Capítulo narrado pela Maria Fernanda, galera
capitulo doze: acordar
POV Maria Fernanda
Como eu era a única pessoa que foi visitar Anna naquele momento e ela não tinha familiares, seus pertences foram entregues a mim. Tinha colocado seu celular para carregar e me deitei na cama, esperando-o ligar. Era protegido com senha, então entrei nas suas redes sociais pelo meu telefone para descobrir se era data de alguma coisa. Suspiro quando abro o seu perfil do Instagram e vejo suas fotos. Anna é tão linda... loira, olhos cor de mel, suas sobrancelhas arqueadas, seu nariz empinadinho e perfeito. Abro uma foto do seu feed onde ela está num elevador vestida com uma jaqueta de couro, calça jeans preta e cropped, mostrando a sua barriga bem definida. Deus, como eu queria explorar aquele corpo todinho. A legenda da foto combina mais com ela ainda: "aprendi a me amar e agora não sei o que fazer com tanto ego e narcisismo." Dou uma risada daquilo, só Anna Florence mesmo...
Em uma das fotos a vejo agarrada com uma menina, no início achei que fosse sua namorada, mas não era, era sua melhor amiga e a julgar pela foto, era hétero. Entrei em contato com ela pelo direct para explicar o que aconteceu, deixei meu número do whatsapp no final. Cinco minutos depois, eu recebo uma mensagem de Bruna, pedindo pelo amor de Deus o local onde Anna estava, combinei com ela um encontro amanhã no hospital. Anna precisava estar perto da única pessoa que ela pode chamar de família nesse momento, já que seus pais não a visitaram.
O dia amanheceu e graças a Deus era sexta-feira. Roberto estava mais tranquilo em relação às minhas visitas para Anna e contanto que eu não deixasse meu trabalho de lado, poderia visitá-la a hora que quisesse. Eu estava muito cansada, passava 6 horas por dia no hospital com Anna e depois ainda tinha que passar na empresa para trabalhar e depois finalizar o trabalho em casa, para ser entregue a Roberto sem falha alguma no dia seguinte. Ontem já tinha adiantado um embargo à execução e só tinha que enviar para ele por e-mail para que Andressa pudesse protocolar.
Tomei café, fiz minha higiene e fui encontrar Bruna no hospital. Quando cheguei lá, vi uma menina de cabelos cacheados, morena, baixinha, andando de um lado para o outro e assim que me viu, veio quase correndo em minha direção.
— Oi! Você que é a Fernanda?
— Sim, sou eu. - Sorrio
— Prazer, Bruna! Menina, me desculpe. Eu estou tão atarefada com o meu TCC que esqueci completamente de mandar mensagens pra Anna, nem notei que ela havia sumido, eu esqueci do mundo há dias. Coitada da minha amiga, sou péssima, péssima, péssima pessoa!
Bruna coloca as mãos na cabeça de forma desesperada, começa a chorar e eu percebo que naquele momento Bruna realmente é como família para Anna e Anna para ela.
— Bruna, vamos até a cantina conversar? Você se acalma e a gente toma um café, pode ser? Preciso te explicar sobre o estado de saúde da Anna.
— Tudo bem.
Ela me segue e eu peço dois capuccinos, sentamo-nos em uma das cadeiras da cantina e eu começo a falar.
— Bruna, te chamei aqui pois o estado de saúde da Anna ainda é gravíssimo, pois ela ainda não acordou. Ela não teve nenhuma sequela no cérebro, mas ainda estamos esperando-a acordar para ter certeza. Ela teve que retirar o baço, fraturou a perna e as costelas.
— Meu Deus, Fernanda! Foi feio então. E eu preocupada com TCC... Que loucura tudo isso! Mas você sabe o porquê desse acidente? Ela perdeu o controle do carro?
— Deve ter perdido, o acidente foi em uma curva.
— Os pais dela não vieram? — pergunta abaixando a cabeça
— Não. – Suspiro – Você pode me contar mais sobre isso?
— Os pais da Anna não aceitam a sexu*l*idade dela. Quer dizer, o pai da Anna não aceita. A mãe dela ficou ao lado dela e o pai se separou da mãe e se separou da Anna desde então. Anna sente-se muito culpada por tudo, por isso é meio amarga desse jeito que ela é, mas é gente boa. Minha amiga sofreu muito na vida dela, ela se fechou para o mundo depois disso e depois da decepção amorosa dela na adolescência. Anna é uma pessoa que guarda muito rancor, como pode ver. – sorri – E você? O que é da Anna?
