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ACONTECIMENTOS PREMEDITADOS por Nathy_milk

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Palavras: 3974
Acessos: 736   |  Postado em: 15/09/2024

Capitulo 58

Capítulo 57- AP


A  luz do sol, jateada sob o nublado poluído de São paulo, entrava no meu quarto. Eu sinceramente não faço ideia de que horas são, e não quero saber. Antes de abrir os olhos, eu me localizei em tempo e espaço e senti um cheiro gostoso de pele, de corpo. Eu estava tão encaixada na Bia, ou melhor, ela estava tão acoplada em mim, que eu não queria soltar o Lego, não queria sair dali. 

Tentei ficar ali, encaixadinha mais um tempinho, mas percebi que com a minha movimentação, por mais que sutil, fez a Bia acordar e sei que ela está fingindo dormir também. Então com carinho  fui dando beijinho no pescoço dela, bitoquinhas, bitoquinhas, um cheiro, um beijo, até que ela puxou o ar fundo, esticando o corpo. Alongou o corpo todo se espreguiçando, mas sem desencaixar de mim. Hummm, que bom seria se a vida parasse e pudéssemos ficar para sempre nessa bolha, sem queixas, sem preocupações, sem trabalho. 

É, mas não podemos. 

- “Vamo” acordar?! - perguntei com a voz mais fofa que consegui

- Ah, não quero, aqui está tão gostoso - puxou meu braço, se encaixando mais ainda em mim. 

- Ah Dona Bia, se depender de você, passo o dia aqui deitada.

- Bem, você está merecendo uma férias. 

- Nem dispensa eu tenho mais, quem dirá férias amor. No máximo posso te dar mais cinco minutinhos aqui, deitada comigo, no quentinho. 

- Eu quero! Não me solta não! - apertei mais um pouco mais a conchinha, como se estivesse abraçando ela. Ficamos ali, mais um tempinho, só ouvindo a respiração, sentindo a presença. 

- Chega Bia, já deu de ficar nessa cama. 

- Não. 

- Oh, vou te fazer uma proposta, quase irrecusável. 

- Recuso sair da cama.

- Poderiamos levantar - dei um beijinho - nos ajeitar - mais um beijinho - e ir tomar café - mais um beijinho - naquela padaria que você gosta? No sr. Isaac. 

- Humm, posso pensar - virou o corpo em minha direção, deitada de frente. 

- Aí depois do café, se quiser voltamos pra casa ou se estiver no pique damos uma outra volta, um passeio por aí.

- Quanta energia de manhã? 

- Não é energia Bi, é que vai começar a semana, e não vamos mais nos ver. 

- Oshhh, não trabalhamos no mesmo lugar.?

- Linda, desde que acabou a operação te vi quantas vezes no DP? Você entra na caverna dos fotógrafos e eu nunca mais te vejo. 

- Meu laboratório não é uma caverna. 

- Tudo escuro, com cheiro de produto químico. 

- Tá, tá bom Flavinha, tá bom - e fez uma careta, desagradando do comentário sobre o laboratório. 

- Quer ir tomar café lá no Sr. issac? Aceita o convite. 

- Você querendo ir tomar café no Sr Isaac é algo raro, tenho que aceitar. Sei lá quando eu vou receber de novo esse convite. 

- Beatriz…. - a carinha de “ é verdade” dela, foi tão bonitinha que não consegui retrucar - Vou tomar um banho rapido, 15 minutos fora. 

- Não me vem com essa palhaçada de academia (se referindo a academia de polícia), vou me arrumar no meu tempo. Com 15 fora ou 1 hora fora - Sorri para ela entendendo sua reclamação e confesso que achei legal ela se posicionar. Não gosta de pressão de tempo e pode se posicionar, aceito o posicionamento dela. Não vou ficar entrando em detalhes chatos, nem cabe isso a mim, mas ela teve um namorado bem violento que fez academia, talvez esse traço que pra mim é normal, seja desconfortável para ela. E está tudo bem se posicionar, deve. E claro, sem retaliações físicas ou emocionais, porque não faz minha cara isso. 


