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Palavras: 5186
Acessos: 1932   |  Postado em: 30/07/2024

Depois

 


Julia acordou com o toque insistente do telefone, mas ela já imaginava quem seria e por isso não moveu nenhum músculo para atender a ligação ou ler as várias mensagens que o primo certamente tinha enviado. Mas ele não parou de ligar e se ela pensasse bem sabia que era bem provável que a próxima ideia dele ia ser aparecer no apartamento dela e não parar de tocar a campainha até ser finalmente atendido. Julia só queria ficar quieta e o primo dela não achava que era disso que ela precisava.

— O que você quer? — ela resolveu tentar se livrar da insistência de Pedro.

— Porque você demora tanto pra me responder e me atende como se não soubesse por qual razão eu estou ligando?

— Pedro, eu já te disse que eu não quero participar de almoço nenhum hoje. Será que você não pode me dar uma folga?

— Não, eu não posso! E nós já tivemos essa conversa antes, Julia, por favor não me obrigue a ter que ir te buscar.

— Eu não estou te obrigando, esse é exatamente o meu ponto.

— Okay! Abre a porta. — o rapaz falou irritado e Julia ouviu batidas na porta da sala do apartamento. A ruiva não estava nem mesmo acordada o suficiente para ter aquela conversa por telefone, imagina receber o primo para ouvir as mesmas coisas de sempre, mas ela sabia que ele não iria embora até ela atender.

— Porque você está aqui? — ela falou encarando o rosto do primo.

— Porque eu tinha certeza que você ia inventar alguma conversinha e querer me enrolar. — ele respondeu entrando no apartamento e fechando a porta — Você vai ir comigo sim, senhora!

— Você sabe que eu não sou nenhuma criança, né? Que eu tenho total direito de querer ou não querer alguma coisa. — Julia falou se jogando no sofá.

— O que eu preciso fazer para você ir?

— Nada! Eu não quero ir.

— É um almoço, Julia. A mamãe vai estar lá, o Jorge também e eu achei que você tinha concordado que era uma boa ideia a gente passar mais tempo com o namorado da minha mãe pra conhecer ele melhor.

— Eu disse e continuo dizendo, mas eles não são os únicos que vão estar lá.

Pedro respirou fundo e também resolveu se sentar. Considerando o número de vezes que ele estava tendo que ter aquela mesma conversa com Julia, ele já sabia exatamente como ia ser dali em diante. Ela ia dizer que não queria impor a sua presença para as pessoas, Pedro ia dizer que esse não era caso, depois ela ia dizer que as pessoas ficavam olhando para ela de uma maneira estranha e o clima ficava pesado quando eles todos estavam juntos e, por fim, Pedro ia perder a paciência e jogar na cara da prima que ela estava sendo cabeça dura e infantil com aquilo tudo. Hoje ele resolveu pular a parte que já sabia e tentar uma nova estratégia.

— Já fazem mais de 6 meses, Ju. Até quando você vai ficar fugindo de todo mundo?

— Eu não estou fugindo de ninguém e você não precisa me lembrar quanto tempo faz. — a ruiva respondeu com um tom de irritação que também já fazia parte da rotina dos dois quando o assunto era Manuela.

— Você está fugindo sim, agindo como se você não pudesse ocupar um lugar que é seu e que não tem nada a ver com a Manu, que foi quem decidiu ir embora.

— Eu não quero conversar sobre nada disso, Pedro. Você está cansado de saber.

— Você não quer falar sobre, não quer estar junto com ninguém, não quer viver, Julia! E isso não está certo. Ela foi embora e você tá aí, parada no tempo como se isso tivesse acontecido ontem, mas já fazem meses, já passou da hora de você reagir.

Julia segurou os cabelos e balançou a cabeça em negação com os olhos fechados. 

— Você não entende, ninguém entende e eu não estou pedindo pra vocês entenderem, só pra me deixarem quieta na minha.

— Você quer que eu aceite numa boa assistir você ficar aí definhando e se recusando a viver a sua vida porque a Manu não está mais aqui? É isso?

— O que você quer de mim, Pedro?

— Que você reaja, Julia! Já se passaram meses, minha prima, já passou da hora de você sair dessa vida depressiva que você se apegou e não quer abandonar.

