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Ela não é a minha tia por alinavieirag

Ver comentários: 8

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Palavras: 4321
Acessos: 1727   |  Postado em: 10/11/2024

Notas iniciais:

Boa noite, leitoras!

 

Capítulo especial, começamos as "etapas finais"!

 

Boa leitura! E não deixem de comentar! 

Capitulo 44 – Concessão

 

 

Emma

 

Já colocamos umas cinco bandeiras por toda a extensão da praia – pelo menos em todos os pontos críticos – quando dou aquela viradinha de cabeça automática sempre que passava em frente a essa casa, a de madeira de dois andares, com grandes portas e janelas envidraçadas.  

Ainda estava com aquela placa de “vende-se” que eu havia visto há umas duas semanas, em uma de minhas rondas. Não que fosse a primeira vez que isso acontecia desde que passei a “namorá-la”, lá pelos meus oito anos.

Mas nunca ficava à venda por muito tempo, apenas tempo o suficiente para eu sonhar em ganhar na loteria e me mudar para lá, levando a minha irmãzinha comigo.

Um sonho estúpido demais, eu sei.

A vibração do meu celular, dentro da bermuda que compunha o meu uniforme, me tira do meu devaneio. Pego o aparelho e sou surpreendida com o que vejo escrito na tela:

“Grupo criado por Maria”

“Maria adicionou você”

 

Maria:

Espero que você nos perdoe, Em, mas aconteceu tudo rápido demais, e não tivemos tempo de nos despedir.

Maria:

Eu e a Júlia estamos em Nashville!

Júlia:

Obrigada pelo empurrãozinho!

 

– Droga, elas fizeram! – Coloco a mão sobre a boca, mantendo o sorriso entre os dedos.

– Compartilha o babado, amiga, também quero saber. – O Vini pede, empolgado.

– A Júlia e a Maria... – Sorrio. – Finalmente deram um basta para aquela mãe dela e foram viajar juntas... para fora do país. – Concluo, ainda tentando processar.

– Gente, tô passado! – O Vini exclama, igualmente empolgado. – Pelo o que vocês duas sempre me falaram dela, a mulher deve estar surtando agora.

Realmente, não sei o que as duas falaram para a Dona Marta, mas deve ter sido algo muito bom para ela ter deixado a Sofia ir.

Pena eu não estar lá dessa vez.

– Olha quem já está esperando por você. – Aponto para o Murilo, enquanto provoco o meu amigo com uma cotovelada assim que retornamos ao nosso posto.

O turno do Murilo começava uma hora depois do nosso, o que significava que eu teria que segurar vela durante as próximas cinco. Não que eles fizessem qualquer coisa durante o nosso expediente, mas eu podia sentir as faíscas no ar. Só que eu também não poderia dizer que não estava feliz pelos dois, principalmente pelo Vini, é claro.

– Parece que não é só eu que tenho “visitas”. – Sua voz está séria quando ele olha para a minha mãe, a alguns metros de distância do nosso posto.

Merda.

– Mãe?! – Corro até ela, assustada. – É com a Lili? Aconteceu alguma coisa com a Lívia? – Minha voz sai mais alta do que o necessário, mas não consigo evitar conforme meus batimentos zumbem nos meus ouvidos.

Deus, por favor, por favor não permita que nada de ruim tenha acontecido com ela. Não...

– Não... Quero dizer, sua irmã está bem, Emmanuelle. – Ela diz e a corrente de adrenalina vai deixando o meu corpo, aos poucos. – Na verdade, é sobre o Marcus... – Ela pronuncia aquele nome e o meu coração volta a celular. – Ele não fez nada... – Ela se adianta, provavelmente notando a minha agitação. – Mas ele não tinha mais aonde ficar, ele precisava voltar...

– Não acredito nisso, mãe. Você deixou ele voltar? – Questiono, sem acreditar. –

Se a vida fosse realmente justa, esse homem deveria estar preso, você sabe disso, não sabe? – Fico esperando por uma resposta, mas ela apenas abaixa a cabeça, envergonhada.

