Capítulo narrado pela Beatriz, para vocês saberem a versão dela da história
capitulo onze: sentimentos
CAPÍTULO 10. SENTIMENTOS.
POV BEATRIZ
Anna saiu por aquela porta de hotel... e eu desabei.
O choro veio sem filtro, sem controle. Como ela não consegue me perdoar? Mas, sinceramente, se eu estivesse no lugar dela, talvez também não perdoasse. Nem sei o que se passava pela minha cabeça naquela época. Só sei que destruí a vida da pessoa mais incrível que já conheci.
A Anna de antes era doce, romântica, cheia de pequenas surpresas. Deixava bilhetinhos escondidos na minha mochila, cartinhas dobradas no estojo. Às vezes, me puxava até o banheiro só pra me dar um beijo, outras vezes, ia até a porta da minha casa e esperava minha mãe sair para que a gente pudesse namorar escondido.
E eu? Eu só pensava em farra. Em provar para minha mãe que eu não ia ser como ela: uma sapatão.
Sim. A ironia. Minha mãe era casada com uma mulher, mas não aceitava que eu me relacionasse com uma. Tinha medo do que os outros iriam pensar. Isso gerou tantas brigas entre nós... E, num esforço absurdo para provar que o que eu sentia era só uma fase, comecei a sair com vários meninos. Acabei me ferindo e ferindo a única pessoa que, de fato, me amou com verdade.
O que eu fiz com Anna naquele aniversário não foi intencional. O garoto me agarrou no ponto de ônibus, bem na frente de todo mundo. A escola inteira já desconfiava de mim com Anna, e então, por puro desespero e preconceito próprio, agarrei ele de volta. Queria manter a fachada. Provar para todos que eu era "normal". Que mentira ridícula.
Mas ela viu o beijo.
Ela estava logo atrás. Foi embora... com aquela insuportável da Bruna, que sempre fazia questão de nos afastar.
Depois daquilo, ela sumiu por uma semana. E quando voltou, estava com o cabelo cortado, o olhar distante. Parecia outra pessoa. Tentei me aproximar, mas ela nunca mais falou comigo. Me bloqueou em tudo — redes sociais, mensagens, ligações. Passei a ser uma sombra na vida dela. Eu a via no corredor e ela simplesmente... não me via. Mas quando nossos olhares, por acaso, se cruzavam, eu ainda enxergava amor ali. Amor... e dor.
Agora, sozinha nesse quarto de hotel, começo a fazer as malas. Mando mensagem para o motorista me buscar de manhã, cedo. Que se dane o horário.
Reencontrar a Anna fez tudo voltar com uma força absurda. A paixão adolescente. O fogo, o tesão, o carinho... e a raiva. A raiva de mim mesma. De ter jogado tudo fora. E pra completar o caos, eu estou casada com Kevin, vivendo uma vida de fachada.
Como conheci Kevin? Claro, minha mãe. Praticamente me empurrou nos braços dele quando descobriu que ele era dono de uma grande empresa e eu, na época, ralava dez horas por dia numa lanchonete. Disse "sim" porque parecia o caminho mais fácil. Hoje, tenho luxo, conforto, acesso a tudo — menos amor. Tudo o que ele exige em troca é fidelidade. E nem isso eu consegui manter.
Já traí Kevin inúmeras vezes. Ele nunca me satisfez. Aliás, homem nenhum. Na cama, era como trans*r com o tédio. E uma mulher, quando cola velcro, não quer guerra com ninguém. Eu o traía com várias mulheres.
Deito, programo o celular para despertar às seis da manhã e cochilo.
Horas depois, sou acordada por uma ligação. Era o motorista, apenas peguei minha sala, fiz check-out no hotel e saí.
No carro, enfrentamos um engarrafamento horroroso na Avenida Atlântica por conta de um acidente. Fecho os olhos, tentando descansar um pouco, mas uma notícia no rádio me faz gelar.
O nome da Anna é mencionado.
Meu coração dispara, a garganta fecha.
Não pode ser. Ela saiu bem daquele quarto! Nós trans*mos, nos entregamos, revivemos tudo o que fomos... e, de repente, ela escapou. Como areia entre os meus dedos.