— Eu estou aqui, não estou? Você ficou semanas na minha cola com medo de que eu fosse embora de São Paulo e eu não fui, eu fiquei e estou tocando a minha vida da melhor maneira que eu dou conta nesse momento. O que mais você quer que eu faça?

Pedro não queria ser cruel, mas também já estava cansado de ver a prima daquele jeito, como se tivesse perdido uma parte do próprio corpo e não soubesse mais como existir dentro da própria pele. Manuela tinha embarcado em um voo só de ida para os Estados Unidos há mais de seis meses e desde então nada parecia conseguir ser bom o suficiente para deixar Julia feliz ou ao menos satisfeita com a vida.

Todo mundo teve que se adaptar à mudança de Manu e a nova dinâmica que aquilo significava na rotina do grupo de amigos. Para Pedro a situação era ainda mais complexa, porque ele amava Manuela e queria que ela estivesse sempre bem, mas não podia negar que ia ter preferido se a amiga tivesse decidido buscar essa felicidade ficando ao lado de Julia. Mas, não era papel dele julgar as decisões da publicitária e ele até entendia o porquê dela ter escolhido aquele caminho. Porém, nada disso tornava mais fácil a fase que Julia estava atravessando.

Pedro não sabia mais o que fazer para tentar ajudar, nem mesmo conversar sobre o assunto Julia estava interessada. Seis longos meses depois da mudança de Manuela e Ju ainda se recusava a falar sobre como tinha sido a última conversa entre as duas, além de não querer saber de tocar no nome de Manu se pudesse evitar. Era até irônico que depois de todos aqueles anos convivendo com Manuela sem poder falar sobre Julia, Pedro agora estava vivendo a situação inversa com a prima perto e Manu vivendo em outro país.

— Eu quero que você me diga o que a gente precisa fazer para você ficar bem e não vem me dizer que você não está mal, porque eu estou olhando pra você e vendo a realidade.

— Se eu soubesse o que fazer, acredite, eu já teria feito.

— Isso não é suficiente, Ju.

— Vai ter que ser, porque a verdade é que tudo eu queria, eu não posso ter e estou fazendo o meu melhor para poder fazer as pazes com isso. E se eu posso fazer o meu máximo pra aceitar, você também pode. — Julia falou com impaciência.

Pedro se levantou e foi sentar ao lado da prima. Ela não estava passando uma ideia de estar disposta a continuar aquele assunto por muito mais tempo, mas Pedro queria aproveitar a oportunidade de finalmente poder falar algumas coisas.

— Você não pode ficar com raiva de mim por querer que você esteja bem, Ju. Porque isso é tudo que eu quero, mas você precisa querer também e eu não acredito que você queira. Ela foi embora, mas você sempre soube que existia essa possibilidade, de vocês não conseguirem se resolver, dela não ter a capacidade de te perdoar. Você não pode olhar pra mim e dizer que você não considerou isso também, agora aconteceu e você precisa seguir com a sua vida.

— Você está falando comigo como se eu não tivesse aceitado a decisão que ela tomou, o que eu posso te garantir que eu fiz e eu falei isso pra ela, mas isso não torna nada disso mais fácil pra mim, Pedro. Ela é o amor da minha vida. — Julia sentiu a garganta fechar com a necessidade de chorar, mas aquela era outra coisa que ela estava cansada de ter que lidar. Ela já tinha chorado o suficiente por tudo aquilo e ela já tinha tentado superar tudo aquilo, mas parecia que tudo de errado que ela tinha feito e todas as consequências de anos errando tinham finalmente alcançado a ruiva e ela estava em pedaços — E eu estou fazendo o máximo que eu posso, me desculpa se isso não inclui querer participar de todos os encontros que vocês decidem fazer.

— Tudo bem, você não quer ir, é um direito seu. Mas você continua dizendo que está fazendo tudo que pode e eu não vejo isso. — Pedro insistiu, mesmo vendo as lágrimas se formando nos olhos da prima e sentindo o quanto ela estava infeliz com aquela conversa.

— Eu acordo todos os dias, não acordo? Eu continuo trabalhando, não continuo? Eu vejo você e a tia Silvia sempre que posso, não vejo? Só porque eu não estou fazendo do jeito que você quer, não significa que eu esteja me esforçando.