Deixei ela deitadinha na cama, peguei uma muda de roupa e segui para um banho rápido. Quando voltei para o quarto, ela não estava mais, tinha ido para o quarto dela. Pouco tempo depois eu escutei o barulho do chuveiro, me senti bem em poder convidar ela para ir nessa padaria. Eu gosto de ir lá, é uma padaria cara, mas um pãozinho ou um café não vão acabar com minhas finanças. Com a Bruna eu não poderia ir, na verdade nem convidei ela, com a mania de grandeza dela iria querer comer  lanche mais caro ou achar que eu era sem cultura por pedir alguma coisa que cabia  no meu bolso. Então estou muito feliz em poder chamar a Bia para ir comigo. 

Pouco tempo depois a Bia me chamou do corredor: - Partiu amor? - acho fofo ela me chamando de amor. Encontrei ela esperando na porta do apartamento, como sempre linda. Estava com um vestido soltinho, verde, de alça. Delicado e recatado do jeito dela, mas que encaixou muito nela. 

            - Está maravilinda! Gosto muito desse seu vestido! - estiquei minha mão

        - Acho que você já viu todas minhas roupas bonitas! - fez uma carinha triste! Me aproximei mais dela, puxando a mão. 

            - Mas nunca tinha te olhado com o desejo que hoje olho! - falei olhando firme pra ela, não foi no cunho sexual, foi mais de cunho afetivo. Já vi ela usando esse vestido verde, mas nunca tinha olhado ela como mulher. 

          A Bia é muito tímida, quando eu lancei essa cantada seu rosto ficou vermelhão, quase roxo e ela com uma expressão envergonhada mesmo. Me aproximei dela e segurei seu rosto, suavemente, mão na bochecha, lábio no lábio, beijinho para dizer o quanto acho ela linda. 

               - Acho que vou usar vestidos mais vezes então. Pelo visto, você gostou! 

               - Você fica maravilhosa de vestido. Mas Bi - falei firme, olhando pra ela - quero que vista o que te faz bem! Nunca, olha pra mim, nunca, vou te obrigar a usar qualquer tipo de roupa. Você é linda como pessoa. Quero que se sinta bem com a roupa que quiser - ela pulou em mim, me dando um abraço. Um abraço carinhoso, senti como um obrigada, como um “estou segura”. Não sei o quanto a Bia viveu ou sofreu com o Ricardo, nem cabe a mim curar as dores dela, jamais, mas posso oferecer um ambiente seguro, acolhedor, onde ela consiga simplesmente ser ela - Vamos tomar café? Nesse love todo vou cancelar meu convite e voltar pra cama. 

            - Ah, não! Eu já levantei, já fui iludida com a ideia de café do Sr. Isaac, agora vamos! - demos risada e saímos do apartamento. Eu não sei a mão, não quero forçar nada. Mas ela se aproximou de mim e encaixou sua mão na minha, não consegui disfarçar o sorriso. Paramos em frente ao elevador, quando a caixa de metal parou, segurei a porta e dei espaço para ela. Depois encostei na parede e em automático, ela se encaixou na minha frente, abracei ela para descermos os 22 andares. 

             Acho que por volta do 11o. Andar, ou outro andar qualquer, o elevador parou e abriu as portas. Um senhor, por volta dos 60 ou 70 anos, que estava esperando o elevador, nos olhou com aquele olhar de reprovação, homofóbico. Nós continuamos na mesma posição, afinal não estamos fazendo nada de errado. Ele esperou o elevador fechar as portas e não entrou. 

            - Nossa, que senhor mal encarado. Nem entrou no elevador! - ela comentou isso, quase que falando sozinha. Eu já lidei com isso, tantas e tantas vezes, que claro que me sinto incomodada, mas sabe quando nem se importa mais, não muda quem eu sou? Mas eu fiquei um pouco preocupada com a Bia. O quanto ela entendeu disso, o quanto está disposta a enfrentar. Sem contar o medinho que bate da sexualidade dela em si, beijar mulher é uma coisa, ter um relacionamento é outra. 

             O elevador bateu no térreo, o casal que estava no zero, respondeu nosso bom dia, educadamente. Seguimos pelo hall dos dois blocos, mantendo as mãos dadas - Vamos pedir um Uber? 

