhei para a xícara de café na minha mão, bebo um gole e está amargo. Amargo como esse dia.
— Vou ter que encarar, não é? — Falei, mais para mim mesma do que para Andressa.
Ela me olhou com um sorriso torto, como se dissesse que eu não tinha escolha.
— Você sabe que sim. Eu só não queria estar no seu lugar.
Suspirei, tentando pensar em uma estratégia. Sabia que a visita de Beatriz não era só uma provocação. Ela sempre foi mestre em se infiltrar nos lugares mais sensíveis, e essa reunião com Roberto provavelmente tinha algo a ver com o meu trabalho... e ela também queria abalar meu relacionamento com Anna. Mas não ia mesmo!
Anna estava tão diferente, tão segura... Parece que seus sentimentos por mim finalmente tinham vencido os sentimentos por ela. Não, não era uma competição pelo coração da Doutora, mas Beatriz fazia com que fosse. O que ela não sabia é que estava perdendo de lavada pra mim. No começo, eu não imaginava que conseguiria virar o jogo, eu lutei pelo amor de Anna, mas também impus meus limites. Agora esse fantasma nos assombra mais uma vez, quando nosso relacionamento está sólido.
Eu não ia deixá-la vencer.
— Vou resolver isso. — Disse, me levantando com mais determinação. — Fique de olho por aqui, e se qualquer coisa acontecer, me avise. Não quero surpresas.
Com um surto de coragem, fui até a secretária de Roberto e perguntei onde ele estava, quando ela me apontou a sala de reuniões, fui em passos largos até lá. Não bati na porta, entrei sem pedir licença e atraí a atenção de todos eles para mim.
— Desculpe a demora, Roberto. Dra Baldez precisava de algumas coisas no 14º andar, não pude deixar de atender o seu pedido. — Minto meu verdadeiro paradeiro — Soube que precisava de mim, vim imediatamente. Do que precisa?
Disse já me sentando de frente para aquela demônia e cruzando minhas pernas, sustentando seu olhar. Em seguida, olhei para Roberto que ficou surpreso e desconcertado com a minha atitude. Se ele achou que ia me intimidar fazendo com que eu participasse dessa reunião de conciliação, ele estava muito enganado.
Roberto estava em silêncio, claramente desconfortável com a minha entrada repentina, mas logo se recuperou e tentou manter a fachada de profissionalismo.
— Oi, Fernanda — Sua voz foi tensa, como se eu tivesse quebrado uma formalidade. — Precisamos discutir algumas questões relativas ao divórcio de Kevin e Beatriz.
Os olhos de Beatriz me encaravam com uma mistura de superioridade e interesse, como se estivesse esperando uma reação minha, uma brecha que pudesse explorar. Eu não era mais a mesma. Não era mais uma garotinha insegura, por isso não a vi como uma ameaça, apenas como um obstáculo que eu estava determinada a superar.
Eu mantive os olhos fixos em Beatriz, ignorando Roberto por um momento. A última coisa que queria agora era uma conversa cordial com ele.
— Roberto, precisamos resolver a questão dos bens. Minha empresa para essa mulher está fora de questão — O corno, digo, ex-marido de Beatriz começa a falar.
— Imaginei que iria dizer isso — Me antecipo — O regime do casamento de vocês, pelo que me consta, é comunhão universal de bens, ou seja, vocês compartilham os lucros, os prejuízos e os riscos do negócio.
— Mas ela nem empresária é! — Ele amenta o tom de voz — Não passa de uma biscate sapatão que adora ser comida pela sua namoradinha. Cuidado hein, querida. Para não acontecer com você a mesma coisa que aconteceu comigo — Pisca pra mim e eu sinto repulsa desse velho nojento.
Meu sangue ferveu, mas antes que eu pudesse dar uma resposta à altura, a porta da sala se abriu com um estrondo. A Dra. Baldez entrou, visivelmente irritada, e sua expressão de fúria só confirmava que ela tinha ouvido tudo o que aquele homem nojento tinha dito. Seus olhos estavam fixos em Roberto.
— Doutor Roberto, como ousa deixar que um cliente maltrate e fale assim com um dos nossos funcionários? — A voz de Dra. Baldez cortou o ambiente como uma lâmina afiada.
Ela estava, como dizem por aí, “P” da vida. Ela irradiava autoridade e isso me fez sentir segurança. A sala inteira ficou em silêncio, inclusive o paspalho do Roberto. A sala estava cheia de tensão. Beatriz parece perder a postura por algum segundo, mas ajeita-se na cadeira e continua observando.
— Acaso perdeu a língua? – Ela pergunta para Roberto, novamente.
— Nã... não, Dra. Baldez. Eu ia explicar como funciona a partilha de bens. — Pigarreia — Independentemente da participação da sua ex-mulher na atividade empresarial, ela terá direito a metade do patrimônio em caso de divórcio. Não há o que ser feito.
— Não foi isso que lhe perguntei, depois conversaremos na minha sala. — Ela se senta ao meu lado — Vou observar de perto essa reunião.
