ANDRÉ
DILL POV
Apesar de ser dona do meu próprio negócio, não podia me dar ao luxo de faltar. De uns anos para cá, as vendas caíram vertiginosamente. Minhas dívidas só aumentavam. Estava num beco sem saída. Tirar férias então, nem saberia dizer quando foi a última vez. Desde que Alan foi diagnosticado com depressão, venho tentando todos os tratamentos possíveis.
Com o movimento fraco, tinha tempo para mandar mensagem para Juliana. Estava curtindo demais nossas conversas. Mesmo a conhecendo de verdade a pouco tempo, senti confiança para desabafar. Tendo em vista que eu sempre fui muito fechada e nem para meus pais, tinha contado tudo sobre meu filho e ex. O vídeo que ela enviou na noite anterior, foi bem sugestivo. Ela falava com tanta propriedade das coisas que me deixou bem curiosa.
Vou mandar mensagem.
- Oi! Como está São Paulo. - não sentia mais vergonha, apenas uma ansiedade esquisita. Não demorou nada e ela respondeu, mandando uma foto dela num bar.
- Aqui está ótimo! Estou num bar temático aqui na Vila Mariana.Top demais.
- Que beleza! Bom que está curtindo.
- Sim! Aqui eu “si divirto”. - mandou junto com outra foto do bar, que parecia ter inúmeras fotos de flâmulas de futebol.
- Olha só! Eu já sei o que dizer. - enviei me referindo ao convite, torcendo para ela entender.
- Sério! - respondeu em seguida.
- No que você pensou? Como seria?.
- Pensei da gente sair para tomar alguma coisa mesmo, poderia ser num bar ou num motel. - arregalei os olhos ao ler.
-Como?
-Calma! Você me contou sobre sua situação e de repente ser vista comigo em público, é complicado. Porque não vamos a um motel e conversamos tranquilas? Sou bem adulta e resolvida para entender que poderemos ir lá e não rolar nada.Me assustei, mas não com o convite para o motel, pela facilidade de entendimento dela sobre minha situação.
- Você mora sozinha. Porque não me convidou para ir à sua casa?
- Dill! Minha casa é simples, tem cachorro e gato. Não mentir para você, tenho vergonha.
- Entendi! Vou pensar no assunto e quando você voltar a gente resolve tudo bem?
- Sem problemas! A gente conversa. Até mais.
Terminei a conversa com o rosto queimando. Sim, eu queria experimentar.
Fechei a loja e fui para casa animada e assustada ao mesmo tempo. Uma certeza eu tinha: não queria me apegar e ter nada sério com ninguém, minha vida já estava uma bagunça suficiente para entrar noutra.
Chegando em casa me deparo com meu ex, uma casa bagunçada e meu filho aos prantos no quarto.
- O que aconteceu André? - bufei jogando minha bolsa no chão.
- Isso é sua culpa! Você mimou demais esse garoto, por isso ele está assim. - apontou o dedo e berrou a plenos pulmões. Eu queria brigar, mas decidi ver Alan primeiro.Entrei no quarto e ele estava sentado na cama com potes de remédios abertos sobre a cama.
- O que é isso meu filho? - segurei para não chorar ou bater nele. Já não sabia qual vontade vinha primeiro.
- Eu não fiz nada mãe. Me perdoa! Mas eu quis fazer. Eu te amo, me perdoa. - falou e me abraçou. - não aguentei e chorei junto com ele. O que eu fiz ou não fiz para ele estar assim? André me culpava tanto que estava acreditando que a culpa era só minha.
- Alan! Como posso ajudar meu filho? O que você precisa? - eu e ele chorávamos juntos.
- Só quero que essa dor passe, que essa voz suma. Eu não quero me matar, mas não aguento mais. - deitou em meu colo.
- Vou procurar um tratamento melhor. Mas tente ser mais forte que isso. Você pode. Não sei como está se sentindo, mas estou aqui para tudo. - enxuguei minhas lágrimas, com o tempo ele foi adormecendo e eu fui discutir o que deixei para trás.