- Linda, dois quarteirões ate lá. 

- Dois quarteirões andando. Eu peço aqui. 

- Não amor, vamos andando até lá, caminhadinha, tá fresco, pessoal voltando da balada, domingão. Caminhadinha de mãos dadas, conversando. 

- Tá bom, tá bom. Namorar atleta dá nisso.

        - Acho que já fui atleta um dia, não estou conseguindo três dias de academia por semana. 

            - Ah, mas se ficar chateada, brava, sai correndo por aí. 

            - É que correr é um hobby, me acalma. Não é obrigação. 

        - Uma coisa que acho bem legal em você é que você não tem aquele negócio de testemunha do maromba. Você faz e quem está ao seu lado tem que fazer também. 

- Eu não Bia, não mando nem em mim, como vou mandar em alguém. Se alguém chegar em mim e falar ah, quero começar a treinar, quero correr, me ajuda? Claro que vou dar uma moral, mas obrigar alguém a algo ou chamar alguém, eu não. Nem gastar minha saliva. 

- Acho isso respeitoso, fofo em você - fiquei um pouco sem graça. Sorri pra ela mas não respondi. Na verdade, o sorriso foi a resposta. Acabamos sem continuar a conversar porque a Bia estava ficando ofegante no trajeto. Isso acontece, está acima do peso e sedentária, então reduzi o ritmo, não quero ver ela forçando, afinal eu que fui sem noção de falar pra ir andando. Nota mental de ir de moto! 

            O caminho realmente não era longo, mas eram dos quarteirões em subida, que gera um esforço físico um pouco maior. Fomos andando devagarinho, ela estava bem cansada da respiração. Durante o trajeto, passamos na frente de um ponto de gasolina, pelo padrão do bairro Higienópolis, posto de gasolina de gente bacana. Haviam vários carros parados no posto, bem aquela saideira pós balada. Os jovens ali nitidamente bêbados, playboys. Parece que eu previ o incômodo e queria acelerar o passo, mas a Bia estava mesmo ofegante, então sem preocupar ela troquei de lado, indo para o lado interno da calçada e deixando ela mais perto da rua. 

            - Oh sapatão pega na minha Pixa que nunca mais vai querer mulher - mesmo ela estando ofegante eu tentei acelerar o passo, ela veio junto, mas os bêbados continuam: Isso é falta de homem de verdade - passei meu braço por ela, abraçando - ai acelerei o passo. Um deles jogou uma garrafa ou uma latinha em nossa direção, caiu atrás de nós - alguém gritou: “Morre sapatao”, consegui ouvir a risada deles ao fundo, enquanto continuávamos andando rápido para nos afastar. Quando conseguimos nos afastar bem, desacelerei o passo, fomos andando em silêncio, devagar. Mas um silêncio pesado. 

            Pouco tempo depois chegamos a bela padaria do Sr Isaac, no meio de Higienópolis. Entramos e eu fui com o olhar procurando uma mesinha mais afastada, mais reservada - Pode ser ali? - ela só concordou com a cabeça, e foi olhar o buffet, a prateleira. Chamei uma atendente e pedi uma água com gás, a mais gelada que tivesse e um expresso forte. Fiquei observando a Bia, de longe, como será que ela está? Como seria bom se as pessoas simplesmente respeitassem. Eu sozinha não teria entrado em uma briga, mas provavelmente não teria corrido assim, mas com a Bia, não iria me meter em um conflito. 

- Hummm, uma cheese cake. Parece bonita - falei assim que ela sentou na mesa, tentando puxar papo. 

           - Achei bonita, vamos ver se está boa! Não vai pegar nada? 

- Pedi uma água e um café primeiro. Depois pego alguma coisinha lá. Tem bastante opção?.

- sim, o buffet tá bem bonito e tudo fresquinho. Tem empadão de frango. 

-  Tem?!

- Não peguei pq achei que você iria lá se servir, mas se quiser pego um pra você. Sei o quanto gosta de empadão de frango. 

 - Hahahaha, você já me conhece bem né?! Lembrou que gosto de empadão. 

