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  • capitulo cinco: i still get jealous

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o nosso recomeco (EM REVISAO) por nath.rodriguess

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Palavras: 3497
Acessos: 2035   |  Postado em: 07/09/2024

capitulo cinco: i still get jealous

 

Entro em casa da forma mais rápida que posso, sequer espero chegar ao banheiro para começar a tirar a roupa. Pelo caminho, vou me livrando delas, deixando-as espalhadas pela casa sem me importar. O cheiro dela ainda estava em mim... impregnado na minha pele, nos meus dedos. Fecho os olhos por um instante, mas isso só piora. Os flashbacks da nossa trans* invadem minha mente como uma cena de Orange is the new black.

"Pra que fazer tão gostoso, filha da puta? Quer me enlouquecer?"

Engulo seco.

Sigo direto para o chuveiro, não me importando com a hora – apenas preciso lavar tudo: minha pele, meu cabelo, minha consciência. Assim que a água quente atinge meu pescoço, uma ardência me faz prender a respiração. O arrepio que percorre meu corpo vem carregado de lembranças nítidas daquela tarde, lembranças cruas. Despejo mais sabonete na esponja de banho e começo a me esfregar desesperadamente, a fim de tirar ela de mim, mas no fundo eu sabia que era impossível. Apoio as mãos na parede fria do box e deixo a água escorrer pelas minhas costas, mas em meus olhos, haviam lágrimas caindo sem que eu pudesse controlar.

Tinham mil coisas passando pela minha cabeça naquele momento, mas eu sou Anna, então automaticamente meu cérebro fez uma lista:

  • Como eu deixei isso acontecer?

  • Por que diabos não consegui controlar meus instintos?

  • Posso acabar com minha carreira por causa disso.

  • E, pior, posso acabar com o pouco que restou do meu coração.

Como se já não fosse o suficiente, perdi a cabeça e coloquei nas entrelinhas do contrato com Kevin que a Proetti-Baldez teria 20% da empresa daquele imbecil. No papel, qualquer advogado consideraria isso um movimento brilhante, uma jogada de mestre. Eu também pensaria assim... se não estivesse agindo com o coração e não com a razão. Agora, ele estará vinculado a mim para sempre. Não há mais volta.

Que bela cagada, Anna.

Profissionalmente, não foi um erro. Dra. Baldez e Dr. Proetti, com certeza, vão comemorar.  É bem lucrativo para eles. Mas eu? Eu só sinto um buraco crescendo no peito.

Saio do banho e deslizo a mão pelo espelho embaçado. Meu reflexo me encara: olhos inchados, pele avermelhada. Eu me superei hoje. Nenhum skincare vai dar jeito nisso. Seco os cabelos no automático, apenas por hábito. Autocuidado? Hoje não. Hoje, eu fui tudo, menos cuidadosa comigo mesma.

Na cozinha, abro a geladeira sem propósito. Sem fome. Suspiro e pego o celular largado sobre o balcão. Uma notificação no WhatsApp.

MaFe:
— Oi, está pela empresa?
— Ei, cadê você?

Eu saí sem olhar para trás. E ela percebeu.

Anna Florence – adv ⚖:
— Olá, me perdoa pela demora em responder. Já tinha ido embora.

MaFe:
— Percebi... Dia difícil?

Anna Florence – adv ⚖:
— Acho que sim, MaFe. Preciso descansar. Não estou me sentindo muito bem.

MaFe:
— Algo a ver com o que vi no banheiro hoje? Me desculpa se estou sendo invasiva.

Porr*, não falei que ela tinha percebido?

Anna Florence – adv ⚖:
— Prefiro não falar sobre isso agora. Estou exausta desse processo todo, você entende?

MaFe:
— Entendo. Mas, se precisar desabafar, estou aqui. Nos conhecemos há pouco tempo, mas sinto que já te conheço há muito. Se eu estiver sendo inconveniente, me avise.

