Capitulo 113. A origem.
Depois de sentir mais tranquilidade o tenente ficou confortável. Perguntou para Márcia:
-- Então coronel o que a senhora gostaria de falar comigo?
A coronel olhou bem para o rapaz e disse:
-- Tenente, eu gostaria de saber um pouco mais sobre o senhor. Sou do tipo de pessoa que gosta de conhecer sobre a vida dos meus comandados. Saber suas origens e de onde vieram. E olhando o seu prontuário eu vi que você é gaúcho. Seus país são adotivos. Eles ainda são vivos?
Depois de fazer as perguntas, Márcia percebeu que o rapaz ficou triste. Viu que ele abaixou a cabeça ficando permanecendo em silêncio.
-- O que aconteceu tenente? – Vi que ficou triste. Quer me contar porque ficou perturbado desse jeito?
Munhoz ficou pensando se contava ou não sobre a sua origem para a coronel. Não conheceu o pai e a mãe faleceu quando ele tinha três anos de idade. Ficou no orfanato até os oito anos quando foi adotado por um casal que abusava sexualmente do menino e ainda colocavam-no para pedir esmolas na rua. Resolveu contar para Márcia o que há muito o deixava angustiado.
-- Coronel eu nasci no Rio Grande do Sul em Santa Maria. Minha mãe morreu quando eu tinha três anos. Não sei quem é o meu pai. A única coisa que consegui descobrir depois de homem feito foi que ele era da brigada militar, nascido na mesma cidade que eu nasci e tinha duas irmãs. Inclusive uma veio para São Paulo, mas eu nunca consegui encontrar. Não sei se está viva assim como também não sei do meu pai.
A coronel ao mesmo tempo que escutava o rapaz, observava sua feição e seus trejeitos. Algo de familiar chamava a sua atenção e a cada palavra que o tenente falava, mais curiosa ficava. Munhoz continuou contando a sua história.
-- Tempos depois que minha mãe havia falecido, eu fui parar num orfanato. Fiquei lá até os oito anos. Um dia chegou um casal querendo adotar uma criança e eu fiquei feliz quando me escolheram. Porém, quando cheguei na casa deles o pesadelo começou. Fui abusado, apanhei e pedi esmolas nas ruas de Santa Maria. Uma noite depois de mais uma surra por não ter trazido dinheiro para casa, armei um plano. Quando eles foram dormir, eu fugi e corri para a estação de trem me escondendo dentro do vagão de cargas. É claro que eu havia pego bastante comida e água. Então não passei fome e nem frio porque eu tinha um cobertor muito bom. Depois de quatro dias viajando escondido, eu cheguei aqui na estação da Luz. Dali por diante eu fui ser engraxate, entregador de jornal entre outras coisas.
Quanto mais o tenente contava a sua vida, mais a coronel ficava de coração apertado por escutar tudo que o jovem passou. Lágrimas insistiram em correr dos seus olhos, mas Márcia se mantinha firme como sempre.
-- Um dia eu estava sentado com alguns meninos da rua. Devia estar com dez anos e um carro da polícia civil passou. Como os meninos eram mais espertos do que eu, eles conseguiram fugir. Também corri, mas fui alcançado por um senhor de cabelos que começavam a ficar grisalhos. Quando ele me agarrou me perguntou o que eu estava fazendo ali com aqueles meninos que eram tudo trombadinhas. Eu simplesmente disse que não estava fazendo nada, porém mesmo assim ele me levou pra delegacia.
-- Menino você fique aqui que eu já volto!
-- Fiquei esperando até que ele voltasse. Demorou muito e eu estava com fome, frio e medo. Logo que ele retornou me levou para uma sala dizendo que iria conversar comigo. Eu fiquei com medo e tentei escapar, mas ele conseguiu me pegar e levar para a sala. Quando entramos ele pediu que eu me sentasse. Logo perguntou:
-- Menino o que você está fazendo aqui nessa cidade? – Quantos anos você tem?
-- Mesmo com medo e sem saber o que aconteceria coronel eu respondi para ele tudo o que havia me perguntado. Contei sobre os abusos e tudo o que meus pais adotivos fizeram. E que por esses motivos eu havia fugido. Eu percebi que o homem havia ficado com pena de mim! – Então eu fiquei esperando o que iria acontecer. Já que eu tinha 12 anos, não tinha ninguém e nada a perder, pra mim qual fosse o meu destino eu aceitaria numa boa.
-- Tudo bem menino. Eu vou sair agora, mas aquela moça que está sentada ali, irá cuidar de você até eu voltar. Fique tranquilo que nada irá te acontecer.
-- Seu polícia eu posso pedir um negócio para o senhor?
O homem ficou olhando para o menino com desconfiança. Depois perguntou:
-- O que você quer?
-- O senhor pode me trazer um carrinho? – Pode ser de madeira, não precisa ser bonito. É que eu nunca tive um brinquedo.
Os olhos do policial assim como os outros que estavam por perto, estavam rasos de água. O menino havia conquistado a todos.
