Capitulo dois: troca de olhares
Já eram 5h da manhã quando acordei e fiz minha higiene rapidamente, escolhi o primeiro blazer que vi no guarda-roupa, tomei meu café e saí para o trabalho. Não deu tempo nem de respirar.
Cheguei pontualmente às 06h30. Estava focada no processo da empresa de transportes, eles iriam declarar falência em 2 semanas e nos procuraram para tentar reverter a situação e eu ainda não havia achado um meio pra isso. Fiquei focada nos livros de direito empresarial tentando entender aquele juridiquês estúpido que nem vi o tempo passar. As pessoas me davam bom dia e eu as respondia de forma engessada, até que Roberto entrou na sala batendo palmas para chamar nossa atenção.
— Atenção, Doutores! Visando a melhoria das pesquisas jurídicas e jurisprudenciais nesse setor, contratamos uma assistente jurídica para auxiliar vocês. O nome dela é Maria Fernanda e está a disposição de todos os associados. Ela terá uma sala ao lado da minha e vocês poderão contatá-la quando precisarem de ajuda em algum caso. Agora mais do que nunca eu não quero corpo mole, quero o setor de Direito Cívil e Empresarial trabalhando intensamente!
Revirei os olhos, afinal, para que todo esse show para apresentar uma funcionária?
Foi então que prestei atenção nela. Estava timidamente ruborizada por ter sido apresentada no meio de tanta gente, mas apresentava uma confiança inabalável. Maria Fernanda era ruiva, tinha algumas sardinhas em seu rosto, tinha os olhos azuis claros mais lindos que eu já havia visto.
Utilizava uma saia lápis cinza um pouco acima do joelho e uma blusa branca, nos seus pés havia uma singela sandália prata para combinar com seus acessórios. Eu não conseguia parar de olhar para ela até que seus olhos encontraram os meus, fiquei hipnotizada por alguns segundos e comecei a ficar nervosa, não conseguia ouvir o blablablá do Roberto, até que ela sorriu para ele e agradeceu o apoio e disse que esperava ajudar todos nós de forma significativa.
Depois que Roberto finalmente saiu e ela seguiu para sua sala, respirei aliviada e senti que o meu estômago parou de doer e eu parei de dar pequenos suspiros.
Oi? Pequenos suspiros? Eu só posso estar louca.
Já eram quase 12h quando resolvi dar uma parada no trabalho para respirar, peguei minha bolsa e saí em direção à um restaurante próximo ao trabalho. Prontamente Jasmine, a garçonete com quem fazia sex* casual algumas vezes veio ao meu encontro.
— Estressada hoje, meu bem?
— Só um caso que não acho saída para resolver e com certeza não estarei tão próxima de resolvê-lo tão cedo, isso está acabando comigo.
— Posso dar um remedinho para seu estresse mais tarde, topa? – disse de forma sugestiva.
— Não seria nada mal – sorri maliciosamente – vou pedir o de sempre.
Ela anotou prontamente o meu pedido e sorriu quando disse que ia pedir o de sempre, pois aquilo já era uma piada interna nossa. Uma loira daquelas querendo dar pra mim e eu estava tão estressada ultimamente que não seria ruim aceitar propostas indecentes.
Terminei minha refeição e paguei a conta, não antes de falar com Jasmine que mandaria mensagem mais tarde.
Cheguei no escritório e logo que cheguei o telefone na minha mesa tocou, atendi e era Roberto pedindo que eu fosse até a sala dele. É, minha gente, os momentos de paz duraram pouco.
Chegando lá, Roberto estava com um semblante sério e eu nunca havia visto aquele semblante no rosto dele.
— Por favor, Anna. Senta.
— Aconteceu alguma coisa? — disse me sentando, acatando seu pedido.
— Olha, nunca me arrependi de aceitar um caso na minha vida, mas esse caso da Maximum Transportes está me deixando absolutamente estressado. Sei que posso parecer um pouco exigente e realmente sou, sei que está fazendo o máximo possível, não é um caso fácil e o cliente está cada vez mais no nosso pé, está desesperado, querendo resultados e eu não tenho como dar resultados a ele, pois é um caso complicado de se resolver. Não costumo cometer erros, mas acho que errei em dar o caso a você.
