SÃO PAULO
DILL POV
Na semana após aquele almoço, fui à terapia.
- Como passou a semana?
- Mais ou menos, têm acontecido algumas coisas que não te contei em outras sessões doutora.
- Tudo bem. Me conta.
- A situação lá em casa está difícil. Meu ex marido precisa sair de casa, mas ao mesmo tempo, sinto medo dele sair e ter de enfrentar a situação do meu filho sozinha. Bem ou mal, ele me ajuda. Mas de uns tempos para cá ele se tornou mais chato, bravo. Começou a questionar minha vida. Isso está me estressando.
- Você tem de decidir o que é importante para você. Quais suas prioridades?
- Não quero ser aquela Adriana de sempre, a que tem medo de mudança, porque é mais cômodo. E tem mais; recebi um convite para sair de uma pessoa e estou muito ansiosa e nervosa em relação a isso.
- Foi uma coisa ruim.
- Foi inesperado. Foi uma colega de trabalho.
- Mas o que você sentiu sobre isso?
- Um turbilhão de sentimentos, vontade, medo, ansiedade, tristeza.
- Calma Adriana! Isso é normal, é uma coisa nova e você não havia dito que gostaria de experimentar tudo. Isso conta também?
- Doutora! o que ela viu em mim? Se ela souber dos meus problemas, acho que desiste.
- Não coloque o carro na frente dos bois. Se você se sente à vontade em relação a ela, por que não?
- Porque eu nunca pensei isso de mim, é até difícil falar. Que eu possa ser. Minha família é muito preconceituosa. Lembro dos churrascos que falavam de uma prima minha. Não sei como reagir à isso.
- Você disse o que para ? Qual o nome dela?
- Juliana. Trabalha comigo. Ela é toda assumida. Mas discreta. Eu não disse nada.
- Olha só porque você não puxa assunto devagar com ela, vai sentindo o ambiente. Como não quer nada, vai se aproximando. E depois decide. E sobre sua família: Você precisa entender que não deve nada a eles. Sua vida pessoal, só interessa a você.
- Tenho vergonha. Sou uma mulher de quase 50 anos e parece que nunca fiz o que quis.
- Faça agora, a seu tempo. Mas faça. a vida está passando, não se prenda a conceitos que não são seus.
- Tudo bem! Vou tentar. Obrigada doutora, até ano que vem. Feliz natal e ano novo para você. - saí um pouco mais leve, as consultas eram um alento, parecia que depois de cada consulta tudo seria diferente. Pelo menos eu tentava.
Fiquei pensando em como me aproximar, a única forma seria mandar mensagens despretensiosas falando sobre o trabalho. Assim o fiz, em toda e qualquer oportunidade eu recorria à Juliana. Como eu não teria coragem de falar sobre o assunto, torcia para que ela falasse.
Até que no final do ano, até eu já estava cansada das minhas mensagens sobre trabalho. Resolvi apenas saber dela.
- E aí tudo certo? Aproveitando o pouquinho que teremos de férias? - não tirava os olhos do celular, esperando que ela respondesse rápido. Vi que ela estava digitando e meu coração acelerou.
- Estou indo viajar uns 4 dias, só para relaxar. Posso fazer uma pergunta? - ela respondeu.
- Claro que pode!
- Pensou sobre meu convite? - quando li meu coração gelou, se era o que estava esperando, seria agora. Tomei toda coragem do mundo e respondi com sinceridade.
- Pensei sim! Mas não sabia como falar. Minha situação é complicada. Tenho um ex marido que mora comigo, um filho com depressão e uma família homofóbica. Minha cabeça é um turbilhão.
- Bom pelo menos não levei um fora direto. - ri quando li o que ela escreveu.
- Não foi um fora. Só não sei como fazer.- tomei coragem para me abrir. - Não quero te incomodar com isso agora. Você deve estar arrumando suas coisas.
- Que nada! Tenho quase 4 horas de ônibus pela frente. Estou literalmente subindo nele para viajar.
Durante o tempo que conversamos, falamos sobre tudo. Sobre o passado de cada uma, das vontades. Não faltou assunto. Percebemos que tínhamos muito em comum, que gostávamos das mesmas coisas. Não sinalizei para ela que iríamos sair, e ela, educada, também não perguntou. Mas perguntei sobre tudo sobre o assunto homossexualidade. Até fiquei com vergonha das perguntas.
- Bom Dill! A conversa está ótima, mas estou chegando em São Paulo e vou entrar naquela correria que é a rodoviária do Tietê. Preciso guardar o telefone, mas assim que chegar na casa lá, mando mensagem.
- Claro! Vai lá, nos falamos depois. Até.
Terminei a conversa empolgada, fazia tempo que não conversava assim com alguém. Confesso que fiquei ansiosa em esperar para falar com ela novamente.
JULIANA POV
Chego no Tietê e me junto aquela correria da rodoviária, meu Deus como adorava. De lá até a casa da Lina, seria uns 40 minutos. entre Tietê - Luz- Ana Rosa. Olhava as construções, os carros, as pessoas. Assim que saio da estação, já vejo de longe a Lina à minha espera.
