capitulo dez: inconsciente
POV: Maria Fernanda
Acordo 4h30 da manhã morrendo de sono. Esses dias de trabalho foram tão intensos que não tive tempo para respirar, mas sou extremamente grata pelo que eu estou vivendo. Levanto-me da cama e logo sou seguida por León, meu gato preguiçoso e arteiro. Ele era preto com branco, muito parecido com o frajola, confesso que quase coloquei o nome dele assim, se não fosse pela minha ex, Alessandra. Estávamos passeando pelo shopping e ouvi alguns latidos e um burburinho, era uma feira de adoção e obviamente eu quis entrar.
León estava no canto, afastado dos outros gatinhos, pois estava incomodando-os, era muito arteiro e hiperativo. Comecei a brincar com ele e percebi que a sua linguagem de amor era a mordida e foi amor à primeira vista, falei que o nome dele ia ser Frajola, mas Alê disse que não combinaria com sua personalidade, pois Frajola era um nome muito fofinho e ele não era. Seria mais bonito um nome de impacto e sugeriu León. Eu adorei a ideia, nem preciso dizer que assinei os papéis de adoção responsável e saí com ele pelo shopping para comprar todos os mimos possíveis que um pet pode ter.
León começa a miar e se esfregar em mim pedindo comida e coloco ração em seu pote, vejo se a fonte de água está ligada, pois o bonito não bebe água parada, só corrente. Isso é culpa minha, o mimo desde o primeiro dia que veio aqui para casa.
Ligo a televisão enquanto vou preparar meu café da manhã, gosto de ouvir as notícias antes de sair de casa. Ouço o jornalista falar:
“Uma batida em uma curva entre dois carros, que fez um deles capotar, deixou duas pessoas feridas na madrugada dessa quarta, na Avenida Atlântica, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Segundo o Corpo de Bombeiros, o quartel do bairro foi acionado às 3h15 da manhã para o acidente, que aconteceu na pista sentido Forte de Copacabana, entre os postos 3 e 4. Chegando ao local, os agentes encontraram as duas vítimas, um homem e uma mulher. O homem, que estava num carro Honda HRV está com ferimentos moderados no hospital, mas a mulher que estava em um Kwid branco, o carro que capotou, está em um quadro delicadíssimo, já foi encontrada desacordada e com ferimentos graves. O nome do motorista é Eduardo dos Santos Pena, já o nome da motorista ainda é desconhecido, pois foi encontrada sem documentos e o carro está muito danificado para uma averiguação do corpo de bombeiros nesse momento.”
Quando o repórter falou Kwid branco, meu coração gelou na hora. Anna tem um Kwid branco.
Corro para encontrar meu telefone no quarto, o tiro do carregador de indução e mando uma mensagem pra Anna, resolvi mandar uma mensagem normal, pois se não fosse ela naquele carro, eu não ia parecer tão desesperada.
*MaFe:*
– Bom dia, Dra Anna 😊
Mas a mensagem não chega. Me desespero e ao mesmo tempo tento me acalmar: calma, talvez esteja dormindo, Maria Fernanda. Mas estamos falando de Anna Florence, ela sempre chega na empresa mais cedo, então ela já estaria acordada a essa hora. Suspiro. Mal termino o meu café e já vou tomar meu banho para trabalhar. A minha cabeça estava passando tantas coisas nesse momento que deixei o celular no banheiro com a tela na conversa da Anna para que se ela me respondesse eu visse logo, mas ela não respondeu. A mensagem não havia chegado pra ela.
Tomo meu banho rápido e me arrumo mais rápido ainda para chegar à empresa, acho que nunca fui tão básica nesse mês que estou trabalhando lá. Peguei qualquer blusa que não precisasse passar no guarda-roupa, coloquei uma calça pantalona preta e um sapato mocassim, sorrio olhando pro sapato. Anna elogiou ele uma vez e me perguntou onde comprei, disse que queria um igual. Estava pensando em comprar e dar de presente à ela, por todas as coisas boas que ela fez por mim desde quando cheguei ao escritório. Anna tinha sido maravilhosa comigo, além de ser linda, era dona do sorriso mais lindo de toda a galáxia, com certeza. Nossos flertes, seu ciúme em relação aos outros funcionários, o jeito como ela me olhava me deixava com uma pontinha de esperança de ser correspondida, mas Anna tinha uma pendência na sua vida que eu não sabia o que era exatamente, ela tinha uma aura incrível de mulher decidida, mulher autossuficiente, mas ao mesmo tempo era frágil. Como eu queria saber mais sobre sua fragilidade, saber mais sobre a sua vida, sua família... O que ela me contou no dia que trabalhamos até tarde não foi o suficiente, eu queria me aprofundar naquela mulher, eu queria beijar aqueles lábios carnudos que pareciam ser muito gostosos de beijar, queria me aprofundar naquele corpo maravilhoso e quando ela usava calça de alfaiataria a deixava com o bumbum avantajado, coisa que me enlouquecia. Espero sinceramente que ela nunca tenha percebido isso.
