Capitulo 8 - Belo Tapa
Lana não conseguia tirar os olhos de Domi, a capitã do time da Corvinal cortava os céus como uma águia, a vassoura até parecia ser uma extensão de seu próprio corpo, a sua voz firme e autoritária ressoava pelo campo distribuindo ordens e palavras de incentivo.
O restante dos jogadores em campo voava para lá e para cá, desviando de balaços, buscando os artilheiros que estavam com a goles, rebatendo ou perseguindo o pomo. Mas para a brasileira, nada disso importava, seu olhar estava preso em Domi, como se o restante do campo não existisse.
- Hei, Lana!
A bruxa ouviu uma voz ao longe. Quando se virou levou um susto. Zaki já estava sentado ao seu lado.
- Você deveria estar muito concentrada, te chamei várias vezes!
- Eu? É... Quadribol é muito legal! - Foi tudo que ela conseguiu inventar na hora.
- É mesmo! - Zaki estava vestido com um uniforme de treino da Grifinória e parecia meio nervoso. Ele segurava seu bastão entre as mãos, torcendo-o para lá e para cá.
A bruxa lançou um olhar breve para Zaki, como se tentando decifrá-lo, mas logo em seguida voltou a sua atenção para o campo, procurando onde Domi estava. - Você vai participar dos testes para o time da Grifinória?
- Sim! - Disse Zaki contido!
O grande africano não parecia estar ali por acaso, ele girava o bastão em suas mãos denunciando o seu nervosismo. Lana, porém, não queria conversar, ela só queria assistir o treino, ver Domi e aproveitar a manhã de clima ameno.
- Parece nervoso! - Finalmente falou a brasileira depois de uns dez minutos de Zaki batendo o calcanhar e apertando o bastão.
- Ham! - Disse ele coçando o nariz. - Nunca me vi tão nervoso!
- Já jogou quadribol antes?
- Jogo desde criança.
- Então por que está tão nervoso?
- Jogar aqui em Hogwarts é o primeiro passo para ser contratado para algum time europeu. Não que eu esteja desvalorizando os times africanos, pelo contrário, mas gosto daqui.
- Você vai se dar bem, parece que nasceu para ser um batedor, alto, grande e forte.
- Há! – Zaki deu um sorriso amarelo e baixou a cabeça. - Alto, grande, forte! Tudo que uma pessoa espera que um batedor seja, mas quando o jogador surpreende é outro nível.
- Como assim?
- Olha ela. - Zaki apontou para Domi, que acabara de passar voando perto deles balançando seu bastão. - O braço daquela garota é três vezes menor do que o meu, eu sou no mínimo uns trinta centímetros mais alto que ela e devo pesar quase três vezes mais, mas desde que eu pisei aqui quando o assunto é quadribol sempre as pessoas comentam sobre ela. É esse tipo de jogador que fica para a história!
Lana permaneceu em silêncio com um nó na garganta. Era como se a bruxa prateada estivesse em um mundo à parte, inalcançável como uma estrela. Ela era tão ela mesma, incrivelmente versada em magia, linda e sedutora e a melhor jogadora da escola e capitã do time, além de ser uma Weasley. Tudo em Domi parecia destacar o que Lana não era: brilhante, confiante e grandiosa.
Horas depois...
- Então Zaki acertou um balaço tão forte em Cornélius Malkins que ele desmaiou e teve que ser amparado pelo nosso capitão para não se estatelar no chão. – Lucy contava a história de uma forma animada.
- O cara ficou provocando o teste todo, eu tinha que mostrar a ele minha força. – Disse Zaki complementando a história.
- O mais legal, foi quando Jones conseguiu trazer Malkins de volta, ele disse, “Você acabou de perder a escolha no novo batedor Sr Malkins, seu desmaio foi o passe para Reis entrar no time”. – Continuou Lucy.
A mesa toda explodiu em risos que ecoaram por um grande salão quase vazio.