– O que você veio fazer aqui? – Pergunto, revoltada. – Veio me pedir para que eu aceite isso? Para que eu aceite que aquele cara fique sob o mesmo teto da minha irmã de novo? Que eu aceite a ideia de que a minha irmãzinha pode ter o mesmo destino que eu tive? Ou você acha que eu gosto da minha vida? – Sorrio, amarga. – E... Posso saber o que vocês pretendem fazer com ela caso ela simplesmente não atenda às expectativas ou aos padrões de vocês? Vão colocar ela na rua? Assim como fizeram comigo? – Vou emendando uma coisa na outra, indignada.

– Não, Emma... Não é nada disso... – Ela me chama por aquele nome pela primeira vez, o que me pega completamente de surpresa e faz com que abaixe a minha guarda. – Eu vim aqui para te perguntar se você pode buscar a Lívia na escola hoje e... para te dizer que eu aceito assinar aqueles papéis que o seu advogado me mostrou aquela vez... – Ela fala com os olhos lacrimejando. – Eu quero compartilhar a guarda dela com você.

O zumbido nos meus ouvidos está tão alto agora que eu quase não a escuto.

– Quê? – Pergunto, sem entender. – Eu não... Como...

– Você tem razão... – Ela apoia uma das mãos no meu ombro direito. É nítido o quanto não está sendo fácil para ela fazer aquilo, mas ela o faz mesmo assim. – Ela vai estar melhor com você.

 

– Em! – Minha irmãzinha corre assim que me vê parada atrás do portão da escola. – Pensei que a mamãe viria.

– Ela me pediu para te buscar... – Sorrio para ela. – Na verdade, ela me pediu para ficar um tempo com você. – Me limito a dizer, lembrando que a Lili ainda era nova demais. – Você quer dormir em uma cama de casal hoje? – Provoco, lançando um sorrisinho para ela.

– Eba! – Ela dá pulinhos.

– Toma. – Digo entregando o meu cartão de crédito para ela. – Vai ali comprar um cachorro-quente pra gente levar para a casa. – Aponto para o food truck montado a poucos metros da onde estávamos.

– Ei, dois, por favor. – O Vini pede, sorrindo.

– Três, então. – Sorrio de volta. – Não quero ficar passando vontade.

Eu e o meu amigo compartilhamos um sorriso.

– Não vai ser por muito tempo... – Digo para ele conforme assistimos minha irmã dar saltinhos animados na direção da comida.

Sei que o Vini não tinha a menor obrigação de dormir no sofá, na sua própria casa, e que eu não poderia pedir para que ele fizesse isso por muito tempo.

– Imagina, Em, pode levar o tempo que precisar, você sabe como eu sou louco pela mini Emminha. – Não consigo deixar de sorrir com o quão doce ele poderia ser.

A vida poderia ter me tirado muitas coisas, o direito de ter um pai, uma mãe ou de crescer sabendo o que é ter uma família de verdade. Mas também tinha me dado os melhores amigos que alguém poderia desejar ou sonhar em ter.

Mais do que amigos, pessoas que estavam dispostas a se reerguer e juntar os caquinhos para construir sua própria família com o que tinha sobrado.

Porque era isso o que todos eles eram para mim...

Vini, Maria ou a Júlia.

Minha família.

– Eu agradeço por isso, amigo, de verdade, mas... acho que a Lili precisa de algo melhor do que dividir a cama com a irmã. – Sinto o meu coração apertar. – Na verdade, acho que eu também preciso, sabe? – Faço uma pergunta meramente retórica. – Quero dizer... Não que eu não goste de dividir aquela kitnet com você... Eu só...

– Em... Não precisa fingir que gosta de morar naquela porcaria. – Ele me lança um meio sorriso, compreensivo. – Ou você acha que eu gosto também?