— Tudo que eu estou ouvindo nisso tudo é que você tem feito o mínimo e isso não é jeito de viver.

— Bem vindo a minha vida, meu querido. Não fica aí pensando que eu não sei nada disso, porque é a minha vida e sou eu quem vive ela todos os dias. Eu não vou me desculpar por lidar com as coisas da forma que fazem sentido pra mim, Pedro. Eu tentei fazer as coisas certo dessa vez e eu continuo tentando, nada disso significa que eu vou aceitar com tranquilidade viver sem a Manuela. Eu achei que você já soubesse disso.

O tom de finalidade de Julia não podia ser ignorado, nem se Pedro quisesse. Ele teve que aceitar mais uma derrota e tentar de novo uma outra hora. No fundo ele achava que Julia já sabia que ele não ia desistir, ele não tinha como abandonar a prima para sofrer isolada como se ela não tivesse ninguém que se importasse com ela. É claro que a decisão de Manuela ia ser difícil de lidar para a ruiva, todo mundo sabia disso, mas alguma hora ela ia ter que seguir com a vida e Pedro ia continuar insistindo até lá.

Os últimos meses não tinham sido só de sofrimento, eles também tinham se acostumado com a vida estando juntos outra vez. Já tinha quase um ano que Julia tinha voltado a viver no Brasil e Pedro tinha se adaptado muito bem a ter a prima por perto, agora era torcer para aquela fase ruim passar logo, embora ele não se enganasse em achar que algum dia Julia seria totalmente feliz com a ausência de Manu.

**

Era verdade que Julia andava evitando se encontrar com as pessoas que ela considerava amigas da Manu, ela achava que isso poderia causar um constrangimento desnecessário para todo mundo. Afinal de contas a publicitária não tinha desaparecido da vida de todos, esse privilégio era exclusivo de Julia e a ruiva não queria invadir o espaço que ela achava que pertencia somente a Manuela.

Atrelado a isso estava o fato de que Julia não sabia muito bem como lidar com as notícias que ela recebia sobre a vida de Manu fora do país. Nos primeiros meses ela tinha tido que lidar mais de uma vez com a surpresa de ouvir alguém comentando sobre como as coisas estavam nos Estados Unidos, mas nenhuma das vezes isso tinha feito bem a ela. É claro que ela queria que Manu estivesse bem e tudo mais, não era esse o ponto, mas a publicitária tinha sido muito clara quando fez as malas e deu adeus ao que elas estavam tentando reconstruir.

Em retrospecto, talvez Julia devesse considerar que a única que estava tentando reconstruir alguma coisa entre as duas era ela, Manu tinha estado o tempo todo com um pé atrás, com cautela demais, com muito mais medo do que entrega. Se era justo ou correto, não importava, as coisas eram como eram e Julia estava tendo dificuldade o suficiente para lidar com as próprias emoções sem adicionar um boletim semanal sobre a vida de Manu na mistura.

Ela não discordava de Pedro em todos os pontos que ele teimava em repetir como um disco arranhado. Julia estava tentando tocar a vida e entendia que estava fazendo isso, ela não tinha sucumbido como gostaria, não tinha deixado o luto de todas as perdas tomar conta e ela considerava isso uma grande vitória. Nos últimos meses ela tinha dado um basta na relação com os pais que pareciam finalmente ter entendido que não iam conseguir manipular mais a sua vida, mas não sem primeiro infernizar a ruiva de todas as formas possíveis.

Julia também tinha conseguido colocar um ponto final definitivo em uma das relações mais complexas em que já esteve. O alívio que ela sentiu quando Mateus finalmente resolveu aceitar que o casamento deles tinha acabado e que não fazia sentido os dois continuarem batendo cabeça sobre aquilo, foi gigantesco. Ela conseguia perceber como todas aquelas coisas tinham facilitado a sua decisão de continuar em São Paulo apesar da ausência de Manu. Julia tinha resolvido a sua vida e ela gostava de poder morar perto da família que tinha escolhido abraçar ela do jeito que ela era.