Anna Florence – adv ⚖:
— Você não está sendo invasiva, ruiva. Eu gosto da sua companhia e de trabalhar com você. Só que, hoje... eu que não sou uma boa companhia.

MaFe:
— Detesto ser a portadora das más notícias, mas achei que deveria te avisar: Roberto estava te procurando feito um louco. Ele ficou vermelho de raiva quando o dono da empresa saiu daqui.

Reviro os olhos. Amanhã promete. Aposto que ele vai surtar por eu ter exigido os 20%. Que ele se foda. Ele e o amiguinho dele.

Anna Florence – adv ⚖:
— Tudo bem. Amanhã vai ser insuportável. Já sei o motivo da irritação dele. Fê, eu vou dormir… preciso descansar. Beijos.

Na manhã seguinte, estou concentrada protocolando uma ação de divórcio quando sinto algo bater na minha cabeça. Uma bolinha de papel.

Abro e leio: COFFEE COFFEE COFFEE ☕☕☕

Ralf e Andressa. Me chamando para uma pausa. Exatamente o que eu preciso. Levanto, rindo da minha própria promessa de não tomar café como se fosse cachaça, e os encontro na copa.

— Não falam de outra coisa na empresa. Sua jogada de mestre está rendendo comentários — Andressa solta, pegando uma caneca.

— O que estão dizendo? — pergunto, enchendo a minha também.

— Primeiro, que você nunca conseguiria reverter o caso de falência. Segundo, que ninguém entende por que Roberto te deu essa causa, já que vocês se odeiam.

Dou uma risada curta.

— Mal sabem eles que foi exatamente por isso. Ele quer ver minha ruína.

— Bom… parece que seu sucesso irritou ainda mais ele. — Ralf faz uma careta. — Maria Fernanda está pagando o preço.

Franzo a testa.

— Como assim?

— Ele a chamou na sala dele e, quando ela voltou, a mesa dela estava coberta de caixas com casos dele. Mandou que ela resumisse tudo.

O sangue ferve nas minhas veias.

— Que ódio desse imbecil! — cerro os dentes. — Ele está punindo ela por fazer o trabalho dela.

Preciso fazer algo. Maria Fernanda não pode ser soterrada por arquivos inúteis por minha causa.

Pego o celular e envio uma mensagem.

Anna Florence – adv ⚖:
— Oi, ruiva. Não te vi hoje. Tá viva?

MaFe:
— Oi, loira. Estou atolada de trabalho. Nem sei que horas vou sair daqui. ☹

Anna Florence – adv ⚖:
— Tive uma ideia pra te ajudar, mas não posso ser vista com você. Não quero te causar mais problemas. Topa ir lá pra casa? Jantamos e resolvemos isso juntas.

MaFe:
— Você é fofa, mas não precisa. Faz parte do trabalho.

Anna Florence – adv ⚖:
— Não aceito não como resposta. Quantos casos são?

MaFe:
— 120.

Anna Florence – adv ⚖:
— Ué, achei que ele fosse te fazer resumir TUDO que já tocou na vida.

MaFe:
— Você acha que ele seria capaz?

Anna Florence – adv ⚖:
— Sem dúvida. Agora para de enrolar e me encontra no estacionamento às 19h.

MaFe:
— Você venceu.

Anna Florence – adv ⚖:
— Eu sempre venço. 😉

💻📒

Às 19h em ponto eu estava no estacionamento e parei encostada em frente ao meu carro. Como estacionei próximo ao elevador, assim que ela descesse logo me veria. Não sei o que estava passando pela minha cabeça na hora que em que eu chamei Maria Fernanda para ir lá em casa, só sei que agora eu estava um pouco assustada e minha autoconfiança foi para o caralh*.

O barulho de chegada do elevador interrompe meus pensamentos, Maria Fernanda descia com alguns associados e estagiários que carregavam suas caixas de arquivos. Eles falavam de forma íntima com ela, todos cheios de sorrisos pra minha...

