CAPÍTULO 60 – LIÇÃO 53: RECONHEÇA SEUS ERROS
Naquela lição de ficar atenta aos sinais, eu fiquei de final e reprovei. Falhei miseravelmente. Não vi o que os sinais me diziam, aliás, quem for me dar sinais, favor enviar algo mais claro e impactante, por que sutileza comigo parece não funcionar, interpretar mensagens subliminares, muito menos. Não sou sensitiva, nem inclinada a pressentimentos, se o fosse, não teria embarcado naquele voo para Ribeirão. Foi uma das minhas piores decisão de vida que tomei, e olhe que eu tenho um histórico gigantesco de péssimas escolhas, mas, não me lembro de uma mais idiota do que essa.
Tive a verdadeira noção disso, quando abri os olhos naquele quarto de hospital e com a visão meio turva identifiquei Marcela se aproximando de mim. Ela sacou uma lanterna do bolso do jaleco, abriu meus olhos um de cada vez, apontando a luz e rapidamente se afastou. Poucos segundos foram suficientes para me fazer voltar o filme da minha memória e me situar no contexto.
-- Marcela... Eu...
-- Você está bem, como estava inconsciente, foi trazida para o hospital vizinho, apenas para seguir o protocolo, por precaução.
Marcela foi ríspida, falou enquanto digitava algo no tablet. Eu tentei me mover para sentar, e percebi que estava com um colar cervical, e com dores no peito, gemi de dor, e logo minha médica explicou:
-- Você deve sentir algum desconforto no tórax, e no pescoço, já fizemos todos os exames, não há fraturas, ou qualquer complicação, você foi atingida pelos airbags, pelo que estou vendo, está tudo bem.
Insisti tentando me sentar, eu precisava ver Marcela para conversar e tentar entender o que ela pensava sobre aquela situação, mas, não conseguia me mover sem emitir gemidos.
-- No soro que está instalado, tem analgésicos, logo vai diminuir essas dores, que são musculares, você deve apresentar alguns hematomas também, mas, de novo, está tudo bem com você. Ah! Sua amiga, está resolvendo as coisas com a locadora do carro e a seguradora, caso você esteja preocupada com isso.
O tom da voz de Marcela foi o prenúncio de que o verdadeiro impacto eu ainda estava para sentir, certamente não sairia só com hematomas e desconfortos.
-- Marcela, precisamos conversar...
-- Precisamos? A meu ver, não temos. Meu envolvimento com essa situação aqui, acaba agora. Você está liberada, assim que acabar esse soro. Deixei as prescrições no sistema, a enfermeira vai lhe orientar.
--Marcela, para!
Concentrei minhas forças para emitir um berro, e me levantar daquele leito, o que fez com que as dores no meu peito se intensificassem, e eu perdesse o equilíbrio, sendo socorrida por Marcela que me segurou agilmente. Encontrei seus olhos, e para meu desespero, eu não enxergava mais brilho, ou qualquer outro sinal da paixão que eu via desde que a conheci há mais de uma década.
-- Fica nessa cama, não seja mais estúpida, Luiza!
A exortação de Marcela vinha acompanhada de mágoa, raiva e revolta. Enquanto eu me acomodava de novo no leito, dessa vez, sentada, por que a médica, elevou a cabeceira do leito, eu procurava as melhores palavras para começar uma conversa que não seria nada fácil.
-- Eu sei que fui estúpida.
-- Estupidez é o menor dos delitos que você cometeu hoje... O que você tinha na cabeça, Luiza?
-- Eu posso explicar, Marcela.
-- Claro que você pode! Você é a professora doutora Luiza, você tem explicação pra tudo!
O sarcasmo de Marcela mostrava sua face, mas não era o sarcasmo que me feria, eram seus olhos marejados e sua voz trêmula.
-- Mah... Eu fui uma idiota, em uma proporção que eu nem sabia que era capaz...
-- Luiza, mente pra mim... Por favor, minta. Inventa uma história, nem precisa ser perfeita, talvez seja mais fácil eu conviver com uma desculpa esfarrapada do que a verdade óbvia.