— Como assim? Você acha que não sou competente o suficiente para resolvê-lo?
— Não é isso, não me entenda mal. Eu só acho que Ralf já teria achado a resposta para esse caso, você está há dias e pelo que estou vendo nos seus relatórios não conseguiu um jeito de reverter a falência da empresa ainda. O cliente vem aqui para uma reunião amanhã, ele quer saber como está o andamento do processo e se eu não tiver nada até amanhã às 14h eu vou ter que tirá-la do caso e passar para o Ralf ou outro associado. Estamos com prazo curto.
Levantei-me, dei um sorriso sarcástico e balancei a cabeça positivamente.
— Está certo. Compreendido. Deseja algo mais ou posso voltar à minha mesa?
— Pode ir.
Saí daquela sala querendo dar um soco no primeiro que passasse na minha frente, me dirigi até a copa do setor e enchi a minha caneca de café sem me preocupar com os demais funcionários. Bebi aquele líquido amargo — certamente alguém não colocou açúcar — como se fosse pinga, virei basicamente tudo de uma vez e vi estrelas. Como se a cafeína estivesse sendo injetada nas minhas veias, eu vi tudo girar em uma questão de segundos. Acho que estava tudo misturado dentro de mim... A raiva, o caso, a vontade de dar um tiro em Roberto por achar que não sou capaz, os sonhos com Beatriz, meus traumas, minhas inseguranças... Senti um tremor nas mãos, apertei meus olhos e encostei minhas costas no armário atrás de mim, me apoiando para não cair, meu coração estava acelerado e eu achava que ia ter um ataque cardíaco ali mesmo.
— Você está bem? — Disse Maria Fernanda, se aproximando com ar de preocupação.
— Estou s-sim... Vai passar.
— Você quer uma água? Você está pálida. Está passando mal? Eu te levo na enfermaria, não sei onde é, mas eu te levo.
Achei graça em sua preocupação, dei um meio sorriso.
— Vai passar. Me dá licença? Tenho que voltar para minha mesa, tenho muito trabalho a fazer.
— Se precisar de alguma coisa eu estou a disposição. Se precisar de ajuda também, é só bater lá na sala ou ligar para o meu ramal.
— Obrigada, Maria Fernanda. Você é muito gentil.
Fui até o banheiro, lavei o rosto e mesmo assim senti que minhas mãos ainda estavam tremendo, fui até a minha bolsa, peguei meio comprimido de clonazepam e tomei para desacelerar um pouco. Aquilo que fiz com o café foi loucura e isso que fiz com o clonazepam foi mais loucura ainda. Por favor, não façam.
Fui até a cobertura do prédio para pensar em uma solução e esperei o remédio fazer efeito. Senti o vento no meu rosto e me permiti fechar os olhos e respirar fundo. Quando fiz isso, pensei em Maria Fernanda me perguntando se eu estava bem, preocupada comigo e aquilo me pareceu sincero. Suspiro.
Volto ao setor tomando coragem para bater em sua sala, me aproximo da sua porta e bato três vezes. Ela fala um singelo "entra" e quando me vê abre um sorriso.
— Dra Anna... Oi.
— Você sabe meu nome — sorrio e me sento na cadeira em sua frente.
— O seu nome e o Dr Roberto foram os únicos que eu consegui gravar – ela sorri – no que posso te ajudar?
— Não me lembro de ter mencionado.
— O Dr Roberto me disse.
Dei ombros e continuei a falar:
— Não tenho muito tempo. Estamos no meio de uma reversão de falência da Empresa Maximum Transportes e amanhã é a primeira reunião com eles e querem resultados, eu não tenho nada. Eu apenas vou pedir ao juiz a recuperação judicial da empresa para não perdermos tempo, mas eles não querem decretar falência, querem reverter e você deve saber o quanto isso é difícil. Preciso entrar em contato com o credor para saber como negociar essa dívida milionária que eles têm, mas pelo que eu li, eles não querem negociar nada. Preciso que ache alguns precedentes para que force essa negociação. Você consegue me ajudar? Eu não sei quantas pessoas estão na minha frente nesse momento, mas eu preciso de ajuda pra ontem, acho que não posso resolver essa sozinha. – disse quase em desespero.