Claro que não, quero dizer, era ótimo estar com o Vini – só não tão ótimo quando ele esquecia de limpar o vaso sanitário depois de usar – mas a gente não podia romantizar a nossa situação, não quando passamos a morar naquela kitnet porque um padrasto não concordava com a orientação sexual da própria enteada e lidava com isso de forma violenta, agredindo-a de diversas formas (no meu caso) ou porque o pai batia no próprio filho até ele perder a consciência, pelo mesmo motivo (no caso do Vini).

– É... – Concordo com ele. – Acho que já está na hora de seguirmos em frente.

 

xxx

 

Semanas depois

 

 

– Posso deixar o meu currículo com você? – Faço a mesma pergunta pelo o que talvez seja a oitava vez nesse mesmo dia interminável.

Esse já é o nono ou décimo clube/escola de natação que eu entrava. Acho que tinha perdido as contas depois das quatro da tarde.

Tá aí mais uma coisa que ninguém conta – ou se questiona – sobre ser Salva-Vidas: o que acontece com você depois que o verão acaba. O que era um questionamento super válido, levando em conta que estamos em junho.

Mas, de forma resumida, eu precisava ir em busca de outro emprego até o próximo verão, quando poderia me realistar e renovar o meu curso no Corpo de bombeiros. Na verdade, eu precisaria de dois trabalhos, para ser mais exata, porque tenho certeza de que apenas um emprego não seria o suficiente para me manter e manter a Lili. Fora que eu não teria com quem dividir as despesas. Seria eu por mim mesma a partir de agora, não que já não tivesse sido assim antes do Vini, eu só precisaria me acostumar com isso de novo, eu acho.

– Eu tenho curso de bombeiros para ser Salva-Vidas, mas eu também posso ser assistente da professora de natação. – Dou um dos meus melhores sorrisos forçados, como se eu estivesse ali porque é o meu sonho ser uma espécie de “babá aquática” de crianças ricas, e não porque não tinha me restado nada além de ser uma Salva-Vidas medíocre.

Não que eu não soubesse fazer outras coisas, já tinha sido atendente das mais diversas áreas que se possa imaginar, só para se ter uma ideia.

Mas entre ficar tendo que empurrar produtos – que eu provavelmente nunca poderia consumir, pelo valor – a goela abaixo o inverno inteiro ou ficar dentro de uma escolinha de natação com água quentinha, escolheria essa segunda opção.

– Vamos levar o seu currículo para o RH, muito obrigada Emmanuelle. – A moça (que parecia a dona do lugar) diz ao pegar o papel da minha mão.

Essa escolinha parecia tão pequena que eu duvido muito que eles teriam um RH aqui, mas agradeço com um sorrisinho.

Ótimo, acho que aquele foi o último do dia. E eu ainda teria que buscar a Lili na escola, e não seria nada mau tomar um banho antes. Tá certo que eu tinha um ótimo preparo físico, mas percorrer no mínimo cinco bairros inteiros de bicicleta poderia acabar com a dignidade de qualquer pessoa.

Guardo o restante dos meus currículos dentro da pasta enquanto me encaminho para o estacionamento, onde havia deixado minha bicicleta. Não consigo deixar de sorrir quando vejo o documento da guarda devidamente assinado por todas as partes envolvidas, no fundinho da minha pasta.  Eu ainda tinha muito o que fazer, arranjar um outro trabalho, me mudar, mas aquilo já era alguma coisa. Minha irmã estar em segurança já é tudo o que eu poderia querer.

Dou um sorriso amargo ao terminar de pensar naquilo. Óbvio que eu queria mais coisas da vida além disso, mas a Lili é tudo no que consigo pensar agora.

Já passa das cinco horas quando chego em frente ao nosso prédio térreo de kitnets. Parece tudo normal, até eu notar a presença de um homem de seus quase um metro e oitenta de altura, cabelos castanhos claros devidamente cortados, camiseta social e calça jeans parado quase na frente da nossa porta.  

Algo na cor do seu cabelo ou simplesmente na sua postura me faz achar o sujeito estranhamente familiar, mas eu não o reconheço até ele se virar na minha direção e... quando isso finalmente acontece, não consigo acreditar nos meus olhos.