Juro que por alguns segundos até tentei concatenar mentalmente uma história que mascarasse o que eu tinha feito, isso só me deixou mais nervosa, a ponto de me dar um ataque de risos, coisas da velha Luiza... Rir compulsivamente quando está nervosa. Aquilo despertou a ira de Marcela, por que ela me conhecia, e a tirou daquele momento de vulnerabilidade.
-- Deixa pra lá, não acredito mais em você. Eu preciso voltar para meus pacientes, você já está bem o suficiente.
-- Marcela, espera! Não vá, eu preciso que me ouça.
-- Você precisa que eu te escute, mas, eu não preciso te ouvir. Tudo o que você vai me dizer é perfeitamente dedutível, e a julgar pelo seu nervosismo, pode ser até pior do que eu já deduzi, então Luiza, eu não vou ficar aqui para aumentar minha decepção com você. Tenho pacientes me esperando, estou super atrasada por que fiquei aqui cuidando de você, e não é por que me preocupo com você que fiquei aqui, só fiz isso para diminuir as especulações que já estão tomando de conta dos corredores da minha clínica, por que a Amanda, a funcionária que sua amiga estava fudendo naquela garagem, está apavorada com a inquisição da Paula...
-- Marcela, eu sei que errei, muito, mas eu preciso que me escute, eu fiquei insegura, me deixei levar pelas coisas que ouvi da Paula...
-- Chega, chega, Luiza, você me ouviu? Sabe o quanto você em expôs? Sabe o quanto estou me sentindo humilhada? Minha própria namorada me espionando, em conluio com uma amiga que claramente está fazendo de tudo para que você volte para sua ex-namorada, usando uma pessoa de minha confiança, enquanto eu estou me matando de trabalhar pra voltar mais cedo pra te encontrar!
-- Marcela eu não tive intenção nenhuma de te magoar, muito menos te humilhar, te prejudicar...
Cada palavra que eu dizia me feria, por que eu estava começando a olhar pelos olhos de Marcela o que tinha acontecido ali, comecei a me colocar no lugar dela e amargar a dor que eu a tinha causado.
-- E qual era sua intenção? Provar seu amor? Presentear-me com uma surpresa?
-- Você não é sarcástica, para com isso.
-- Não sou sarcástica, e também não sou mentirosa, desonesta e frívola. Então eu não consigo entender o que te fez agir assim... que papelão... Eu achava que estava apaixonada por uma mulher inteligente e madura, aliás, sempre foi assim que te vi, desde que era apenas, minha professora. E anos depois, você age furtivamente para me espionar, como uma adolescente de filme de comédia.
-- Marcela, eu não enxergava dessa forma...Eu só queria ter outra perspectiva que não fosse a da minha imaginação depois de ouvir da Paula que vocês tinham uma vida de casal aqui... Surtei de insegurança, fazem anos que não sei quase nada da sua vida, eu quero construir uma vida com você, tenho uma série de decisões importantes para tomar e eu precisava...
-- Controlar tudo? Como se eu fosse um experimento seu, por isso tem que controlar tudo, o ambiente, as reações, mais que controlar, você precisa monitorar também. Tudo isso vem da sua necessidade de controlar tudo, Luiza! Na faculdade, era o grupo de pesquisas, com quem eu ia morar, tentando pagar minhas despesas... Agora você quer controlar minha sociedade, meus relacionamentos passados...
-- Não Marcela, eu precisava conhecer essa parte da sua vida que se tornou uma incógnita pra mim, precisava saber disso antes de te pedir em casamento como eu quis fazer desde que parti do Brasil anos atrás!
-- E vamos para o segundo round! A outra arma secreta da doutora Luiza, senhoras e senhores: a manipulação...
-- Não acredito que estou ouvindo isso... Eu te revelo que quero me casar com você e é assim que você responde? Acha que estou te manipulando?
-- Está claramente tentando me manipular de novo! É mais forte que você, Luiza. Você sempre agiu assim no nosso relacionamento. Mas, eu achava normal, eu era uma menina, e você já era uma mulher experiente, eu até percebia você me controlando, amigos me alertavam, mas, eu pensava, está tudo bem... Agora, nós somos duas mulheres, Luiza, não sou mais aquela menina. Eu tenho meus próprios sonhos e ambições, minha própria carreira, mas, isso não importa para você.