— E... eu...? Sou amiga dela, colega de trabalho, na verdade. Eu sou nova na empresa e Anna tem me ajudado bastante, ficado ao meu lado, me chamando para conversar, mas nos últimos dias notei que ela estava triste e distante, depois sofreu esse acidente. Não sei o que se passa na cabeça dela.
— É só amizade mesmo? — perguntou desconfiada – ou você está gostando da minha amiga?
Dou um sorriso para Bruna que continua me olhando desconfiada.
— Sim, eu estou gostando da Anna. Ela me deixou encantada por ela e eu confesso que quero descobrir no que vai dar.
— A Anna merece uma segunda chance, mas por favor, não a magoe. Ela já se feriu demais nessa vida.
Conversamos mais algumas coisas sobre Anna e ela foi me contando sobre seus pais, ouvi tudo atentamente e fiquei perplexa em saber como que o preconceito pode afastar as pessoas que se amam, como pode a sexu*l*idade de alguém interferir no sentimento familiar? De um pai com sua filha e por consequência o casamento dos seus pais? A cabeça da Anna deveria ser uma bagunça.
Acabamos tomando nosso café entre conversas e risadas, eu gostei muito de Bruna e ela de mim. Bruna era muito comunicativa e engraçada e se não fosse pela situação tensa, diria que adoraria tê-la conhecido. Fomos andando em direção à UTI e demos os nossos nomes na recepção, quando abro a porta vejo uma moça sentada numa cadeira ao lado de Anna, a expressão de Bruna muda completamente. Aquela moça não era estranha, eu a conhecia de algum lugar.
— O que é que você está fazendo aqui? – Grita Bruna
A moça se vira e olha para ela com uma cara de choro, olhos inchados e com as mãos entrelaçadas na de Anna. Era a mulher que estava no banheiro com Anna na empresa, a esposa daquele cara da empresa de transportes... Como assim Bruna a conhecia?
— Por favor, Bruna. Não faça uma cena. Não aqui.
— Seu pedaço de estrume, o que você está fazendo aqui? Quer acabar com a vida dela de novo? Como você ficou sabendo que Anna estava aqui se nem eu fiquei sabendo?
— Anna e eu temos uma história. Assim que eu soube eu vim vê-la, não desejo o mal dela.
— Vocês têm? Tem uma história? Ou TINHAM uma história? Você a procurou de novo, não é? Fala, Beatriz! É por sua causa que Anna está aqui?
Ela abaixa a cabeça e tenta sair por aquela porta, eu a puxo pelo braço para Bruna confrontá-la. Eu precisava saber mais, aquela era minha... concorrente? Anna estava saindo com ela? Como assim? Minha concorrente me olha com um olhar fuzilador, solta os braços das minhas mãos.
— Nós nos encontramos quando meu marido teve um problema na empresa dele e fomos contratar a firma de advocacia onde Anna trabalha, eu não sabia que ela trabalhava lá, um amigo de Kevin nos indicou e passou o caso pra Anna. Nos encontramos, nos beijamos e vivemos tudo aquilo de novo, satisfeita? – deu um sorriso irônico.
— E aí você viu que não era isso que você queria pra você e dispensou a Anna, não é mesmo? Porque você a-d-o-r-a brincar com os sentimentos dela – devolveu o sorriso irônico.
Resolvo intervir, pois as pessoas já estavam começando a olhar para gente e era falta de respeito discutir em meio à uma UTI de hospital.
— Meninas, agora não é o momento. Estamos aqui pela Anna, certo? Pois vamos estar aqui por ela e respeitar as pessoas que estão doentes aqui também e os demais familiares.
As duas parecem me ouvir, Beatriz volta até o leito de Anna, dá um beijo na testa dela e aquilo me dá ânsia, eu estou de frente com a mulher que a Anna mais amou na vida dela querendo retornar para o seu lugar. Anna me conhece há dois meses e só havia demonstrado carinho e um pouco de ciúmes por mim. Eu estava perdendo essa de lavada. Ela sai por aquela porta e eu volto meu olhar para Anna. Chamo Bruna para se aproximar e ela vem comigo. De repente, sinto Anna se mexer. Olho para ela e não consigo falar nada, meus olhos ficam marejados e Bruna começa a falar com ela:
— Anna, sou eu. Acorda, por favor.
— Beatriz... Bia...
Anna ainda não tinha aberto os olhos, mas minha vontade foi de imediatamente sair dali e de chorar, não acredito que ela estava ainda chamando essa mulher depois de tudo que ela a fez passar, só podia ser um tipo de amor masoquista e doentio entre as duas. Não ia me meter entre as duas, obviamente. Eu não ia me prestar a esse papel, se bem que Anna ainda nem sabia do que eu sentia por ela. Bruna olha para mim balançando a cabeça negativamente, ela não aprovava essa situação e isso estava nítido.
— Não sou Beatriz, mas posso destruir sua vida em um piscar de olhos se falar dela de .novo, quer ver? – diz Bruna em um tom ameaçador
Anna abre os olhos, pisca algumas vezes e olha para Bruna, que segura sua mão. Imediatamente eu vou chamar uma enfermeira para ajudar. Por sorte um médico estava passando no corredor e deu instruções aos enfermeiros para tirar aquele tubo da Anna, visto que ela agora já conseguia respirar sem ventilação.
— A mocinha já vai poder ir para a enfermaria já, só estou esperando a liberação. Um maqueiro vem buscá-la daqui há alguns minutos. Com licença
O médico se retira e Anna e Bruna ficam conversando baixinho, Bruna aponta para mim e Anna me olha como se não acreditasse que eu estivesse ali. Ela estende a mão em minha direção e eu a pego, ela faz um carinho na minha mão direita com seu dedo polegar.
— Como você está? – pergunto
— Bem... eu acho. Você esteve aqui o tempo todo? – ela arqueia uma das sobrancelhas
— Te arrancam um baço e você acha que tá bem? – sorrio – Anna, você não existe. E sim, eu estava aqui na maioria do tempo.
— Meus pais não vieram?
A carinha que ela me olhou me deixou triste, era como se ela estivesse tão frágil... De repente, cai uma lágrima dos seus olhos e ela a limpa imediatamente, como se estivesse tentando impedir seus sentimentos de florescerem.
— Você pode chorar, Anna. Eu estou aqui e Bruna também. Não tem problema nenhum nisso, eu... – ela me interrompe
— Eu não vou mais chorar por isso, Fê. Nunca mais. Eles estão mortos e enterrados para mim, eu não tenho pais, sou órfã de pais vivos e isso dói de um jeito pior que a morte.
(...)
Uma semana depois, Anna tem alta do hospital e eu e Bruna fomos buscá-la. Era incrível como as duas tinham uma sintonia incrível, se implicavam o tempo todo, mas era nítido que se amavam.
— Nós vamos nessa lata velha aí? – desdenhou Anna
— Anna, você quer voltar para o hospital? Quer perder o nariz, fazer uma rinoplastia para perder o seu nariz empinado, talvez?
Bruna fuzilou Anna com o olhar, depois riram uma para a outra. O carro de Bruna era um Renault Clio do ano 2009. Bruna era professora da educação infantil, não ganhava muito, mas fazia seu trabalho por amor. Era uma das poucas professoras que eu via falar com tanta empolgação sobre crianças, ela ainda não havia desistido da educação e espero que não desista, pois no mundo precisamos de mais professoras como Bruna. Conversamos muito enquanto Anna estava no hospital, ela era uma pessoa incrível, sem dúvidas.
— Cadê o meu carro, por falar nisso? – Anna pergunta e essa é uma pergunta que eu literalmente não quero responder, sei o quanto ela batalhou para comprar aquele carro e iria ficar chateadíssima quando soubesse.
— Amiga, ele deu perda total. Ele ficou em um estado deplorável com o acidente, não sei nem como você saiu viva de lá.
— E meu celular?
— Está comigo.
Ela faz uma cara de espanto e Bruna percebe, começa a sorrir.
— Fica tranquila, Anna. Ela não viu seus nudes.
— Sua idiota!
Elas começam a se bater e eu as convenço de entrar no carro, Bruna foi dirigindo até a casa de Anna e quando adentrei sua sala fechei meus olhos e comecei a lembrar da última vez que flertamos ali.
Bruna diz que vai preparar o almoço para Anna e eu pergunto se ela quer ajuda, ela diz que não, provavelmente era uma desculpa para nos deixar a sós, sento-me no sofá e apoio uma almofada em meu colo, Anna liga o som e começa a tocar “Eyeless”, do Slipknot e após protestos de Bruna na cozinha, ela tira. Peço para colocar minha playlist do spotify e coloco “wildest Dreams”, da Taylor Swift para tocar baixinho. Peço para Anna deitar-se com a cabeça apoiada na almofada em meu colo, começo a acariciar seus cabelos loiros em um cafuné.
