Capitulo 6
Egoísta
Capítulo seis
ESTHER MOTTA
Se eu me surpreendi quando me disseram que a Carolina estava me traindo com outra mulher? Jamais.
Mesmo assim doeu, doeu como uma facada no peito. Porque no fundo, eu gostaria que ela estivesse certa o tempo todo quando dizia que as minhas desconfianças eram apenas coisa da minha cabeça.
Não eram.
Eu podia entender nas entrelinhas que a única coisa que ainda a mantinha do meu lado era a criança que eu carregava.
Criança que ela nunca desejou.
Sim, naquele dia eu entendi, a duras penas, que eu estava sozinha naquele relacionamento.
Minha mãe passou a tarde toda em casa, eu podia perceber o quanto toda minha família estava preocupada e eu odiava preocupá-los assim.
-- Vamos pra casa filha, se você ficar aqui ela vai voltar e vocês vão discutir de novo. -- Ela tentava me convencer a acompanhá-la, certamente porque Flávia tinha contado sobre o caos que foram os poucos minutos em que Carolina esteve ali mais cedo.
-- Ela é mãe do meu filho… Acho que eu vou ter ela na minha vida para sempre. -- Falei e finalmente me dei conta do peso que aquela frase tinha.
A ideia me embrulhou o estômago. Não era justo que eu fosse obrigada a dividir o meu sonho de ser mãe com alguém que no fim só havia me causado dor.
Expliquei para minha mãe que precisava ficar sozinha, e a contragosto ela respeitou. Naquela noite, eu não preguei o olho por um único instante.
Mil e uma coisas horríveis se passavam pela minha cabeça. Agora eu era obrigada a lembrar que gostando ou não, Carolina era a mãe biológica daquela criança.
Passei a mão no rosto, apavorada.
Isso me prejudicaria de alguma forma no futuro?
Ela teria mais direitos do que eu?
E se ela tentasse tirar aquela criança de mim?
Era tudo que eu conseguia pensar, e sinceramente, eu não sabia as respostas. Não era algo com que eu achei que teria que me preocupar um dia.
Mas a única coisa que eu tinha certeza, é que eu não iria pagar pra ver.
Já era de manhã, sábado, e alguns meses atrás, aquele provavelmente teria sido um dia maravilhoso, como muitos outros que eu tive naquela casa.
Mas agora, ali naquele quarto, observando os escombros invisíveis da minha “história de amor” , eu fiz uma escolha que viria a ser a escolha mais egoísta de toda minha vida.
Parei em frente a cama com um corte na palma da mão, o qual eu mesma fiz, superficial o bastante pra não me causar problemas, mas profundo o suficiente para deixar uma mancha de sangue no lençol branco.
Quando ouvi o barulho do portão se abrindo, eu sabia que era Carolina. Assim como o prometido, ela apareceu para ver como eu estava e eu me tranquei no banheiro.
Apertei minha mão sentindo o ferimento latejar e chorei. Mas não pela dor física. Chorei de raiva de ter acreditado que eu seria feliz com ela, chorei de medo das consequências que aquela atitude me trariam, e por fim, chorei de tristeza.
Por que o “amor da minha vida” havia deixado de me amar.
-- Esther? -- A ouvi batendo na porta.
Carolina sabia que eu tinha alguns problemas e o risco de um aborto espontâneo infelizmente era real. Rezei para que ela tirasse as devidas conclusões e fosse embora dali.
Mas ela escolhia sempre os piores momentos para tentar fazer a coisa certa.
Ouvi quando ela se sentou do outro lado da porta, no chão, e ficou longos minutos em silêncio.
-- Eu vi a cama… Esther, me perdoa. -- Ela disse apenas. Eu conhecia a Carol tão bem, que podia identificar em seu tom de voz, quando ela estava segurando as lágrimas.
-- Não foi culpa sua. -- Eu não queria puni-la, não daquela forma. Eu só queria esquecer que um dia ela passou pela minha vida.
O que, por motivos óbvios, seria impossível.
Voltei ao presente com a voz que me chamava há alguns segundos.
-- O que foi meu amor? -- Perguntei à menina de cabelos encaracolados e olhos castanhos que segurava uma xícara de leite com chocolate nas mãos.