Ela estava tão aérea esses dias, não havia me procurado e estava desviando o olhar do meu, não acho que é algo de propósito, mas ela está completamente fora do foco, com um olhar que se eu pudesse definir, seria de tristeza. Meu coração aperta com esse pensamento, será que ela está passando por alguma coisa e precisa de ajuda? Eu nutria um sentimento pela Anna que ainda não sabia definir, mas queria muito conhecer Anna Florence de verdade, em todos os sentidos.
Me apresso ao sair de casa e pego o metrô em direção ao trabalho insuportavelmente cheio. Vou espremida que nem uma lata de sardinha, coloco meus fones de ouvido e coloco no mix da Taylor Swift, os primeiros acordes de “Enchanted” começam a tocar e eu fecho os meus olhos. Talvez eu esteja sendo melodramática demais, talvez Anna esteja lá na mesa dela emburrada por algum processo de direito empresarial que tem que resolver ou simplesmente puta pois tem que sair para ir ao fórum despachar com o juiz.
Se eu fosse definir o que eu sinto pela Anna, seria um sentimento parecido com o que essa música me faz sentir. Eu estou encantada por uma loira de olhos cor de mel, linda demais, competente, inteligente, maravilhosa, com lábios grossos que eu sinto vontade de beijar a todo momento... caio em mim e volto a ficar preocupada com Anna, minha estação chega e eu saio daquele metrô desesperada em direção ao escritório, posso dizer que saio quase correndo pelas ruas, tropeçando na multidão enquanto mantenho meu pensamento em Anna.
Chego ao 12º andar quase esbaforida, o elevador se abre e eu saio quase pulando dele, vou em direção à sua mesa e me certifico do que eu já imaginava: ela não está lá. Olho para o relógio, são 06h45 em ponto. Ela costuma chegar a essa hora, seu horário é 07h30 e ela sempre chega antes para adiantar alguma coisa. Vou até a minha sala e começo a rodar em círculos, olho meu telefone e vejo que a mensagem ainda não chegou para ela. Começo a ligar, cai direto na caixa postal. Que droga, Anna! Onde é que você se meteu? Já sei, café! Anna é viciada em café, deve estar na copa. Vou em passos largos até a copa da empresa, abro a porta e para o meu desespero ou minha sorte, quem está lá são Andressa e Ralf, os mais chegados da Anna na empresa.
— O que foi, Maria Fernanda? Você está pálida! – diz Ralf ao me ver entrar
— Vocês PRECISAM me ajudar. A Anna, ela... acho que ela sofreu um acidente grave e eu não estou conseguindo falar com ela.
— Como assim? Me explica direito – diz Andressa
Explico toda a situação para os dois, que já começam a dar seus telefonemas, dificilmente alguém iria nos atender aquela hora, mas por um milagre dos céus, Andressa tinha um ex-namorado que é enfermeiro e trabalha no Hospital Miguel Couto, no Leblon. Ele disse que chegou uma moça vítima de um acidente de carro em estado gravíssimo, cujo seu nome é Anna Florence Rodrigues. Fico tonta por alguns estantes e pergunto aos dois o que vamos fazer. É nesse momento que aquele belzebu entra na copa e olha para nós três – um de cada vez.
— Posso saber o que está acontecendo aqui? – Pergunta Roberto
— A Dra Anna sofreu um acidente, está em estado gravíssimo no hospital. Estávamos tentando saber para qual hospital ela foi, para que possamos ajudá-la de alguma forma – responde Andressa, pois eu não tinha forças para responder nada.
— Como assim um acidente? – pergunta estranhamente nervoso
— De carro, na madrugada de ontem – diz Ralf
— Vejam o que está ao alcance de vocês e o que não estiver, me procurem. A Dra Anna é uma das nossas melhores associadas, a empresa não gostaria de perdê-la – diz e simplesmente sai, deixando-nos perplexos.