Minha o quê?

Tô ficando absolutamente louca, deve ter sido aquele café com fofoca no meio da tarde que me deixou assim.

Dou um suspiro irritado e lanço um olhar nada amigável para os caras antes de pegar as caixas.

— Você tem muitos fãs. — Comento, amarga.

Ela ri.

— Tá com ciúmes, Florence?

Abro a porta do carro e, antes que ela entre, provoco:

— A princesa está pronta?

— Vai me sequestrar? — Ela retruca.

— Você tá vindo de livre e espontânea vontade. Nem vem.

— Ninguém nunca abriu a porta do carro para mim antes. —

Ela comenta me dando o seu melhor sorriso e para despistar qualquer resquício de flerte, digo:

— Eu sou uma cavalheira, não posso deixar a dama do setor, princesa dos associados fazer esse sacrifício – digo zombando dela

— Anna, vamos logo antes que eu desista. – Ela revira os olhos

Entramos no carro, e dou a partida. Durante o trajeto, ligo o rádio, deixando a música preencher o silêncio que se instala entre nós. Cada uma mergulhada em seus próprios pensamentos. Eu, lutando contra o impulso de olhá-la por tempo demais.

De fato, Maria Fernanda era linda. Ruiva, dona de olhos azuis intensos, cabelos levemente ondulados caindo na altura dos ombros. Havia algo nela que prendia o olhar — não só pela beleza, mas pela forma como sua presença enchia o ambiente, sem esforço algum.

Durante o trajeto, a música de “Jealous”, de Nick Jonas, começa a preencher o ambiente. Mais significativo impossível, não? — Penso com ironia.

Maria Fernanda sorri de canto e começa a cantarolar, sua voz macia brincando com os versos:

"Cause you're too sexy, beautiful… And everybody wants a taste… That's why… I still get jealous."

(Porque você é muito sexy, linda... e todo mundo quer provar, é por isso eu ainda fico com ciúmes)

Minha mandíbula trava. Seguro o volante com mais força do que deveria, os nós dos meus dedos ficando brancos. Tento manter os olhos na estrada, mas a melodia, as palavras, o sorriso dela… tudo parece conspirar contra mim.

Ela percebeu.

Disfarço, ajeitando o retrovisor, tamb.;orilando os dedos no volante, mudando de posição no banco — qualquer coisa para afastar a inquietação que se instala no meu peito. Mas nada adianta.

Maria Fernanda se inclina levemente, sem tirar os olhos de mim, ainda cantarolando, divertida.

"That's why… I still get jealous."

(é por isso... eu ainda fico com ciúmes)

Droga.

Mordo o lábio e solto o ar lentamente pelo nariz, como se isso fosse dissipar o calor subindo pelo meu corpo.


Quero beijá-la e agarrá-la ali mesmo, mas minha sensatez ainda funciona. Como ela pode ser assim? Perceber as coisas no ar, rápido? Fiquei com ódio daqueles babacas rondando-a, como se fossem urubus prontos a atacar.

Ela sabe que de certa forma, mexe comigo.

E está se divertindo com isso.

🚗🎶

Estacionei na garagem e soltei um suspiro discreto antes de desligar o carro. Virei-me para Maria Fernanda.

— Espera aqui. Vou abrir a porta pra gente conseguir passar com as caixas.

Ela assentiu com um sorriso leve, e eu aproveitei aquele pequeno momento sozinha para organizar meus pensamentos. Mas bastou retornar ao carro para tudo sair do eixo novamente.

Peguei algumas caixas das mãos dela e, no instante em que nossos dedos se tocaram, um arrepio percorreu meu corpo, como um choque inesperado. Meu estômago se revirou, e antes que eu pudesse racionalizar a sensação, Maria Fernanda sorriu.

— Vou pegar o restante das caixas.