Após o jantar alguns alunos da Grifinória, Corvinal e Lufa-Lufa haviam se reunido em uma das mesas para contar como foram os testes das duas primeiras casas citadas. Lana havia presenciado todos os eventos comentados, já que ficara durante todo o teste da Corvinal e da Grifinória.
Após o desabafo de Zaki, a brasileira quase que esqueceu o ocorrido na torre de astronomia e se identificara com os medos do colega intercambista, assim como ele, ela não escolhera ir para Hogwarts por nada, sempre se identificou com aquele lugar, era uma vontade que tinha dentro de si, e agora que estava ali, não planejava ficar só os dois anos, mas sim se estabelecer, e tudo dependeria de seu esforço e aptidões. Os dois estavam na mesma luta!
Todos ficaram extremamente surpresos quando Domi contou que Ino havia capturado o pomo com apenas trinta minutos de teste.
- Isso é sério? – Perguntou Lucy engolindo em seco já que ela era a apanhadora da Grifinória e por isso enfrentaria Ino em um dos jogos.
- Pode ter certeza, Ino demonstrou ser uma apanhadora nata. – Domi dizia animada.
- Então esse ano teremos uma grande disputa de apanhadores. – Agora quem falava era Nick Jones capitão do time da Grifinória. – Temos a sobrinha do lendário Harry Potter, vocês têm Ino, e pelo o que eu fiquei sabendo Lara Krum vai fazer o teste amanhã para a Sonserina.
- Ela não é muito grande para esta posição? – Perguntou Louis.
- O pai dela também era e olha a lenda que ele foi. Os jogos prometem.
- Até que fim. – Agora quem falava era Bellamy. – Estou cansado de a Corvinal vencer com tanta facilidade.
Os alunos da Grifinória vaiaram por enquanto os da Corvinal riam e tiravam sarro.
- Esse ano não vai ser fácil, porque temos no nosso time o Rei do quadribol. – Jones apontou para Zaki e todos da Grifinória gritaram em apoio.
- Então você é o novo batedor da Grifinória? – Domi se aproximou de Zaki que estava a sua frente do outro lado da mesa.
- Exatamente senhorita. – Disse ele se aproximando também ficando cara a cara com a garota. – Tem alguma coisa contra isto?
Os dois faziam péssimas caras de bravos que mais pareciam que estavam com dor de barriga.
- Eu te desafio agora Sr Reis, para uma queda de braço, quero mostrar ao meu time que a capitã deles é tão forte quando o novo batedor da Grifinória.
- Huuuuuu, O Demônio vs O Rei, senhoras e senhores. – Shun gritara imitando um narrador.
- Queda de braço, queda de braço, queda de braço. – Entoavam todos em coro.
- Seu desafio está aceito mi lady.
Todos gritaram animados, enquanto se apertavam em volta de Domi e Zaki para terem a melhor visão da disputa. Nick Jones se sentou na mesa rente ao encontro dos braços dos desafiantes. Ele segurou as mãos dos dois unidas, contou até três e deu início ao combate.
Logo de início deu para perceber o esperado, Reis era muito mais forte que a Weasley. A garota estava vermelha de tanto fazer força, Zaki parecia estar simplesmente mantendo seu braço erguido como se nada estivesse acontecendo.
Logo Domi começou a jogar beijos e fazer caras sensuais para Reis, mas o mesmo pareceu nem se importar, algum tempo depois o garoto soltou um bocejo e como quem não estivesse fazendo força alguma encostou a costa da mão de Domi na mesa.
Em seguida ouve um estardalhaço, os membros da Grifinória riam e tiravam sarro de Domi, enquanto os membros da Corvinal praguejavam dizendo que força não valia nada sem técnica. Os alunos da Lufa-Lufa só riam e Domi se limitava a retomar o fôlego.
- Alunos, já chega, voltem para os seus respectivos salões comunais, está muito tarde. – Disse o professor Longbotton interrompendo a algazarra.
O grupo todo soltou frases desanimadas, mas não tinha como eles continuarem ali, já era muito tarde mesmo. Todos começaram a juntar as suas coisas para assim voltar a os seus respectivos salões.