– Pai? – O som da palavra me causa estranheza, afinal, eu nunca mais havia precisado utilizá-la.

– Será que podemos conversar?

 

– O que você veio fazer aqui, exatamente? – Pergunto depois de ter permanecido praticamente muda enquanto ouvia tudo e não parava de me perguntar, em pensamentos: “espera, isso está mesmo acontecendo?” “meu pai está aqui?”

Pelo o que eu tinha conseguido absorver, ele havia se mudado para o Rio de Janeiro depois que se separou da minha mãe, tinha se formado em arquitetura tardiamente e estava muito bem de vida depois de assinar um projeto milionário para alguém importante.

– Eu não podia simplesmente seguir a minha vida sem saber como você estava, Emma. – Ele diz o nome depois de eu ter o corrigido algumas vezes.

– Acho que você só está um pouco atrasado. – Aquelas suas últimas palavras me despertam do transe que eu parecia estar desde que sentamos nessa mesa, em um dos bares da praia.

É claro que eu só havia aceitado vir aqui porque o Vini disse que pegaria a Lili na escola.

– Onde você estava quando precisei consolar a minha mãe durante semanas, todas as noites, quando eu tinha apenas sete anos? Ou quando participei do meu primeiro campeonato de corrida, na escola, e ninguém estava lá para me ver vencer? Ou quando precisei cuidar da minha irmãzinha, porque ninguém mais o faria? Não... Onde você estava quando eu mais precisei de você? Quando, por sua causa, minha mãe teve que arranjar outro cara... um cara violento, homofóbico, machista ao extremo, porque ela simplesmente achava que merecia qualquer coisa depois que você foi embora? – Sinto vontade de chorar, mas não o faço.

Não porque eu estava segurando, mas acho que você fica anestesiada depois de um certo tempo, ou de certas coisas.

– Ou quando eu apanhei, e fui humilhada, diversas vezes? E me vi completamente sozinha, na rua, porque eu não tive outra saída para conseguir sair desse pesadelo? Onde você estava pai, onde... – Minha voz engasga e não consigo continuar.

– Eu era tão jovem, não pensei direito... – Sua voz sai embargada. – O que eu fiz não tem perdão, Em, eu sei. E nenhuma justificativa minha vai ser o bastante. Porque eu deveria ter feito mais, eu sei. Eu deveria ter tentado mais... Não tem como voltar atrás, eu sei, mas... eu estou aqui agora, para o que você precisar... minha filha. – Seus olhos se enchem d’água conforme ele pronuncia aquela última palavra.

Fico tentando processar o que aquilo significa, ou o que poderia significar, até porque aquilo era novo, e eu nunca tinha ouvido antes.

            – Faz algum tempo que eu encontrei o seu Instagram. – Ele comenta, provavelmente notando a minha resistência. – Tenho te acompanhado desde então... – Faz uma pequena pausa, avaliando o meu silêncio. – Você está namorando uma garota, certo? – Ele pergunta com certa cautela, mas algo na sua voz não denuncia reprovação. –

Ela é uma garota muito bonita. – Ele completa por fim, com um meio sorriso.

            – Eu e a Maria não estamos mais juntas. – É tudo o que eu digo.

            – Ah... – Ele começa a balbuciar alguma coisa, mas decide não continuar, talvez porque não soubesse o que dizer, até que resolve cortar o silêncio nada silencioso que havia se formado.

– Queria que você soubesse que eu percebia que você era diferente das outras garotas da sua idade, desde que você era muito pequena. – Ele diz e uma lágrima ameaça a brotar nos meus olhos, mas não o suficiente para cair. – Eu sempre aceitei você.

“Sempre aceitei você” repito mentalmente e acabo deixando escapar uma pequena risada debochada.  

– Isso meio que não conta muito quando você dá no pé e me deixa com pessoas que não me aceitam. Mais do que isso, que me detestam, que me machucam de todas as formas possíveis, pelo o que eu sou...  – Digo o que estava entalado na minha garganta e algumas lágrimas lavam o meu rosto...

E, principalmente, a minha alma.

