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Artem por Maysink

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Palavras: 3310
Acessos: 901   |  Postado em: 24/10/2024

Capitulo IX

— Quero acreditar que você não foi imprudente o bastante para ir atrás de Mathias DuCaine, por puro capricho! – Adélia exclamou nervosa, entrando pela porta da minha casa assim que a abri. Ela avançou pelo hall com passos rápidos e carregados de uma urgência impactante. O perfume característico de morango e cravo sobrepujava o ar com uma propriedade absurda, quase como se, na verdade, aquele lugar fosse dela e não meu.

— O que posso dizer? Ser impulsiva faz parte do meu charme latino! – desdenhei, olhando sua feição indignada. Adélia estava em pé no meio da sala, com uma feição rígida, e a tensão no ambiente não diminuía em nada o impacto que sua beleza tinha sobre mim. Ela estava vestida como uma típica badgirl: a calça jeans preta justa acentuava as curvas de suas coxas, trazendo as lembranças de nós duas juntas na minha banheira, de algumas noites atrás. A jaqueta de couro marrom conferia-lhe um ar perigoso e desafiador. 

— O que aconteceu até agora, não foi o suficiente para manter distância daquelas duas cobras, Eva? – perguntou, frustrada. Sua exaltação quebrou qualquer resposta atrevida que estivesse na ponta da minha língua. Eu sabia que tinha sido negligente em mantê-la no escuro sobre minha audaciosa investida, indo até um dos DuCaine, mas não esperava que Adélia descobrisse assim tão rápido. Apenas três noites haviam se passado desde o fatídico jantar.

— Diosa, eu precisava fazer alguma coisa! – respondi, tentando transmitir minha insatisfação, embora tivesse soado mais como uma birra patética. Adélia disparou palavras enraivecidas num idioma vagamente familiar. Suas mãos se moviam frenéticas, parecendo agitar o ar ao seu redor. Sua preocupação genuína, apesar de tudo, aquecia meu coração.

— O que faço com você, Eva Graham?! – exclamou, aborrecida, ao notar meu sorriso extasiado em sua direção. Era uma sensação estranha, ser o centro de tanta atenção e cuidado, ao mesmo tempo, era reconfortante saber que, apesar de tudo, havia mais alguém ao meu lado, disposta a me proteger.

— Prometo pensar com cuidado nas opções. – brinquei, mas a inquietude em seus olhos me fez perceber o quanto ela realmente estava preocupada. 

— Pelo menos conseguiu algo? – perguntou, com o olhar curioso e um franzir intenso entre as sobrancelhas.

— Nada substancial que possamos usar. Mathias é extremamente cuidadoso e não revelou nada que não fosse de ampla interpretação. – respondi, cansada. — Minha esperança é que, eles sabendo que estão sendo observados, acabem cometendo algum erro.

Adélia suspirou, os ombros relaxando um pouco enquanto a tensão no ambiente diminuía. Sua expressão amedrontada deu lugar a uma mais suave, embora ainda houvesse um resquício de frustração insistente.

— Espero que sua intuição seja tão afiada quanto o seu charme. – disse, me oferecendo um sorriso curto e encantador. Depois de um breve silêncio, Adélia trocou o peso de um pé para o outro, demonstrando certa ansiedade. — Eva, eu gostaria de te fazer um convite!

— Jura? – perguntei, meio confusa e curiosa. A mudança de assunto tão repentina me causou certa desconfiança.

— Sim. – sorriu com entusiasmo comedido. — Minha avó está na cidade outra vez, e eu adoraria que você fosse vê-la comigo. Ela está muito empolgada com nosso projeto e tenho certeza de que ficaria encantada em te conhecer.

A ideia de conhecer alguém tão importante para Adélia me deixou instantaneamente inquieta. Saber do imenso carinho dela com a avó, só intensificava meu nervosismo. Eu gostaria de não ser uma mulher marcada pelos erros de um passado sombrio, mas a realidade era diferente. Eu sabia que, para ela, aquela reunião era mais do que um simples encontro. Era uma forma de me inserir na sua vida. Assenti meio incerta recebendo em troca um sorriso largo e satisfeito. Foi em seu olhar esperançoso que encontrei a coragem necessária para enfrentar meu receio.