-- Claro que me importo! Tenho muito orgulho de você, da sua carreira... E isso me faz te amar ainda mais! Por isso quero me casar com você, continuar nossa história, você é o amor da minha vida, Marcela!
-- Nossa história que você arruinou em poucas horas, Luiza.
-- Não fala assim, Mah...
Eu senti minha voz travar, tamanha a mágoa destilada pelos olhos de Marcela que limpava as lágrimas do rosto.
-- Eu não tenho mais nada pra te falar, Luiza. Preciso mesmo voltar para o meu trabalho. Nem sei se ainda tenho pacientes me esperando, mas, eu não estou aguentando continuar na sua frente.
Reuni mais forças e me pus de pé para segurar seu braço.
-- Por favor, me perdoa. Mah eu me atrapalhei toda, sei que eu devia ter uma postura mais madura, e só ter confiado no que me disse, fiquei insegura pelas coisas que não me disse, me apavorei, meti os pés pelas mãos, mas, isso não diminui o que sinto por você, nem muda o meu desejo de passar o resto da minha vida te fazendo feliz e me redimindo por essa imbecilidade.
-- Eu não quero passar o resto da minha vida perdoando alguém, Luiza. Não é essa a história de amor que quero viver. Você me desrespeitou, e não tem amor que supere esse nível de desrespeito.
O ressentimento que vi nos olhos de Marcela me sugou as forças, soltei seu braço e me recostei no leito deixando o pranto me tomar, ouvi apenas a batida da porta soar como o martelo de um juiz decretando minha sentença: perdi meu amor. Tao imersa na dor que me tomava, não vi Cris entrar no quarto, até que ela se aproximou me abraçando.
-- Vamos para casa, amiga. Eu já resolvi tudo com a seguradora, acho que não temos mais nada a fazer por enquanto.
-- Eu perdi, Cris... Ela não me perdoar nunca!
-- Calma, minha amiga... Estamos no olho do furacão, ela está magoada...
-- Com toda razão! Como eu fui deixar você me convencer de ir tão longe?
-- Ei, pera ai! Quer colocar a culpa em mim? A ideia foi sua, Luiza, eu só te ajudei.
-- Você tem razão... Mas, você pode por favor, por hoje, dividir essa culpa comigo? O fardo está pesado...
E outra vez Cris me abraçou me consolando, até a entrada da enfermeira, que veio comunicar minha alta. Saí do hospital em direção ao aeroporto, com uma sensação de vazio que ainda não tinha experimentado na vida. Eu era a única culpada por perder o amor da minha vida, era a vilã da minha própria história, a algoz dos meus sentimentos mais puros, eu não tinha mais um lar para voltar, não me restavam mais lições a serem aprendidas exceto a única que eu ainda não aprendera: reconquistar um amor.
Fim do capítulo
Meninas, desculpe-me a demora, por problemas de saúde, acabei não conseguindo postar. Mas, agora é oficial, mais 4 capítulos e encerramos esse conto que está quase virando lenda rsrsrs.
Beijos a todas, e até o próximo!
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LeticiaFed
Em: 23/10/2024
Ai, Luiza...vc não tem jeito mesmo. Insegura, controladora e atrapalhada. Temos 4 lições pra ver se consegue corrigir essa ultima bobagem gigante. De preferência sozinha, sem amigas tipo Cris pra atrapalhar ;) Espero que tudo bem de saúde agora, querida autora.
contosdamel
Em: 24/10/2024
Autora da história
Acho que Luiza escutou você...rs
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Brescia
Em: 22/10/2024
. Boa noite .
Se não fosse triste e a imbecilidade da Luiza não superasse o cômico da situação, teria até sido algo para rir no futuro sendo contado como piada, mas ela não cresce quando se trata da Marcela.
contosdamel
Em: 24/10/2024
Autora da história
Talvez essa seja a maior vulnerabilidade e a maior força dela: o amor por Marcela. Agora é torcer para a força vença.
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theycallmeangel
Em: 22/10/2024
Aiai, Luiza realmente não tem jeito.
E, só mais 4 capítulos? Nem acredito que falta tão pouco para acabar ????
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contosdamel Em: 24/10/2024 Autora da história
Acho que só chorar não vai resolver muita coisa... Nossa protagonista não vai se render!