Capítulo narrado pela Beatriz, para vocês saberem a versão dela da história
capitulo onze: sentimentos
Anna sai por aquela porta de hotel e eu desabo em choro, não é possível que ela não consiga me perdoar depois do que eu fiz, mas acho que se fosse eu no lugar de Anna, nem eu perdoaria. Eu não sei o que se passava pela minha cabeça naquela época, mas eu acabei com a vida da pessoa mais incrível que eu já conheci.
Anna era doce, romântica, tentava me surpreender sempre com bilhetinhos ou cartinhas na minha mochila ou então me puxava para o banheiro a fim de me dar um beijo, ia na porta da minha casa e esperava minha mãe sair pra gente namorar... E eu só pensava em farra, em provar pra minha mãe que eu não ia ser como ela: uma sapatão. Sim, minha mãe era casada com uma mulher, mas não admitia que eu me relacionasse com uma, ela tinha medo do que a sociedade iria pensar, isso foi motivo de várias brigas entre nós duas e então comecei a sair com vários meninos a fim de provar para mim mesma e para ela que tudo o que eu sentia por meninas era só uma fase e por consequência, eu acabei magoando a pessoa que mais me amou na vida.
Eu não quis fazer aquilo com Anna no aniversário dela, Marley acabou me agarrando no ponto de ônibus e como estava na frente da escola toda que já desconfiava que eu ficava com Anna, acabei agarrando-o também, eu já estava ficando com certa fama e queria mostrar àquelas pessoas que eu não era nada daquilo, porém, Anna estava bem atrás de mim. Ela foi embora, junto daquela insuportável da Bruna que só conseguia me colocar contra ela. Anna faltou uma semana, depois chegou com os cabelos cortados no colégio, parecia uma nova pessoa. Eu ainda tentei falar com ela, mas ela nunca mais falou comigo, eu fui bloqueada em todas as redes, inclusive ligação e mensagem. Parecia uma sombra que havia passado pela minha vida, eu a olhava e ela não me olhava de volta, mas sempre quando nossos olhares se cruzavam, eu via amor no seu olhar, mas também havia dor.
Começo a arrumar minhas malas e peço ao motorista para me buscar pela manhã bem cedo. Foda-se o horário. Quando reencontrei Anna eu senti tudo aquilo que eu senti por ela na adolescência: paixão, fogo, tesão, carinho, raiva... Tudo ao mesmo tempo. Eu tinha raiva de mim por tudo que eu havia a feito passar e para piorar a situação, estava em um casamento hetero normativo com Kevin.
Como nos conhecemos? Minha mãe, é claro. Quase me atirou nos braços dele quando soube que ele era dono de uma empresa grande e eu, trabalhando em uma lanchonete 10 horas por dia, disse sim. Hoje levo uma vida luxosa, tenho o que eu quero, a hora que eu quero e tudo que ele me pede é fidelidade. Bom, não fui honesta com ele nessa última parte, já o havia traído várias e várias vezes, ele não me satisfazia na cama e uma mulher quando cola velcro não quer guerra com ninguém.
Deito na cama, coloco meu celular para despertar às 6h da manhã e cochilo. Acordo com uma ligação do motorista me aguardando na porta do hotel, pego minhas coisas e saio, sem olhar para trás.
Estamos em um engarrafamento horroroso na Av Atlântica devido a um acidente e céus, eu só quero ir para a minha casa descansar. Fecho os meus olhos e começo a cochilar quando escuto na rádio sobre o acidente, quando falam o nome da Anna eu quase tenho um troço. Meu coração acelera e minha garganta fica seca... Como assim a Anna sofreu um acidente, porr*? Ela saiu bem daquele quarto de hotel! Nós trans*mos, nós vivemos nosso amor, nos entregamos e depois ela escapou... entre os meus dedos.
— Nossa, será que os motoristas vão ficar bem? Pelo visto o acidente foi feio. – Pergunto a Rodolfo, motorista e fiel escudeiro de Kevin.
— Não sei, dona Beatriz. Pelo visto a moça se machucou muito, nem sei se vai sair viva.
Quando ele fala isso, meu peito se abre e começo a ficar extremamente nervosa. Como eu ia ver Anna com esse brutamonte atrás de mim? Se eu for vê-la agora ele irá contar para Kevin e vocês já podem imaginar o rebuliço que vai virar minha vida. Não, eu tenho uma ideia melhor.
