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Ela não é a minha tia por alinavieirag

Ver comentários: 8

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Palavras: 4657
Acessos: 1490   |  Postado em: 21/10/2024

Notas iniciais:

Boa noite, leitoras! Capítulo levemente atrasado kkkk mas...

Boa leitura! E não deixem de comentar! 

Capitulo 41 – Sem olhar para trás

Júlia

 

Um mês depois

 

Sento na cama, exausta, e puxo o celular de dentro do bolso do meu short jeans para checar a lista de “coisas que ainda preciso fazer antes da viagem”. Quando a tela acende, no entanto, acabo me esquecendo do motivo de ter feito aquilo no instante em que vejo ela no plano de fundo da tela de bloqueio.

Era uma foto minha e da Sofia perto da piscina, na noite do último ano novo.

Nós já tínhamos tirado uma infinidade de fotos desde que começamos a ficar, mas eu nunca pensei em trocar por uma foto mais recente. Apesar de ainda não estarmos juntas nessa época, o ano novo – ao menos, para mim – tinha sido o início de tudo. Quando mostrei, mesmo que de forma involuntária, que já não a enxergava da mesma forma.

Era masoquismo da minha parte manter aquela foto ali depois de um mês que não estamos mais juntas, mas eu ainda não tinha tido coragem de substituir por uma foto que não fosse dela. 

Foco, Júlia.

Forço meu cérebro a pensar enquanto digito a senha de bloqueio e entro no aplicativo de notas:

( x ) Separar as roupas.

( x ) Ligar para o Detran.

(   ) Separar documentos e papeis.

(    ) Comprar mais uma mala.

(    ) Ver o mar uma última vez.

 

Ia deixar a mala para depois do almoço, e a praia podia ficar para amanhã. O que me leva para a papelada.

Estou separando os documentos que ia levar comigo e os que eu deixaria aqui, trancados em um armário, quando encontro uma pasta antiga que desperta a minha atenção. Pela estética, deduzo que se trata de uma pasta dos anos 2000 e pouco.

Meu coração erra algumas batidas quando a abro e vejo do que se trata.

Havia uma porção de desenhos da Sofia – alguns rabiscos de quando ela possivelmente tinha menos de três anos, e outros com os traços mais firmes e desenhos bem pintados de quando ela provavelmente era um pouco mais velha.

Vou tirando um a um, até começar a encontrar os milhares de cartões que ela me dava, em qualquer data comemorativa possível: meu aniversário, dia das mulheres, natal, páscoa, carnaval (??), dia da árvore (???), ano novo, dia do amigo, dia da tia...

Não consigo não dar uma risada sincera, com esse último.

Exceto nos cartões em que ela já me chamava de “Jules”, em quase todos eles havia um “eu amo você” ou “eu te amo tia”

Meus olhos ardem, mas tento me manter firme.

A Sofia era uma criança doce, e eu sempre jurei a mim mesma que nunca deixaria com que partissem o seu coração. Sempre imaginei que estaria ao seu lado, independentemente de qualquer coisa.

Como posso ter quebrado essa promessa?

Remexo em mais alguns papéis, até que encontro uma lista com o título “Coisas para fazer juntas”

Pela sua escrita e caligrafia, deduzo que ela tinha uns oito ou nove anos quando escreveu:

1.       Ir para a Disney

2.      Ver filmes de terror na madrugada

3.      Viajar, só eu e você

4.      Correr uma maratona

5.      Ir na praia de noite

6.      Festa do pijama com muitooo doce

7.      Cruzar o oceano com um barco feito por nós duas

8.      Ir para festas quando eu ter dezoito anos

9.      Viajar de balão

10.   Beber bebida de adulto

11.    Viajar para a lua

12.   Comer panquecas até passar mal

13.   Contar todas as estrelas do céu

 

As lágrimas escorrem, me traindo. Nós já tínhamos feito muitas das coisas que estavam nessa lista, exceto as quase impossíveis, é claro. Mas de uma coisa eu tenho certeza: eu daria tudo para fazer todas essas coisas com ela.