- Acho que presto atenção em você a um tempo - coloquei a mão em cima da mesa, encostando na dela, em um gesto de carinho, de gracejo. Ela estava tensa, preocupada, não estava leve como costuma ser. A atendente trouxe meu café e água, agradece. Abri a garrafa, deixei a água descer a garganta e olhei para Bia. 

- Amor… - só precisei falar isso. 

- Isso acontece sempre? - se referindo a violência que sofremos. 

- Não sempre, mas infelizmente acontece muito. O Brasil é um país que quando não estamos na norma imposto, somos punidos. 

- Fiquei com tanto medo. 

- Não iria acontecer nada com você. Tanto que antes de passarmos no posto eu troquei de lugar com você, acelerei o passo. Desculpa praticamente ter te puxado. 

- Não, tudo bem. Você só cuidou de mim. 

- Bia, infelizmente essa foi a primeira vez que isso aconteceu com você, mas pode acontecer outras. 

- Aquele moço do elevador? 

- Ele não falou nada, nem precisou, mas ele teve um olhar de reprovação pra gente, um olhar homofobico, tanto que nem entrou no elevador. 

- E como você lida com isso?

- Bi, não é nem uma questão de aceitar, porque nunca vou aceitar a homofobia ou qualquer outro preconceito, mas é escolher suas lutas. hoje, duas mulheres contra 5 marmanjos bêbados, que usaram sei lá o que. Valeria a pena discutir? Era mais seguro sair dali. E eu sozinha é uma coisa, eu com você ou qualquer outra pessoa é outra história, nunca iria te expor a um risco a mais, não precisa disso. 

- Mas é incômodo, doeu aqui. Me senti super mal. Estou me sentindo mal. 

- Oh amor - tentei sorrir, mostrar um lugar seguro - Às vezes a gente escuta que ser gay, sapatão é uma escolha. Ninguém escolhe passar por essas situações, ninguém escolhe sofrer por algo que gosta. Porque se alguém em sã consciência, escolhesse ouvir essas coisas, passar por isso, no mínimo seria sadomasoquista.

Ela comeu um pedacinho da torta, estava bem abatida, chateada. 

- Bia, como você está com essa situação toda?

- Que situação? 

- Tudo que está acontecendo com você. Você falou com sua terepeuta, você continua fazendo terapia? 

- Flávia, você defendendo terapia. Quando te conheci você odiava. 

- Se eu soubesse, teria me permitido começar antes. Mas acho que faz parte do amadurecimento da vida. E você?

- A terapeuta que me ajudou a entender as coisas. Foi me mostrando o quanto eu estava encantada por você, que não era só respeito e admiração. Eu só estou um pouco perdida no agora. 

- no agora?

- O que eu sou? Eu sou lesbica? Eu sou bissexual? Eu não sei nada, nunca me senti atraída por nenhuma mulher. E aí hoje, logo de começo, uma patada dessa, um monte de moleque mandando a gente morrer. Eu to meio perdida, sei lá, uma sensação de não sei onde estou. 

- Bi, calma, a primeira coisa é respirar e colocar as ideias no lugar. Preconceito existe em todo lugar, cabe a gente entender o que vamos fazer com isso. Por exemplo, quantas vezes olham torto por você ser uma mulher tirando fotos técnicas? 

- Quer me matar é virar pra mim e falar: mocinha, o perito já está vindo ou cadê o perito? E eu com a identificação de perito no peito. 

- Haahaha - ri da carinha de raiva dela - Exatamente, isso é um preconceito. Ah, não tem  mulher perito ou se é mulher vai ter nojo de tirar foto de morto, ou as fotos são ruins. E você bate boca com todo mundo que fala isso? 

- Ah, já desisti. Vou lá, cumpro meu trabalho, tiro minhas fotos e vou embora. 

- Então amor, é isso. Não estou dizendo que tem que aceitar, mas é uma coisa de qual guerra quer brigar. Foi uma situação nova pra você, por isso seu estranhamento, sem saber bem o que fazer, para onde ir. Com o tempo, você vai acabar entendendo os olhares, procurando espaços seguros. Um exemplo simples, não vou levar você em uma balada hetero pra gente ficar se pegando, ter uma noite mais forte. Se isso acontecer, vou escolher uma balada LGBT ou uma balada lesbica. Um lugar onde estamos protegidas por pessoas iguais. 