Guardo o nome do hospital em que Anna está no celular, na rádio foi anunciado. Vou mexendo meus pauzinhos e vou entrando em contato com todo mundo que eu conheço. Fui garota de programa por uma semana, então nesse meio tempo atendi vários médicos, fui mandando mensagem para todos eles.
Enfim, encontrei um que trabalha no mesmo hospital que Anna está internada. Quando eu era garota de programa, usava um pseudônimo: Anna. Não sei por qual motivo, mas era o primeiro nome que passou pela minha cabeça quando fui fazer primeiro PG.
Pego todas as informações sobre Anna e pergunto se ele pode me dar acesso livre para vê-la e ele me pergunta como vou pagá-lo pela informação. Suspiro. Pergunto qual quantia em dinheiro ele quer para tal e ele diz que quer me comer de novo, pois fui "a melhor garota com quem ele já transou e olha que eu já transei com muitas". Eu ainda tenho que escutar isso, sério? Nem de pau eu gosto e tinha sido a melhor dele. Ok.
Pergunto se ele pode subir a serra para me encontrar em Petrópolis e ele diz que por mim subiria até a lua. Marco com ele de madrugada, pois é a hora que consigo dopar Kevin para ele dormir como um bebê.
Meu coração dispara, eu ainda tenho que pensar numa desculpa para descer a serra de novo para o Rio de Janeiro. Ligo para Ariane, uma amiga dos tempos de escola e peço para encontrá-la, pois faz tempo que não nos vemos e eu ia dar um chá tão gostoso no Kevin que ele não ia se importar que eu descesse para o Rio de novo. Estava tudo armado na minha cabeça. Estava tudo pronto. Eu só tinha que entrar no meu personagem pela Anna. E por ela eu iria até o fim do mundo. Anna é minha, porr*. Não vou deixar meu amor no momento em que ela mais precisa de mim – por mais que ela não queira nem me ver pintada.
A noite chega e eu estou conversando com Cida, nossa empregada na cozinha. Kevin chega da empresa e vem me cumprimentar com um sorriso para lá de apaixonado.
— Oi, amor. – Beija-me nos lábios.
— Oi, meu bem. Como foi o trabalho hoje?
— Tô morto. Vou tomar um banho. Tive uma conversa com os investidores hoje muito positiva, tenho que agradecer aquela advogada prepotente. – Meu coração aperta
— Vai que eu já vou subir.
Essa é a minha deixa. Espero cinco minutos que é o tempo de ele tirar a roupa e entrar no banheiro. Entro no quarto e fico totalmente nua, ponho apenas meu hobbie e me olho no espelho. Eu só posso estar ficando louca.
Vou até o banheiro e entro, posso ver sua expressão surpresa pelo box transparente e dou um sorriso safado pra ele, arrasto o vidro do blindex e o beijo, simplesmente o ataco dando um beijo molhado, ele imediatamente põe a mão na minha cintura, mas desço suas mãos até minhas nádegas. Ele gem* e automaticamente já vejo sua ereç*o. Pfff, homens...
Kevin se virou pra mim, a boca no meu pescoço, as mãos explorando meu corpo, passeando por ele e eu só conseguia pensar em Anna. O toque era muito diferente, era impossível não comparar. Kevin era rude, áspero, bruto... Anna era carinhosa, olhava olho no olho e pensava no meu prazer: me fazia goz*r, me fazia mulher, me fazia sentir amada, levantei a perna e o recebi. Nesse momento, só conseguia pensar em Anna e nossa última vez, seus beijos em meu corpo, ela ch*pando os meus seios de uma forma que me fazia enlouquecer, ela me ch*pando, me penetrando e me fazendo ficar de quatro... Comecei a pensar em tudo isso para suportar. Precisava fazer isso por ela. Impossível não pensar na cara que Anna fazia quando dava tapas em minha bunda e me pedia para gem*r mais alto. Sinto um tremor dentro de mim nesse exato momento e Kevin goz*. Ele me segura e da uns tapinhas em meu rosto, da forma como sempre fazia quando acabávamos de trans*r. Tento ser carinhosa com ele e termino de banhá-lo, dou a mão pra ele e o deito na cama.
— Vou fazer um chá pra você, meu bem. Precisa relaxar.
— Faz o de capim limão.