Na tarde daquele mesmo dia, ambas estávamos dentro do carro de Adélia a caminho da residência dos Zwane. A proximidade do inevitável encontro fazia meu sangue correr mais rápido, vibrando de ansiedade. A vista da entrada imponente da propriedade fez meu estômago se contrair de expectativa. A imagem de uma mulher nos aguardando na porta de entrada, aumentou minha inquietação. Não precisei de muito para reconhecer que era a mãe de Adélia, tendo em vista a semelhança entre as duas. Embora eu temesse nossa primeira interação, fiquei bem surpresa quando Dyhia Zwane me cumprimentou calorosamente, sem tentar qualquer contato físico. Não podia negar que um alívio profundo me envolveu com o gesto cuidadoso, que eu sabia ter vindo de Adélia.

Depois da recepção acolhedora, fomos conduzidas para o interior da residência. A elegância dos detalhes da decoração não passou despercebida pelos meus olhos atentos. O ambiente exalava bom gosto e sofisticação, mantendo, no entanto, uma sensação acolhedora de lar. Apesar da opulência evidente, eu me sentia estranhamente à vontade. Depois de uma conversa trivial, Dyhia nos deixou no jardim impecavelmente bem cuidado enquanto aguardávamos a chegada da matriarca Zwane. 

Aproveitando que estávamos a sós, Adélia me contava várias histórias de sua infância que foram vivenciadas naquela casa. O clima leve e descontraído ajudou a suavizar um pouco da minha aflição. Contudo, nada se preparou para o impacto causado pela chegada da senhora, que se aproximava vagarosamente em nossa direção. 

Aquela senhora possuía uma semelhança assustadora com a mulher que havia me amaldiçoado. 

Embora séculos pudessem ter se passado, a lembrança do rosto de Ashia permanecia nítida em minha mente. Se eu não a tivesse visto desaparecer em meio às chamas, poderia jurar que era ela que estava ali diante de mim, sorrindo com uma cordialidade inquietante.

Enquanto a matriarca Zwane se aproximava sob um caminhar lento e majestoso, meu mundo pareceu desacelerar. Cada passo dela reverberava ecos de memórias passadas que eu lutava bravamente para esquecer. Quanto mais próxima ela ficava, mais a semelhança com Ashia se tornava inegável, e uma confusão sem igual me envolveu completamente. Aqueles segundos pareceram condensar anos do meu sofrimento, e me vi paralisada, tomada por uma estranha mistura entre pavor e perplexidade. O sorriso suave da avó de Adélia e seu olhar acolhedor nos observava com uma combinação única de empatia e paciência. Quando ela finalmente se posicionou à nossa frente, eu enfim consegui reunir coragem para encarar o que parecia ser um reencontro com o meu passado.

— Ìyá àgbà¹, essa é Eva Graham! – disse Adélia, beijando respeitosamente ambas as mãos da mulher, que a observava com imenso carinho. A avó de Adélia olhou para mim com uma expressão afetuosa, despertando certa nostalgia em meu coração. Eu me sentia flutuar entre o passado e o presente, como se o tempo se dobrasse ao nosso redor. — Eva?! – fui despertada pela voz preocupada de Adélia, que me olhava com estranheza. Engoli em seco totalmente nervosa.

— Peço desculpa pela indelicadeza, mas a senhora se parece muito com alguém que eu conhecia. – minha voz soou, quase inaudível, mas cheia de uma descrença palpável, com uma pitada de desespero. Esses sentimentos se intensificaram com o brilho de divertimento nos olhos da versão mais velha da minha falecida ex amiga.

— Não há necessidade de se desculpar, querida. – sua voz soou com uma calma e um entendimento que pareciam querer desafiar minha ansiedade. — Às vezes, o tempo tem desejos misteriosos e acaba brincando com as coincidências. – assenti ainda meio incerta e perdida. O universo realmente devia me desprezar, não era possível. 

