Segredos revelados
O sol da manhã iluminava o apartamento que Fernanda e Bianca começavam a dividir com mais frequência. Embora o relacionamento delas estivesse crescendo, algo sempre parecia pender no ar, uma tensão velada que Bianca não conseguia ignorar. Fernanda era enigmática, fechada quando se tratava de seu passado, o que só instigava a curiosidade de Bianca.
Um dia, enquanto Fernanda estava fora em uma viagem a trabalho, Bianca se viu presa a essa curiosidade. Sabia que Fernanda havia sido adotada, mas nunca haviam falado sobre os detalhes. E, como assistente social, lidar com questões de adoção e origens familiares era parte de sua rotina. Ainda assim, o passado de Fernanda permanecia uma caixa fechada.
Naquela manhã, Bianca cedeu à tentação. Usando seus contatos no sistema, ela começou a investigar. Sabia que não devia, mas justificava para si mesma: "Se é importante, talvez eu possa ajudá-la. Talvez entender mais sobre a infância dela nos aproxime.
Ao fim de algumas horas, Bianca encontrou o que procurava. Um arquivo antigo, registros de um orfanato onde Fernanda havia passado seus primeiros anos antes de ser adotada. Mas o que ela descobriu foi perturbador. As notas nos arquivos indicavam que, ainda muito jovem, Fernanda havia se envolvido em incidentes violentos. Comportamentos que foram descritos como "perturbadores" e "inquietantes" para uma criança de sua idade. Um incidente específico detalhava uma briga entre Fernanda e outra criança que havia terminado de maneira brutal.
Bianca sentiu um calafrio subir pela espinha. Ela nunca havia visto esse lado de Fernanda, mas o relatório sugeria que algo sombrio estava lá desde o início.
Naquela noite, quando Fernanda voltou para casa, Bianca estava estranhamente distante, distraída. Não sabia como abordar o assunto, mas sabia que não conseguiria esconder o que havia descoberto.
— Você está bem? — perguntou Fernanda, enquanto tirava os sapatos.
Bianca tentou disfarçar, mas sua expressão a traiu.
— Eu... estive pensando em algumas coisas hoje. — Ela respirou fundo, suas palavras saindo hesitantes. — amor, eu estava curiosa sobre seu passado. Você sempre foi tão fechada, e eu queria entender mais sobre você. Então... eu fiz uma pesquisa.
O silêncio que se seguiu era pesado. O rosto de Fernanda se endureceu.
— O que você fez, Bianca? — Sua voz era fria, perigosa.
— Eu... procurei informações sobre sua adoção — confessou Bianca, sentindo o peso de suas próprias palavras.
Fernanda não disse nada no início, mas a mudança em sua expressão foi imediata. Sua postura, antes relaxada, agora estava rígida, os punhos cerrados ao lado do corpo. Bianca nunca tinha visto aquele olhar em seus olhos antes — uma mistura de raiva e algo mais profundo, quase como... medo?
— Como você ousa? — Fernanda sussurrou, sua voz baixa, mas carregada de uma fúria que Bianca não reconhecia. — Meu passado... não é da sua conta.
Bianca deu um passo para trás, alarmada com a intensidade da reação de Fernanda.
— Eu só queria entender você melhor, eu achei que...
— Você achou o quê? Que poderia invadir minha vida assim? Mexer onde não foi chamada? — A voz de Fernanda estava cada vez mais afiada. — Existem coisas em mim que você não entenderia. E é melhor assim. Se você realmente me amasse, não teria feito isso.
Bianca sentiu uma pontada de culpa, mas também algo mais — a sensação de que havia mais em Fernanda do que ela havia imaginado. Algo mais sombrio.
— Eu te amo, Fernanda. É por isso que eu fiz isso. Eu pensei que poderia te ajudar...
— Ajudar? — Fernanda riu, mas o som era amargo, quase cruel. — Você acha que pode consertar tudo, não é? Que com sua empatia e bondade, pode salvar o mundo. Mas eu não sou alguém que pode ser salvo.
Os olhos de Bianca se encheram de lágrimas. Ela não sabia o que responder, sentindo-se dividida entre o amor que sentia por Fernanda e o medo crescente do que estava descobrindo.
— Amor... O que você está escondendo de mim?
Fernanda a encarou, o silêncio preenchendo a sala como uma sombra. Finalmente, ela deu um passo à frente, se aproximando de Bianca, sua voz suave, mas com um tom ameaçador.
— Eu avisei. Você não vai gostar do que vai encontrar se continuar cavando.
O ar entre elas ficou denso, o vínculo que antes parecia inquebrável agora frágil, à beira de se partir. Bianca sabia que estava tocando em algo profundo, algo que talvez nunca pudesse desfazer.
Fernanda saiu do apartamento naquela noite, deixando Bianca sozinha com seus pensamentos, o coração pesado de incertezas.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]