Lana juntou toda a coragem que tinha em si, apertou sua bolsa contra o peito tomando fôlego. – Domi... Oi. - Disse ela se aproximando.
Domi olhou para o lado mordendo uma maçã e percebendo com surpresa quem a chamara.
- Hoir. – Respondeu com a boca cheia.
- Posso conversar com você em particular? É rápido.
Domi balançou a cabeça em confirmação e as duas saíram do salão e desceram as escadas para o saguão de entrada virando em um corredor apertado à esquerda
- Olha, eu queria pedir desculpa pelo o que eu te disse aquele dia na torre de astronomia. – Lana falava com a voz oscilante. Ela tinha ensaiado muitas vezes o que ia dizer, mas ali na hora estava sendo muito difícil. – Eu não tinha o direito de te fazer alguma acusação sem nem ao menos te conhecer direito.
Domi balançou a cabeça em concordância, enquanto terminava de comer sua maça.
- Então como um ato de desculpa eu gostaria de te entregar este presente. – Dizendo isto à garota tirou de dentro da bolsa uma blusa preta. Ela então dobrou a blusa sem conseguir olhar para Domi, tirou um pelinho que estava preso na malha. – Aqui, espero que goste!
A Weasley pegou a blusa e a abriu, arregalando os olhos de surpresa e abrindo um grande sorriso.
- Não acredito! – Disse ela animada. – É uma blusa do Aerosmith? Não acredito!
Domi então deu um forte abraço em Lana, deixando a brasileira completamente desconcertada, com o rosto vermelho igual um tomate. Foi um gesto rápido, mas por um segundo ela quis acreditar, que por trás daquele abraço, tinha algo mais.
- Meus... Meus... Pais gostam muito dessas bandas antigas, eles me deram esta blusa antes de vim para cá, mas eu nunca a usei. – Disse Lana fazendo todo o esforço do mundo para falar normalmente após ser abraçada.
- Mesmo se tivesse usado, seria um presente maravilho. – Domi falava com um sorriso de orelha a orelha. - É claro que não conheço muito da banda, na realidade só ouvi aquela música Dream On, mas eu adorei! Como você sabia que eu iria gostar?
- Fred me disse que você gosta do rock dos não bruxos.
Ah sim! – Domi jogou a blusa sobre os ombros se escorou na parede, baixou a cabeça e começou a falar. – Olha Lana, você estava em todo o seu direito. – A bruxa tinha uma expressão envergonhada. - Eu tentei te beijar aquele dia porque achei que você estava querendo, mas depois compreendi o que tinha acontecido. – Ela engoliu em seco. - você viu a cena na biblioteca e por isso ficou com uma impressão ruim, e esse era o motivo de ficar tão nervosa quando conversava comigo. Mas eu pensei que era porque você estava gostando de mim. – Domi balançou a cabeça se lamentando. – E quando você me viu com o Zaki, achou que eu faria com ele, assim como fiz com Verônica, e sabendo o quanto Zaki é um cara legal você não queria que eu o ferisse, completamente compreensível.
Enquanto Domi falava, a brasileira sentia a sua boca abrindo de surpresa. Ela franziu as sobrancelhas nem acreditando que Domi tinha compreendido tudo errado. Mas a coragem para corrigi-la não veio!
- Então me desculpa, eu achei você uma pessoa muito legal. Então amigas? – Domi estendeu uma das mãos para Lana.
A garota estava tão surpresa que demorou um pouco para disfarça e apertar a mão de Domi de volta. – Sim, claro, amigas. – Disse ela em um sorriso amarelo.
Domi sorriu. – Que bom que nos entendemos, obrigado pelo presente, e agora preciso ir, até amanhã.
Lana ficou ali sozinha olhando para a parede do corredor sem entender direito de onde Domi poderia ter tirado aquela história maluca! Aquele dia na torre ficou bem claro que Lana estava a fim de Domi, não tinha como se discutir isto.