A matriarca Zwane nos guiou gentilmente até uma área mais tranquila do jardim, onde um banco à sombra oferecia um refúgio para nossa conversa. Adélia se sentou ao meu lado, alheia ao meu tormento interno. Apesar da primeira impressão desconcertante consegui interagir decentemente com a velha Zwane. Elyra era seu nome. Ela era uma mulher muito espirituosa, me fazendo notar de onde Adélia havia herdado sua personalidade tão voluntariosa. Passamos uma tarde incrível, repleta de lembranças, e eu mal notei quando toda aquela aflição inicial havia se dissipado totalmente. 

Foi somente quando Adélia estava se despedindo da mãe que o clima ganhou uma atmosfera totalmente diferente. A avó de Adélia tocou minha mão e ao contrário do que esperei, não houve nenhuma reação, nenhuma lembrança dolorosa. Nenhuma consequência da maldição que me assombrava. O silêncio emocional até me fez duvidar se em algum momento estive sob os efeitos do meu castigo eterno. Olhei-a meio desnorteada, e totalmente despreparada ao me ver refém de seu olhar tão denso e profundo, era como se ela estivesse vendo minha alma. Vendo Helena e não Eva ali.

— Não se martirize pelo que passou. – entoou com uma voz baixa e enigmática. — Aquele que admite suas faltas não as paga por muito tempo².

Antes que eu pudesse fazer qualquer pergunta, a mulher rompeu nosso contato no exato momento que Adélia retornou para onde estávamos. O semblante de Elyra, antes sábio e ancestral havia desaparecido completamente, dando lugar à feição acolhedora. Ainda desorientada me despedi da mãe e avó de Adélia, seguindo em completo silêncio por todo o caminho até minha cobertura. As palavras de Elyra Zwane martelavam sem parar na minha cabeça, junto ao fato de seu toque não ter tido qualquer efeito sobre mim. Parecia uma brincadeira de mau gosto do universo, que a única pessoa que pudesse me tocar, sem me jogar numa espiral de sentimentos indesejáveis, fosse justamente aquela que carregava uma semelhança absurda com a que me amaldiçoou. Será que ela havia tirado a maldição de mim? Será que tudo o que passei até aquele momento foi apenas fruto de uma auto sabotagem? Em meio a tantas perguntas, me dirigi até a pequena cristaleira que ficava na ante sala da minha casa, logo em seguida me servindo de uma generosa dose de tequila. 

— Meu bem, você está começando a me assustar. – ouço a voz cuidadosa de Adélia. Por um instante havia me esquecido completamente de sua presença, mas quem poderia me culpar. Em todos esses séculos, eu nunca havia vivido uma situação tão peculiar quanto a que passei com sua avó. 

— Me perdoe, diosa, minha mente foi longe. – segredei, vendo sua feição tão bonita se preencher de confusão.

— Quer compartilhar comigo? – ofereceu, cautelosa. Suspirei longamente enquanto ponderava se aquela seria uma boa oportunidade de ser totalmente sincera com Adélia. Muitas dúvidas ainda permeavam minha cabeça, mas a decisão já tinha sido tomada. A mulher à minha frente merecia a verdade. Olhei o fundo do copo em minhas mãos, tomando de uma vez o restante do líquido em busca de coragem para contar aquela história tão antiga e dolorosa. 

— Antes de começar, quero deixar bem claro que entendo qualquer reação extrema que possa ter, principalmente sendo descrença ou negação. Por isso, te peço que por favor me deixe falar tudo antes de qualquer conclusão que possa ter. – digo tudo de uma vez, antes que eu pudesse perder a coragem. Os olhos atentos de Adélia fixaram em mim, com verdadeira curiosidade. Somente quando a vi se sentar em uma das poltronas, me virei novamente para o aparador para nos servir mais uma dose, agora de whisky. — Meu nome real é Helena Aldana. – revelei enquanto entregava-lhe o copo que ela bebeu de uma vez, antes de repousá-lo sobre a mesa num gesto bruto. 

— Você está em algum programa de proteção a testemunha, é isso? – perguntou soando preocupada. A hipótese me arrancou um riso nervoso, visto que a ideia era absurdamente distante da realidade.

— Não. É um pouco mais complicado, devo confessar. – brinco tentando disfarçar minha inquietação. A verdade amargava minha boca de um jeito que nem mesmo o sabor do líquido âmbar conseguia suavizar. — Há algum tempo eu fui amaldiçoada. – minha frase provocou um riso descrente nela, e eu não a culpava. Em outras circunstâncias, também teria reagido assim ao ouvir algo tão absurdo.

