AMIGAS
DILL P.O.V
Saí do bar um pouco mais leve, era bom poder ao menos contar um pouco das minhas vontades. Cheguei em casa, meu ex marido estava no sofá, não era normal, geralmente ele ficava no quarto, fazendo não sei o que em seu note.
- Boa noite Dill! A rua estava boa? - levantou devagar do sofá e veio em minha direção.
- Desde quando você se preocupa comigo? - falei em tom de brincadeira, mesmo percebendo um ar diferente em sua voz.
- O que minha mulherzinha faz fora de casa, é meu assunto. - seus olhos estavam vermelhos, ele veio tão perto que pude sentir seu hálito. Olhei na direção do sofá e vi algumas garrafas de cerveja e me dei conta do que estava se passando.
- André você sabe que não pode beber, por conta dos remédios. - desviei de sua investida.
- Onde estava até essa hora? - apontou o relógio.
- Não vem com essa André! Vai dormir e me deixa em paz.
Bebo um copo d’água, passo no quarto de Alan, vejo que ele ainda não havia chegado, presumi que estivesse com a namorada. Essas saídas deles me deixavam com o coração na mão. Meu medo era que ele tivesse uma crise fora de casa. Mas não podia proibir de sair. Era um situação horrível. Ouço o barulho de notificação do meu celular. E tenho uma surpresa ao olhar a mensagem. Pensei que Juliana tinha esquecido algo, mas para minha surpresa, ela estava me convidando para sair.
Meu Deus! Como assim ela está me convidando para sair? O que ela quer comigo? Não sabia o que dizer. Meu coração acelerou. Eu vivia falando que não queria desperdiçar oportunidades e que queria sair com uma mulher. Soltei um sorriso sem graça. Entro em pânico e minha respiração começa a acelerar. Eu teria coragem?
Deito e começo a percorrer as mídias sociais dela. Fotos de paisagem, fotos no trabalho, sem foto de relacionamento. Melhor eu ir dormir, esse convite mexeu com minha cabeça.
Acordo bem cedo para me preparar para o trabalho. Mesmo sendo sábado, eu precisava ir, afinal é o olho do dono que engorda o boi. Já dizia meu pai. Morava numa das casas de meu pai, minha loja ia de mal a pior. Alan estava tendo crises de depressão. Talvez seja o motivo de tantas brigas entre ele e a namorada. Logo após colocar o café na mesa, ele vem sentar à mesa, com cara de choro.
- O que aconteceu filho? Não te vi chegar ontem. - estranhei vê-lo de pé tão cedo.
- Ana Luisa terminou comigo. - desabou a chorar. - Dessa vez é pra valer.
- Logo vocês voltam, ou talvez seja melhor assim. Você precisa se concentrar para o vestibular. - tentei amenizar seu sofrimento.
- Ela não vai voltar! - gritou aos prantos. - Ela não entende que eu tenho depressão. Acha que meu sofrimento é besteira minha. - deu um soco na mesa.
- Ei! - falei forte. - Onde você pensa que está para gritar e bater na mesa desse jeito? - vi André saindo do quarto com cara de poucos amigos.
- O que está acontecendo aqui? - falou bravo.
- A namorada terminou com ele. - quase sussurrei.
- E isso é motivo para ficar gritando assim?
- Que bosta ninguém entende o que estou passando.
Os dois começaram a discutir e eu no meio tentando que tudo isso parasse. Alan sequer tomou café e já voltou para seu quarto. Enquanto eu e André voltamos para mesa.
- Isso é culpa sua Dill! Sempre passando a mão na cabeça dele. Criou um homem fraco. - suas palavras me cortavam o coração. Pois eu me sentia culpada por ter dado o melhor para ele. Mas qual era a medida certa? Qual mãe sabe qual é o limite?
- Criei ele sozinha por acaso né? - falei com certa grosseria. - Se não fosse pelo Alan, você não estaria aqui agora.-Vou trocar de roupa porque não quero chegar tarde e você antes de sair vá conversar com ele.
Saí com pressa e puta, por logo cedo termos tido essa briga. A mensagem da noite anterior, ficou em segundo plano.
JULIANA P.O.V
Sábado era um dos poucos dias em que poderia levantar tarde, mas meu relógio biológico e um pouco de sede, por conta da bebida,já tinha me tirado da cama às 4. Como não conseguiria dormir mais, decidi deitar no sofá e assistir alguma coisa na tv. Lembrei da mensagem enviada e ri da minha coragem.
Como os projetos estavam acabando, não encontraria mais Dill pelo caminho. O que seria ótimo, pois a vergonha fazia parte de mim desde então.
Iríamos nos encontrar no almoço de fim de ano, mas lá estariam todos os professores do projeto.
Dias antes ela me enviou uma mensagem, pedindo que nós a esperássemos para entrar.
“ Oi Juliana! Tudo certo por aí? Você e a Lúcia podem me esperar para entrar no restaurante?”
Respondi que assim que chegasse ao local a esperaria.
Nossa conversa se limitou a isso. Ela não tocou no assunto e eu também não.