— Nossa... será que os motoristas estão bem? Pelo visto o acidente foi feio — pergunto, tentando soar neutra.
— Não sei, dona Beatriz... parece que a moça se machucou muito. Nem sei se sai viva dessa — responde Rodolfo.
Sinto meu peito se abrir em desespero.
Mas como eu veria Anna agora, com Rodolfo colado em mim? Ele contaria tudo para o Kevin, e o inferno começaria. Não. Eu precisava agir diferente. Precisava pensar.
Na rádio, o nome do hospital foi mencionado. Guardei imediatamente no celular.
Comecei a contatar todo mundo que conhecia. Já havia trabalhado como garota de programa por uma semana e, nesse tempo, conheci muitos médicos. Comecei a mandar mensagens.
Encontrei um. Ele trabalhava no mesmo hospital.
Quando eu era PG, usava o pseudônimo de... Anna. Engraçado, né? Foi o primeiro nome que me veio à cabeça naquela época.
Ele me passou informações sobre a internação dela. Perguntei se conseguiria me liberar para vê-la.
— E como vai me pagar? — ele perguntou.
Revirei os olhos. Óbvio que não seria com dinheiro. Ele queria me ter de novo. Disse que eu tinha sido "a melhor" com quem ele já transou. Mal sabe ele que eu nem gosto de homem.
Perguntei se ele poderia subir a serra até Petrópolis. Ele respondeu que subiria até a lua por mim.
Marquei o encontro para de madrugada — horário em que consigo dopar Kevin e deixá-lo dormindo feito um bebê.
Agora precisava de uma desculpa para voltar ao Rio. Liguei para Ariane, amiga dos tempos de escola. Disse que queria vê-la, que estava com saudade. Na minha cabeça, tudo estava pronto. Eu só precisava encarnar meu papel. E, por Anna, eu faria qualquer coisa. Anna é minha. Eu não vou deixá-la sozinha quando mais precisa — mesmo que ela não queira nem me ver.
À noite, estou na cozinha conversando com Cida quando Kevin chega.
— Oi, amor — ele me beija, sorrindo.
— Oi, meu bem. Como foi o dia?
— Cansativo. Mas produtivo. Tive uma reunião boa com os investidores. Aquela advogada prepotente resolveu tudo...
Sinto o estômago revirar. Anna. Ele fala dela sem saber.
— Vai tomar um banho. Eu já subo.
Espero cinco minutos. Entro no quarto, fico nua e coloco apenas um robe. Me olho no espelho. Louca. Eu só posso estar louca.
Entro no banheiro. O vejo atrás do box. Dou um sorriso sedutor. Abro o blindex, me aproximo e o beijo, molhada, intensa.
Kevin reage como sempre: mãos apressadas, gestos bruscos. Eu só consigo pensar em Anna.
Kevin é rude. Anna era delicada. Ela olhava nos meus olhos, buscava o meu prazer, me fazia mulher. Com ela, eu me sentia amada. Com ele, apenas usada.
Mesmo assim, levanto a perna e o recebo. Meu corpo ali, mas minha mente... em outro lugar.
Lembro dos beijos de Anna, dos toques, do jeito como ela me fazia gem*r, como me dava tapas e pedia que eu gem*sse mais alto.
Preciso disso. Por ela. É o preço que estou pagando.
Kevin goz* rápido. Me segura, dá tapinhas no meu rosto. Típico.
Finjo carinho. Dou banho nele. O levo até a cama.
— Vou fazer um chá pra você, meu bem. Pra relaxar.
— Faz aquele de capim-limão.
Na cozinha, espero Cida sair. Pingo quatro gotinhas do remédio no chá. Ele ia dormir como um bebê.
Volto ao quarto, coloco o babydoll para fingir que vou dormir. Me deito, leio um livro. Ele bebe o chá e, minutos depois, está roncando.
Troco de roupa, vejo pelas câmeras que a casa está vazia. Pego um dos carros e vou ao encontro do ex-cliente num motel. Transamos. Eu só pensava em Anna. Disse a ele que seria a última vez. Ele me garantiu acesso total à paciente.
Me fez prometer que não faria mal à Anna. Tadinho. Mal sabe que o que quero é só amor.