— Tive medo de você não voltar. – Confesso
— E se eu te dissesse que eu não queria voltar?
— Tentou se matar? – pergunto espantada
— Não. Só estava muito magoada com algumas coisas e, por fim, acabei não prestando atenção na curva, mas naquele momento eu só queria minha casa, minha cama, desabar... desaparecer, sabe?
— É aquela mulher, não é? A tal Beatriz?
— Quem te contou sobre isso? – ela me olha
— Não foi difícil perceber com ela lá no hospital e depois você a chamou pelo nome enquanto acordava. – Reviro os olhos
— Ela foi lá no hospital? Eu ouvi uma voz... era dela, com certeza.
— Só a voz dela que você ouviu? – disparo
— O que está acontecendo, Maria Fernanda?
— Nada. Só não quero que sofra e que isso chegue mais longe e te deixe pior do que já te deixou. A Bruna me contou tudo, isso não é saudável para você. Não aceita menos do que você merece, você é uma pessoa maravilhosa e tem um futuro brilhante pela frente, não a deixe te destruir assim.
Ela me olha pensativa, desconfiada, eu pego meu celular e troco a música para “Seize the day”, do Avenged Sevenfold. Começo a cantarolar olhando nos seus olhos, eu sabia que ela iria entender a mensagem. Ela tinha que entender. porr*, não é possível que essa mulher não veja o quanto eu estou encantada, apaixonada, completamente louca por ela.
I found you here
(Eu te encontrei aqui)
Now, please, just stay for a while
(Agora, por favor, fique por um tempo)
I can move on with you Around
(Posso seguir em frente com você por perto)
I hand you my mortal life, but will it be forever?
(Eu te entrego minha vida mortal, mas será que isso é para sempre?)
I'd do anything for a smileI'd do anything for a smile
(Eu faria qualquer coisa por um sorriso)
Holding you till our time is done
(Abraçando você até o tempo acabar)
We both know the day will come, but
(Nós dois sabemos que o dia virá, mas)
I don't want to leave you
(Eu não quero te deixar)
Ela continua me olhando e aproveito o momento para chegar um pouquinho mais perto do seu rosto, não queria precipitar as coisas, eu queria que Anna me beijasse quando ela sentisse vontade para isso, então dei um singelo beijo demorado em sua testa. Ficamos ali aproveitando algumas músicas de rock que ela gostava, Bruna olhava para a gente da cozinha shippando a gente e sorrindo, ela olhava pra mim e me dava apoio, pois sabia que o que eu sentia por Anna era verdadeiro.
Foi um almoço maravilhoso, conversamos muita coisa e eu fiquei sabendo coisas sobre Anna que Bruna fazia questão que eu soubesse, era um prazer para ela envergonhar Anna na minha frente. Estava ficando tarde e eu iria pegar um Uber para ir embora, tinha que estar cedo no escritório amanhã. Me despedi de Bruna com dois beijos no rosto, Anna me levou até a porta e ficou esperando o carro junto comigo.
— Obrigada por tudo, Fê. Não tenho palavras para agradecer o cuidado que você teve comigo, obrigada por não ter me deixado sozinha no hospital... não sei nem como te agradecer.
— Eu sei como você pode me agradecer – disse me aproximando do ouvindo dela – me chama de Maria Fernanda, Fernanda todo mundo chama e eu gosto de ser só sua.
Mando um beijo no ar para ela e caminho até o carro. Deus, me segura para não agarrar essa mulher!
Fim do capítulo
E aí, estão gostando?
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Mmila
Em: 27/09/2024
Sim, gostando muito.
Será realmente que a Anna vai investir na Maria Fernanda?!?!?!?
Vamos aguardar os próximos capítulos.
tayl0rmaniac4
Em: 28/09/2024
Autora da história
Será que ela vai descobrir esse sentimento?
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jake
Em: 27/09/2024
Bom. Acho que Anna deveria dar um basta na Beatriz e seguir a vida dando uma chance pra Fernanda.
tayl0rmaniac4
Em: 28/09/2024
Autora da história
Gente, pq vcs odeiam tanto a Bia? ):
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Marta Andrade dos Santos
Em: 26/09/2024
Eita direta mulher de atitude viu.
tayl0rmaniac4
Em: 28/09/2024
Autora da história
ela é hahahaha
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