— Adélia! – repreendi, com frustração.

— Me desculpe, continue. – ela pediu, a curiosidade agora tomando conta de seu olhar.

Então, contei cada detalhe da minha história: falei sobre Ashia, a maldição e seus efeitos, sobre como vivi séculos à mercê das consequências das minhas escolhas. Enquanto narrava, observei o rosto de Adélia passar por várias expressões: desconfiança, medo, desespero, descrença. Mas em momento algum vi a que mais temia, a do julgamento. De certa forma, senti-me aliviada. Não apenas por compartilhar a verdade depois de tanto tempo, mas principalmente por ela não ter reagido com incredulidade, ou ido embora me deixando falando sozinha Após longos minutos de silêncio, Adélia se levantou e se serviu de outra dose de bebida. Mais uma que ela consumiu rapidamente, antes de voltar seu olhar intenso para mim.

— É quase inacreditável tudo o que você está me contando, sabe disso, não é? — declarou, com um tom meio sarcástico. Assenti, um pouco sem graça. — Desculpa se pareço cética, mas você tem como provar isso?

Dei um suspiro longo e doloroso, acenando para que ela me seguisse. Havia um cômodo na minha casa que eu evitava com todas as minhas forças, repleto de memórias de uma vida que eu queria esquecer — mesmo que isso fosse impossível. 

Depois contar minha história a Thomas, ele teve as mesmas dúvidas e decidiu reunir qualquer evidência que confirmasse o que eu dizia. Naquele momento, fiquei um pouco ofendida, mas depois percebi que aquilo havia sido importante. Juntos, conseguimos não apenas compilar tudo que pudesse me dar respaldo, mas também dificultar que outras pessoas encontrassem essas informações.

Dentro daquele quarto, havia fotos, jornais, cartas e outras evidências da minha longa existência. Adélia entrou com certo receio, mas assim que viu um antigo retrato meu, pintado a óleo e datado de quase dois séculos atrás, sua hesitação desapareceu. Ela começou a remexer em tudo ao seu alcance, a curiosidade superando seu medo inicial.

— Por que você está me contando isso só agora? — ela perguntou, após uma minuciosa investigação.

— Sua avó… é muito parecida com Ashia. E ela fez algo que, em todos os meus séculos de existência, jamais aconteceu. — revelei em um tom suave. — Ela me tocou e eu não senti nada. Pode parecer loucura, Adélia, mas não creio que seja apenas uma coincidência.

— Você acha que ela pode ser algum tipo de reencarnação ou algo do tipo ? 

–- Eu sinceramente não sei o que pensar. – suspiro pela milésima vez. — No entanto, tem uma hipótese martelando em minha cabeça. – digo. 

— Qual? – questiona, curiosa. 

— E se… ela tiver conseguido romper a maldição? – a ideia ecoa em mim, como uma possibilidade que parece tanto fascinante quanto aterradora.

— Ela fez mais alguma coisa além de te tocar? — perguntou, enquanto eu tentava recordar as palavras que Elyra havia me dito. Adélia ouviu atentamente, e após um longo momento de reflexão, emendou: — Só tem um jeito de sabermos. Você pode me tocar.

— Não sei se é uma boa ideia.

— Helena, por mais desconfortável que isso me pareça agora, você já me tocou uma vez. Isso te dá uma ideia do que vai sentir. — me assegurou. — Você só vai saber se tentar.

Ainda cética, não tive como não concordar. Havia apenas uma maneira de confirmar minha suspeita, e ela envolvia um simples toque. Vendo minha concordância, Adélia se aproximou lentamente, com um sorriso encorajador ao estender sua mão direita em minha direção. Hesitante, meu coração disparou enquanto observava sua mão. A proposta parecia ao mesmo tempo simples e aterrorizante. E se a maldição que me assombrava por séculos ressurgisse com toda a sua força? Adélia, percebendo meu nervosismo, sorriu com uma confiança serena,  como se pudesse dissipar meus medos apenas com isso.

— Não precisa ter medo.