-- Mãe, a gente pode ter um cachorrinho? -- Perguntou animada.
-- Hm… -- Franzi a testa. -- Vou pensar, tá bom?
-- Mas depois que você pensar… Você vai dizer que sim? -- Aqueles olhos brilhantes e profundos me fitaram com expectativa e eu não contive o riso.
-- Talvez -- Respondi. -- Vou ver se o prédio permite animais.
-- Eba! Te amo mãe! -- Lara falou sorrindo eufórica e exibindo uma covinha no lado direito da bochecha. Eu sorri de volta.
É… Eu devo dizer que era um pouco assustador ver que a cada ano que se passava, a pessoa que eu mais amava no mundo me lembrava cada vez mais a mulher que eu me esforcei tanto pra esquecer.
-- Eu posso tomar milk-shake? -- Lara perguntou e eu arregalei os olhos balançando a cabeça negativamente logo em seguida.
-- Nesse frio? De jeito nenhum. -- Bebi todo o restante do café de uma só vez. -- Vamos só comprar algumas malas e roupas novas.
-- Eba! Eu quero aquela mochila com chaveiro. -- Ela deu um pulinho animada, erguendo os braços.
-- Que? Você já tem uma mochila.
-- Mas aquela é da escola mãe, eu preciso de uma mochila para levar todas as minhas roupas.
-- Ah é?
-- Sim, e os meus sapatos, e os bichinhos também.
-- Bom, não vai caber tudo isso nessa mochila que você quer, a mamãe vai comprar uma mala grande, tá bom?
-- Hum… Tá bom. -- Resmungou meio contrariada e foi em direção a janela. -- Olha mãe, a Jaque tá lá fora, ela vai com a gente?
-- Sim, ela também quer comprar algumas coisas. -- Falei me apressando e Lara abriu um sorriso de orelha a orelha e saiu correndo para a entrada do apartamento.
-- Posso ir lá embaixo com a Jaque mãe?
-- Calma aí meu bem, já vamos descer nós duas.
-- Eu quero ver o Brownie. -- Ela disse, se referindo ao cachorro grande cor chocolate dos meus pais que Lara até hoje só havia visto por fotos.
Eu sorri ao vê-la tão animada. Seria a primeira vez que Lara conheceria a casa dos avós, pois meus pais sempre viajavam pra nos visitar. Ela estava eufórica, e rodopiava pela sala de estar. Sala essa que já estava completamente vazia depois que vendi os últimos móveis restantes.
Infelizmente, com a notícia de que meu pai andava com a saúde instável, as visitas cessaram. E sempre me partia o coração dizer pra minha filha, que os avós que ela tanto amava não poderiam vir naquele mês, asssim como não puderam nos meses anteriores.
Então sim, pela primeira vez em quase seis anos, eu estaria pisando naquela cidade novamente, e o frio na barriga que eu sentia naquele momento, não tinha nada a ver com empolgação ou ansiedade.
Era acima de tudo, muito medo do que me esperava.
Fim do capítulo
Ai ai essa Esther...
Espero que estejam gostando da história, um abraço pra vocês e até breve <3
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 19/10/2024
Eita vai dar BO com certeza.
silverquote
Em: 20/10/2024
Autora da história
Sim, não teria como não dar kk
[Faça o login para poder comentar]
Brescia
Em: 19/10/2024
. Oi.
A Esther voltando e com um anjo parecido com o pesadelo maior que ela tem, estarei esperando ansiosa o próximo capítulo.
P.s: a palavra que eu tentei escrever no capítulo passado foi conversavam, mas saiu tudo separado e quando percebi, já era tarde.
silverquote
Em: 20/10/2024
Autora da história
Olá!
Fico feliz que está gostando, esse retorno da Esther virá acompanhado de muitas emoções.
P.s: Sobre o comentário anterior, fique tranquila, deu pra entender perfeitamente bem. Agradeço muito pelo apoio e comentários, a interação de vocês com a história me deixa muito feliz
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
silverquote Em: 20/10/2024 Autora da história
É, tempos difíceis se aproximam, esse reencontro promete =D