– Me dê a oportunidade de fazer tudo diferente.

Dou uma risada seca com a ideia.

“Tudo diferente”

Eu já tinha vinte e um anos, muitos traumas e muita fortaleza dentro de mim, também. Era um pouco tarde para fazer tudo diferente. Mas tinha alguém por quem ele poderia dar uma outra vida e fazer a diferença, sim, e por essa pessoa eu passaria por cima do meu orgulho, dos meus traumas e da minha própria mágoa, por quantas vezes fosse preciso.

– Você tá querendo dizer que faria diferente, se pudesse voltar atrás? Se eu ainda fosse aquela Emma de sete ou oito anos? – Pergunto, determinada.

– Claro, Emma. Mas... eu sei que não posso fazer isso, mas...

– Na verdade, você meio que pode sim. – Vejo quando ele ergue uma sobrancelha, intrigado. – Tem alguém que você precisa conhecer.

 

xxx

 

Meses depois

 

Termino de guardar as minhas roupas dentro do meu armário novo – que era tão grande que eu realmente não duvidaria se acabasse parando em Nárnia, se quisesse – e depois me pego encarando as duas abas abertas do navegador, mais uma vez. Aquela era no mínimo a terceira vez em menos de vinte e quatro horas. De um lado, a página do alistamento para a turma do Corpo de bombeiros do próximo verão, do outro, a página de inscrição do vestibular da faculdade federal. Pensar naquele último cenário me deixa apavorada.  

A verdade é que parecia algo impossível de se decidir agora porque eu nunca tive a oportunidade de ter mais de uma opção, mas isso começou a se tornar uma possibilidade a partir do momento em que eu não precisei me preocupar com as contas não fechando todo o mês. Não que eu simplesmente tivesse deixado de ajudar, só já não era mais a minha maior preocupação.

Eu nem sequer saberia escolher uma opção de curso, apesar que eu também poderia me inscrever no Exame Nacional do Ensino Médio, onde não precisaria decidir o que cursar, pelo menos não agora.

Droga.

Levanto da minha escrivaninha, nervosa. Abro a porta da minha sacada e sinto a brisa batendo no meu rosto. Estamos em pleno inverno e o mar está bastante revolto, mas continua lindo, de qualquer forma.

Pego o meu celular e clico na última conversa do nosso grupo.

 

Júlia:

Como estão as coisas desde que o seu pai apareceu, Emma?

Maria:

Estamos com saudade da nossa Salva-Vidas preferida!

PS: Porque sim, você salvou as nossas vidas de diversas formas e por isso, para nós duas, você sempre vai ser.  

 

Sorrio ao encarar as mensagens por um segundo ou dois, até que começo a escrever uma resposta tardia:

 

Sei que já faz mais de um mês que vocês mandaram essas mensagens e que eu não respondi. Peço mil desculpas, mas a minha vida estava uma loucura e vocês se espantariam em como tudo mudou de lá para cá.

Bem, agora é oficial, eu tenho a guarda compartilhada da Lili. Você estava certa, Júlia, às vezes é possível haver uma concessão. Às vezes, ninguém precisa sair perdendo alguma coisa.

 

Sorrio, lembrando da nossa última conversa antes dela ir embora com a Sofia.

 

Ela basicamente mora comigo, mas se encontra com a minha mãe semanalmente. E não, não estamos mais naquela kitnet, meu pai se mudou para a cidade e eu vim morar com ele.

Sei o que vocês vão pensar, que foi precipitado, mas eu não podia pensar só em mim, eu tinha que pensar na Lili também, e com certeza isso é o melhor que eu poderia fazer por ela, pelo menos por enquanto.

E agora vem a melhor parte: lembra quando eu te contei sobre aquela casa que eu sempre sonhei em morar, Maria? Acontece que o meu pai a comprou e estou dormindo no quarto que sempre sonhei, aquele que tem varanda para o mar.

Dá pra acreditar?