Ah, Sofi

Mas o que foi que eu fiz?

 

xxx

 

– Acho que essa vai servir. ­– Digo para a vendedora enquanto giro a mala preta de rodinhas, colocando-a em cima do balcão do caixa.

– Júlia? – Aquela voz tão familiar surge de algum canto da loja, me pegando completamente desprevenida.

– Seu Olavo... – Digo, sem jeito, enquanto me viro para encontrá-lo.

– Quanto tempo... – Ele me abraça, emotivo, conforme me esforço bastante para não deixar meus olhos transbordarem.

– Então... – Me desvencilho do seu abraço, tentando me recuperar. – Você está se mudando? – Faço a pergunta óbvia.

Depois dos últimos acontecimentos, ele provavelmente não entraria em uma loja especializada em malas e bagagens por acaso.

– É... Eu estou ficando em um hotel, por enquanto. – Ele coça a cabeça, meio sem jeito. – Mas as coisas que levei já não estão sendo o suficiente e, sabe, não é sempre que consigo levar as roupas para a lavanderia, então... pensei em buscar tudo de uma vez só.

É claro que eles iriam se separar, já estavam basicamente separados antes, e o que aconteceu entre a Marta e o Clóvis só fez com que acelerassem esse processo. Não era justo que continuassem, mas eu estaria mentindo se dissesse que não sentia um certo vazio em saber que a família que eu conheci jamais seria a mesma.

Nem de uma forma, nem de outra.

Um nó vai se formando na minha garganta. A Sofia deve estar arrasada, mas acho que ainda era cedo demais para tocar no nome dela.

– E você? Vai viajar? – Ele olha para a mala que eu havia escolhido.

– Eu estou indo para Nashville. – Mesmo contra minha vontade, decido dizer a verdade. O Seu Olavo já tinha sido enganado o bastante.

Ele hesita por alguns segundos, tentando processar a notícia.

– Quem diria que nós dois acabaríamos assim, hum? – Ele sorri sem muita vontade. – Colocando uma vida inteira dentro de uma mala. – Seus olhos se enchem d’água enquanto eu apenas desvio os meus para baixo.

Não quero que ele veja que já deixei algumas lágrimas rolarem.

– Você não pretende levar a mala na sua moto, pretende? – Ele resolve brincar, para quebrar o gelo.

– Eu ia pedir para a loja entregar, na verdade. – Curvo um pouco os ombros conforme falo.

– Eu levo. – Ele a pega, em cima do balcão. – Você e a mala. – Sorri, de modo gentil. – Aceita a carona?

– Se o senhor não se importar... – Digo, conforme coloco as mãos no bolso do meu casaco e o sigo até a saída da loja.

– Então... Quando pretende viajar? – Me pergunta assim que estramos em seu carro.

– Assim que eu conseguir alugar a casa... – Digo enquanto ajusto bem a fivela do cinto de segurança.

– Júlia... Você não está fazendo isso porque... – Vejo que ainda está receoso em tocar no assunto. – Quero dizer, você não precisa fazer isso. – Ele olha para mim, se certificando.

– Tudo bem, eu estou fazendo isso por mim. – Em parte, era verdade.

Talvez, se nada disso tivesse acontecido eu nunca teria pensado nessa viagem, é verdade, mas eu não poderia dizer que alguém estava me obrigando. Não, eu queria fazer aquilo, mas...

– Eu iria agradecer se o senhor puder não comentar sobre a viagem com a Sofia... Eu não quero que...

Que ela fique sabendo por outra pessoa? Não, não era por isso, até porque eu não tinha a intenção de contar. Acho que eu não conseguiria. Eu já fiz isso uma vez, quando ela tinha apenas seis anos, e prometi a mim mesma que nunca faria aquilo de novo.

Eu nunca pensei que precisaria.

– Que ela fique mais chateada. – Termino de dizer como se ainda tivesse alguma importância, como se ele não fosse saber que aquele não era o verdadeiro motivo.