Assenti, desviando o olhar e tentando ignorar o que aquele simples toque tinha provocado.

Gente do céu... o que foi isso?

Ao entrar na sala, meus olhos foram direto para o meu smartwatch. 19h35. A noite seria longa ao lado daquela mulher. E que mulher maravilhosa… Linda, inteligente, simpática. Aquele sorriso. Aquelas sardas, que a deixavam ainda mais encantadora.

Perdida nesses pensamentos, não percebi que ela já estava de volta, me observando com um sorriso divertido. Sempre com um sorriso.

— Cansou?

— Não, só estava pensando.

— Pensando no quê?

— Que eu te chamei pra jantar… e não sei cozinhar! — gargalhei. — Vou pedir delivery, porque se depender de mim, você morre de fome.

Maria Fernanda arqueou uma sobrancelha.

— Mulher, como você vive? De iFood?

— Eu só tenho uma airfryer e um sonho. — pisquei. — O que você gosta de comer?

— O que você quiser, Anna.

— Brasileira, italiana, francesa, japonesa, tailandesa?

— Se você gostar de japonesa, eu topo.

— Fechado.

Fiz o pedido de uma barca de sushi gigante pelo iFood e voltamos ao carro para buscar o restante das caixas.

— Essa é a última — disse ela, me entregando o que parecia ser a vigésima segunda.

Bufei, revirando os olhos.

— Que vontade de matar aquele boçal.

Maria Fernanda riu.

— Teremos a noite inteira para falar mal dele. Mas antes, tenho uma proposta.

— Que tipo de proposta? — arqueei uma sobrancelha.

— Me deixa cozinhar pra você um dia? Posso te ensinar algumas coisas, se quiser.

— Temos uma cozinheira aqui? — sorri.

— Sim… Minha mãe é dona de um restaurante na Zona Oeste. Não cozinho como ela, mas aprendi bastante só observando.

— Então será um prazer abrir as portas da minha cozinha para você, senhorita chef.

— Mas agora, sem vinho, hein? — ela alertou, cruzando os braços. — Temos trabalho a fazer, e a última coisa que eu quero é o Roberto gritando no meu ouvido amanhã.

Fui até a pequena adega climatizada, peguei um vinho branco Sant Telmo e deixei sobre a mesa. Peguei duas taças e entreguei uma a ela.

— Vamos beber pouco. Confia em mim. Longe de mim querer te prejudicar. — falei séria.

Ela hesitou por um segundo antes de aceitar.

— Tudo bem, então.

Enquanto servia o vinho, notei que Maria Fernanda me observava, como se quisesse perguntar algo, mas não soubesse como.

— Diz.

— O quê? — Ela levou a taça à boca, bebendo um gole.

— O que você quer me perguntar. — Sorri de leve, fitando seus olhos.

Ela hesitou, depois riu, tímida:

— Sempre leva assistentes jurídicas indefesas para a sua casa?

— Não. — Minha resposta foi direta, séria. — Você é a primeira. Eu sou muito reservada, Maria Fernanda. Não abro minha vida pra ninguém.

Ela assentiu devagar.

— Não me entenda mal. É que… fiquei surpresa quando me chamou para vir aqui. Já ouvi muita coisa sobre você na empresa.

— E o que exatamente você ouviu?

Ela sorriu de lado.

— Bom… Que você é workaholic. Isso eu já notei. Que sua sexualidade é um tópico de especulação. Que tem muitas namoradas. E que o Roberto te odeia.

Minha expressão se manteve impassível, mas por dentro algo se revirou ao ouvir “muitas namoradas”.

— E o que você acha sobre mim?

— Por que quer saber?

— Porque é importante para mim. — Digo fitando seus olhos e tomando um gole da taça.

Maria Fernanda me encarou por alguns segundos, abrindo e fechando a boca, como quem busca as palavras certas. Havia algo no seu olhar que me desconcertava.