-- Eu vou trazer!
Márcia já não estava bem e pediu que o tenente esperasse um momento que ela já voltava. Ligou para a esposa e pediu eu ela viesse até o serviço reservado. Quando Andressa chegou encontrou a coronel estava na antessala pensativa. Quando viu a esposa, a abraçou e começou a chorar. Andressa se assustou e perguntou para Márcia o que estava acontecendo.
-- Ele só tinha 12 anos amor, a idade do nosso menino!
-- Mas quem meu amor?
Márcia contou para Andressa a conversa que estava tendo com o tenente. Essa ficou abismada por tudo o que ouviu e pelo que o rapaz havia passado. Depois de acalmar a coronel as duas voltaram para a sala. Isso porque Andressa também estava interessada na história. Depois de se recompor a coronel voltou para a sala. Porém, antes, pediu que trouxessem um suco de maracujá e pães de queijo. Também chamou a nora que logo se juntou a eles.
-- Desculpe tenente, eu fui resolver algumas coisas com as duas madames aqui.
Assim que viu as duas oficiais bateu continência para elas. Andressa disse ao rapaz que ficasse a vontade que a conversa não era formal.
-- Acho que podemos continuar a conversa tenente.
-- Obrigada coronel.
-- E depois quando esse policial voltou para a delegacia o que aconteceu? Perguntou Márcia.
-- Ele trouxe o carrinho e eu fiquei brincando na sala que ele tinha me levado. Logo depois a moça que ficou cuidando de mim, veio com roupas e um tênis. Mandou que eu fosse tomar banho e que tudo ficaria bem. Tomei um bom banho, me vesti e logo já tinha um prato de sopa pois estava muito frio. Há muito tempo eu não via uma comida de verdade. Depois de tudo, eu disse que iria procurar um lugar para dormir. Então a moça disse que eu iria para a casa dela e depois pensaria no que fazer em relação a mim.
-- Meu Deus tenente! – Quantas coisas você passou!
-- Mas depois dessa noite tudo mudou. Eu continuei morando na casa dela. Até que um dia, eu vi esse policial vir em casa. Estranhei porque raramente eu o via por lá. Fiquei achando que era só amizade e continuei na minha. Eu estava estudando, tinha uma casa boa, carinho ou seja tudo o que eu não tive. Um dia ele chegou com uns papéis e pediu que eu lesse com calma e me perguntou se era isso que eu gostaria. Quando li o papel de adoção eu fiquei muito feliz e disse a ele que a única coisa que eu queria, era a família que eu nunca tive. E acabei sendo adotado por eles sendo um Munhoz. Depois se casaram e com isso a minha vida mudou. Terminei o ensino médio e fiz o concurso da polícia militar. Depois prestei para a academia e hoje estou aqui. Meus país adotivos são muito importantes em minha vida. Sou filho de policiais civis que hoje estão aposentados.
-- E você mora com eles ainda hoje? Perguntou Rafaela.
-- Sim moro com eles. Espero que um dia vocês possam conhecê-los.
-- Será um prazer. Disse Andressa.
Depois de pensar um pouco, a coronel perguntou:
-- E quanto ao seu pai biológico você deseja saber? – Assim como a sua tia?
-- Sim coronel, eu desejo isso. E meus pais me apoiam totalmente, a minha mãe diz que eu tenho que conhecer as minhas origens.
-- Está bem. Nossa conversa terminou e o senhor está dispensado por hoje. Vá ficar com os seus pais.
-- Posso mesmo coronel?
-- Sim, pode ir. Amanhã nos veremos.
O tenente agradeceu as oficiais e saiu.
-- Que história mais louca! Falou Rafaela.
-- Louca e triste! Arrematou a coronel.
Fim do capítulo
A coronel desconfia de alguém?
Será quem? Algum amigo?
Bjs a todas.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 16/10/2024
Quem será o.pai dele?
A coronel já deve ter alguém em mente.
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patty-321
Em: 15/10/2024
Que estória emocionante a deste rapaz. Estou muito curiosa pra saber quem é o pai. Bjs meu bem.
Catrina
Em: 16/10/2024
Autora da história
Bom dia meu amor!
A hora que você souber a briga que vai dar Márcia e o pai do tenente, a coisa vai ficar feia.
No próximo todas saberão quem é a tia do menino.
Realmente é uma história muito triste. Mas teve um final feliz.
Bjs.
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Mmila
Em: 15/10/2024
Ela já tem a desconfiança, falta só a certeza.
Catrina
Em: 16/10/2024
Autora da história
Bom dia MMila!
Realmente você deve estar com o mesmo pensamento da coronel.
Vamos ver se é quem você e as demais amigas estão pensando?
Agradeço por estar acompanhando. Quem sabe não vire um livro. Só Deus sabe de todas as coisa.
Gratidão!
Bjs.
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Catrina Em: 18/10/2024 Autora da história
Bom dia!
Você já imagina não é?
Grata pelo seu comentário.