– Júlia... Acho que nós dois sabemos que ela vai ficar muito mais chateada quando descobrir que você simplesmente foi embora sem dizer nada a ela. – Ele diz, sem rodeios.

Mas eu não podia julgá-lo, ele não estava sendo rude, apenas estava certo, mais uma vez. O Seu Olavo era um homem sábio, e sempre parecia estar anos luz à nossa frente.

– Mas acho que estamos falando sobre o que você ainda pode aguentar, não é? – As suas palavras, doces e amargas na mesma proporção, me atingem em cheio e fazem com que meus olhos comecem a lacrimejar. Mas eu não ia deixar com que caíssem agora, não ainda.

Não dava para acreditar que ele estava sendo gentil comigo, depois de tudo. Eu nem sei se eu merecia, provavelmente não.

– Eu não pensei que o senhor ainda quisesse falar comigo, depois de tudo o que aconteceu ... – Mudo um pouco de assunto, mas não deixava de ser uma verdade. Mais do que isso, eu achei que ele não se importasse mais, não depois de tudo o que eu fiz, ou da forma com que descobriu que eu estava mentindo para ele há anos.

– Isso foi o que a minha mulher disse, quero dizer, minha ex-mulher. – Ele se corrige, acanhado. – Nós não estamos mais juntos, apesar de ainda estarmos casados, pelo menos no papel. – Ele parece dizer aquilo mais a si mesmo do que para mim. – Eu não concordo com a Marta, é claro, e para ser sincero, eu não acho que ela tenha falado sério também. – Ele complementa.

– Acho que o meu rosto discorda um pouco. – Sorrio fraco, olhando para os meus próprios pés.

Não queria ser indelicada, mas eu também não poderia negar aquilo. Até porque não era somente o meu rosto que discordava, mas todo o resto também, meu corpo e minha alma.

Depois de um pouco mais de um mês eu já não estava com nenhum hematoma aparente, apenas uma pequena cicatriz do corte causado pela haste prateada do anel da Marta. Provavelmente seria uma cicatriz imperceptível para a maioria.

Para a maioria, menos para mim.

– Você tem razão... É claro... Inclusive, sei que nenhum pedido de desculpas vai apagar o que aconteceu, mas eu fico verdadeiramente envergonhado pela atitude da Marta... Ela jamais poderia ter te tratado daquela forma. – Ele diz, fazendo questão de olhar bem nos meus olhos, que já estão úmidos novamente. – Eu sinto muito, por tudo.

– Eu sei... Eu também. – Eu vinha repetindo aquelas palavras há algum tempo, mas não deixavam de ser verdadeiras por isso.

Eu sentia, com o todo o meu coração. E queria que tudo pudesse ter sido diferente.

Tudo, menos o que eu vivi com a Sofia.

Eu posso ter me arrependido muitas vezes, e continuo me arrependendo de como as coisas terminaram, mas, hoje, eu não me arrependia de nada do que fizemos juntas. Eu levarei cada momento comigo,

– Júlia... Sei que já falei isso antes, mas quero que você saiba mais uma vez, que eu sempre te vi como uma filha...

Sim, eu sei, e eu estraguei com tudo. Completo aquilo em pensamentos.

– E eu continuo vendo, independente de qualquer coisa. – Espera, o quê? –Independente do que aconteceu, ou de como você e a Sofia decidirem terminar essa história... Você vai continuar sendo a minha filha, as duas vão. – Ele apoia uma das mãos largas no meu ombro enquanto olha para a estrada, e sinto a primeira lágrima rolar. – Mas confesso que eu esperava ter ficado sabendo de outra forma...

– Eu sei. – Seco uma lágrima ou duas. – Eu deveria ter te contado. Eu quis... Mas eu tive tanto medo... – Começo a despejar aquilo. – Por tudo, pelo o que eu estava tendo com a Sofia, e pelo o que o senhor ia pensar de mim. – Olho para ele, um pouco envergonhada. – Que eu sempre fui uma mentirosa, desde que nos conhecemos, afinal, eu sempre disse que gostava de homens.

