A escuridão da noite era sua melhor aliada. Fernanda se movia pela cidade com passos silenciosos, calculados, como uma predadora que estudava a presa antes de atacar. Seu alvo daquela noite era Pedro Valente, um nome que o sistema havia esquecido, mas que Fernanda não conseguia ignorar. Ele havia escapado da justiça várias vezes, um traficante de pessoas que lucrava com o sofrimento alheio, e que, no entanto, continuava livre, intocável pela lei.

Ela havia passado semanas observando, planejando cada detalhe. Sabia onde Pedro morava, os horários em que saía, e, mais importante, sabia que ele pensava estar acima de qualquer punição.

Fernanda, no entanto, tinha uma ideia diferente.

Ela havia dito a Bianca que viajaria para um congresso de advogados em outra cidade. Era uma desculpa frequente, que se encaixava perfeitamente em sua vida profissional. Bianca sempre acreditava, enviando mensagens de apoio e desejando-lhe boa sorte, sem nunca suspeitar que as "viagens a trabalho" de Fernanda eram, na verdade, noites em que ela se tornava algo mais do que apenas uma advogada.

Pedro estava em um galpão abandonado, em um dos bairros mais decadentes da cidade. Ele se achava seguro ali, protegido por muros altos e portas trancadas. Mas nada disso poderia deter Fernanda. Com uma precisão meticulosa, ela desativou a fechadura eletrônica da entrada e entrou silenciosamente, seus passos abafados pelo concreto desgastado.

Ela o encontrou sozinho, sentado em uma mesa, cercado por pastas e documentos ilegais, com um copo de whisky na mão. Quando ele a viu, seus olhos se arregalaram por um breve momento, antes de ele sorrir, confiante.

— Quem é você? Veio atrás de dinheiro ou algo mais? — Ele falou com arrogância, levantando-se devagar, claramente subestimando a presença dela.

Fernanda permaneceu em silêncio, seu rosto inexpressivo. Ela não estava ali para falar. Não estava ali para negociar. Pedro nunca entenderia, mas para ela, aquilo não era apenas uma questão de matar. Era justiça, uma retaliação por todas as vítimas cujas vidas ele havia destruído.

Com um movimento rápido, Fernanda sacou a faca que trazia escondida, afiada como um bisturi. Antes que Pedro pudesse reagir, ela o atacou com precisão, um corte letal que atingiu seu pescoço. Ele tentou gritar, mas o som ficou preso na garganta enquanto o sangue começava a escorrer.

Enquanto ele caía no chão, se contorcendo, Fernanda se abaixou ao seu lado, observando o fim se aproximar. Seus olhos estavam fixos nos dele, sem piedade. Para ela, aquilo era uma tarefa, um dever. Pedro Valente não escaparia mais da justiça.

Quando tudo terminou, Fernanda se levantou lentamente, limpa como sempre, sem deixar rastros. Ela havia se tornado mestre em apagar qualquer vestígio de sua presença. Ao sair do galpão, a mesma sensação de controle e ordem a preenchia, como se estivesse restaurando o equilíbrio que o mundo havia perdido. A adrenalina a mantinha alerta, mas também a lembrava de algo importante: ninguém nunca poderia descobrir quem ela realmente era.

Horas depois, já em seu carro, Fernanda pegou o celular e viu uma mensagem de Bianca: "Sinto sua falta. Como está o congresso?"

Ela hesitou por um momento antes de responder: "Tudo bem, estou exausta. Falamos amanhã. Boa noite, amor."

Ela jogou o celular de volta no banco do passageiro, sentindo uma onda de culpa. Não por Pedro — ele merecia o que recebeu —, mas por Bianca. Bianca acreditava nas mentiras, acreditava que Fernanda era alguém que podia ser compreendida, alguém aberta e honesta. A verdade era outra, e Fernanda sabia que, se Bianca descobrisse, tudo acabaria.

"Eu estou fazendo isso por uma razão", repetia para si mesma. Era a maneira como mantinha algum senso de moralidade em seu mundo distorcido. Somente criminosos. Somente aqueles que mereciam. Mas a linha entre o certo e o errado estava cada vez mais tênue.

O carro desapareceu na noite, e Fernanda deixou mais um crime para trás. Mais uma vida tomada, mais um segredo enterrado

Fim do capítulo