Saio do quarto sem fazer barulho, chamo André para que me acompanhasse ao meu quarto.
- Você nunca mais vai me acusar de nada! Essa situação já está insustentável. Você também é culpado por essa situação. Você também sempre quis o bom e o melhor para ele, mas nesse caminho ele não passou por dificuldades. Somos os dois culpados. Você precisa se mudar. Não aguento mais essa vida. - soltei tudo, com raiva, com lágrimas e também com medo.
- Agora eu não tenho como fazer isso, estou sem dinheiro. E como farei com meu problema do coração?
- Não sei! Volta para sua cidade, vende o carro, sei lá. Dá seus pulos. Estou a ponto de estourar.
Fiz menção para ele sair do quarto, me joguei debaixo do chuveiro e por lá fiquei um bom tempo, chorando e pensando que ninguém em sã consciência iria se envolver comigo. Me olho no espelho, percebo algumas rugas já aparecendo, fios brancos, barriga saliente. Me dou conta que a vida já estava passando e eu estava perdendo tempo.
JULIANA POV
- Gente! Acho que vou tirar as teias de aranha- abro um largo sorriso.
- Era a mulher? - Lina questionou.
- Sim, acho que vamos marcar de sair assim que eu voltar para lá.
- Que beleza! A larissinha está depilada ne? - Daiane soltou, fazendo todos rirem.
- Opa! Claro! Que não. Estou solteira pow. - rimos todos.Dill não saía da minha cabeça. Depois de 30 anos de dúvidas e um certo encantamento por ela. Imaginar que finalmente iríamos sair, estava me deixando ansiosa. Coitado do meu terapeuta, pensei.Nos falamos pouco nos outros dois dias, mas sempre tinha um bom dia e uma boa noite para nós. Voltei para casa revigorada e pronta para recomeçar. Logo que cheguei em casa, meu pai veio para falar que alguém iria ver a casa, que eu deveria recebê-la. Estava perdendo as esperanças, amava aquela casa, mas não iria ficar com ela.Olho para ela e vejo que ela está caindo aos pedaços. Apesar de ter cuidado dela, me faltava dinheiro para terminar. Penso que quem em sã consciência ficaria comigo naquela casa. Como que eu levaria Dill lá? Passado alguns dias, meu pai me liga e avisa do dia e assim, eu abri a porta para um possível comprador, que por obra divina, não gostou. Não tive notícias do meu pai por um longo período. Incrível que nesses dias não tive notícias de Dill nesses dias. Só o bom dia e o boa noite. Estranhei e pensei que ela tinha desistido.
- Bom dia Dill! Anda sumida. Desistiu daquela nossa conversa?
Oi! Você que sumiu! Ficou de mandar mensagem assim que chegasse e como eu tive uns problemas em casa, nem nos falamos.
- Verdade! Eu estava pensando que você me mandaria mensagem sobre o que decidiu. Está tudo bem em casa?
- Ah. Não está, mas é o de sempre. Mas não quero falar sobre isso agora. Como foi lá?
- Olha! Deixei meu salário lá, mas foi muito bom. Comi e bebi tanto que devo ter engordado uns 3 quilos. Nossa conversa fluía, com leveza. Era diferente de todas as outras. Com certeza conversar com alguém com a mesma mentalidade que a gente. Só tinha saído com pessoas mais novas que eu, não porque eu tinha preferência, mas porque elas me procuravam e acabava rolando. Dill era a primeira com a mesma idade.
- Aproveita, depois volta a trabalhar e perde tudo.
- Na nossa idade? - gargalhei e continuei. -Vou ter de correr muito para perder. -ela riu também e já mudou de assunto.
- Queria te chamar para almoçar e assim a gente conversa sobre o que vamos fazer tudo bem? -
Meu Deus! Pensei. Iria acontecer mesmo. Agora era ela que estava me chamando.
Fim do capítulo
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Mmila
Em: 12/11/2024
Que situação!
Vamos ver sei futuro apresenta algo de bom para essas duas.
lorenamezza
Em: 12/11/2024
Autora da história
Hahah . Sim
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