- Você já passou por alguma situação pesada, triste de homofobia?

- Ah Bi, eu cresci na Brasilândia, então já vi muita coisa por ai. Apesar que as piores situações que eu passei foram com as pessoas de bem. No DP, quando o envolvido é homem, branco, classe média ou classe alta, sempre tem um comentário “ah, mas ela é sapatão ou se fosse mulher de verdade entenderia”. Faculdade de direito, ah, a faculdade de direito é um ótimo lugar para homofobia. 

           - Não é um curso que deveria haver ordem, lei? 

          - Claro, mas meu direito acaba quando incomoda o seu. Você sabe da minha história, nasci na favela, estudo público de péssima qualidade, pobre. Isso por si só já incomoda as pessoas. Saber que sou sapatao, é só a cereja do bolo quando o assunto são lugares que não tenho o direito de acessar. Quando eu trabalhava de segurança privada para aquela menina que eu te comentei, a Aline, ela fazia economia na em uma puta faculdade aqui de São Paulo, diversas vezes recebi o toque para ser mais feminina. Enfim…

- Como as pessoas podem ser tão mesquinhas, frágeis? 

- A sociedade é assim. Quem não garante que daqueles moleques que gritaram com a gente, um não perdeu a namorada para mulher, outro não tem uma irmã lésbica, situações que eles não aceitam e por isso são preconceituosos? Não tem como saber. 

- Sua família te aceitou de boa, te aceitam de boa? - a Bia tocou em um assunto doloroso. 

- Nossa Bia, no café da manhã, assim? - falei fingindo seriedade. 

- Ah, desculpa, não sei até onde podemos conversar.

- Podemos conversar sobre tudo meu amor, se algo for incomodo eu vou falar. Você já viu minha mãe, não viu? - ela confirmou com a cabeça- minha mãe é toda religiosa, que vai pro culto toda semana e tal. Mas acho que isso nem é o problema, o que me incomoda nela é ela valorizar e preferir a filha que usa drogas, gera dívidas, problemas com o bonde que a filha sapatão. No meu caso, se eu ajudar ela a pagar as contas não está nem aí. Não sendo impura perto dela, está tudo bem. 

- Com a Fabi ela era como? 

- Cara, acho que minha mãe sempre foi tão imersa nos problemas da Alice e da Roberta, minhas irmãs, que eu nem era lembrada pra ela. Nunca fui de levar a Fabi em casa, detestava que alguém visse a Roberta louca ou a Alice violenta. E apesar de todo o preconceito, a mãe da Fabi preferia a gente na casa dela, então lá se tornou mais minha casa que a minha própria. 

- Obrigada por me acalmar. Eu fiquei bem chateada. 

- Linda, não podemos deixar de fazer o que queremos por conta do preconceito. Por exemplo, não pode deixar esse acontecimento de hoje, afastar nos duas de tentar. Você de explorar essa nova vontade. 

- É estranho pra mim, eu estou encantada por você. Sabe disso, já havia te falado. Eu sou bi agora? Eu estou meio perdida. 

- Bia, calma, primeira coisa, para de se colocar em caixinhas fechadas. Amor, você pode gostar do que você quiser, para de tentar se encaixar. E se você só gostar de mim, vai ser Flaviasexual? - tentei sorrir e brincar um pouco

- Pode ser. Gostar só de você .

- Não dá pra saber, Bia. E outra, a gente está só no beijinho - falei em um tom de voz baixo - e se na parte dois você não gostar? - ela ficou toda vermelha, com vergonha - então para de ficar se colocando em caixinhas, precisando definir as coisas. E linda - olhou pra mim ainda cheia de vergonha - vou te ensinando tudo do mundo lésbico - ela ficou roxa, claro que eu não poderia deixar de provocar, levantei da cadeira, me aproximei do ouvido dela - nos mais sórdidos detalhes  - e sai em direção ao buffet, deixando ela com a vergonha dela na mesa.