— Dra Anna, será um prazer ajudá-la. Quando começamos?
— Pode ser agora?
— Estou a sua disposição – Ela sorri. Que sorriso lindo.
— Vou pegar o notebook e as minhas anotações para a gente começar. Podemos fazer isso na sua sala?
— Podemos.
Fui até a minha mesa e peguei livros, anotações, notebook, papéis, tudo que era necessário e fui direto para a sala de Maria Fernanda para começarmos a trabalhar. Ela era muito eficiente, olhava tudo com atenção, não deixava passar nada e me fazia perguntas caso não entendesse alguma coisa.
Depois de suas inúmeras pesquisas, enquanto eu digitava a petição inicial e o pedido de recuperação judicial da empresa, ela me solta um grito que até eu me assustei: — Achei!
— O que você achou? Que susto — sorrio e ela sorri de volta.
— Achei uma jurisprudência favorável ao caso, mas você vai ter que marcar uma reunião com o banco credor da empresa para fazer uma proposta.
— Eles não estão dispostos a negociar a dívida, mesmo assim vou pedir uma reunião para amanhã de manhã. Não vou desistir sem lutar. O que você achou?
Ela se aproximou de mim e se sentou do meu lado, me explicou em maiores detalhes. Tentei me concentrar em suas palavras, mas o seu perfume estava me deixando louca, com certeza era Floratta Red e o fato dela umedecer os lábios passando a pontinha da língua neles me deixava mais louca ainda. Comecei a analisar seu semblante profissional, tentando me explicar sobre o caso, meu coração dando pequenas aceleradas por ela estar tão próxima e de repente, senti uma vontade de beijá-la. Foi nesses momento que nossos olhares se cruzaram e ela parou de falar, ficamos em silêncio trocando olhares. Foi a troca de olhares mais gostosa da minha vida.
Me toquei no que estava fazendo e resolvi voltar a realidade meio desconsertada.
— É... Eu acho que isso está ótimo, acredito que se a reunião com o banco for positiva e mostrando esses argumentos ao juiz ele decida por reverter a falência.
— Eu.. eu.. também acho, Dra Anna. Muito bom trabalhar com você.
— Obrigada você, Maria Fernanda, pelo seu empenho e dedicação e por atender o meu pedido de última hora.
— Não quero me meter no que não é da minha conta, mas você está bem?
— Agora sim – dou um sorriso.
Vou ficar melhor depois que eu te beijar.
O que é isso, Anna? Que pensamentos são esses?
— Bom, eu vou indo ligar para o advogado do banco para marcar a reunião com ele. Obrigada de qualquer forma.
— Imagina, se precisar conte comigo - disse ela
Saio da sala de Maria Fernanda com o coração acelerado e um sorriso no rosto. Um sentimento estranho começa a me invadir e eu balanço a cabeça negativamente repetindo para mim mesma: "Foco na carreira! Foco no trabalho, NÃO se permita!
Ligo para o advogado e uso todo meu poder de persuasão para marcar a reunião pela manhã. Acabo o deixando sem saída e ele aceita.
O Roberto mal pode esperar pela revira volta que esse caso vai ter, eu estou com sangue nos olhos para provar que eu posso vencer esse caso e me tornar digna na corrida pelo cargo de advogada júnior.
Ele não perde por esperar.
Fim do capítulo.
Fim do capítulo
Meninas, no capítulo seguinte entrarão dois personagens novos na história, quem será que é? hahahaha
Comentem, é muito importante pra mim.
Comentar este capítulo:
jake
Em: 01/09/2024
Anna foca no caso e mostra ao Roberto que vc é capaz.
Eita q M.Fernanda já está mexendo com os pensamentos da Dra.Anna.
Quem será os próximos personagens???
tayl0rmaniac4
Em: 04/09/2024
Autora da história
Hahahahaha eu postei dois capítulos novinhos pra vocês não ficarem na expectativa
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Marta Andrade dos Santos
Em: 01/09/2024
Vai dar tudo certo Anna e Roberto vai morder a língua.
tayl0rmaniac4
Em: 04/09/2024
Autora da história
Roberto é um ridículo, construí o personagem dele inspirado no meu ex chefe.
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