– Na verdade... – Ele intervém. – Se você não se importa que eu te corrija, você não nos disse nada, nós que nos precipitamos por dizermos isso por você. Foi um erro nosso. – Ele me olha, gentil. – Assim como a Sofia, você sempre nos deu sinais, a Marta que nunca quis ver, mas... eu notava os seus olhares, quando algumas garotas da faculdade vinham para a nossa casa, ou em como você se sentia mal quando alguém fazia um comentário homofóbico ou uma piada de mau gosto. – Acrescenta.

Acho que eu sempre quis dizer a mim mesma que eu me sentia mal com esse tipo de comentário por causa da Sofia. Porque aqueles comentários diziam a respeito dela, e nunca de mim. Mas não era verdade, porque o Seu Olavo estava certo, eu já me sentia mal com esse tipo de comentário muito antes da Sofia estar grande o suficiente para nos dizer a respeito da sua própria sexualidade.

O que quer dizer que eu me sentia mal por mim mesma.  

– Então você já sabia? – Pergunto, por fim.

– Acho que os pais sempre sabem. – Ele solta uma risadinha.

Ele nunca me disse nada.

Não teria sido mais fácil se ele tivesse me dito antes? Provavelmente sim, e eu não teria sofrido tanto, me culpando ou me martirizando por uma rejeição por parte dele que nunca viria.

Mas ele provavelmente deve pensar que isso é algo que precisamos descobrir sozinhas, e não sei até que ponto ele não estava certo.

– Então... Você está mesmo indo? – Me pergunta, visivelmente melancólico quando estaciona o carro em frente ao meu portão de madeira.

– Aquela casa vai ficar melhor sem mim. – Me limito a dizer, segurando o nó que estava querendo subir pela minha garganta nesse exato momento. – Além do mais... Você não acha errado? O que eu tive com a Sofia? – Ele deveria achar, não? Se eu mesma já achei, por tanto tempo...

– Ah, querida, quem você acha que eu sou? Deus? – Ele brinca comigo, como sempre fez. – A Sofia já é adulta, e se vocês estavam felizes com o que quer que estivessem tendo juntas, quem sou eu para julgar algo assim? – Ele me surpreende com as suas palavras.

Apesar de não ser assim tão inusitado, afinal, se fosse para eu ouvir aquilo de alguém, com certeza seria dele.

– E de uma coisa eu tenho certeza. – Ele continua. – Você sempre amou a minha filha. – É a vez dos seus olhos voltarem a ficar marejados, enquanto os meus transbordam ainda mais.

– A nossa pequena Sofia. – Completo aquilo por ele.

Aquela expressão carinhosa compartilhada por nós dois por tanto tempo faz com que uma chuva de memórias passe pela minha cabeça.

Todas as vezes em que encobrimos uma pequena coisa que a Sofia fez de errado, ou das vezes que fomos atrás de uma fantasia perfeita, de última hora, para que usasse em alguma data comemorativa, na escola. Em cada pequeno gesto de amor que demos a ela, para que ele substituísse algo que a mãe dela havia feito e a deixado arrasada.

Olho para os seus olhos amendoados e vejo que estávamos compartilhando dos mesmos pensamentos.

– Juju, independente da sua decisão, eu vou continuar te amando, mas eu preciso que saiba que você está errada... – O Seu Olavo faz uma pequena pausa. – Aquela casa – ele faz questão de frisar, querendo me mostrar que sabia do que eu estava falando – nunca vai estar melhor sem você.

 

xxx

 

Já me virei e me revirei nessa cama pelo menos umas vinte vezes enquanto tento pegar no sono. Mas as palavras do homem que eu sempre vi como uma figura paterna não saíam da minha cabeça. Ele acha mesmo que a Sofia estaria melhor se estivesse comigo? Como ele pode dizer isso depois de tudo o que eu fiz? Depois do quanto eu a magoei?