Ela atravessou o saguão e virou no corredor oposto descendo as escadas que levavam para o salão comunal da Lufa-Lufa, mas ao chegar perto da entrada de sua casa teve seus pensamentos espantados quando deu de cara com duas pessoas abraçadas. O dois também se assustaram com Lana, ficando extremamente nervosos.
Lana olhou de Fred para Zaki e depois de Zaki para Fred sem entender muito bem o que estava acontecendo. - Nossa! – Foi tudo que ela conseguiu dizer quando percebeu o que tinha acabado de flagrar.
Seu rosto começou a esquentar, mas não sabia o certo se era por vergonha ou surpresa, mas antes que pudesse dizer alguma coisa, Fred começou a falar nervosamente.
- Lana, não é bem o que você está pensando. – Fred falava rápido tentando se justificar, mas tropeçava nas palavras.
- Não, tudo bem, eu não vi nada, não sei de nada. É melhor eu entrar.
- Não Lana espera, precisamos conversar.
- Bem é, eu já vou. – Zaki falava envergonhado.
- Ok. – Respondeu Fred.
Zaki olhou para Fred com uma cara estranha e depois saiu apresado pelo corredor.
- Olha Fred, eu não vou falar para ninguém, não é da minha conta.
- Eu sei, eu sei. – Fred balançava a cabeça parecendo rendido. – Mas podemos entrar e conversar?
Pouco tempo depois os dois estavam em um canto do salão comunal conversando a os cochichos.
- Fred você não precisa me explicar nada.
- Eu sei que não, mas eu sinto que preciso conversar sobre isto. – Ele respirou fundo evitando olhar para Lana. – Você já deve ter percebido as tendências que eu tenho, acho que todos já perceberam, mas eu sempre tive vergonha de assumir que eu sou... Que eu sou...
- Gay?
- Isso. – Fred coçou o pescoço e olhou para o teto. - Na realidade eu só sentia, sabe atração por garotos, eu nunca tinha ficado com um até Zaki.
- Faz tempo?
- Não, esta semana. - Fred parou pensativo olhando para o fogo na lareira, ele fechou os olhos balançando a cabeça e sorrindo. - Nossa eu estava tão nervoso quando ele pediu para ficar comigo, me sentia tão confuso, mas depois foi como se as cortinas dos meus olhos se abrissem, eu tive certeza de que era aquilo que eu queria. – O garoto sorria como se tivesse resolvido todos os problemas do mundo.
- Mas ele pediu para ficar com você do nada?
- Não, na primeira semana eu e Domi estávamos conversando nos jardins e ele se aproximou e trocou uma ideia com a gente, depois disso, todas as vezes que nos encontrávamos nos corredores a gente conversava, até que semana passada ele me chamou na biblioteca, conversa vai, conversa vem, ai ele falou que estava querendo ficar comigo.
- O que esse povo tem com biblioteca? - Pensou Lana, lembrando do ocorrido no seu primeiro dia de aula. - Corajoso ele em!
- Pois é, eu fiquei bem ofendido na hora, falei um bom “não” e sai correndo, mas no outro dia, quando o vi entrando no grande salão, aquele homem enorme, todo musculoso, com sorriso fácil. - Fred enrubesceu. - Não resisti. - Disse ele rindo nervoso. - É estranho falar isso com alguém a não ser Domi.
A brasileira se limitou a balançar a cabeça.
- Lana, estou te contando isso porque quero te dar um conselho!
Lana olhou confusa para Fred. – Que conselho?
- Duas coisas sobre você está extremamente certas para mim. – Fred respirou fundo. – Você é bissexual e está apaixonada pela minha prima.
Lana sobressaltou-se com as afirmações de Fred. – Olha, sinto muito, mas você entendeu errado.
- Não, você entendeu errado, sei que é demasiado novo para você este sentimento, a paixão que sente te assusta. Também sei que Domi entendeu completamente errado o mal-entendido que vocês tiveram.
