Capitulo 2
Eu amo praia, mas odeio areia, sol e toda a barulheira. Mas minha irmã insistiu, então cá estou eu, na areia, no sol e no meio de gente barulhenta.
- O que vamos pedir? - queria, encarando Larissa, que nem me ouvia; olhei atentamente para um rapaz que estava em duas barracas de nós.
- Olá! Terra chamando Larissa - ela deu um tchauzinho para o rapaz, que correspondia.
- Larissa...
- Eu estou bonita? - ela ajeitava os cabelos e o bojo do biquíni enquanto sorria, anestesiada.
- Ele nem é tão bonito assim.
- Eu estudei com ele no ensino médio, o nome dele é Mateus. - Eu ri alto quando ela finalmente me encarou.
- É deplorável seu estado! Deixe que ele venha até você e não ao contrário.
- Eu gosto de ir até os homens. Quando você vê uma mulher, você espera que ela venha até você?
- Não, eu espero que ela vá o mais longe possível. - Eu ri enquanto minha irmã me encarava.
- Nem vou comentar nada... Você já pediu?
- É exatamente isso que eu quero saber. O que você quer?
- Pede uma cerveja para mim, um suco de laranja e batata frita. - Um rapaz chegou próximo da gente e eu fiz os pedidos, pedindo um suco para mim também.
O sol estava forte, o que me fez ficar o máximo possível de tempo embaixo do guarda-sol; só iria sair dali direto para o carro. Larissa estava lá tentando um bronze, e Laís sentou na areia brincando com um baldinho.
- Bom dia, licença... - uma mulher de cabelo preto longo e uma voz rouca falou próximo de mim, chamando a minha atenção. Ela carregou a bandeja com os meus pedidos. - Só confirmando: dois sucos de laranja, uma cerveja e uma porção de batata. É isso? - Apenas confirmei com a cabeça enquanto ela colocava as coisas em cima da mesa. - Algo mais?
- Não, muito obrigada.
- Qualquer coisa é só chamar. Eu chamo Mariana.
- Obrigada, Mariana. -Larissa respondeu. A moça saiu logo após, e eu a olhei caminhando de volta. - Eita, gostou dela?
- Que conversa é essa? Ela só foi gentil.
- Gentil? Você ouviu o tom de voz dela? Que voz, menina! - Só ignorei o que ela falou e fui tomar meu suco. Laís se juntou a nós e tomou a atenção de Larissa para si.
Tinha se passado trinta minutos e eu já queria ir embora, mas a animação da minha sobrinha me deixou feliz. Ela corria, brincava, cantava, ela era a alegria da minha vida e o mais próximo da filha que eu tinha.
Estávamos olhando o mar quando a moça da barraca voltou.
- Ei, está tudo bem por aqui? Deseja algo?
- Acho que eu vou querer outra cerveja - Larissa falou, me olhando.
- São mais dois sucos, mas dessa vez pode ser de maracujá. - A moça olhava em minha direção e eu percebi que ela não era bronzeada; não parecia uma pessoa que vivia ali na praia. Ela usava short, uma blusa com o nome do quiosque e um boné. Seus cabelos pretos, longos, soltos na altura da cintura; ela era de pele clara, mas sem nenhuma marca de sol.
- Posso te recomendar um? Você vai amar... Na verdade, ele é um drink, mas fica a sua preferência, pois temos com e sem álcool.
- Interessante, eu quero. - Larissa falou, tomando uma atenção da menina para ela.
- Eu quero um sem álcool, mas traz um suco de maracujá também. - Ela sorriu para mim e ajeitou os óculos de sol.
- Gostaria de algo para comer? Posso trazer um bolinho de carne seca, que é o especial da casa. - Ela era muito simpática, e a forma como falava fazia a gente ter todo o foco nela.
- Ok, pode trazer.
- É pra já. - Ela saiu sorrindo.
- Menina, gostei dela - Larissa falou comigo, rindo.
Depois dos pedidos, Larissa e Laís foram para o mar. De longe, fiquei olhando as duas; elas são tudo de mais precioso que eu tenho. Que pena que elas têm que aturar uma pessoa como eu.
- Aqui está o seu pedido - a moça falou, se aproximando e me pegando desprevenida. - Toma e me diz o que achou. - Tomei um gole da bebida, servido em um copo longo. A bebida era um pouco colorida, com os núcleos formando um degradê entre laranja e vermelho. Em cima, um guarda-chuva rosa e um canudo da mesma cor. A bebida tinha um aroma de defumado, e o gosto lembrava um pouco de laranja e também canela.