            Suspiro e me viro mais uma vez, puxando um dos lençóis que usamos na última noite em que ela esteve aqui e inspiro o seu cheirinho, que ainda parecia estar impregnado por toda a parte. 

É ridículo que eu tenha feito aquilo durante todas essas semanas, e ainda mais ridículo que continue fazendo, mas aquelas seriam as minhas últimas noites dormindo aqui e eu definitivamente não vou levar esse lençol para Nashville – não seria idiota a esse ponto, se é o que estão pensando – então, me envolvo nele e inalo o seu cheiro, por uma última vez, desejando que ainda estivesse aqui, nem que fosse para termos uma última noite juntas.

 

– Jules? Acorda... – Ela me envolve com seus braços finos e o meu corpo inteiro se acende.

Droga.

Seria sempre assim, acordar com ela? Eu espero que sim.

Sinto um relevo estranho entre ela e minhas costas, mas não me importo, a Sofia está aqui comigo, e isso é tudo o que importa, e eu não poderia estar mais feliz.

– Faz panquecas pra mim, amor? – Reconheço o seu sorriso pela sua voz. Ah, Sofi, faço qualquer coisa que me pedir. – Com bastante batida de morango, acho que tô com desejo de grávida. – Ela deixa escapar um risinho.

Desejo de grávida, oi??

Me viro para olhar para ela e mal acredito quando vejo a sua barriga saliente – de uns... cinco meses? – por debaixo de uma das minhas camisetas preferidas: uma preta da banda Metallica.

– Espera... Como... Como você pode estar... grávida? – Pergunto, atordoada.

– Por quanto tempo você dormiu, Jules? – Ela sorri, travessa. – A inseminação, amor... – Ela me recorda. – Deu certo, lembra?

Sim, claro que deu.

Estamos esperando um bebê. Merda, eu nem sei se estou pronta para ser mãe, mas... Se ela está, eu estou. Será que ele vai se parecer comigo, ou com ela? Eu adoraria que se parecesse com ela. 

Meus olhos transbordam de uma emoção que não sou capaz de explicar. Nunca pensei que pudesse me sentir assim, nunca pensei que pudesse ser mais feliz do que um dia eu já tinha sido, com ela.

– Você prometeu que faria batidas e panquecas durante a gestação inteira. – Ela provoca, com um sorrisinho.

Aliso o seu rosto, as maçãs vermelhinhas, como quase sempre ficavam quando estávamos juntas. Parecia estar mais velha do que eu me lembrava, mas ainda se parecia com a minha Sofi, ainda era ela, e sempre seria.

– Tudo o que as minhas babies quiserem. – Sorrio, acariciando a sua barriga enquanto me inclino para beijar a sua boca, que tem gosto de morango.

Estico os braços, envolvendo as mãos em torno dela, mas, de repente, não tem nada ali, apenas dois lençóis embolados nos quais eu me agarro. Pisco, abrindo os olhos e me deparo com o quarto vazio e estreitos feixes de luz escapando pela cortina da minha janela.

Merda, foi um sonho e eu não consigo controlar os meus nervos porque... foi tão real, e não só isso. Deus, como eu queria que fosse. Eu daria tudo para tê-la aqui comigo, mesmo que estivesse grávida e que isso fosse uma puta de uma loucura.

Eu daria tudo para que não tivesse sido apenas um sonho.

 

xxx

 

 

Nem acredito que vou ficar sem ver o mar pelos próximos... sei lá quantos meses.

É o que penso enquanto desço as escadas e piso na areia assim que tiro a sandália que estava usando.

Tá certo que eu não tinha o hábito de ir na praia, mas, por experiência própria, sabia o quanto era difícil viver – mesmo que temporariamente – em uma cidade que não tinha sequer a brisa do mar batendo na sua cara. Pode até não parecer, para quem sempre morou em uma cidade litorânea, mas faz muita falta.

– Júlia? – A voz estranhamente familiar me tira dos meus pensamentos e me joga de volta a realidade.