Lana desviou o olhar. – Ela te contou?
- Domi me conta tudo. Eu não quis dizer a verdade, mas constatei uma coisa sobre você. Você não está só atraída pela minha prima, você está apaixonada, e por isso se negou em ficar com ela. – Ele tomou ar. - Você sabia que se ficasse com Domi seria apenas mais uma das meninas e mais uma você não quer ser!
- Já que ela te contou tudo, sabe que eu estou contra a parede. – Lana resolveu não esconder mais nada, ela podia confiar em Fred já que ele tinha confiado nela. – Eu realmente sinto algo forte pela sua prima, não sei se é paixão, convenhamos, são só duas semanas, mas sei que é algo forte.
- Penso nela o tempo todo, sempre a procuro em todos os lugares e quando ouço a voz dela falando diretamente para mim, nossa é a coisa mais maravilhosa do mundo. E quando ela sorri acentuando as covinhas em sua bochecha? A sensação que eu tenho é que poderia me perder naquelas covinhas. – Lana passou a mão no rosto em desalento. – Mas o que ela quer comigo é amizade, hoje ela deixou bem claro isto.
- Hoje ela deixou claro o que deduziu da briga de vocês duas e não que só quer amizade.
- Ela já te falou algo sobre mim? – Uma chama de esperança subiu pelo peito de Lana.
- Não posso dizer, sou fiel em manter meus segredos, mas veja nessa amizade uma oportunidade, demonstre que se importa e faça a diferença na vida de Domi como nenhuma garota fez.
Lana balançou a cabeça sorrindo. – Mesmo querendo isto, ainda me sinto muito confusa, tipo, que eu estou fazendo?
- Me senti assim a vida toda e consegui me libertar quando fiquei com Zaki, é claro que estou longe de ter coragem de assumir, mas entendo que preciso do contato dele, assim como eu acho que você precisa daquelas covinhas lindas de Domi. – Fred sorriu e fez Lana sorrir também. – Olha Lana me deixa te avisar sobre uma coisa, Domi não fica com ninguém há quase duas semanas e isso não é normal, tem algo se passando naquela cabeça coberta por cabelos prateados, e talvez seja você!
Mais tarde, enquanto encarava o dossel de sua cama, Lana refletia sobre as palavras de Fred: "Domi não fica com ninguém há quase duas semanas... Talvez seja você!"
Será possível? A ideia parecia absurda, mas ao mesmo tempo trazia uma centelha de esperança que aquecia seu coração, mas ao mesmo tempo era assustador.
Admitir que Domi não era apenas uma colega ou amiga para ela. E que cada sorriso, cada covinha, cada palavra trocada era uma nova razão para sentir que estava se perdendo... E talvez se encontrando ao mesmo tempo.
Domingo passou preguiçoso e longo, em seguida veio a depressiva segunda feira e junto com ela as pilhas de deveres e os anunciados ventos gélidos de outono que começaram a soprar, fazendo com que os dias ensolarados dissessem adeus, e os dias nublados e sombrios chegassem com toda a força.
Lana fazia de tudo para não sair do castelo e ter de enfrentar os ventos do outono, mas na quinta feira a tarde não tinha desculpa. As aulas de Trato de Criaturas Mágicas sempre eram na orla da floresta proibida perto da casa do Hagrid, o meio gigante guardador das chaves do castelo.
Lana decidira que tinha que se acostumar logo com o frio e ignorou os conselhos de Anna que dizia para a garota usar luvas, cachecol e uma touca. Com o peito erguido ela resolveu sair simplesmente com o uniforme diário como todos os outros alunos, que pareciam nem sentir a queda brusca de temperatura.
A garota via seus colegas andando despreocupadamente, alguns nem usavam a capa preta como se fizesse um dia claro de verão, o que a levou a se perguntar como eles estavam suportando tão de boa aquele frio, enquanto a brasileira se encolhia e tremia dentro de sua capa.
Lana sempre adorara os dias frios, mas na verdade ela não havia conhecido o frio verdadeiro, aquilo não era nada bom, e até o Natal, a temperatura prometia cair ainda mais, a única coisa que conseguia animar Lana era a tão esperada neve que ela nunca havia visto.
De uma forma inesperada a garota sentiu algo sendo jogado em suas costas, quando olhou percebeu que Domi havia acabado de colocar sua capa por cima dela.
- Você está tremendo de frio. – Disse ela sorrindo. – Por que não veio mais bem preparada?
- Preciso me acostumar com o frio. – Disse Lana se esforçando não bater os dentes, ao mesmo tempo que tentava conter dentro de si, a alegria que o gesto de Domi lhe-despertou.
- Você é louca. – Dizendo isto Domi passou um dos braços pelas costas de Lana e com a outra mão apertou seus braços que estavam cruzados sobre o peito. – Nós nascemos aqui, quase nem sentimos esse friozinho, somo muito acostumados, mas você está aqui há apenas três semanas, vai acabar morrendo de hipotermia se continuar com este pensamento.
Lana concordou com a cabeça, sorrindo e dando graças a deus por estar frio e suas bochechas já estarem rosadas. Se não Domi perceberia o quanto a garota havia ficado sem graça por aquele abraço surpresa. Por fora ela usava todo o seu autocontrole para se manter calma, mas por dentro a brasileira explodia em excitação, nunca havia ficado tanto tempo, tão próxima de Domi ao ponto de sentir o envolvente calor do corpo dela.
As duas seguiram abraçadas até a orla da floresta e para a alegria de Lana, nem depois que chegaram ao local da aula Domi a largou. A Weasley conversava com as pessoas e Lana podia sentir o peito da garota vibrando enquanto falava, e o seu hálito quente, que tocava o pescoço da brasileira, fazendo com que a mesma se arrepiasse toda. Mas o ponto alto era quando Domi conversava diretamente com Lana, nesse momento a boca da Weasley ficava bem perto de sua orelha, e ela falava baixinho quase a os sussurros por estar tão próxima. Mas tarde naquele dia Lana chegara à conclusão que poderia ter passado horas ali, naquela posição sentindo o calor emanando do corpo da garota que tanto gostava e ouvindo sua voz sussurrar gostosamente.
- Silêncio por favor. – O professor Kauan Piragibe havia acabo de chegar ao local.
O brasileiro sempre estava vestido de soldado em um uniforme camuflado e tinha o posicionamento de um sargento mandão, exigindo extremo silencio e atenção, não gostando de explicar as coisas mais de uma vez e na maior parte do tempo exibia uma carranca feia. Mas Lana já estava acostumada com ele, já que ele dava aulas em Castelobruxo há muitos anos.
Piragibe chegou carregando duas gaiolas com uns seres feios e estranhos medindo cerca de quinze centímetros, alguns com uma cor marrom escura e outros totalmente pretos. Lana havia lido sobre eles alguns dias antes em um dos livros que comprara na Floreios e Borrões.
- Alguém pode me dizer o que são estes seres? – perguntou o professor depositando as gaiolas no chão.
- São diabinhos. – Respondeu Lana.
- Isso mesmo senhorita Fernan...
O professor parara a frase no momento que vira Domi abraçada em Lana. O olhar que o homem deitou sobre Domi fora cheio de ódio.
- Mestiça solte minha aluna. – Disse ele com a voz carregada.
Lana sentiu a temperatura do corpo de Domi subir na mesma hora.
- Do que o senhor me chamou? – S bruxa prateada se soltou de Lana e caminhou na direção de Piragibe.
- Mestiça, estou mentindo?
Domi colocou as mãos no bolso, para alguns pareceria algo normal, mas Lana sabia que dentro do bolso estava a varinha de Domi e que nesse momento ela a segurava com força.
- Talvez o senhor não saiba, mas aqui este termo é extremamente ofensivo.
- Não vejo o porquê, não é nada além da verdade. – O professor levantou uma das sobrancelhas em desdenho.
- Então não tem nenhum problema de eu o chamar de escroto, porque é exatamente isso que você é, um grande e nojento escroto.
- Mestiça insolente. - O professor se aproximou de Domi com as veias do pescoço saltando. – Como se atreve? Você não passa de uma meio humanóide quase tão selvagem como estes diabinhos, na realidade quem deveria estar aqui na frente sendo estudada era você.
Domi arrancara a varinha rapidamente do bolso, mas não teve tempo de fazer nada, Shun e Lonan já haviam corrido até ela e a segurava pelos braços. Na hora os cabelos dela antes prateados ficaram vermelhos como fogo, enquanto se esforçava para se desvencilhar dos amigos.
- Olhe para você monstro, é uma ameaça para todos, você não deveria estar convivendo em sociedade, muito menos frequentando uma escola.
- O senhor perdera o juízo? – Fred tinha se metido entre o professor e Domi de varinha na mão. – Não pode se referir assim a uma aluna.
- Tire essa varinha da minha cara seu afeminado. – O professor bateu na mão de Fred fazendo a varinha do garoto voar, mas em seguida o homem fora atingido por um tapa forte desferido por Annalise.
Todos pararam no momento e um silencio sepulcral tomou conta, enquanto o barulho do tapa ecoava floresta adentro.
- O que está acontecendo aqui? – Ouviu-se o rugido da voz de Hagrid.
- Não te interessa meio gigante. Para todo o lugar que olho nessa maldita escola tem mestiços, até professores centauros vocês têm, isso é um fiasco. – Uma veia de raiva saltava na testa de Piragibe e a mão de Anna estava perfeitamente marcada no seu rosto.
Hagrid se aproximou do professor quase fazendo a terra tremer, o mesmo tentou se afastar, mas quando viu que Hagrid já estava muito perto pegou a varinha gritando. – Estupóreo. – O feitiço atingiu diretamente o peito do meio-gigante, mas não surtiu resultado algum.
- Como professor de Trato de Criaturas Mágicas, deveria saber que este feitiço não funciona contra gigantes. – Dizendo isto Hagrid pegou o professor pelo colarinho como se fosse uma criança e colocou sobre seus ombros. – Irei te levar para a diretora seu grande idiota. Alunos voltem para o castelo e vão direto para seus respectivos salões comunais.
Durante toda a cena, Lana, não conseguira fazer nada a não ser observar de boca aberta e assustada o que estava acontecendo. Por mais que o professor Piragibe tivesse fama de mal-humorado e muitas vezes soltava farpas para cima dos alunos, nada havia se comparado àquilo.
Lana sabia que no Brasil, havia grupos radicais que abominavam a mistura do sangue humano com outros seres, quando puxava na memória podia se lembrar de algumas vezes que o professor falara algo referente ao assunto, mas nunca imaginara que o mesmo seria capaz de fazer o que fez, de alguma forma, parecia até que estava enfeitiçado!
- Me soltem. – Domi vociferava para Lonan e Shun.
Os dois a soltaram, mas mantiveram uma boa distancia para conseguir conte-la se chegasse a desembestar na direção de Hagrid.
Anna se mantinha parada provavelmente nem acreditando que havia acabado de estapear um professor, enquanto Fred procurava bravo sua varinha no meio do mato.
- Alguém por favor me ajude a procurar minha varinha. – gritou ele por cima dos ombros.
- Accio varinha Fred. – Ben disse o encantamento, no mesmo momento, uma varinha voou do mato na direção da mão de Ben.
- Você está bem? – Perguntou o garoto a Fred.
- Sim. – Respondeu o mesmo pegando sua varinha.
- Pra onde você vai? – perguntou Shun a Domi que subia sozinha o caminho de volta para o castelo.
- Vou pro meu salão comunal como Hagrid falou. – Domi parecia rosnar enquanto falava. O seu cabelo ainda ardia em vermelho e a atmosfera no local era espectral.
Fim do capítulo
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Luma Ferrero Em: 05/01/2025 Autora da história
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