O que Pedro andava chamando de Julia ter desistido de viver, Julia acreditava que era na verdade o primeiro momento da sua existência que ela conseguia parar e analisar o que queria do próprio futuro sem precisar considerar nenhuma amarra. Ela podia decidir o que quisesse e não tinha que prestar contas para ninguém, aquilo era absolutamente libertador e seria maravilhoso se o coração dela já não tivesse decidido há muito tempo o que ela precisava para ser feliz.

Julia tinha tido apenas três relacionamentos dignos de nota até aquele momento. O primeiro namorado, Felipe, que ela conheceu logo que chegou a São Paulo e que tinha sido tão gentil e insistente que acabou conquistando Julia. Foi um bom namoro e talvez tivesse durado, mas aí a ruiva descobriu o que era amor de verdade e foi se perder e se encontrar nos braços de Manuela de um jeito que era assustador na mesma medida que era bom e certo. Com Mateus, as chances deles darem certo era a mesma que todos os oceanos do mundo secarem. Eles como casal estavam fadados ao fracasso desde o primeiro momento, mas Julia admitia que o casamento tinha existido e, apesar de todas as coisas, ela não guardava rancores e estava pronta para seguir em frente sem ressentimentos se Mateus também estivesse.

Agora ela estava sozinha e livre e com o coração partido em pedaços. Todas as vezes que ela tinha imaginado que voltar a estar com Manuela, mesmo se elas não se acertassem, era melhor do que nunca mais ter a oportunidade de reviver aquele amor, tinham sido um erro. Era tão mais difícil agora do que tinha sido da primeira vez, a ruiva não fazia ideia de como tinha conseguido viver todos aqueles anos na Inglaterra, porque agora parecia que todos os dias eram uma nova forma de tortura para ela.

E se ela andava evitando o contato com o ciclo que rodeava a vida de Manu, acabava sobrando mais tempo para estar com as pessoas que não tinham nada a ver com a publicitária. A mais presente de todas elas era Tati, que nunca tinha sido de passar a mão na cabeça de Julia, mas que também nunca tinha recusado o seu ombro amigo quando a arquiteta precisava. Era justamente por isso que Julia ainda aceitava ver a advogada sempre, como era o caso agora.

— Desculpa o atraso. — Tati falou antes de cumprimentar a amiga com o beijo no rosto. As duas estavam se encontrando duas ou três por semana no que Tati estava chamando de: terapia intensiva para você não se afogar no trabalho e esquecer de viver.

— Caso difícil? — Julia perguntou depois que a amiga se sentou na mesa do bar que elas tinham resolvido se encontrar para um vinho de final de expediente. Julia tinha cedido ao argumento de que era sexta-feira e as duas mereciam espairecer um pouquinho.

— Não muito. Eu estava com a Amanda e a Isabela, acertando os últimos detalhes antes da audiência delas sobre a adoção do Samuel. — Tati falou encarando o rosto da amiga para observar como ela ia reagir ao assunto.

Julia concordou com um aceno de cabeça, mas optou pelo silêncio.

— Elas estão com boas chances de conseguirem resolver a situação até mais rápido do que eu esperei.

— Isso é ótimo.

— Sim, é ótimo mesmo.

— Vamos pedir? Você vai querer um vinho mesmo ou talvez um chope? — Julia tratou de mudar o assunto.

— Te incomoda falar sobre as meninas? — Tati resolveu insistir, não era sempre que ela conseguia falar sobre Manuela com a ruiva atualmente e as coisas estavam parecidas demais com a primeira vez que elas haviam se separado, mas a advogada não era uma das melhores na sua profissão atoa. Ela nunca teve medo de cara feia e sabia muito bem como argumentar os seus casos.

— Porque me incomodaria? Eu só achei que o assunto já estava encerrado.

Tati riu antes de responder, algumas coisas nunca iam mudar.

— Você está se fazendo de desentendida e eu acho isso uma graça, mas eu preciso confessar que isso está começando a parecer muito com época que você morava fora.

— Por favor, será que a gente pode não ter que ficar falando sobre isso também?

Tati olhou a amiga nos olhos por um tempo e tentou imaginar se realmente valia a pena amar alguém daquela forma, ainda mais com uma história tão cheia de confusão como era a de Julia e Manu.

— Eu vou querer o chope. — ela falou encarando o cardápio e Julia achou que estava livre — E como assim falar sobre isso também?