– Emma? – Olho para cima, procurando pela fonte daquela voz. – É... O que você está fazendo aqui? – Pergunto, atordoada com a sua presença inusitada.

– Você está no “meu local”, esqueceu? – Suas palavras me fazem olhar com mais atenção para o pequeno posto de Guarda-Vidas que estava logo atrás de nós.

Ela é uma Salva-Vidas, é claro que estaria aqui.

– Não sabia que era aqui. – Tento me corrigir, me sentindo mal, de qualquer forma. Eu nunca procurei saber aonde era.

– Você sabia que foi aqui que eu e a Maria nos conhecemos? – Ela pergunta enquanto se senta do meu lado, na areia. – Bem, não exatamente aqui, mas lá. – Aponta para o mar azul tiffany à nossa frente. – Eu meio que salvei ela de se afogar. – Olho para ela, espantada.

– O quê? – Pergunto, nervosa só de imaginar. – Ela nunca me contou...

– Acho que vocês não estavam se falando muito na época. – Ela tenta amenizar a situação, enquanto afunda os pés na areia. – Mas sabe do que ela me chamou, no primeiro instante em que me viu?

Nego com um aceno de cabeça.

– De Júlia. – Ela sorri e volta a se concentrar em seus pés por alguns segundos.

– Eu não sabia disso. – Digo enquanto sinto minha garganta apertar.

– Então... – Ela começa, receosa. – A Maria me disse que a mãe dela ficou sabendo... – Percebo quando ela tateia as palavras com cuidado. – E que vocês não estão mais se falando há mais ou menos um mês. – Ela se encolhe um pouco ao falar.

– É um bom resumo. – Tento sorrir, para não soar tão rude.

– É claro que ela me disse mais coisa, mas... Por que não me fala a sua versão?

A minha versão?

Ela não era amiga da Sofia? Por que o meu ponto de vista seria assim tão importante?

– Se você quiser, é claro. – Completa, reconhecendo o meu estranhamento. – Tenho certeza de que não está sendo fácil pra você também. – Decide acrescentar, parecendo verdadeiramente sincera.

Ela não estava falando só por falar.

– Eu acho que estou tão acostumada a ceder, que no fundo fiquei esperando por uma concessão... Sei lá, por um acordo? Onde nenhuma de nós três saísse machucada. – É a primeira coisa que penso em dizer.

Agora parece um pensamento ridículo, mas eu realmente tinha me agarrado a ele por muito tempo. Talvez esse tenha sido um dos meus principais erros.

– De onde eu venho concessões fazem parte de um conto de fadas. – Ela sorri, melancólica.

– Eu sei, acho que de onde eu venho também. – Dou o mesmo sorriso enfraquecido. – Por isso eu basicamente disse pra ela que precisava de um tempo. O que é verdade, sabe? Porque estou tão acostumada a ficar medindo as consequências, a me preocupar mais com os outros do que comigo mesma, que acho que acabei me perdendo no meio do caminho. – Confesso aquilo, pensativa. – Eu pedi demissão do escritório onde eu trabalhava... Sei que pode parecer um pouco tarde, mas se a vida ainda estiver disposta a me oferecer uma segunda chance, pretendo retomar a minha carreira de cantora da onde eu parei.

A gente troca um meio sorriso.

– Acho que ainda estou tentando me entender com essa nova Júlia que me tornei, e tentando lidar com o fato de não saber quem eu posso machucar, sendo ela.

– Acho que ninguém sabe, então... bem-vinda ao mundo. – Ela sorri, tentando ser gentil. – Eu sei como se sente, Júlia, porque também já me senti assim, mas... Se eu não tivesse parado para pensar em mim, talvez eu ainda estivesse sentindo vergonha de mim mesma, ou apanhando do meu padrasto. Talvez a Lili estivesse passando pelo mesmo agora... – Ela diz, pensativa. – Acho que pensar em mim mesma foi a ação mais generosa que eu poderia ter feito.

Fico com aquelas últimas palavras ressoando na minha cabeça.