Ainda estou tentando me acostumar com a ideia de ter um quarto só para mim, depois de tanto tempo. Noite ou outra eu ainda acordo durante a madruga tateando em busca do Vini pelo colchão, e depois relaxo lembrando que ele está bem, que está dividindo um apartamento de quarto e sala separados, com o Murilo. Se lembram dele, né? Pois é, parece que o namoro deles realmente engatou.

Enfim, a Lili também tem um quarto só para ela aqui. Meu pai projetou um cômodo incrível e contratou uma decoradora para fazer algo bem lúdico, para que ela se lembre todos os dias de que ainda é uma criança. Acho que minha irmã está se sentindo a própria Ariel acordando de frente para o mar todas as manhãs e, sinceramente, acho que eu também estou.

Eu até poderia mandar fotos pra vocês, mas acho que prefiro que vejam pessoalmente. Um motivo a mais para vocês voltarem, quem sabe?

 

Termino de digitar e guardo o celular. Está tão frio que acabo apertando o meu casaco com mais força em volta do meu próprio corpo. Estou fazendo isso quando sinto o aparelho vibrar na minha calça de moletom.

– Maria? Ai meu Deus o que você fez com o seu cabelo? – Pergunto, sorrindo, assim que a vejo quando atendo a videochamada que ela tinha feito no nosso grupo.

– Gostou? – Ela joga as mechas para trás, no melhor estilo “Maria de ser”.

– Tá gata. – Brinco com ela, sorrindo.

– Viu, amor? Eu falei que todo mundo ia gostar. – Ela se vira para a namorada, que começa a ocupar o espaço na tela ao lado dela.

– Que todo mundo ia gostar eu sei, esse é o problema... – A Júlia revira os olhos e pisca para mim. – Mas conta tudo pra gente, Emma... Como foi tudo isso e... como estão as coisas com o seu pai?

– Bem... Ele tem trabalhado bastante, então eu quase não o vejo, pelo menos, não durante a semana. Mas ele tem se esforçado, sabe? Leva eu e a Lili para comermos pizza quase todo o fim de semana. – Sorrio, lembrando.

– Isso é ótimo, Em... – A Júlia diz parecendo verdadeiramente feliz por mim.      

– Mas e a Ariel aí? Já achou uma Bela Adormecida para dividir a cama desse quarto incrível? – Minha amiga pergunta com um sorrisinho atrevido.

– Sofia! – A Júlia repreende a namorada e depois sorri.

– Não precisa responder, Em... – A Maria me envia um sorriso compreensivo.  

– Não... tá tudo bem... – Faço uma pequena pausa enquanto olho para baixo por um breve momento. – Não... quer dizer, eu até fiquei com algumas meninas aqui e ali, mas não foi nada sério depois de... – Paro a minha linha de raciocínio ao lembrar da presença da Júlia naquela videochamada. – Acho que a Ariel não teria tempo para ir atrás de macho, ou de mulher, se tivesse uma irmã para cuidar, ou contas para pagar. Aqui “se trabalha o dia inteiro...”, lembram? – Decido levar na brincadeira.

Mas aquilo não era uma desculpa, pelo menos não completamente. Minha cabeça esteve ocupada demais para pensar além de causas judiciais, empregos, contas a pagar, ou levar e buscar a Lili na escola.

Claro que o meu término com a Maria também não tinha facilitado as coisas. Acho que tinha mantido a minha mente focada em superar, e não indo atrás de uma outra pessoa para me ajudar com isso.

Mas quem sabe não poderia ser tudo diferente agora, afinal, já estava sendo.  

– Justo. – A Maria parece satisfeita com a minha resposta, pelo menos, por ora.

– Mas e vocês, hein? Já estão pensando em voltar para o Brasil? – Pergunto, esperançosa.

Eu ainda via o Vini frequentemente, e o Murilo também, mas era diferente.  

– Nós vamos assim que terminarmos de gravar o primeiro clipe da Júlia. – A Maria sorri, visivelmente animada. – Provavelmente ainda vai demorar mais algumas semanas.  

– Nossa, isso é... o máximo. – Vibro, empolgada.