- Olha, eu não gosto de canela, mas essa foi a melhor bebida que já tomei. - Ela concordou e colocou as outras coisas em cima da mesa.
- Essa é por conta da casa.
- Não, jamais! Está tão bom que eu já quero pedir outra.
- Que bom que gostou! Essa bebida ainda está em teste, mas agora não está mais. - O jeito dela me tirou um sorriso sincero, que há muito tempo ninguém me tirava. - Vou pedir mais um, deseja mais alguma coisa? -Neguei.
- Obrigada. - Foi o que consegui dizer. Quando virei, Larissa já estava se sentando em uma das cadeiras e Laís em outra para tomar seu suco.
Assim que terminaram de tomar e comer, voltaram para o mar. Eu já queria ir embora; só estava esperando elas voltarem pra pagar e ir. Mas quando olhei para o mar, Larissa parecia desesperada. Ela começou a gritar o nome de Laís. Me levantei da cadeira e de alguns passos; meus olhos procuraram Laís, mas eu não consegui ver. Minhas pernas travaram e as lágrimas começaram a escorrer do meu rosto. Eu só olhei para a água, via minha irmã desesperada e o reflexo do sol forte no mar.
- O que houve? - A moça que estava nos atendendo parou ao meu lado, e eu não consegui dizer uma palavra. Ela veio para minha frente, segurou minhas mãos e me olhou nos olhos. - Laís é uma menina? - Eu só confirmei com a cabeça. Ela se virou e saiu correndo para onde Larissa estava, e eu ali parada. Só vi quando ela entrou no mar; eu chorei tanto que minha vista ficou embaçada.
Depois de alguns minutos, eu ali travada e sem ver muito bem, consegui dar alguns passos, encontrando minha sobrinha desacordada ao chão, várias pessoas ao redor dela. Larissa chorou ajoelhada, enquanto a moça que eu não lembro o nome fez massagem cardíaca em Laís.
Me ajoelhei ao lado de Larissa e segurei sua mão; agora éramos nós duas chorando. A gente já ouviu a sirene da ambulância quando Laís cuspiu água. Meu coração parou por alguns segundos. Larissa pegou a filha no colo.
- Oi, mamãe - Laís falou, tossindo, com os olhos cheios de água. Nós não sabíamos o que falar, ali mesmo ela teve atendimento e foi encaminhada ao hospital. Larissa só vestiu o short e a acompanhou. Eu, ainda em choque, caminhei até a mesa e me sentei na cadeira. As lágrimas ainda escoriam; eu não poderia perder alguém novamente, principalmente alguém como a Laís. Ela é meu porto seguro, é ela quem faz com que eu levante, saia da cama, que eu tenha uma mínima vontade de viver.
- Trouxe pra você - a moça tinha um copo de água na mão. Ela estava completamente molhada e cheia de areia. - Espero que você esteja bem. - Ela colocou o copo em cima da mesa e puxou uma cadeira, sentando de frente para mim.
- Vou ficar. - Olhei para o chão e respirei fundo. - Preciso pagar para ir ao hospital.
- Não se preocupe com isso, depois que você vem e paga.
- O problema é que eu nem consigo me mover. - Ela segurou minha mão, que estava em cima da minha perna, e me fez encará-la.
- Como é o seu nome?
- Helena.
- Perfeito! Vamos o seguinte: chama um carro pelo aplicativo e eu fico de olho no seu carro. Quando você melhorar e estiver tudo bem, você vem e busca ele aqui.
- Não quero te dar trabalho, longe de mim!
- Você não me dá, só vá! - Ajeitei todas as coisas com a ajuda dela, me vesti e, antes de sair, me aproximei dela.
- Muito obrigada por ter salvo minha sobrinha e por toda sua ajuda. - Ela só balançou a cabeça e me abraçou, me pegando de surpresa. Eu não costumo abraçar estranhos, mas eu sinto que tinha uma dívida com aquela menina. - Antes de eu ir embora, qual é o seu nome mesmo?
- Mariana. - Ela sorriu e foi de uma maneira que eu pudesse acompanhar.
Fomos andando até a orla, onde eu solicitei um carro.
- Quando acho que vai voltar?
- Assim que eu estiver bem para dirigir... Mais uma vez, Mariana, muito obrigada por tudo. - Ela me abraçou novamente e me deu um beijo na bochecha
- Até já então. - Ela abriu a porta do carro para mim e me ajudou a entrar. Eu me senti dez por cento melhor, e acho que Mariana era a razão disso
Fim do capítulo
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