– Você foi muito corajosa. – Admito aquilo.

– E você? O que te faz pensar que você também não pode ser?

Hm... Sei lá, talvez o fato de ela, com menos de vinte e um anos, já ter enfrentado muito mais coisas do que eu fiz ao longo dos meus trinta e seis?

– Eu já arrumei basicamente tudo, anunciei minha casa para alugar, pensei que já estava decidida, mas...

– Nunca é tão simples? – Ela completa aquilo por mim.

– Eu já fiz isso com a Sofia uma vez, sabe? Fui embora porque achava que estava fazendo o melhor pra ela. – Lembro daquilo e sinto o nó já conhecido coçar a minha garganta novamente. A voz dela chorando, me pedindo pra que eu a levasse comigo me assombra até hoje. – Eu jamais desejei fazer isso de novo. Mas eu não consigo ver outra saída.  

– Sei que eu não deveria me meter, mas... eu iria ter gostado de encontrar uma Salva-Vidas para me dizer algumas coisas quando eu mais precisei...

A gente troca um sorriso, cúmplices. 

– Você quer sair do escritório e ir em busca da sua carreira como cantora, ótimo. De verdade, faça isso, mas... não saia fugida, não saia como se estivessem te expulsando de casa. Deixe claro que você está saindo porque precisava ser você mesma e... principalmente, não saia fugida da Sofia, da sua Sofi. – Ela enfatiza aquilo, e eu sorrio entre algumas lágrimas. – Ela não tem mais seis anos, Júlia. Deixe com que ela decida dessa vez.

– Eu não tenho certeza se a Sofia vai querer me ouvir. – Lamento. – Depois da nossa última conversa... Ela provavelmente deve estar pensando que eu nunca vou estar pronta.

– Então prove pra ela que ela está errada. – Ela me encoraja.

– A Sofia já sofreu tanto com essa história... E se eu for atrás dela e ela disser que ainda não está preparada pra viver tudo isso de novo? – Me encolho com a possibilidade.

– Então você vai sentir um pouquinho o que é estar no lugar dela, não? – Ela me alfineta com a sua resposta, mas eu não me importo. Acho que estava mesmo merecendo aquilo.

– Acredita em mim, a Sofia está pronta pra viver essa história com você... Você é o sonho da vida dela. – Ela repete mais ou menos o que tinha dito no dia em que passou a tarde na casa dos Furtado, quando disse que “a Sofia provavelmente sonha com isso desde que tinha uns quatro anos.” – O que você precisa fazer é olhar pra você agora. O que você tem que se perguntar é se você está pronta para viver isso com ela.

Penso no sonho que eu tive, e em como me senti mal quando acordei e percebi que não era real, porque eu queria que fosse. Queria viver isso com ela, uma vida juntas, filhos, nossa própria família. Se eu queria tanto isso, é porque eu estava preparada, não estava?

– Eu nem sei porque está sendo tão legal assim comigo, mas... obrigada. – Sorrio para ela.

– Por que eu não seria? Você também foi legal comigo e... acho que nós duas sempre quisemos a mesma coisa, que a Maria seja feliz. – Ela me devolve um sorriso. – Além do mais, eu sempre te achei uma mulher foda. – Ela confessa, com um outro sorrisinho. – Acho que você só precisava de alguns empurrõezinhos.

Ela empurra os meus ombros e a gente compartilha uma risada. Até que a tela do meu celular acende, de repente, com uma mensagem. A nossa foto aparece no descanso de tela e fico presa no seu sorriso por alguns instantes.

– Acho que você já se decidiu, não foi? – Ela olha de mim, para a tela do meu celular.

Pela primeira vez, depois de muito tempo, o que eu sabia que deveria fazer era exatamente o que eu queria fazer.

Sem dúvidas e sem olhar para trás.

Fim do capítulo

Notas finais:

Boa noite, Sojulovers do meu coração!