– Acho que a vida realmente me deu uma segunda chance, no final das contas. – Reconheço quando a Júlia menciona algo que tinha dito na nossa conversa, na praia, e sorrio.

– Acho que eu posso dizer o mesmo da minha. – A gente compartilha mais um sorriso.

– Droga, a gente vai ter que desligar agora. – A Sofia diz assim que escuto uma batida na porta do outro lado da linha.

– Tudo bem, também preciso resolver algumas coisas. – Comento.

– Por favor, nos mantenha informada de tudo. – A Júlia pede.

– Pode deixar. – Digo um pouco antes de desligar a ligação e voltar para o meu quarto, mais especificamente para as abas do meu navegador.

A ideia de continuar no que eu conhecia era tentadora, até porque o valor que eu ganharia provavelmente daria para eu me manter agora, com umas cinco contas a menos para pagar. Mas eu nunca saberia o que é ter uma vida realmente diferente se eu não tentasse.

Começo a preencher a inscrição para o Exame Nacional com o básico:

Nome completo: Emmanuelle de Oliveira Soares

Nome da mãe: Ângela de Oliveira Ferreira

Nome do pai: Augusto Soares Magalhães  

 

“Página seguinte”

 

Eu estava acostumada a salvar as pessoas. Minha irmã, tentando evitar que ela tivesse o mesmo destino que eu tive; minha mãe, tentando fazer de tudo o que estava ao meu alcance para que ela se visse livre do Marcus; as pessoas do meu trabalho, sendo a Maria uma delas; os meus amigos, dando conselhos. Mas acho que já está mais do que na hora de começar a viver a minha vida e usufruir de tudo o que ela pode me oferecer.

Mas se eu precisasse continuar salvando vidas, que eu voltasse a salvar a minha.

 

Fim do capítulo

Notas finais:

 

Boa noite, Sojuers do meu coração! 

E aí? Vocês esperavam por esse capítulo?

Sinceramente, eu não conseguia pensar no final dessa história sem pensar em dar um final digno para a Emma, por isso, achei que ela precisava muito de um último POV.

Tenho que dizer pra vocês que já está muito difícil dizer adeus pra essa história, e essa foi a minha primeira despedida dolorosa. Doeu demais me despedir da Emma (ela ainda aparece na história, mas esse foi o último capítulo narrado por ela em ENEAMT).

Emma pode até ser uma personagem secundária, mas ela tem uma força incrível, e tenho certeza de que ela fez muita diferença para ENEAMT, assim como fez para mim!

O que vocês acharam desse primeiro "final de história"? 

Decidi não colocar um par romântico para ela nesse momento, porque acho que ela precisava de mais "finais felizes" do que apenas encontrar uma garota. 

Mas venho pensando muito em fazer um Spin-off onde ela protagonizaria uma história de amor (com hots e tudo o que temos direito hahaha) O que acham da ideia?? 

Ah, e o que acharam das menções de Soju? Prometo que elas ainda vão aparecer oficialmente e ter momentos só delas, mas quero deixar um pouco de suspense no ar até lá hahaha

AAAH E UMA PERGUNTINHA IMPORTANTE: O que vocês acham que a Sofia fez no cabelo? Pintou? Cortou curtinho? Colocou algum aplique? Fez Sidecut??

Ainda teremos uns 2 ou 3 capítulos pela frente. Vão ser 3 se eu realmente conseguir fazer o POV que pretendo fazer hahaha

Espero que fiquem comigo até o final, hein?

E não esqueçam de favoritar a história!

E de me favoritar como autora!

E de comentar! 

Como vocês já sabem, leio todos os comentários e fico extremamente feliz com cada um deles, com todas as teorias e por todo o carinho. Além de ser, de fato, o melhor termômetro para me ajudar a saber e entender como a história está chegando para vocês! Ainda mais se tratando de uma reta final!

Mais uma vez, obrigada por estarem comigo durante todo esse tempo! De verdade mesmo!

E obrigada pelas leitoras/leitores que estão chegando agora!

Obrigada pelos comentários, pelo engajamento, pelo carinho e por tudo!