— Anna, eu te acho uma profissional incrível. Sei que vai conquistar seus objetivos. Você é divertida à sua maneira, mas também reservada, brava como eu já ouvi dizer e sempre no seu mundo. Só que… tem algo em você que não está bem.

Segurei a respiração.

— Eu vejo nos seus olhos. Parece que falta algo aí dentro.

Soltei o ar devagar. Maria Fernanda me decifrou em segundos.

— Acontecem coisas na vida que nos fazem criar barreiras. — minha voz saiu mais baixa. — Sabe quando sua vida estaciona em um acontecimento e você não consegue superar?

Ela apenas assentiu.

— Eu ainda busco superar. Mas não é fácil. Fiquei com medo de gente. Prefiro bicho, eles não nos decepcionam. Eu descobri que, não importa quão animada seja a música no meu fone, meu rosto continua impassível.

Maria Fernanda segurou minhas mãos, e eu estremeci com o toque.

— Anna, você é uma pessoa boa. Só foi maltratada por gente ruim. Não deixa isso apagar quem você é. Usa isso como impulso.

Fiquei em silêncio. Suas palavras me transportaram anos atrás, para Beatriz. Para a dor que me deixou e para a armadura que construí desde então.

Antes que eu precisasse responder, a campainha tocou.

Salva pelo iFood!

— Chegou! Vamos comer?

A noite transcorreu leve. Entre sushi e trabalho, falamos sobre o mundo jurídico, política, música e até sobre se Anitta ganharia da Taylor Swift no VMA. Descobrimos que ambas amávamos stand-up e combinamos de ir ao teatro juntas.

Maria Fernanda tinha luz. Seu sorriso era luz.

— Bom, então é isso. Último caso resumido. Graças a Deus! — ela ergueu as mãos para o alto.

— Confessa que sou uma boa companhia!

Ela riu.

— Você é maravilhosa, Dra. Anna. Até um castigo desses fica fácil com você.

— Um dia será advogada e entenderá que não podem te colocar de castigo. Prerrogativas, senhorita.

Ela riu, mas logo sua expressão suavizou.

— Eu nem sei se serei advogada um dia… Já reprovei três vezes na OAB.

— Isso não te define. Você é brilhante. Se precisar de ajuda, estou aqui. Mas não se diminua.

Ela sorriu, os olhos brilhando.

— Posso te dar um abraço?

Hesitei por um segundo antes de responder:

— Não gosto muito de abraços, mas… vou abrir uma exceção.

E quando ela me envolveu, algo dentro de mim amoleceu. Fechei os olhos por um instante, sentindo o calor do momento. Era bom tê-la por perto.

Mas quanto disso eu estava disposta a permitir?

Continuo a retribuir o abraço com firmeza, sentindo o calor do corpo dela contra o meu. Não havia necessidade de palavras naquele momento. Apenas o silêncio e a sensação reconfortante de tê-la ali perto. Maria Fernanda chegou do nada, invadiu minha rotina e, sem perceber, preencheu um espaço que eu nem sabia estar vazio.

Afrouxo nosso abraço, confesso que não querendo soltar, demorando um segundo a mais antes de soltá-la completamente.

— Vou te levar em casa, já está tarde. — minha voz sai baixa, quase um sussurro.

Ela dá um passo para trás, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha, e balança a cabeça com um sorriso leve.

— Não precisa, Anna. Eu pego um Uber.

Cruzo os braços e arqueio a sobrancelha, impassível.

— De jeito nenhum. Eu te trouxe, eu te levo.

Maria Fernanda suspira, derrotada, e ergue as mãos em rendição. Aproveito para ser um pouco mais solícita com ela. 

— Vou levar as caixas no meu carro amanhã, assim você não precisa pegar Uber logo cedo.

A lembrança da nossa conversa anterior volta à minha mente. Ela havia me contado que não tinha carro e que pegava metrô todos os dias para ir ao trabalho.