— Ela me traiu — Aponta para Beatriz — Acaso não é motivo para deixá-la sem nada? Ela não merece nada meu.
Ela não valia nada, mas ele era tão machista. Tão babaca. Não me admira ela tê-lo traído. Pelo que Anna me contou, ela havia traído ele com várias mulheres. Dou uma risada mental quando penso isso. Um velho descobrindo ter sido corno não por um homem, mas por várias mulheres – Seres que ele provavelmente despreza.
— Infelizmente não há o que fazer — Digo — Roberto, você tem a lista de bens? Podemos agir como adultos e fazer a partilha?
Dra Baldez me olhou com aprovação, e eu sabia que minha posição no escritório estava mais forte do que nunca. Eu estava focando no divórcio, não nas partes envolvidas e era isso que me motivava.
Beatriz olha para mim com um sorriso desdenhoso, mas seu sorriso se desfaz quando olha para o meu dedo e vê minha aliança de compromisso com Anna. Ela tenta disfarçar, mas seus olhos enchem d’água. Dou um sorriso. Pequeno, mas vitorioso. Mas a verdade, ela estava prestes a perder o controle. O que quer que ela tivesse planejado, eu não ia deixar que ela vencesse. Eu não ia deixá-la abalar a minha relação com Anna, nem a minha posição nesse escritório.
— Está tudo bem? — Pergunto, com um toque de sarcasmo, enquanto observo sua expressão. A ironia no ar é palpável.
Ela tenta se recompor, mas é visível o quanto a aliança a afetou. Tinha sido mais do que uma provocação; era a confirmação de algo que ela temia: Anna tinha escolhido estar comigo. A verdade é que, por mais que ela tentasse, nunca seria suficiente para mudar o que já estava escrito. Eu não ia deixá-la vencer. Nem ela, nem demônios do passado que ela insistisse em trazer. Meu amor e o de Anna estava mais sólido do que nunca, qualquer tentativa dela de desestabilizar tudo só me daria mais forças para lutar.
O olhar dela continua fixo em mim, mas agora eu posso ver que o orgulho se mistura com frustração. A batalha dela agora já não era comigo – Era com o que Anna sentia por mim. A jogada dela já não tinha mais efeito, se ela veio aqui, na tentativa de fazer com que Anna e eu brigássemos, ela estava completamente errada.
Eu me concentrei novamente em Roberto, esperando que ele voltasse ao que realmente importava: os bens e a divisão, sem mais distrações.
Quando as coisas já estavam normalizadas e finalmente tínhamos discutido a partilha, Dra Baldez precisou sair ao receber uma ligação que a deixou preocupada, ela licença a todos e se retirou. Eu terminava de digitar os termos da partilha no notebook, enquanto isso, Roberto chamou Kevin para tomar café, visto que só faltavam as assinaturas para homologar o divórcio e a partilha de bens. Tenho que ser sincera: a tal Bia ficou com muita coisa. Ela era bem esperta: um imóvel aqui no Rio, carro, um caminhão, metade da empresa, os bens dentro do imóvel... Sério, como esse otário não percebeu o golpe?
O silêncio e o constrangimento entre nós eram palpáveis, enquanto eu tentava entender a letra horrenda de Roberto, ela me observava. Eu dava alguns olhares para ela, mas desviava e olhava com desdém. Estava mantendo o foco no meu trabalho, quando ela decidiu quebrar o silêncio.
— A Anna está aqui hoje? — Diz ela, olhando despreocupadamente para suas unhas.
Se ela gostava de brincar com fogo, era melhor ela ter curso de bombeiro voluntário.
Levantei a cabeça lentamente, mantendo o rosto impassível. Não pude evitar o sorriso irônico que surgiu sem querer.
— A Doutora Anna está em uma reunião com um cliente. Diferente de você, ela tem responsabilidades e sabe quando é hora de trabalhar — Respondi, com a voz controlada, mas o sarcasmo evidente.
Ela tentou disfarçar, mas vi o olhar de frustração se instaurando em seus olhos. Era evidente que ela queria uma reação mais profunda da minha parte, talvez uma briga, algo que ela pudesse usar a seu favor. Mas eu não estava mais disposta a dar essa satisfação.
— Depois eu passo na sala da Doutora Anna então, aposto que ela ficará feliz em me ver.
O desafio na voz de Beatriz foi quase palpável, mas eu não deixei transparecer nem uma fração de insegurança. Ela estava tentando me puxar para uma briga, uma situação em que pudesse manipular a narrativa, mas eu não ia cair nessa.
Mantenho o olhar firme, sem desviar de sua provocação.
— Se você acha que Doutora Anna ficaria feliz em te ver, talvez esteja se iludindo — Respondo, agora sem o menor traço de paciência. — Ela está ocupada, como sempre, com coisas que realmente importam. Posso te ajudar com algo mais? — Perguntei, voltando a atenção para a tela do meu notebook, um claro sinal de que o assunto estava encerrado.
Mas ela não se deu por satisfeita.