O almoço foi tranquilo, ela se sentou ao meu lado, as conversas foram descontraídas, muitos professores juntos. Eu ficava olhando para ela, tentando adivinhar o que ela poderia estar pensando sobre mim. Mas ela era uma incógnita.
Os dias foram se passando e Dill por vezes mandava mensagem perguntando sobre algo do trabalho. Já estava de saco cheio, porque eu queria mesmo, era que ela respondesse ao meu convite.
Nesse meio tempo, saí com um antigo caso: Jéssica. Passamos 10 anos ficando uma vez por ano, Até brincamos que se estivéssemos solteiras com determinada idade, que nos casaríamos. Ela era uma pessoa maravilhosa, boa de papo, inteligente, divertida. Com ela, nunca faltava assunto. E sempre que a gente saía, rolava uns beijos, dessa vez não foi diferente, após um jantar muito gostoso, num restaurante badalado da cidade, decidimos esticar para uns “amassos”. Mas não passou disso, diferente das outras vezes, dessa vez o gosto não foi o mesmo. Faltou algo. Aquele foi nosso último jantar. Descobri depois que ela tinha voltado com a namorada e só me chamou para jantar porque tinha terminado com ela e estava triste.
Depois de tantos anos sozinha, estava difícil encontrar alguém com o mesmo ritmo e intenções. Passado o fim de ano ,iria tirar uns dias na casa de uma amiga em São Paulo. Esquecer das frustrações do coração e me preparar para voltar ao trabalho.
Pouco antes de viajar, Dill me enviou uma mensagem:
- E aí tudo certo? Aproveitando o pouquinho que teremos de férias?
- Estou indo viajar uns 4 dias, só para relaxar. Posso fazer uma pergunta? - nem pensei para perguntar.
- Claro que pode!
- Pensou sobre meu convite? -lembrei que meu terapeuta disse para não passar vontade e perguntar tudo que queria. Fiquei um pouco atenas, quando ela demorou para responder
- Pensei sim! Mas não sabia como falar. Minha situação é complicada. Tenho um ex marido que mora comigo, um filho com depressão e uma família homofóbica. Minha cabeça é um turbilhão.
- Bom pelo menos não levei um fora direto. - tentei descontrair
- Não foi um fora. Só não sei como fazer.
Fim do capítulo
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ropretinha
Em: 06/04/2025
Garanto não é fácil passar por esse processo, sou de uma geração que tudo era escondido, sorte que não casei com quem meus pais queriam, tive que mudar de cidade e me esconder da família, e encontrei a minha pessoa, só me assumi depois de quase destruir meu relacionamento por medo, familia e amigos me julgaram e se distanciaram, mais sou feliz a 32 anos
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Lea
Em: 04/02/2025
Não sei o que se,vivesse em uma situação igual a da Dill!
Ela quer viver,mas, não está nada fácil!
lorenamezza
Em: 05/02/2025
Autora da história
Conheço alguém assim e garanto, não é fácil se sentir preso ao que não existe
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mtereza
Em: 16/11/2024
Poxa Dil se joga coragem mulher rsrs
lorenamezza
Em: 16/11/2024
Autora da história
Imagina uma mulher que viveu a vida inteira da forma que os outros queriam, e agora com quase 50 anos e tanta carga para carregar, sente esse desejo. Será que ela consegue transpor as barreiras?
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Joanna
Em: 09/11/2024
A vida cotidiana que nos parece ser única, na realidade se repetem, pode mudar em proporções, diferenças sociais, culturais, mas vivemos os mesmos desafios, escolhas.
Como complicamos tanto o que deveria ser tão simples em nossas relações, os preconceitos, expectativas, se no fundo queremos a mesma coisa, amor.
Desconheço estatísticas, mas acho que a psicánalise é uma das áreas mais em ascensão.
Abr
lorenamezza
Em: 10/11/2024
Autora da história
Sim. A vida cotidiana as vezes não é tão floreada . Mas muitas histórias merecem ser contadas um abraço
Joanna
Em: 10/11/2024
Com certeza estas histórias merecem ser contadas, assim não nos sentimos sozinhos nas intempéries da vida, principalmente nesta era de redes sociais onde todos são felizes, bem sucedidos, perfeitos.
Este é um dos méritos de tua história.
Abr
Joanna
Em: 10/11/2024
Com certeza estas histórias merecem ser contadas, assim não nos sentimos sozinhos nas intempéries da vida, principalmente nesta era de redes sociais onde todos são felizes, bem sucedidos, perfeitos.
Este é um dos méritos de tua história.
Abr
lorenamezza
Em: 16/11/2024
Autora da história
sim, esperar o que a vida lhes reserva. um abraço
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lorenamezza Em: 06/04/2025 Autora da história
Isso que escrevi é quase a história desse meu namoro. Claro que o ex marido não a chantageou, mas sim moram juntos por conta de dinheiro e por conta do filho q tem mesmo depressão. Vivemos bem do nosso jeito, não há traições, nem grandes discussões. Aceitamos o tempo que temos e somos felizes a quase 4 anos; e sim nos conhecemos a mais de 30 anos. Parabéns pela coragem, não é fácil ter uma vida completa.