Minha Anna, como eu queria que você estivesse aqui para ver esse careca otário te elogiando. Volta logo, por favor. – Sinto meus olhos marejarem, mas não deixo as lágrimas saírem para que Ralf e Andressa não percebam.
Vou até a minha sala e afundo-me na cadeira, pego a caneta, coloco-a entre os meus dedos médio e indicador e começo a bater na mesa, indicando que a minha ansiedade estava gritando naquele momento e eu tinha que manter a calma. Ligo para o ramal de Andressa e peço a ela para perguntar ao ex-namorado se Anna estava sozinha no hospital e quando soubesse a resposta me retornasse. Eu não sabia sobre nada, eu não sabia sobre seus pais, eu não sabia sobre seus amigos, eu não sabia nada sobre sua família, mas não queria que ela tivesse só naquele momento.
Andressa me liga e diz que ela está sozinha, não há parente algum de Anna no hospital ainda. Em um impulso, dois minutos depois estou batendo na sala de Roberto, com uma coragem absurda, não sei de onde surgiu isso, mas Anna Florence tinha que estar aqui para ver isso. Ele me manda entrar e sentar à sua frente, despejo sem rodeios:
— Conseguimos saber onde a Anna está, mas ela está absolutamente sozinha lá, ela não tem nenhum parente próximo com ela nesse momento e o mais próximo que ela tem de família somos nós. Queria sua autorização para poder ficar lá com ela nesse momento. Se algum parente aparecer, eu retorno para o trabalho, mas... nesse momento eu não posso imaginar como ela está sozinha lá, naquele estado. – Enterro minhas mãos em meu rosto – Eu só preciso do seu aval para ir.
— Senhorita Maria Fernanda, eu quero que a senhorita saiba que essa empresa não aprova namoro entre funcionários. – diz sério – no entanto, você pode ir. Me mantenha informado sobre o estado de saúde da Dra Anna. Vou passar seu trabalho para o Ralf e Andressa. – ele me olha – O que está esperando? Vá!
Passo na minha sala, pego minha bolsa e saio correndo, não sem antes avisar a Ralf e Andressa que eu estava indo ver Anna. Meu coração batia fora do peito naquele momento, eu não conseguia enxergar mais nada e obviamente não ia pensar no comentário de Roberto. Afinal, como ele sabia que flertamos? É tão óbvio assim? Afasto esses pensamentos da minha cabeça e foco no problema: não ia de metrô pois queria chegar rápido. Peguei meu celular com as mãos trêmulas e chamei um carro por aplicativo, que estava há 1 minuto de distância, graças a Deus.
Entrei no carro e o motorista cumprimentou-me, fui cordial pois não queria papo com ninguém naquele momento, mandei mensagem para Ralf e Andressa para ver se conseguiam contatar alguém da família de Anna, eles disseram que estavam tentando desde a hora que fomos interrompidos por Roberto na copa.
Meia hora depois cheguei ao hospital, na recepção eu estava meio perdida e falei o nome dela, a recepcionista não me deu muita atenção pois tentava atender recepção, telefone, e-mail, tudo ao mesmo tempo. Sentei-me em uma das cadeiras da recepção para ver se acalmava o burburinho para que eu pudesse falar com alguém. É quando sinto uma mão no meu ombro, me olhando de cima.
— Desculpe-me se te assustei, sou Roger, enfermeiro aqui do hospital e amigo da Andressa. – sorri timidamente
— Oh, sim! Ela falou de você. Roger, eu consigo vê-la? Algum parente apareceu?
— Por sorte você veio no horário de visita e pode entrar só uma pessoa e não, nenhum parente apareceu. Porém, os pais foram avisados. Certifiquei-me disso. Caso eles apareçam, você sai e eles entram, ok? Geralmente só deixam entrar familiares. – explicou – vem comigo.
Fomos em direção à recepção, ele entrou no balcão e falou no ouvido da recepcionista, que olhou para ele desconfiada e ele abriu um sorriso, ela balançou a cabeça sorrindo negativamente. Pediu meus documentos, fez o cadastro e me deu um papel para colar no meu peito escrito meu nome e logo abaixo “visitante”, peguei o papel e a agradeci. Virei-me para Roger e sorri, ele fez um movimento com a cabeça para que eu pudesse acompanhá-lo.
— Onde ela está? – pergunto
— Na UTI – ele me olha nesse momento e é muito empático com a minha dor – Olha, ela está inconsciente, sofreu politraumatismo, rompeu o baço e fraturou a costela e as pernas. Ela ficou presa nas ferragens e isso dificultou um pouco o trabalho do corpo dos bombeiros.