Primeiramente, peço desculpas pelo atraso do capítulo. Era para ter saído ontem, mas acabei ficando resfriada e não consegui finalizar a tempo.

Mas fiz de tudo para terminar hoje, e consegui!

O que acharam do capítulo? Não sei vocês, mas depois do último (que foi uma pedrada no meu coração) esse foi muito mais confortável e acolhedor de escrever.

E o que acharam das conversas com o Olavo e depois com a Emma? Alguém tinha que mandar a Júlia reagir né?? (já que cropped ela já usa kkkkk)

Será que agora vai, gente?

E o sonho que a Júlia teve?? Fiquei muito boiolinha escrevendo, confesso...

Como vocês imaginam que vai ser esse confronto/encontro "final" entre Júlia, Sofia e Marta??

Teorias? Suposições do que vem por aí? Alguém tem??

Ainda temos uns 5 ou 6 capítulos pela frente, e espero que fiquem comigo até o final, hein?

E não esqueçam de favoritar a história!

E de me favoritar como autora! 

E de comentar! 

Como vocês já sabem, leio todos os comentários e fico extremamente feliz com cada um deles, com todas as teorias e por todo o carinho. Além de ser, de fato, o melhor termômetro para me ajudar a saber e entender como a história está chegando para vocês! Ainda mais se tratando de uma reta final!

Mais uma vez, obrigada por estarem comigo durante todo esse tempo! De verdade mesmo!

E obrigada pelas leitoras/leitores que estão chegando agora!

Obrigada pelos comentários, pelo engajamento, pelo carinho e por tudo!

Então é isso, até o capítulo 42, com a nossa amada Sofia Maria!


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Comentários para 43 - Capitulo 41 – Sem olhar para trás:
patty-321
patty-321

Em: 13/11/2024

ah Jules, seja foda agora! Para de pensar nos outros e no futuro, viver é agora, no presente e é só o que temos.

Responder

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S2 jack S2
S2 jack S2

Em: 27/10/2024

Depois da tempestade, vem a calmaria...

Feliz pq a Júlia vai tomar uma atitude...

Ansiosa pelo próximo capítulo.

Responder

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Mmila
Mmila

Em: 23/10/2024

Feliz pelo seu retorno é que esteja revigorada.

Bom, a Júlia agora acredito que oega no tranco, aproveita e pega a Sofia e leva com ela.

Seu Olavo e Emma, pessoas incríveis!

A Martha vai findar só, que acredito que nem o filho vai aturar ela.

Aguandando o próximo capítulo.

Responder

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Brescia
Brescia

Em: 22/10/2024

Buonasera altrice.

Hj estou inspirada como a Júlia, não basta só ficar sem para sentir falta e descobrir que a falta não tem lugar, só o que conta é o que queremos colocar no lugar para que tudo fique completo de novo. 

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Julika Sempre
Julika Sempre

Em: 22/10/2024

Agora vai

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Edilma Silva de Andrade
Edilma Silva de Andrade

Em: 21/10/2024

Quando temos pessoas que querem o nosso bem, toda conversa é um incentivo. Jules agora vai com tudo. E a Sofia vai ficar muito contente da Júlia assumida para a vida. Pois como a Júlia falou a Sofia é muito madura. Esperando para esse reencontro ser o reencontro final. Seu Olavo é um sogro maravilhoso e vai levar as suas meninas para o altar e Emma vai ser a madrinha desse casório. Para no final vermos uma linda menina de cabelos escuros com os olhos claros.

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nath.rodriguess
nath.rodriguess

Em: 21/10/2024

AGORA VAAAAAAAAI 

BORA JULES, CORRE ATRAS DA SUA FELICIDADE 

Seu Olavo eh um amor de pessoa, vai ser um sogro incrivel 

Emma eh uma menina muito madura e sábia pra idade dela. Ela tem um lugarzinho especial no meu coração. 

Agora, a Marta... A Marta eu quero que vá de arrasta pra cima kkkk 

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NovaAqui
NovaAqui

Em: 21/10/2024

As coisas estão começando a caminhar

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