— Eu e o Pedro tivemos mais uma conversa delicada no domingo. — Julia respondeu enquanto chamava o garçom com um aceno. Depois do encontro com o primo no domingo, os dois tinham se falado apenas por telefone durante a semana, mas não tinham tocado em assuntos indesejados pela ruiva — Dois chopes, por favor. — Julia pediu ao garçom e o rapaz anotou o pedido antes de deixar as duas sozinhas mais uma vez.

— Você e o Pedro brigaram?

— Ele fica insistindo em querer conversar de coisas que eu preferia não ter que falar sobre, o que eu gostaria que eu e você também não tivéssemos que fazer.

— Brigar ou falar sobre a Manuela?

Julia respirou fundo e passou a mão nos cabelos descontente, mas Tati não se intimidou.

— Julia, o que você esperava? Eu me preocupo e tenho certeza que o Pedro também.

— Eu não esperava nada. Eu estou bem e eu queria que vocês acreditassem nisso.

— Então porque você está brigando com a gente?

— Porque eu não quero falar sobre ela, Tati. O Pedro sabe disso e fica insistindo em querer debater as mesmas coisas.

— Quais coisas, Ju?

— Como eu estou levando a minha vida ou o fato de que eu prefiro não impor a minha presença aos amigos dela, fora dizer que eu estou abrindo mão de viver porque ela não está mais aqui.

— E ele está errado?

— Por favor, Tati! — Julia se exasperou.

— Tudo bem, você tem direito de escolher como levar a própria vida. — Tati fez uma pausa para agradecer ao garçom que tinha retornado a mesa com o pedido das duas e só continuou quando elas estavam sozinhas novamente — Eu não estou tirando a sua razão nesse ponto, Ju. Mas, eu concordo com o Pedro sobre você ficar se escondendo das pessoas. Qual razão para você fazer isso?

— A razão é que eu não quero me meter na vida da Manu mais do que eu já me meti e eu sei que todos eles ainda tem contato com ela, inclusive o Pedro.

— Você realmente acha que ela vai se incomodar porque você foi a meia dúzia de jantares ou almoços na casa da Silvia com o resto dos amigos dela lá?

— Não importa o que eu acho, assim é como eu me sinto mais confortável. — Julia falou encarando a tulipa ainda intocada a sua frente.

— Bom, o que eu acho é que seria mais fácil para o Pedro aceitar isso se ele soubesse o que você está sentindo. Desde que ela foi embora você se recusa a tocar no assunto e é natural que a gente fique preocupado, Ju.

— Qual parte vocês não entenderam, Tati? Ela foi embora e eu fiquei aqui. Se você pensar bem, nós já até passamos por isso e vocês também estavam lá de certa forma.

— E brigar comigo ou com o Pedro tem te ajudado como?

— Não tem, por isso eu resolvi aceitar o convite dele para ir almoçar na casa da tia Silvia amanhã e eu acho que a Isa e Amanda vão estar lá também, o Willian com certeza estará. Então, eu estou tentando fazer a minha parte, se isso te deixa mais feliz.

— Deixa. — Tati respondeu com um meio sorriso — Mas, eu ficaria muito mais feliz se você se abrisse um pouquinho com a gente.

— Que diferença isso faria?

— Eu não sei, mas talvez te ajude a organizar as ideias. Que mal pode fazer?

Julia achava mais fácil falar sobre aquelas coisas com Tati, mas não era como se a arquiteta estivesse realmente seguindo ao pé da letra aquele papo de terapia semanal com a amiga. Elas passavam um bom tempo de qualidade juntas, mas Julia preferia deixar o tema do seu relacionamento com Manu quieto.

Ela não queria falar sobre aquilo porque não tinha muito o que dizer. A última conversa das duas tinha sido dura demais e a despedida entre elas tinha deixado um gosto amargo para Julia. A única certeza que tinha ficado daquele último encontro é que ela ia ter que respeitar o desejo de Manu e sair de cena, dar o espaço que a publicitária tinha pedido e Julia estava cumprindo esse desejo, fazendo um esforço absurdo, mas estava. Qual era o ponto de ficar falando sobre aquilo? Ela não conseguia enxergar.

