Capitulo 7
Capítulo sete
CAROLINA FONSECA
Eu nem sei quanto tempo fiquei ali, do outro lado da porta do banheiro, até o momento em que Esther saiu. Seu rosto apesar de um pouco vermelho, não exibia mais sinal de lágrimas.
-- Eu não quero conversar. -- Ela falou sem me olhar nos olhos. Sem pensar muito nas minhas ações, eu me aproximei, esticando a mão para tocar seu rosto.
-- Acho que você precisa de atendimento médico, eu posso… -- Fui interrompida abruptamente.
-- Eu vou ao médico, Carolina. -- Não usar meu apelido era um mau sinal. -- Só não com você.
-- Mas… -- Tentei contestar, mas não adiantaria de nada.
-- Isso é um problema só meu a partir de agora. -- Sua voz tremia, e eu preferi não insistir mais. Primeiro porque ela estava certa. E segundo, porque eu não suportaria vê-la chorando novamente.
-- Bom… Se você precisar de qualquer coisa, me liga. -- Falei com o coração apertado. Eu não queria ir embora e deixá-la ali naquela situação. Apesar de tudo, ela sempre seria importante para mim.
Saí pela porta da frente e assim que pisei os pés do lado de fora, fechei os olhos e deixei algumas lágrimas caírem. Eu não sabia ao certo o que estava sentindo, muito menos o que eu deveria fazer dali em diante.
Olhei para o fino anel dourado em minha mão e o retirei com cuidado, disse pra mim mesma que mais tarde eu decidiria o que fazer a respeito.
Já se passaram seis anos e eu ainda não decidi.
Nunca sequer me passou pela cabeça que aquela seria a última vez que eu veria a Esther. Nós gostávamos dos mesmos restaurantes, frequentávamos a mesma academia e tínhamos pelo menos alguns amigos em comum. Pra mim era certo que inevitavelmente, acabaríamos nos trombando.
Mas a verdade é que eu nunca mais a vi.
Suas redes sociais simplesmente desapareceram, nossos amigos perderam totalmente o contato, e bem… Eu não tinha coragem nenhuma de perguntar nada pra família dela.
Honestamente, eu também queria esquecê-la.
Eu quis me convencer de que aquele era um capítulo encerrado na minha vida, e passei a me dedicar muito a minha carreira.
Recém formada na faculdade e relativamente ingênua, eu aceitei uma sociedade para administrar um portal de notícias sobre famosos. Eu estava empolgada porque em teoria, haviam muitos anunciantes interessados e existia uma projeção de expandirmos para outras mídias sociais.
Só em teoria, é claro.
A verdade é que meus “sócios” só queriam alguém pra dividir o prejuízo dos inúmeros processos que aquele portal acumulava, por disseminar informações falsas.
Talvez por isso quando eu sugeri comprar a parte de ambos na empresa, eles praticamente me cederam sem pensar duas vezes.
Hoje, sempre que eu conto essa história, as pessoas me perguntam como eu transformei uma empresa falida e manchada, em uma das revistas digitais mais populares do país. É perceptível o quanto elas esperam ouvir algo sobre “sacrifícios e noites mal dormidas”.
Então é exatamente o que eu digo, isso ou qualquer outra bobagem de senso comum que possa deixar minha imagem pessoal mais interessante. Convenhamos que ninguém acharia inspirador me ouvir dizer que eu não abri mão de nada pelo simples fato de que eu não tinha nada.
E eu acho que criei uma “casca” ou algo assim. Passei a apreciar mais minha própria companhia, e a estabelecer distâncias seguras com todas as pessoas que se aproximavam.
Talvez o único ser humano que conseguia derrubar parcialmente essa barreira era Raquel, diretora de arte da Azzo e minha melhor amiga. Sim, nessa ordem mesmo, porque não tinha como alguém ter se aproximado tanto de mim se não estivesse dentro da empresa.
Aquela não era nem minha "segunda casa". Era a primeira mesmo.
Sorri quando ouvi sua voz no corredor, Raquel era um poço de carisma. Eu não conhecia uma única pessoa que não gostasse dela.
-- Finalmente sexta-feira, Carolzinha! -- Ela entrou animada na minha sala, usava um batom pink bem chamativo e tinha os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo frouxo.
-- Parece até que não gosta de trabalhar… -- Falei brincando.
-- Ah, você sabe que não é isso. -- Sorriu ajeitando os óculos de grau que cobriam seus olhos azuis. -- Eu só não sou… Tão workaholic feito você.
-- Ei, não me chame disso! -- Reclamei.
-- Não chamarei se você me convidar pra ir no seu apartamento hoje. -- Ela se apoiou na mesa, e vendo meu rosto que exibia uma grande interrogação prosseguiu. -- Oi querida? Já esqueceu que temos escolher uma roupa pra você usar domingo?
Revirei os olhos entediada. -- É só uma festa de boas vindas para os novos funcionários, fazemos isso todo ano. -- Larguei na mesa a caneta que eu girava entre os dedos. -- Você sabe que nunca é divertido.
-- Por favor. -- Ela fez bico e por mais que eu planejasse ir bem básica, eu acabei acatando, mesmo sabendo que ficaria horas provando todas as roupas do meu closet até que ela decidisse qual havia supostamente ficado mais bonita.
-- Eu não quero ir dormir tarde essa noite, ok?
-- Fica tranquila, vou ser rápida. -- Raquel piscou e eu não acreditei nem um pouco naquela frase. Aquele tipo de coisa era o programa preferido da minha amiga, e assim como eu previ, ela transformou meu quarto em uma pequena fashion week.
-- Uau! Você ficou tão gostosa com essa saia… -- Falou animada, me olhando dos pés à cabeça.
-- E desde quando você acha alguma mulher gostosa Raquel? -- Eu ri.
-- Ué, não posso não? Ei... o que você tá fazendo?! -- Ela perguntou vendo eu retirar a peça que ela havia elogiado anteriormente.
-- Estou indo receber os novos funcionários. -- Falei franzindo a testa. -- Tenho que estar elegante, não gostosa.
Raquel torceu a boca aborrecida e foi até o closet voltando com um longo vestido na cor vinho, que tinha uma abertura do lado direito, um pouco acima do meio da coxa e um decote discreto o suficiente para a ocasião.
-- Você pode ficar os dois. -- Mostrou a peça e eu me dei por vencida.
Fim do capítulo
Olá, como estão? Espero que bem.
Gradativamente estamos entrando no presente, e cada vez mais perto desse bendito reencontro hehe
Carol não é mais a mesma pessoa, mas será que que ela mudou pra melhor?
Um abraço <3
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]