Saio do motel às cinco da manhã. Chego em casa e Kevin ainda dorme. Lavo a roupa, visto o babydoll de novo e deito. Exausta.
Ao acordar, Kevin já saiu para o trabalho. Ligo para Ariane e combino tudo. Antes, passo na empresa.
— Que surpresa boa — ele diz, sorrindo.
— Vim avisar que vou ao Rio. Ariane se separou, tá mal. Vou dar apoio.
— Poxa, Bia... você acabou de voltar.
Me aproximo, coloco as mãos nos ombros dele, faço massagem. Chego perto do ouvido e sussurro:
— Quando eu voltar, vou fazer amor com você igual fiz ontem. A semana inteira.
— Danada... Tá bom. Promete que me liga todo dia?
— Prometo.
Saio aliviada. Ainda mais quando ele diz que Rodolfo não estará disponível. Perfeito.
Pego um dos carros e dirijo até o Rio. Duas horas de estrada. Cansativo. Estressante. Mas tudo por ela.
No hospital, mando mensagem. Ele me libera. Caminhamos juntos pelos corredores até a UTI. Quando vejo Anna...
Meu coração desaba.
Ela está tão pálida, tão frágil. Aproximo-me, toco seu rosto, ajeito uma mecha de cabelo. Seguro sua mão.
— Anna... você tá me ouvindo?
Nada. Nenhuma reação.
— Meu amor... me perdoa. Por tudo. Eu sei que errei. Mas, por favor, acorda. Sai dessa cama. Volta a ser aquela mulher incrível, forte... a minha advogada poderosa.
O monitor apita. Meu coração aperta.
— Eu não posso mudar o passado, mas posso te dar um futuro. Eu te amo, Anna. Eu te amo do meu jeito torto, mas é amor de verdade. Eu ainda tenho os livros, os CDs, as cartas... Eu lembro de tudo. Do Slipknot, da camisa que te dei...
Minhas lágrimas começam a cair. O corpo treme. É o frio do hospital ou o gelo na alma?
— Eu deveria ter sido forte por nós duas... por você. Eu te enterrei, Anna. Literalmente. Lembra da praça onde íamos? Enterrei lá tudo que me lembrava de você. Mas nada morreu. Tudo em mim ainda vive. Por favor, não me deixa...
Começo a chorar descontroladamente. Nunca me permiti chorar assim. Nunca me permiti sentir tudo isso tão forte. Eu só queria que ela soubesse... só queria que ela me ouvisse.
Meu corpo não aguenta. Me encolho ali, ao lado do leito, e adormeço.
Até ouvir uma voz fria e cheia de raiva:
— O que é que você está fazendo aqui?!
Fim do capítulo
E aí, quem será que flagrou Beatriz no hospital?
Comentar este capítulo:
Lea
Em: 05/01/2025
Foi a mãe de Anna que chegou.
A mãe de Beatriz é aquele tipo de pessoa hipócrita. E a outra mãe, não ficou muito claro o que ela pensava sobre isso!
Se a Anna precisa de terapia,a Beatriz precisa tanto quanto ela.(Ainda não as quero juntas).
nath.rodriguess
Em: 05/01/2025
Autora da história
OBS: a mãe da Anna sempre foi omissa, o pai de Anna não a aceitava e nem ela, mas o amor que ela sentia pela Anna a fazia "respeitar e conviver".
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jake
Em: 24/09/2024
Beatriz é completamente louca...
Chave de cadeia....
Cai fora deixa a Anna ser feliz....
nath.rodriguess
Em: 28/09/2024
Autora da história
Ela vai deixar a Anna ser feliz sim... só se for com ela hahahaha
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Marta Andrade dos Santos
Em: 24/09/2024
Cai fora chave de cadeia passagem para o além.
Bota pra corre Maria Fernanda.
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nath.rodriguess Em: 05/01/2025 Autora da história
A mãe da Beatriz nunca aceitou a sexualidade da filha, sempre a empurrou para homens, na tentativa da filha se garantir no dinheiro alheio. No decorrer da história ela vai explicando isso.
Amando seus comentários, é super importante pra mim esse feedback =)