— Não tem nada pra organizar, Tati. Ela foi embora, antes de ir ela me avisou e me pediu pra ficar longe, então isso é o que eu estou tentando fazer e é uma das coisas mais difíceis da minha vida. E é isso, não tem mais o que dizer sobre o assunto.

**

Julia acordou no dia seguinte com o telefone tocando mais uma vez e ficou encarando o teto por alguns minutos imaginando se Pedro estaria de novo na sua porta. Só quando a ligação foi para a caixa postal é que ela se virou e pegou o celular no criado mudo. Pedro já tinha enviado uma mensagem perguntando como ela estava e se o almoço ainda estava de pé, isso tinha sido há quase duas horas e provavelmente a falta de retorno da prima tinha sido o motivo da ligação.

A ruiva olhou as horas e soube que iria se atrasar, mas a saída com Tati tinha demorado mais do que ela imaginava e a arquiteta tinha ido dormir mais tarde do que deveria. Julia não estava reclamando, depois de conseguir fugir do tema Manuela, as duas tinham tido uma noite muito agradável e tinha mesmo servido para Julia espairecer as ideias antes de um almoço que ela imagina que seria no mínimo desconfortável. A ruiva mandou uma mensagem para o primo explicando que tinha acabado de acordar, mas que ia se arrumar e encontrava com ele mais tarde.

No carro Julia foi pensando que aquela era a primeira vez em meses que ela acordava se sentido realmente descansada e que a insônia dos últimos meses estava dando uma trégua. Ela sabia por experiência própria que o corpo tinha um jeito próprio de reagir a traumas emocionais, mas que eventualmente ele se adaptava e talvez ela estivesse chegando nessa fase. Não estava tudo bem, mas qualquer pequena vitória era ótimo.

Ela estacionou o carro na entrada da casa da tia repetindo um mantra interno de que hoje ela não teria que lidar com informações desnecessárias sobre Manuela sendo jogadas no seu colo e pegando ela totalmente desprevenida sobre como reagir. Ela sabia que não ia ser de bom tom desistir de entrar na mansão naquela altura do campeonato, todos já deviam estar lá e o mais provável era que estava todo mundo esperando apenas a chegada dela. Ela saiu do carro, ativou o alarme e estava caminhando em direção a porta quando foi interrompida.

— Olá.

Julia continuou parada de costas, sem se mexer, tentando calcular qual era a chance de tudo aquilo ser algum pesadelo induzido pelas duas tulipas de chope que ela tinha bebido na noite anterior. Depois ela fechou os olhos tentando controlar os batimentos cardíacos respirando de maneira profunda e ritmada, mas nessa etapa ela não teve muita sorte. Então, porque ela sempre ia ser incapaz de resistir a atração daquela voz, ela se virou para encarar o seu maior medo.

Era seu maior medo, ela não precisava fingir que não. Ela já tinha imaginado inúmeras vezes o que poderia acontecer se ela fosse obrigada a estar naquela posição, se não era bem o termo correto, era mais quando ela fosse obrigada a estar naquela posição. Porque ela sabia também que aquela situação não era para sempre, ela ter que lidar com aquilo era inevitável, mas nem por isso menos impossível de assimilar.

— Como vai? — Manuela questionou com uma tranquilidade que deixou Julia perplexa, como se as duas se vissem todos os dias e tivessem se encontrado ali naquela porta por acaso. E Manu estava diferente, o cabelo, a postura e alguma coisa que Julia não sabia precisar o que era.

— Eu estou vendo que você está surpresa de me ver, o que se você pensar bem é até justo, considerando que você me surpreendeu aqui da última vez que a gente passou por isso.

— Você cortou o cabelo. — foi a primeira coisa que Julia conseguiu dizer, ignorando tudo que Manu tinha dito até ali e a publicitária riu, porque fazia sentido Ju não saber como reagir ao retorno surpresa dela.

— Eu cortei, você gostou?

— Está mais curto.

Manuela concordou com a cabeça e deixou o silêncio se estender um pouco, Julia parecia interessada em olhar Manuela e a publicitária não ia negar que também queria a chance de ver a ruiva, só poder olhar para ela sem pressa.

— Como você está aqui? — Julia questionou por fim.

— Eu voltei tem uma semana.