Com um último suspiro profundo, decidi arriscar. A ponta dos meus dedos tocou sua pele macia e quente. Um instante de silêncio passou, e o mundo ao nosso redor pareceu congelar. Fechei os olhos, alimentando um fio de esperança de que eu estivesse errada e não sentisse nada, mas em poucos segundos, a onda de dor e desespero que sempre acompanhava o contato surgiu com força. Um calor desconfortável se espalhou por mim, como se a luz do sol estivesse queimando minha alma. A maldição, aquela presença opressiva, estava ali. Viva, pulsante. A sensação era tão densa e sufocante que precisei abrir os olhos. Adélia me observava, atenta, seu olhar misturando preocupação e curiosidade.

— Está… tudo bem? – perguntou, um brilho de esperança em seus olhos, que se apagou instantaneamente quando tirei minha mão da dela abruptamente, ofegante. Afastei-me, com o coração acelerado e a respiração entrecortada. A dor pulsava em mim, uma lembrança vívida do sofrimento de Adélia, trazido pela maldição. O calor insuportável, se espalhava como chamas, consumindo as faíscas de esperança que tentaram florescer.

— Não… não estou bem, Adélia. – murmurei, a voz trêmula. — A maldição… ela… não me deixou. – o semblante de Adélia escureceu ao ouvir essas palavras, a preocupação rapidamente ganhando espaço.

— O que isso significa? O que você sentiu? – perguntou, temerosa. 

— Eu não quero ter que falar sobre a sua dor, Adélia. — respondi, sentindo lágrimas se acumularem nos meus olhos. — É como se ela estivesse viva, vibrando dentro de mim. – olhei-a com compaixão e empatia dolorosa. —Você é tão forte, Diosa. Eu sinto muito que tenha passado por tudo isso. 

Adélia deu um passo para trás, seus olhos nublados e fixos em mim. — Não precisa se sentir assim por mim, Helena. 

— Eu sei, mas é difícil não sentir. Essa maldição faz a sua dor se entrelaçar à minha. — a sensação de impotência me esmagava.

Ela respirou fundo, tentando se recompor. — Precisamos ir até minha avó, de novo. Talvez ela possa saber como quebrar essa maldição. — disse Adélia, a determinação ressurgindo em seu olhar.

— Não acho que vá resolver alguma coisa. Eu passei anos procurando qualquer coisa que pudesse me ajudar e aqui estamos. 

Adélia me encarou intensamente, como se quisesse ver além da minha frustração. — Helena, talvez a resposta não esteja em livros ou feitiços, mas dentro de você mesma. Minha avó disse que você precisa se perdoar. Talvez esse seja o caminho.

Senti um nó se formar em minha garganta. O conceito de perdão sempre me pareceu tão distante e ambíguo. — Como posso me perdoar por algo que sinto que não tem perdão?

— A primeira coisa é aceitar que você é humana. – respondeu, dando um passo para mais perto de mim. — Isso significa que cometemos erros, e o que importa é o que você faz com eles agora.

A ideia de que não precisava ser definida pelo meu passado e que havia um caminho para a cura era nova e assustadora. — E se eu não conseguir? E se a dor for a maior parte do que sou?  

— Se você deixar, a dor pode ser uma parte da sua história, mas não precisa ser sua única identidade. – suas palavras me atingiram com uma força inesperada. 

 

O peso da dor ainda estava presente, mas a noção de que eu poderia escolher como carregar aquele fardo começou a germinar em minha mente. Olhei em seus olhos, buscando o amparo que ela sempre conseguia transmitir, mesmo nas horas mais sombrias. O calor de sua presença era como uma âncora em meio à tempestade. O que antes parecia um labirinto sem fim agora se tornava um caminho claro. A dor ainda estava ali, mas, pela primeira vez, a ideia de superá-la não parecia tão inatingível. Eu estava disposta a tentar. E mais do que isso, estava pronta para aceitar que a jornada de cura era tanto sobre as cicatrizes que levava quanto sobre o apoio daqueles que viam o melhor de nós, quando não conseguíamos enxergá-lo sozinhos.

Fim do capítulo

Notas finais:

¹Minha avó, em yorubá 

²Ditado yorubá


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