Então é isso, até o capítulo 45! 

 


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Comentários para 46 - Capitulo 44 – Concessão:
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Em: 21/02/2025

Ai eu tenho um apego pela Emma... Poderia ter um livro inteirinho sobre ela, no fim eu sempre fui team Emma, kakakak

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S2 jack S2
S2 jack S2

Em: 17/11/2024

Mas venho pensando muito em fazer um Spin-off onde ela protagonizaria uma história de amor (com hots e tudo o que temos direito hahaha) O que acham da ideia?? 

Isso seria PERFEITOOOOOO!!! Eu estava pensando justamente nisso enquanto lia o capítulo, até já estava rascunhando um comentário, veja:
Eu acho que um Spin-off da histórica focado na Emma, seria maravilhoso. Ela encontrando uma mulher legal, de preferência com o dobro da idade dela, e elas ficando juntas e felizes para sempre…rsrs

Responder

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patty-321
patty-321

Em: 13/11/2024

Super feliz com essa nova vida da Emma, ela merece muito.

Responder

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Brescia
Brescia

Em: 12/11/2024

.     Boa noite autora.

Foi bem legal saber que a Emma finalmente encontrou a paz e o pai para dar segurança.

O cheirinho do final já está no ar.

Responder

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Mmila
Mmila

Em: 10/11/2024

Emma com um final merecido.

Soju felicíssimas.

Sim, tá tudo muito bem.

Que venha esse três capítulos finais.

Adoro!

Responder

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Zanja45
Zanja45

Em: 10/11/2024

E aí? Vocês esperavam por esse capítulo?

RESP.: Sim, já cogitava que você trouxesse, porque, Emma teve grande importância, junto com os personagens principais. Como você, que esses últimos capítulos, seriam pra amarrar as pontas soltas. Logo, quando você disse que nesse episódio e no próximo seriam narrados por pessoas distintas. - Que não a Júlia e a Sofia. -, então, primeiramente, pensei na Emma, pela história dela junto as protagonistas que encabeçam a trama. - Porque se iriam saber notícias das duas, por que não por alguém que é amiga de ambas. E que de certa forma deu a contribuição dela para que Sofia e Júlia se acertassem. Todavia, apostei na Marta, nesse episódio, porém, descartei,, mais a frente, porque você ainda não havia decidido da enfoque ao ponto de vista da Marta( Justamente pela mãe de Sofia ser uma tremenda filha da puta, por que dá crédito a ela no final?). Sendo quem contribuiu verdadeiramente para a história do casal foi a Emma? Por isso, pela estória da Emma, havia a necessidade de conclusão do enredo que recaia sobre ela e a família dela, respectivamente. Portanto, foi bem cabível, essa narrativa, amei que ela consegui a guarda compartilhada da irmã, que o pai dela regressou pra vida dela, foi capaz de acrescentar, apesar que primeiramente subritraiu da vida dela -  quando a deixou a mercê de uma tresloucada e um padrasto abusivo e homofóbico-. Entretanto, valeu pelo final feliz que ela teve, junto com Lili e seu pai Augusto. ( O sonho que a mesma projetou lá pra sua vida enquanto ela tinha apenas 8 anos de idade se concretizou - A casa dos sonhos dela, enfim ela conquistou, pode desfrutar, depois de tanto perrengue e sofrimento- ). Queria dizer que a vida não é um mar de rosas, nem as coisas acontecem com num passe de mágica, como acontecem nos filmes, livros e romances, mas quem não queria uma vez na vida, tirar uma sorte grande. Como no caso da Emma, que o pai foi embora, estudou, consegui ter condições de dar um futuro melhor pra ela.

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NovaAqui
NovaAqui

Em: 10/11/2024

Gostei do final da Emma, mas colocaria uma pessoa no radar dela. Só uma aparição para nos deixar curiosa antes do spin-off

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Zanja45
Zanja45

Em: 10/11/2024

Boa noite, Sojuers do meu coração! 

RESP.: Boa noite, Alina! 

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