— E ninguém achou uma boa ideia me avisar que você estaria aqui hoje? — Julia cruzou os braços e Manuela reconheceu a postura defensiva dela pelo o que era.

— Ninguém sabe que eu estou aqui, quer dizer, a Amanda sabe e foi ela quem me disse que todo mundo ia vir almoçar na Silvia hoje. Eu fui direto para Minas e só cheguei em São Paulo ontem de noite, aí resolvi fazer uma surpresa pra todo mundo aparecendo aqui hoje.

Julia avaliou a informação e pensou que Manuela tinha razão em dizer que era de certa forma justo que ela aparecesse de surpresa ali na frente de Julia, sem aviso prévio que pudesse dar a arquiteta a chance de se preparar. Porém, se Manu estava ali, Julia não poderia estar e, olhando para a chave do carro que ela ainda segurava nas mãos, ela concordou com a cabeça e deu dois passos em direção ao veículo que ela havia acabado de estacionar.

— Eles vão ficar felizes que você está aqui. — ela falou antes de destravar o carro com o controle.

— Você não vai ficar?

Manuela seguia parecendo calma demais com tudo aquilo e podia ser porque ela já imaginava que encontraria com Julia ali, só que isso não queria dizer que a arquiteta estava disposta a passar o dia ainda mais desconfortável do que ela imaginou que estaria.

— Você não precisa ir só por minha causa, você pode ficar. — Manu argumentou diante do silêncio de Julia.

— Eu não acho essa uma boa ideia.

— Porque?

Julia deu uma risada sem humor e encarou o rosto da publicitária como se ela já soubesse a resposta para aquela pergunta, o que Julia acreditava que ela realmente sabia.

— Você sabe porque. — Julia respondeu se virando para ir em direção ao carro a passos rápidos, ela não queria começar a chorar na frente de Manu, mas quanto mais tempo ela ficava ali, maior era a chance daquilo acontecer.

— Espera! — a publicitária falou também dando passos em direção ao carro de Julia e pela primeira naquela conversa a arquiteta notou nervosismo na voz de Manu. Julia se virou e respirou fundo, mas não disse nada, dando espaço para que Manuela continuasse dizendo o que precisava.

— Eu me lembro como eu me senti quando eu encontrei você aqui pela primeira vez depois que você voltou e eu levei um bom tempo para me recuperar. — Manu olhou para as próprias mãos que ela segurava uma na outra em mais um sinal de nervosismo e pareceu avaliar o que dizer em seguida — Eu voltei para ficar, Ju e eu sei que já tem meses desde que eu fui embora e a gente não se falou durante esse tempo, mas eu não queria te afastar da sua família quando eu fui e eu continuo não querendo fazer isso agora que eu estou de volta. Então, se você quiser ir passar o dia com eles hoje, eu posso fazer a surpresa para eles uma outra hora.

— Você realmente acha que eu vou conseguir passar um dia bom com eles depois da surpresa que você fez pra mim? Porque eu não acho que eu vou. — Julia respirou fundo mais uma vez e falou antes de entrar no carro — Aproveita o almoço, eu tenho certeza que todo mundo vai ficar feliz em te ver de volta.

 

Julia não deu tempo para Manu falar mais nada, ela entrou no carro e deu partida indo em direção a saída da propriedade. Para Manuela só restou encarar o carro se afastar e aceitar que elas estavam mais uma vez em uma situação complicada de resolver, mas Manu não tinha passado os últimos meses fora tentando se acertar para voltar e viver de novo as mesmas coisas que tinham feito ela ir embora em primeiro lugar. Dessa vez ela ia fazer as coisas de um jeito diferente e ela esperava que desse tudo certo no final.


Fim do capítulo

Notas finais:

UFA! Primeiro gostaria de saber como estamos? Depois gostaria de me desculpar pela ausência de ontem, com viagem, trabalho, a vida, as olimpíadas (que eu AMO) e tudo no meio do caminho eu acabei não conseguindo vir. Porém, já voltei pra casa e voltamos a programação normal.

 

Gente, capítulo passado foi durissímo né? Manu meteu o pé e as coisas ficaram em suspenso aí, enfim, delicado viu... Mas, a boa notícia é que ela já está de volta. