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MINHA DOCE MENTIROSA por Bel Nobre

Ver comentários: 2

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Palavras: 4075
Acessos: 630   |  Postado em: 01/12/2024

Capitulo 9

 

 


 

Marcela deu uma volta completa no quarteirão, os olhos atentos ao retrovisor, checando cada movimento atrás de si. A sensação de estar sendo seguida beirava a paranoia, mas ela não podia se dar ao luxo de baixar a guarda. Faltava pouco. Bastava um pouco mais de paciência e os documentos de Alex estariam prontos, confirmando por lei que a menina era sua filha legítima.

―Jacinto, abra o portão, estou bem próxima, ―ela comunicou. Assim que o portão começou a se mover, acelerou, passando rapidamente e acionando o controle extra que sempre carregava, fechando-o antes mesmo de ele se abrir por completo. A precaução de não abrir o portão antes de se aproximar era para evitar ser recebida a tiros – um acordo tácito entre os dois. Jacinto só o abria mediante seu aviso, e mesmo assim, após um minucioso exame das câmeras espalhadas pela rua, o risco de serem pegos de surpresa era sempre uma preocupação.

Alex a avistou de longe. Um sorriso aberto iluminou o rosto da menina, que saiu de dentro da casa e pulou no pescoço da mulher, agarrando-a com força, sem lhe dar chance de escapar do abraço apertado. Aquele sorriso era um bálsamo, capaz de apagar qualquer medo, cansaço ou paranoia de seu coração. Juntas, ela sentia que não havia nada a temer.

―Eu também senti sua falta, bebê. O que você fez hoje? Deu muito trabalho para Dona Raimunda?― a mulher perguntou, com carinho. Alex, que ainda lutava com a fala, ria e balançava a cabeça negativamente, com o olhar atento à porta de entrada da casa, temendo que a velha senhora aparecesse para desmentir.

―Vou fingir que acredito― disse, um pouco mais alto, para Jacinto, que estava na guarita, cortando as unhas e observando o monitor, atento a cada ângulo das câmeras. ―Quando eu estava vindo, o coronel entrou em contato. Ele perguntou por você. ¬Ela falou sem desviar a atenção de sua linda filha, que contava, animada, tudo o que fizera em sua ausência.

―Alguma novidade? ― Jacinto perguntou sem desviar o olhar  da unha que estava cortando.

Sem soltar Alex do abraço, a mulher virou seus corpos completamente, trazendo a menina consigo e colocando-a à sua frente.

―Um delegado foi transferido do Rio para Caucaia. Não acha estranho?

Seu amigo, que antes cortava as unhas, parou, guardou o canivete no bolso junto com o chaveiro e pensou antes de responder. ―Demais. O que um delegado sairia de uma metrópole para fazer numa cidade pequena?

―Também achei muito suspeito. O coronel não viu nada demais, mas mesmo assim mudei nossos planos.

―Vou falar com uns amigos para levantar a ficha dele. ―Jacinto se prontificou.

―Faça isso mesmo. Ele queria me enviar uma autorização para matricular Alex em qualquer colégio militar que eu achasse melhor. Não vou aceitar. Por enquanto, não quero que ela fique exposta em um ambiente em que não confio. Nesses colégios, todos os alunos são filhos de policiais, bombeiros ou militares. Prefiro outra coisa. ―ela explicou.

Marcela se agachou para ficar na altura de sua filha, falando apenas para ela, que não desviava os olhos e estudava cada traço de seu rosto.

―Fui ver minha mãe Montserrat, sua vó. Ela é dona de um colégio imenso, cheio de plantas e flores. Você vai estudar lá, já está tudo acertado. Lembra dela? Você já está matriculada. Segunda-feira começam suas aulas. Vamos acertar tudo aqui e comprar seu material. Já estou com a relação dos livros e do fardamento.

Alex sorria, toda contente. Finalmente teria um colégio, sempre quisera colocá-la em um  decente, mas o problema era a falta de documentos e até mesmo de um cartão de vacinação, o que dificultava a vaga nas escolas. Para piorar, ainda houve a pandemia. A sorte foi que, nesse período, elas ficaram confinadas juntas, mesmo assim Marcela conseguiu alfabetizar a filha. Alex sabia ler, escrever e fazer as quatro operações. Agora, finalmente, estava matriculada na quarta série do ensino fundamental.

―O coronel está sabendo da adoção? ― Jacinto voltou a perguntar, sempre desconfiado. Sua cautela com o coronel vinha de antigas mágoas e desconfianças.

―Sabe. Ele também mandou que eu escolhesse um dia para levar Alex para tirar identidade e passaporte, caso seja preciso sair do país. Mas algo aqui dentro me diz que não devo fazer isso ― Ela não sabia explicar, mas algo não estava certo na insistência do coronel em querer matricular Alex no colégio militar.

―Tenho um amigo que me deve uns favores. Ele trabalha no Caminhão do Cidadão e tem acesso a tudo isso. Vou conversar com ele e pedir para, quando encerrar o expediente, trazer o necessário para fazer o RG da Alex sem que ela precise sair de casa. ―Jacinto disse, olhando disfarçadamente para os lados, verificando se não estavam sendo escutados.

―Ótimo. Amanhã, bem cedo, quero que passe no colégio que ele indicou e tranque a matrícula reservada. A Mamãe comprou recentemente um colégio. É de tempo integral. Lá ninguém entra nas salas sem passar por ela, e nenhuma criança sai sem que o nome do responsável esteja na lista. E, para completar, ela não gosta muito do coronel desde os tempos de adolescente.

―Considere feito. A Dona Montserrat sabe da sua história? ― Jacinto perguntou.

―Sabe, eu nunca menti para ela. A Mamãe é mais minha mãe do que a mulher que me pariu. Ela está louca para ter Alex, ultimamente elas só se viam por telas.

―Fico pensando como sua mãe vai reagir quando Dona Montserrat conquistar Alex.

―Minha mãe Salete é diferente da Mamãe, ela não sabe demonstrar carinho. As únicas pessoas com quem ela fica mais melosa são o marido e o Eduardo. Às vezes, eu achava que ela não gostava de mim, mas era só piração de adolescente. Sei que ela me ama, assim como eu a amo. Agora, com certeza, as duas vão disputar a atenção da Alex. Tenho que ficar de olho para não estragarem minha filha com tantos mimos."

Seu amigo examinou detalhadamente os monitores e saiu da guarita, vindo ao encontro das duas.

―Pretende me falar a respeito dessa blusa aí, manchada de sangue? Ou vai fingir que eu não percebi? ―Jacinto apontou para a cintura da mulher. Ela acompanhou com os olhos e outro par de olhos curiosos fez o mesmo. Alex passou o olhar pelo corpo da mãe, tentando ver o que Jacinto havia notado.

Compreendendo sua preocupação, ela afastou o corpo de Alex do seu e fez um gesto com a mão, pedindo um tempo para falar com Jacinto.

―Conheci alguém. Esse sangue é dela. Eu quase a atropelei, mas depois te conto os detalhes. ―Ela não conseguiu esconder o sorriso de felicidade ao lembrar da garota marrenta e doce, totalmente entregue em seus braços.

Jacinto balançou a cabeça, meio rindo, meio incrédulo.

―Você tem um ímã para mulheres-chave de cadeia. Vou avisar meu amigo para agilizar tudo, caso a gente precise sumir do mapa de novo. ― Jacinto comentou.

A vontade de rir foi grande ao ouvir o comentário.

―Essa é diferente. Eu é que sou um perigo na vida dela.

Jacinto balançou a cabeça em negação. Ele a conhecia bem, mas desta vez era diferente de tudo que já vivera.

―Antes de ir embora, vamos conversar sobre essa mulher incrível.― Marcela chamou Jacinto, que já voltava para sua cabine de observação. ―Hoje é o último dia em que contrato diarista. Já avisei à agência de empregos e, no ato, transferi o pagamento da diária das duas funcionárias.

―Eles não fizeram perguntas? Ou ofereceram trocar as funcionárias? ― ele perguntou.

―Não dei chance. Fui logo dizendo que eu e minha filha íamos viajar e que, na volta, entraria em contato com eles.

―Vai querer que eu procure outra pessoa para cuidar da casa e da comida?― Jacinto ofereceu.

―Não será preciso. Vou passar uns dias na casa que herdei do meu pai e que minha mãe e o marido usufruem. Nos finais de semana, me mando para o sítio que comprei há muito tempo. Você também vai mudar de rotina. Só vou precisar de você durante o dia, para ficar de plantão no colégio onde Alex vai estudar. Encontre outro parceiro para alternar o turno com você quando eu estiver no sítio. Entrem em um acordo sobre as trocas e escolha alguém da sua confiança. Não quero explorar ninguém.

―Pode deixar, já sei quem vou escolher.

―Se confiar nele, conte a verdade, para que ele saiba que, se entrar, não tem volta. Avise que eu não admito erros e, se me trair, eu o buscarei onde quer que esteja."

―Se ele te trair, eu mesmo o mato.

Jacinto saiu para seu posto de vigilância, uma sala com uma janela de vidro laminado de onde podia ver a rua e quem se aproximava sem ser visto do outro lado.

Alex olhava assustada para a blusa amarrada na cintura da mulher, manchada de sangue. Fazia gestos e perguntas, uma em cima da outra, se atrapalhando toda, pois não sabia falar usando os sinais e letras do alfabeto de Libras. Mas a mulher entendia o que ela queria dizer. Sempre entendera.

―Eu não estou machucada, não se preocupe. Eles não vão nos encontrar. Estamos seguras", a mulher a tranquilizou.

Mais uma vez, Alex tentava se expressar por meio de sinais.

―Não vou permitir. Não se preocupe, o Magnata não é seu pai. tudo  foi delírio da parte da Idalice, Ninguém nesta terra vai me tirar de perto de você. Até que tudo esteja resolvido, vamos continuar nos escondendo, fora do radar. Ainda hoje, vamos sair desta casa sem que ninguém saiba.

Marcela ficava com o peito apertado ao  ver o medo e o desespero no olhar de sua filha. Ela entendia tudo o que Alex passava. Segurou os ombros da menina, notando que ela havia perdido peso. Precisava procurar um médico, mas ainda não o fizera por falta da documentação, que ainda não estava pronta.

―Escuta, olha para mim. Eu não vou deixar ninguém te pegar. Eu mato qualquer um que se meter no nosso caminho. Nunca duvide disso.

Alex acenou afirmativamente.

―Um amigo meu, de total confiança, vem aqui para cortar seu cabelo e tirar a foto para outro parceiro meu colocar na sua identidade. Ainda esta semana, a documentação chega.

Dias antes, elas haviam escolhido um nome unissex, que serviria tanto para meninos quanto para meninas.

―Então, está pronta para viver como um menino? Tem certeza de que não vai se arrepender de cortar seu cabelo e usar roupas feitas para meninos? ―perguntou.

―Não! ― Alex respondeu prontamente.

―É isso aí. Na sua sala de aula, com suas amiguinhas, pode dizer que é uma garota. Mas quando estivermos fora, será um menino, até o dia em que pegarem os cretinos que te deixaram sem voz. Quando eles forem pegos, nossa vida volta ao normal.

―Eu... fe... fe...", Alex tentou dizer. A mulher aguardou a filha concluir a frase, dando seu tempo, mas a menina ficou nervosa e afobada. Resolveu passar a mão em cima do coração e a outra no da mulher, abraçando-a.

―Você também é muito importante para mim. Por você, eu mato ou morro, mas tenha paciência quando for tentar falar. No começo, é assim mesmo. Quando menos esperar, vai estar falando tudo.

Marcela pegou Alex nos braços e, antes de entrar na casa, seu celular vibrou. Tirou-o do bolso da calça, colocou a senha e a tela iluminou com uma chamada de vídeo. Desceu Alex de seus braços e pediu:

―Bebê, entre na casa e, com muito jeitinho, afaste a babá e a Dona Raimunda para o outro lado da casa, entendeu? Só saia quando eu for te pegar.

Alex não esperou uma segunda ordem, correu e fechou a porta atrás de si. Marcela, então, foi ao encontro de Jacinto, mostrando as imagens da câmera.

―Jacinto, olha as câmeras pelo seu celular. Você conhece aquele sujeito que está junto do Leleco?" Os dois, muito próximos, olhavam detalhadamente a filmagem.

―Nunca vi esse cara na minha vida. O Leleco veio porque eu chamei para cortar o cabelo da Alex, mas esse outro não. O pior é que não dá para ver se ele está com uma arma escorando o Leleco.―Jacinto observou.

―Vamos abrir o portão, Jacinto.

Marcela destravou a arma, colocando o silenciador. Jacinto, do outro lado, fazia o mesmo. A outra arma ela deixou livre, sem silenciador. Com cada arma em punho, ela mesma acionou o controle e apontou para a entrada.


Jacinto, abra o portão, estou bem próxima, ―ela comunicou. Assim que o portão começou a se mover, acelerou, passando rapidamente e acionando o controle extra que sempre carregava, fechando-o antes mesmo de ele se abrir por completo. A precaução de não abrir o portão antes de se aproximar era para evitar ser recebida a tiros – um acordo tácito entre os dois. Jacinto só o abria mediante seu aviso, e mesmo assim, após um minucioso exame das câmeras espalhadas pela rua, o risco de serem pegos de surpresa era sempre uma preocupação.

Alex a avistou de longe. Um sorriso aberto iluminou o rosto da menina, que saiu de dentro da casa e pulou no pescoço da mulher, agarrando-a com força, sem lhe dar chance de escapar do abraço apertado. Aquele sorriso era um bálsamo, capaz de apagar qualquer medo, cansaço ou paranoia de seu coração. Juntas, ela sentia que não havia nada a temer.

―Eu também senti sua falta, bebê. O que você fez hoje? Deu muito trabalho para Dona Raimunda?― a mulher perguntou, com carinho. Alex, que ainda lutava com a fala, ria e balançava a cabeça negativamente, com o olhar atento à porta de entrada da casa, temendo que a velha senhora aparecesse para desmentir.

―Vou fingir que acredito― disse, um pouco mais alto, para Jacinto, que estava na guarita, cortando as unhas e observando o monitor, atento a cada ângulo das câmeras. ―Quando eu estava vindo, o coronel entrou em contato. Ele perguntou por você. ¬Ela falou sem desviar a atenção de sua linda filha, que contava, animada, tudo o que fizera em sua ausência.

―Alguma novidade? ― Jacinto perguntou sem desviar o olhar  da unha que estava cortando.

Sem soltar Alex do abraço, a mulher virou seus corpos completamente, trazendo a menina consigo e colocando-a à sua frente.

―Um delegado foi transferido do Rio para Caucaia. Não acha estranho?

Seu amigo, que antes cortava as unhas, parou, guardou o canivete no bolso junto com o chaveiro e pensou antes de responder. ―Demais. O que um delegado sairia de uma metrópole para fazer numa cidade pequena?

―Também achei muito suspeito. O coronel não viu nada de mais, mas mesmo assim mudei nossos planos.

―Vou falar com uns amigos para levantar a ficha dele. ―Jacinto se prontificou.

―Faça isso mesmo. Ele queria me enviar uma autorização para matricular Alex em qualquer colégio militar que eu achasse melhor. Não vou aceitar. Por enquanto, não quero que ela fique exposta em um ambiente em que não confio. Nesses colégios, todos os alunos são filhos de policiais, bombeiros ou militares. Prefiro outra coisa. ―ela explicou.

Marcela se agachou para ficar na altura de sua filha, falando apenas para ela, que não desviava os olhos e estudava cada traço de seu rosto.

―Fui ver minha mãe Montserrat, sua vó. Ela é dona de um colégio imenso, cheio de plantas e flores. Você vai estudar lá, já está tudo acertado. Lembra dela? Você já está matriculada. Segunda-feira começam suas aulas. Vamos acertar tudo aqui e comprar seu material. Já estou com a relação dos livros e do fardamento.

Alex sorria, toda contente. Finalmente teria um colégio, sempre quisera colocá-la em um  decente, mas o problema era a falta de documentos e até mesmo de um cartão de vacinação, o que dificultava a vaga nas escolas. Para piorar, ainda houve a pandemia. A sorte foi que, nesse período, elas ficaram confinadas juntas, mesmo assim Marcela conseguiu alfabetizar a filha. Alex sabia ler, escrever e fazer as quatro operações. Agora, finalmente, estava matriculada na quarta série do ensino fundamental.

―O coronel está sabendo da adoção? ― Jacinto voltou a perguntar, sempre desconfiado. Sua cautela com o coronel vinha de antigas mágoas e desconfianças.

―Sabe. Ele também mandou que eu escolhesse um dia para levar Alex para tirar identidade e passaporte, caso seja preciso sair do país. Mas algo aqui dentro me diz que não devo fazer isso ― Ela não sabia explicar, mas algo não estava certo na insistência do coronel em querer matricular Alex no colégio militar.

―Tenho um amigo que me deve uns favores. Ele trabalha no Caminhão do Cidadão e tem acesso a tudo isso. Vou conversar com ele e pedir para, quando encerrar o expediente, trazer o necessário para fazer o RG da Alex sem que ela precise sair de casa. ―Jacinto disse, olhando disfarçadamente para os lados, verificando se não estavam sendo escutados.

―Ótimo. Amanhã, bem cedo, quero que passe no colégio que ele indicou e tranque a matrícula reservada. A Mamãe comprou recentemente um colégio. É de tempo integral. Lá ninguém entra nas salas sem passar por ela, e nenhuma criança sai sem que o nome do responsável esteja na lista. E, para completar, ela não gosta muito do coronel desde os tempos de adolescente.

―Considere feito. A Dona Montserrat sabe da sua história? ― Jacinto perguntou.

―Sabe, eu nunca menti para ela. A Mamãe é mais minha mãe do que a mulher que me pariu. Ela está louca para ter Alex, ultimamente elas só se viam por telas.

―Fico pensando como sua mãe vai reagir quando Dona Montserrat conquistar Alex.

―Minha mãe Salete é diferente da Mamãe, ela não sabe demonstrar carinho. As únicas pessoas com quem ela fica mais melosa são o marido e o Eduardo. Às vezes, eu achava que ela não gostava de mim, mas era só piração de adolescente. Sei que ela me ama, assim como eu a amo. Agora, com certeza, as duas vão disputar a atenção da Alex. Tenho que ficar de olho para não estragarem minha filha com tantos mimos."

Seu amigo examinou detalhadamente os monitores e saiu da guarita, vindo ao encontro das duas.

―Pretende me falar a respeito dessa blusa aí, manchada de sangue? Ou vai fingir que eu não percebi? ―Jacinto apontou para a cintura da mulher. Ela acompanhou com os olhos e outro par de olhos curiosos fez o mesmo. Alex passou o olhar pelo corpo da mãe, tentando ver o que Jacinto havia notado.

Compreendendo sua preocupação, ela afastou o corpo de Alex do seu e fez um gesto com a mão, pedindo um tempo para falar com Jacinto.

―Conheci alguém. Esse sangue é dela. Eu quase a atropelei, mas depois te conto os detalhes. ―Ela não conseguiu esconder o sorriso de felicidade ao lembrar da garota marrenta e doce, totalmente entregue em seus braços.

Jacinto balançou a cabeça, meio rindo, meio incrédulo.

―Você tem um, imã para mulheres-chave de cadeia. Vou avisar meu amigo para agilizar tudo, caso a gente precise sumir do mapa de novo. ― Jacinto comentou.

A vontade de rir foi grande ao ouvir o comentário.

―Essa é diferente. Eu é que sou um perigo na vida dela.

Jacinto balançou a cabeça em negação. Ele a conhecia bem, mas desta vez era diferente de tudo que já vivera.

―Antes de ir embora, vamos conversar sobre essa mulher incrível.― Marcela chamou Jacinto, que já voltava para sua cabine de observação. ―Hoje é o último dia em que contrato diarista. Já avisei à agência de empregos e, no ato, transferi o pagamento da diária das duas funcionárias.

―Eles não fizeram perguntas? Ou ofereceram trocar as funcionárias? ― ele perguntou.

―Não dei chance. Fui logo dizendo que eu e minha filha íamos viajar e que, na volta, entraria em contato com eles.

―Vai querer que eu procure outra pessoa para cuidar da casa e da comida?― Jacinto ofereceu.

―Não será preciso. Vou passar uns dias na casa que herdei do meu pai e que minha mãe e o marido usufruem. Nos finais de semana, me mando para o sítio que comprei há muito tempo. Você também vai mudar de rotina. Só vou precisar de você durante o dia, para ficar de plantão no colégio onde Alex vai estudar. Encontre outro parceiro para alternar o turno com você quando eu estiver no sítio. Entrem em um acordo sobre as trocas e escolha alguém da sua confiança. Não quero explorar ninguém.

―Pode deixar, já sei quem vou escolher.

―Se confiar nele, conte a verdade, para que ele saiba que, se entrar, não tem volta. Avise que eu não admito erros e, se me trair, eu o buscarei onde quer que esteja."

―Se ele te trair, eu mesmo o mato.

Jacinto saiu para seu posto de vigilância, uma sala com uma janela de vidro laminado de onde podia ver a rua e quem se aproximava sem ser visto do outro lado.

Alex olhava assustada para a blusa amarrada na cintura da mulher, manchada de sangue. Fazia gestos e perguntas, uma em cima da outra, se atrapalhando toda, pois não sabia falar usando os sinais e letras do alfabeto de Libras. Mas a mulher entendia o que ela queria dizer. Sempre entendera.

―Eu não estou machucada, não se preocupe. Eles não vão nos encontrar. Estamos seguras", a mulher a tranquilizou.

Mais uma vez, Alex tentava se expressar por meio de sinais.

―Não vou permitir. Não se preocupe, o Magnata não é seu pai. Tudo  foi delírio da parte da Idalice ,Ninguém nesta terra vai me tirar de perto de você. Até que tudo esteja resolvido, vamos continuar nos escondendo, fora do radar. Ainda hoje, vamos sair desta casa sem que ninguém saiba.

Marcela ficava com o peito apertado ao  ver o medo e o desespero no olhar de sua filha. Ela entendia tudo o que Alex passava. Segurou os ombros da menina, notando que ela havia perdido peso. Precisava procurar um médico, mas ainda não o fizera por falta da documentação, que ainda não estava pronta.

―Escuta, olha para mim. Eu não vou deixar ninguém te pegar. Eu mato qualquer um que se meter no nosso caminho. Nunca duvide disso.

Alex acenou afirmativamente.

―Um amigo meu, de total confiança, vem aqui para cortar seu cabelo e tirar a foto para outro parceiro meu colocar na sua identidade. Ainda esta semana, a documentação chega.

Dias antes, elas haviam escolhido um nome unissex, que serviria tanto para meninos quanto para meninas.

―Então, está pronta para viver como um menino? Tem certeza de que não vai se arrepender de cortar seu cabelo e usar roupas feitas para meninos? ―perguntou.

―Não! ― Alex respondeu prontamente.

―É isso aí. Na sua sala de aula, com suas amiguinhas, pode dizer que é uma garota. Mas quando estivermos fora, será um menino, até o dia em que pegarem os cretinos que te deixaram sem voz. Quando eles forem pegos, nossa vida volta ao normal.

―Eu... fe... fe...", Alex tentou dizer. A mulher aguardou a filha concluir a frase, dando seu tempo, mas a menina ficou nervosa e afobada. Resolveu passar a mão em cima do coração e a outra no da mulher, abraçando-a.

―Você também é muito importante para mim. Por você, eu mato ou morro, mas tenha paciência quando for tentar falar. No começo, é assim mesmo. Quando menos esperar, vai estar falando tudo.

Marcela pegou Alex nos braços e, antes de entrar na casa, seu celular vibrou. Tirou-o do bolso da calça, colocou a senha e a tela iluminou com uma chamada de vídeo. Desceu Alex de seus braços e pediu:

―Bebê, entre na casa e, com muito jeitinho, afaste a babá e a Dona Raimunda para o outro lado da casa, entendeu? Só saia quando eu for te pegar.

Alex não esperou uma segunda ordem, correu e fechou a porta atrás de si. Marcela, então, foi ao encontro de Jacinto, mostrando as imagens da câmera.

―Jacinto, olha as câmeras pelo seu celular. Você conhece aquele sujeito que está junto do Leleco?" Os dois, muito próximos, olhavam detalhadamente a filmagem.

―Nunca vi esse cara na minha vida. O Leleco veio porque eu chamei para cortar o cabelo da Alex, mas esse outro não. O pior é que não dá para ver se ele está com uma arma escorando o Leleco.―Jacinto observou.

―Vamos abrir o portão, Jacinto.

Marcela destravou a arma, colocando o silenciador. Jacinto, do outro lado, fazia o mesmo. A outra arma ela deixou livre, sem silenciador. Com cada arma em punho, ela mesma acionou o controle e apontou para a entrada.

 

 

 

Fim do capítulo


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Comentários para 9 - Capitulo 9:
Lea
Lea

Em: 15/12/2024

Ainda bem que,a Marcela tem recursos financeiros para consegui cuidar da filha e poucos amigos(porém,leais).

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Mmila
Mmila

Em: 02/12/2024

Muito empolgante essa história.

Tô gostando muito autora.

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