Assenti e fui para a cozinha, me certifiquei que Cida não estava por perto e peguei o remédio no armário: 4 gotinhas e ele ia dormir como um bebê. Kevin não era nenhum idoso, mas já estava beirando os 50 anos então já tinha mania de tomar chás para dormir e claro que eu quase sempre me aproveitava disso.
Retornei ao quarto e coloquei o babydoll na sua frente afim de que ele visse que minha intenção era dormir, deitei-me ao seu lado e comecei a ler um livro, Kevin me deu a xícara vazia e contei 10 minutos no relógio, logo ele começou a roncar daquele jeito asqueroso dele.
Coloquei um vestido para sair ao encontro do meu ex cliente, me certifiquei de olhar nas câmeras se os funcionários já haviam ido embora, quando vi que não havia mais ninguém, peguei o carro e fui ao encontro dele no motel. Transamos loucamente aquela noite, pensei em Anna a todo momento, eu estava ficando cansada de ter que usar meu corpo para conseguir o que eu desejava. Combinei com ele que essa seria a última vez e que ele me daria acesso à paciente a hora que eu quisesse, quando eu quisesse. Me fez jurar que eu não ia matá-la, que não seria para fazer mal. Coitado, mal ele sabia que eu queria fazer bem... Queria mostrar pra Anna todo o meu amor, ficando ao seu lado.
(...)
Era 5h da manhã e eu saí do motel, fui direto para casa e Kevin ainda dormia como um bebê, coloquei o vestido na máquina de lavar e vesti o mesmo babydoll de ontem à noite, deitei-me ao seu lado e adormeci exausta. Anna me fazia cometer loucuras.
Quando acordei Kevin já tinha ido trabalhar e eu decidi ligar para Ariane, minha amiga que morava no Rio e da mesma época da escola para dizer que estava indo visitá-la para contar alguns babados, inclusive que Anna voltou pra minha vida, mas antes de ir para o Rio precisava avisar ao Kevin que iria voltar para lá de novo.
Coloquei um look bonito e fui para a empresa e Kevin, chegando lá eu abri a porta e ele estava trabalhando.
— Que surpresa você aqui! Entra, meu bem.
— Oi, meu bem. Vim aqui te avisar que vou ao Rio novamente, Ariane me chamou para passar a semana com ela, ela está se sentindo muito sozinha depois que se separou. Tenho que dar apoio.
— Poxa, Bia! Você acabou de voltar do Rio, já vai para lá de novo?
Dou a volta na mesa, paro atrás dele e coloco as mãos no seu ombro, fazendo uma massagem.
— Você sabe que eu nunca consigo me acostumar com Petrópolis... Esse friozinho daqui não me faz bem, mas quando eu voltar prometo que vou fazer amor com você do jeito que fiz ontem a semana toda – abaixo-me próxima ao seu ouvido e mordo o lóbulo da sua orelha.
— Danada, você sabe que é gostosa e me deixa louco. Tá bom, tudo bem. Promete que vai me ligar todo dia?
— Prometo, meu bem.
Conversamos mais algumas amenidades e saio dali aliviada, principalmente por ele ter me dito que eu ficaria sem motorista, pois Rodolfo estava dirigindo alguns dos caminhões e fazendo serviços para ele essa semana.
Volto para casa e pego um dos nossos carros na garagem. Desço em direção ao Rio, direto para o hospital. Anna, eu tô indo, amor.
Uma hora e cinquenta minutos foi o tempo que fiquei dirigindo, que vontade de explodir! Faz muito tempo que não dirijo e me sinto cansada. Trânsito me estressa demais, não sirvo pra isso de forma alguma. Chego no hospital e mando mensagem para meu ex cliente para liberar minha entrada. Ele acena pra mim com a cabeça e entro com ele, logo que ele me mostra a UTI que Anna está, sinto um aperto no peito enorme. O que aconteceu com você, meu amor?
Aproximo-me do seu leito e tiro uma mecha de cabelo do seu rosto, ela estava tão pálida naquela cama que nem parecia a Anna. Seguro sua mão, entrelaço nossos dedos e digo:
— Anna, tá me ouvindo?
Olho bem pra ela e não consigo observar nenhuma expressão em seu rosto.
— Minha linda, você não tem noção do quanto eu tô me sentindo mal por você estar aqui. Anna, me perdoa. Me perdoa por tudo que eu te fiz, me perdoa por todas as coisas ruins, mas se você não quiser me perdoar, pelo menos se levanta dessa cama, vai. Levanta dessa cama e volta a ser minha incrível e poderosa advogada, que você vá lá e vença o mundo todo pois você sempre foi mais forte do que eu nesse quesito. – Algumas lágrimas caem e o aparelho apita, olho o seu rosto, mas ele continua sem expressão, continuo: — Eu não posso apagar o passado, mas eu posso mudar o presente e o futuro, Anna me dá uma chance, eu sou completamente apaixonada por você, pelo seu jeito, pelo seu carinho, pelo jeitinho que você me olha depois de tantos e tantos anos, você ainda é a mesma Anna, o sentimento continua o mesmo e o meu também. Sai dessa cama e dá uma chance pra gente, eu não sei como minha vida vai ficar, mas eu não posso existir em um mundo onde você não exista. Eu guardei todos os livros e os CDs que você gravou pra mim. Eu lembro de todas as músicas... Eu lembro que você pegou o violão e tocou uma música do Slipknot tão bem que eu te dei uma camisa, lembra? Eu sempre fui apaixonada por você... Só não tinha coragem, a minha mãe não aceitava, quer dizer, não aceita... Eu só queria ser perfeita pra ela e você só queria ser perfeita para os seus pais. Anna, eu deveria ter sido forte por nós duas, deveria ter aguentado pelo nosso amor. — Começo a chorar muito nesse momento, também começa a me dar uma tremedeira, eu não sei se era o frio do hospital ou era o frio que a minha alma estava sentindo naquele momento.
— Eu ainda guardo cada carta, cada ursinho que você me deu... Eu enterrei, Anna. Enterrei naquela praça que sempre íamos, lembra? – Sorrio com a lembrança – Você me marcou tanto... Cada coisa que eu sinto aqui dentro ainda é viva, eu te amo tanto. Eu te amo do meu jeito torto, mas eu amo. Por favor, não me deixa.
Esse desabafo gerou em mim um choro incontrolável, como eu queria estar dizendo isso pra Anna pessoalmente, Deus! Por qual motivo eu não consegui dizer isso a ela? Por qual motivo nossa história nunca ia para frente? 90% da culpa era minha, eu sei..., mas não consigo entender como as coisas conseguem ser tão injustas. As minhas lágrimas se tornaram fortes, eu não conseguia controlar o choro. Nunca havia me permitido chorar daquela forma, nunca havia permitido que a minha história e da Anna fosse contada de novo. Eu estava fraca, não podia ser fraca pra Anna, eu tinha que estar aqui e ser forte. Me permiti chorar ali até cair em um sono profundo. Meu coração estava dilacerado, tudo isso era culpa minha.
Ouço uma voz atrás de mim e meu coração para por alguns instantes.
— O que é que você está fazendo aqui?!
Fim do capítulo
E aí, quem será que flagrou Beatriz no hospital?
Comentar este capítulo:

Lea
Em: 05/01/2025
Foi a mãe de Anna que chegou.
A mãe de Beatriz é aquele tipo de pessoa hipócrita. E a outra mãe, não ficou muito claro o que ela pensava sobre isso!
Se a Anna precisa de terapia,a Beatriz precisa tanto quanto ela.(Ainda não as quero juntas).

nath.rodriguess
Em: 05/01/2025
Autora da história
OBS: a mãe da Anna sempre foi omissa, o pai de Anna não a aceitava e nem ela, mas o amor que ela sentia pela Anna a fazia "respeitar e conviver".
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jake
Em: 24/09/2024
Beatriz é completamente louca...
Chave de cadeia....
Cai fora deixa a Anna ser feliz....

nath.rodriguess
Em: 28/09/2024
Autora da história
Ela vai deixar a Anna ser feliz sim... só se for com ela hahahaha
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Marta Andrade dos Santos
Em: 24/09/2024
Cai fora chave de cadeia passagem para o além.
Bota pra corre Maria Fernanda.
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nath.rodriguess Em: 05/01/2025 Autora da história
A mãe da Beatriz nunca aceitou a sexualidade da filha, sempre a empurrou para homens, na tentativa da filha se garantir no dinheiro alheio. No decorrer da história ela vai explicando isso.
Amando seus comentários, é super importante pra mim esse feedback =)