— Ela vai acordar?
— Infelizmente eu não consigo te dizer isso, mas a Anna teve uma concussão que é uma perda de consciência, não foi nada grave no cérebro dela, mas como passou por uma esplenectomia e foi sedada para ser realizada a cirurgia, ela não deve acordar agora.
— Esple o quê? – questiono
— A retirada do baço. – sorriu
— Então o estado de saúde dela não é mais gravíssimo?
— Por enquanto ainda é gravíssimo, vamos ver o que os médicos vão dizer depois que o efeito da anestesia e da sedação passar – pisca pra mim – Ei, você não quer ver a Anna? Vai lá, não perca tempo.
Ele abre a porta da UTI e vejo a minha Anna deitada, completamente imóvel e frágil naquele leito. Aproximo-me dela e a vejo entubada, completamente pálida funcionando sob aparelhos naquele momento. Por mais que ele diga que a Anna não sofreu nada grave no cérebro, me deu um calafrio só de pensar. Anna, onde você estava e o que estava pensando? Observo as outras pessoas naquela UTI, cada um conversando com seus parentes. Uns pacientes acordados e outros não, mas as pessoas ainda mantinham a fé e a esperança. Seguro a sua mão e começo a conversar com ela:
— Oi, Anna. – sorrio fraco – Sou eu, Maria Fernanda. Eu preciso muito que você me escute agora, está bem?
As lágrimas começam a cair e não consigo segurá-las, mas continuo falando com ela mesmo assim.
— Minha Anna, eu sou tão grata por ter conhecido você... uma pessoa tão linda por dentro e por fora, você não tem noção do quanto fiquei feliz quando me ajudou com aquela pilha de arquivos que o Roberto quis que eu resumisse. Obrigada por tudo o que fez por mim desde o momento em que eu cheguei, acho que eu nunca conheci alguém tão bondosa e ciumenta na minha vida – sorrio com esse comentário e começo a sussurrar as palavras seguintes bem perto do seu ouvido – Por falar em ciúmes, você precisa levantar daí para eu poder te dizer que estou completamente encantada por você e que meu maior desejo é poder te abraçar e te beijar, pois todas as vezes que a gente flertou eu fiquei morrendo de vontade de você.
Nesse momento eu sinto um espasmo na sua mão que estou segurando, observo bem o seu rosto, mas ela não acorda.
— Você precisa me contar tudo sobre você, eu quero te conhecer por inteira pois você pra mim é incrível e com certeza o cargo de advogada júnior já é seu, meu bem. Por falar nisso, Roberto te elogiou hoje, disse que não queria perder uma das suas melhores associadas. Nossa, amor! Você ganhou o dia, hein? Vindo do Roberto, praticamente ele declarou que não te odeia – dou uma risada baixa – Eita, te chamei de amor. Não sei se você é o meu amor, mas queria que você soubesse que fiquei muito preocupada com você, quase morri com a possibilidade de perder você, sem antes poder te falar que uma das coisas que eu sinto por você é: meu coração acelera só de ver você chegar perto, quando você chega no trabalho toda linda e poderosa eu fico admirada pois você tem uma luz incrível. Você é educada, tem um sorriso lindo, é empática, paciente... ah, tem tantos elogios que eu quero te fazer pessoalmente. Por isso, levanta dessa cama, viu? Eu tô te esperando para falar tudo isso pessoalmente. Eu vou te esperar, Anna. Não vou desistir de você.
Beijo sua mão e vejo as pessoas se despedindo dos seus parentes, chegou a hora de ir. O horário de visita acabou e eu não me sinto mais tranquila por ter visto Anna, me sinto ainda mais preocupada. Preocupada com sua vida e com seus pais, por qual motivo eles não vieram lhe ver? Se são vivos, a filha no hospital em estado gravíssimo não era motivo suficiente para se preocuparem? Mais um mistério sobre Anna Florence e eu vou desvendá-lo. Ah, se vou. Eu vou revirar sua vida todinha, Anna. Se você não consegue me dizer, eu irei descobrir.
Fim do capítulo
Meninas, não matei a Anna! Só deixei-a de castigo por um tempinho, o que vocês acharam desse capítulo narrado pela Maria Fernanda?
Spoiler: o próximo quem vai narrar é a Beatriz.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 21/09/2024
Eu sábia que essa Beatriz é secretária da morte aí quase te leva em Anna .
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