— Ela te deu essa aliança? Vocês estão noivas?
A pergunta dela foi como um golpe direto, a expressão dela se tornou mais ansiosa à medida que ela esperava a resposta para sua pergunta. Ela estava tentando me desestabilizar com assuntos pessoais, queria mexer com a minha sensibilidade, mas não era tão fácil assim.
Levantei os olhos lentamente, ainda sem desviar o foco da tela do notebook, mantendo um semblante tranquilo.
— A aliança é um símbolo do que temos, algo que vai além do que você poderia entender — Respondi com frieza, sem deixar transparecer o mínimo de dúvida. — E sim, estamos noivas, mas isso não te diz respeito, Beatriz.
Eu menti.
Não estávamos noivas, mas ela estava me enchendo tanto o saco que eu queria acabar com aquele assunto de uma vez por todas e se ela pudesse pegar todo o dinheiro que conseguiu do marido trouxa e viajar para marte para recolher os seus caquinhos e deixasse Anna em paz, eu seria a mulher mais feliz do mundo.
Ela permaneceu em silêncio por um momento, como se minhas palavras tivessem de alguma forma ferido sua tentativa de provocação.
Finalizei minha tarefa, Roberto e Kevin voltaram à sala e os dois assinaram os papéis do divórcio. Agora só precisava o juiz homologar. Eu estava explicando os trâmites legais aos dois, quando escutamos um estrondo vindo do andar de algum andar acima. O sinalizador de incêndio começou a tocar, eu e Roberto nos olhamos assustados.
— Fiquem aqui — Ele diz, enquanto vai verificar o que aconteceu.
Junto os papéis em cima da mesa, mas Andressa entra esbaforida dentro da sala de reuniões.
— Fernanda, corre! Anna sofreu um atentado.
Aquelas palavras de Andressa parecem me atingir como um raio e a sensação de pânico tomou conta de mim, coloco a mão no peito e meu coração gela por um segundo. Eu olhei pra ela, sem acreditar no que estava ouvindo.
— O quê? — Foi tudo o que consegui dizer, a voz falhando no final.
Andressa parecia exausta, seus olhos estavam arregalados, e ela estava sem fôlego. Ela se aproximou mais, com urgência na expressão.
— Não se sabe ao certo, uma bomba explodiu na sala dela.
O mundo à minha volta pareceu parar por um momento. Eu não conseguia processar as palavras, a ideia de Anna em perigo era algo que eu nunca imaginei que teria que enfrentar. Eu me levantei rapidamente, os papéis caindo da mesa sem que eu sequer percebesse. Minha mente só conseguia pensar em uma coisa: eu precisava chegar lá, eu precisava estar com ela.
— Onde meu amor está Andressa? Me diz onde ela está.
— Eu não sei, Fernanda. Eu não sei! Está um fumacê lá em cima, não consigo encontrar, já tentei o telefone, ela não atende.
— Eu... eu vou lá, vou procurar ela! — minha voz tremia, mas eu não pensava em mais nada além de ir até Anna. Eu estava disposta a atravessar o fogo, se fosse necessário.
Beatriz, em um ato que jamais imaginei, pareceu tomar uma decisão. Ela olhou para mim com um brilho nos olhos, uma mistura de lágrimas e desespero, e depois se aproximou.
— Eu vou com você. — Sua voz estava tensa, mas havia uma determinação ali. — Me deixa ir, por favor.
— Vamos! — Gritei para as duas. Andressa, que já estava correndo em direção à saída, com o celular em mãos, tentando encontrar mais informações.
A adrenalina estava tomando conta de mim, e a sensação de urgência fazia com que cada segundo parecesse mais longo do que o anterior. Eu não sabia o que esperar, mas o que fosse, eu enfrentaria com tudo. Anna precisava de mim.
Fim do capítulo
Sério, eu juro que vou fazer a Anna e a Fê viajarem para as maldivas depois de tanta perturbação hahaha
até domingo!
Comentar este capítulo:
HelOliveira
Em: 03/01/2025
Meu coração tá igual da Fernanda, e ainda temos que esperar até domingo, depois dessa acho que elas merecem ir para Maldivas....seja quem for o responsável precisa ser pego logo....
nath.rodriguess
Em: 04/01/2025
Autora da história
só mais dois dias... hahaha
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Socorro
Em: 03/01/2025
Anna e Fernanda precisam se benzer cruzess
Autora, sem um fio de cabelo da Anna seja tocado heim kk
Se for o Ralf que ele tenha o que merece logo
nath.rodriguess
Em: 03/01/2025
Autora da história
quando vai ter paz no paraíso? kkkkkk
faltam 10 capítulos pro final, estamos nos decisivos!
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Mmila
Em: 02/01/2025
Minha nossa senhora dos sem paz.
É muita provação para essas duas.
Quem será o / a responsável por esses atentados a Anna?!?!?!?!
nath.rodriguess
Em: 02/01/2025
Autora da história
Elas precisam ser fortes para o amor vencer mais uma vez.
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