Peguei um pedaço de torta e mais uns outros preparados, um suco de laranja e voltei para a mesa. Claro, que dei um tempinho pra Bia, não vou exigir que ela introduza uma sexualidade nela que eu levei anos de experiência, vivência e aprendizado. Isso sem contar os medos e machucados que a Bia já carrega com ela. É uma situação completamente diferente da Fabi, que aprendemos juntas, adolescentes. E diferente da Bruna, que já estava nessa jogada, sabia o que gostava, como gostava. 

- Bia, tive uma outra ideia aqui. Pra tirar essa sua má impressão de andar na rua comigo. 

- Tenho até medo. 

- Prometo que vai ser uma experiência diferente. 

- O que seria? - Segurei a mão dela, como um gesto de carinho. 

- Podemos pegar um uber e subir lá na Avenida Paulista. hoje é domingo, está fechada para lazer. 

- Mas, por que lá? 

- Porque de um modo geral é um ambiente cultural diferente, normalmente é bem aberto às pessoas em geral, a não ser que esteja acontecendo uma passeata política do contra. Caso contrário, é um passeio legal. Só pra ficar andando, batendo papo, depois tomamos um sorvete. Tem a Rua Augusta também, que se quiser podemos descer ela voltando pra casa. 

            - Tá bom, podemos ir. 

            - O que foi? Você quer falar alguma coisa. 

            - Pode parecer uma pergunta boba, mas sei lá. 

            - Manda - coloquei um pedaço do empadão na boca, derreteu - que delícia! 

            - Eu devo me mudar do seu apartamento? 

            - Porque? 

            - É um pouco estranho, estamos ficando e morando juntas. 

- Bia, se você não se sentir bem, jamais vou te segurar no apartamento. Mas não vejo necessidade nenhuma de você mudar. 

- Eu fico com medo de te incomodar, invadir seu espaço. Tipo essa noite que acabei dormindo lá com você. 

- Sabe um jeito muito simples de resolvermos isso? Falando! Conversando! Se eu não quisesse você dormindo comigo eu falaria. Assim como você tem o direito e deve falar: não quero dormir com você ou posso dormir aqui. Acho que vamos ir nos encaixando. 

- Eu adorei dormir a noite toda lá com você. Me senti protegida, amada. 

- Então, sempre que quiser, só ir lá pro meu quarto. Será sempre bem recebida. 

- Você sai na vantagem. 

- Porque? 

            - Sua cama é de casal, você não vai entrar no meu quarto pra dormir comigo. 

        - Nada como uma caminha de solteiro pra travar a coluna. E te garanto, tenho uns jeitinhos pra te convidar a deitar comigo - ela ficou vermelha de novo. Adoro estimular essa vergonha dela. 


Terminamos nosso café batendo papo, jogando conversa leve fora, bem diferente do clima inicial do café da manhã. Depois pegar um carro de aplicativo até o comecinho da avenida Paulista, onde passamos o dia. Fomos e voltamos acho que umas duas vezes, a Bia conseguiu ver que dá para andar de mãos dadas e ser uma coisa completamente normal. Conseguiu ver que somos só mais uma em uma imensidão de casais.

Eu saí satisfeita do passeio, acho que consegui meu objetivo de acalmar ela, mostrar que não há nada de errado, que ela pode amar quem ela quiser. Claro, não vou ignorar nem descartar os traumas dela, mas posso ir aos pouquinhos criando novas experiências, coisas simples como “vista o que quiser vestir” ou se “ não quer ir, não vamos”, talvez coisas que ela tenha perdido. E criar nossas próprias histórias, brincadeiras, gostos, beijos. Todo novo romance é um livro que dá pra escrever novas linhas. 

        

Fim do capítulo


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Comentários para 58 - Capitulo 58:
Julika Sempre
Julika Sempre

Em: 16/09/2024

Ah. Que lindas

Enfim. Tu voltou

Saudades 

Continue 

Parabéns 

Lindo

Obrigada 

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Mmila
Mmila

Em: 16/09/2024

Essas duas criando a história delas, passo a passo.

Muito bom esse início de convivência.

História cada vez mais envolvente.

Parabéns autora.

Responder

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