Nós somos amigas há uns bons 10 anos, nos conhecemos durante um campeonato e fizemos amizade de cara. Todo ano eu ia passear e tomar uma com ela.
- Como foi a viagem? - me deu um grande abraço.
- Ótima! Tenho muita coisa para contar. - ri já brincando com sua cachorra que estava no banco de trás.
- Opa! Vamos para o ap, você toma um banho se quiser e depois saímos para comer algo. Tudo bem se a gente não ficar em casa esses dias, estou cuidando dos cachorros da Andréia.
- Claro! Sem problemas. - respondi toda feliz, afinal já conhecia a fama do apartamento de nossa colega. E pelo que falavam, era lindo.
E assim que chegamos, pude comprovar do que falavam.
- Puta que pariu Lina! Que lindo. - falei olhando para cima, de frente para um grande prédio todo vidrado.
- Você vai ver lá dentro.
Pegamos o elevador para o 11° andar. Ao abrir a porta, tive o vislumbre de como é morar num bom lugar naquela cidade. O apartamento parecia um grande loft. Espaço aberto, com grandes janelas de vidro, dando uma visão maravilhosa da cidade.
- Não quero voltar para casa não. - ri.Coloquei minhas coisas num quarto que Lina me mostrou. Fui tomar banho.
Após o banho saímos para encontrar outros amigos que estavam à nossa espera. Peguei o celular e avisei a Dill que já havia chegado e que estava tudo bem.- Mandando mensagem para uma amiga que já cheguei.
- Amiga? - riu.
- Então mulher! É uma amiga mesmo do trabalho que estamos de conversa, chamei ela para sair, mas ela se esquivou. Foi um fora educado.
- E está mandando mensagem porque?
- Porque como disse, estamos conversando e disse que ia avisar. Acho que ela quer sair do armário, não comigo. - ri da minha desgraça.
- E está cheia de conversa com você? Tendi.
Naquela tarde fomos ao Beco do Batman, famoso por seus bares e artes espalhadas por uma viela, repleta de gente de todas as tribos.
Depois paramos na Vila Mariana, e em um de seus bares incríveis. Jogamos muita conversa fora, colocamos o papo em dia.
Chegando à noite no apartamento, ouço barulho de notificação. Era Dill. Balancei o celular na frente de Lina.
- Olha Lina, é Dill. - abri um discreto sorriso.
Respondi a mensagem e ficamos trocando mensagem por pelo menos 1 hora.
- Ela não quer mesmo sair com você? Faz 1 hora que você está de conversinha com ela. Só não reclamei porque é com mulher né? - gargalhou.
- Acho que ela só está curiosa mesmo. - sentamos no sofá.Após as trocas de mensagens, estava ficando claro que talvez ela não quisesse só amizade.
- A gente se conhece há quase 30 anos, ela era atleta de basquete e eu já jogava também, então sempre nos cruzamos em jogos. Depois fizemos a mesma faculdade. Só que ela estava há 1 ano na minha frente. Meu radar sempre apitou para ela, mas nunca tive certeza. Depois que terminamos a faculdade, a gente se cruzou indo para o mesmo campeonato, mas ela ficou com a turma dela e eu com vocês.
- E ela não era do babado?
- Depois desse campeonato, descobri que ela ia casar, então minhas suspeitas morreram.
-Tendi! Ela está casada ainda?
- Não! Parece que ele mora com ela, por conta de uns problemas lá, mas não estão mais juntos.
-E agora ela vai sair do armário? - rimos juntas.
- Sei lá Lina! Já errei tanto, já levei tanto fora, que agora só entro se tiver certeza. Cansei de sofrer por besteira.
- Verdade! Eu, agora só quero viajar. Não quero mais saber de compromisso também. A não ser que seja uma Lauren Jauregui. - novamente rimos.
-Quero alguém que more sozinha, não tenha impedimentos também. Não quero rolo pra minha cabeça.
- Tá certa! Agora vamos dormir porque amanhã temos mais bares para ver.
Com a pulga atrás da orelha, decidi mandar um vídeo para Dill. Já que ela estava tão curiosa. O vídeo era bem safado. Quer saber porque - Bárbara Labres. Era uma cartada.
- Menina que clipe da hora. - respondeu rapidamente.
- Não achou ofensivo?
- Não! gostei.
Conversamos por mais um tempo e logo o sono bateu. Estava surgindo uma amizade ou quem sabe algo mais. Teria de esperar para descobrir.
Fim do capítulo
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mtereza
Em: 16/11/2024
Dil agora está quase lá prontinho para sair do armário
lorenamezza
Em: 16/11/2024
Autora da história
Dá vontade de dizer: chuta logo essa porta rs
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Mmila
Em: 11/11/2024
E agora que despertou de vez a curiosidade?!?!?!?
Sera que vai dar bom!
Torcendo aqui.
lorenamezza
Em: 16/11/2024
Autora da história
Olha. Como é uma história verdadeira, digo q tem muita coisa p acontecer rs
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lorenamezza Em: 05/02/2025 Autora da história
Veja nos próximos capítulos rs