— Você faria isso? — pergunta, genuinamente surpresa e eu balanço a cabeça positivamente.

Ela sorri, aquele sorriso doce que ilumina seu rosto.

— Você é um amor, Anna.

Reviro os olhos, fingindo impaciência.

— Só se você prometer que não vai pedir ajuda a nenhum dos associados.

— Pode deixar. — ela pisca para mim.

Entramos no carro, e ela me indica o endereço. Coloco no GPS e seguimos pela cidade, conversando sobre coisas aleatórias. A estrada parece mais curta do que realmente é, e, quando percebo, estamos paradas em frente ao prédio dela há pelo menos quinze minutos, ainda envolvidas na conversa.

Ela olha o relógio e arregala os olhos.

— Nossa, Anna! Três da manhã! Daqui a pouco já é hora de acordar.

Dou um sorriso de canto, apoiando o braço no volante.

— Tudo bem, eu espero você entrar.

Ela hesita por um momento, mordendo o lábio inferior, como se estivesse reunindo coragem para dizer algo.

— Quero te agradecer. Pelo que você fez hoje, por se preocupar comigo, por insistir em me ajudar. Se não fosse você, dificilmente eu teria terminado tudo a tempo.

Balanço a cabeça, frustrada.

— Ele ainda foi um canalha de estipular esse prazo absurdo pra você.

Ela sorri de lado.

— É... Mas, de qualquer forma, obrigada.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Algo no ar entre nós muda, fica mais denso. Ela baixa o olhar para as próprias mãos, entrelaçando os dedos antes de erguer a cabeça e me encarar com intensidade.

— Anna...

— Oi.

Ela hesita.

— A esposa do empresário... ela é sua namorada?

A pergunta me atinge como um soco no estômago.

— O quê? Não! — minha resposta sai rápida demais, e minha expressão denuncia meu nervosismo.

Maria Fernanda inclina levemente a cabeça, estudando minha reação.

— Eu vi vocês no banheiro. Quer dizer, eu não vi exatamente, mas... deu pra entender que tinha algo ali. E, levando em conta os arranhões no seu pescoço no dia seguinte, imaginei que tivesse acontecido alguma coisa.

Meu coração dispara, e um nó se forma na minha garganta. Como ela podia ser tão perceptiva?

Quase me engasgo com as palavras, tentando encontrar uma resposta. Mas, no fundo, sei que não há nada que eu possa dizer agora.

— Maria Fernanda... eu não posso te explicar sobre isso agora. Não me faz falar sobre isso, por favor. — minha voz sai mais suplicante do que eu gostaria.

Ela me observa por um instante, como se quisesse dizer algo a mais, mas opta por não pressionar. Em vez disso, suspira e leva a mão à maçaneta da porta.

— Tudo bem, eu entendo. Mas, Anna...

— O quê?

Ela sorri de forma triste, como se estivesse enxergando algo que eu mesma me recusava a ver.

— Seja lá o que for... você merece mais.

E, sem esperar resposta, ela sai do carro, fechando a porta com suavidade, me deixando sozinha com meus próprios pensamentos.

Fico ali, parada, olhando para a porta do prédio como se ela fosse me trazer alguma resposta. Mas tudo que encontro é um turbilhão de sentimentos, a mente inquieta e a certeza de que Maria Fernanda era muito mais do que eu estava preparada para lidar.

Fim do capítulo


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Comentários para 5 - capitulo cinco: i still get jealous :
maktube
maktube

Em: 17/04/2025

A frase dela no final foi perfeita. De fato ela merece mais. 


nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 18/04/2025 Autora da história
Nossa, que honra você por aqui! Queria dizer que eu amo demais "um novo começo", só que ainda não terminei de ler! Obrigada por acompanhar, está em revisão, mas sinta-se à vontade.


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Lea
Lea

Em: 03/01/2025

Essa noite de trabalho vai render!!

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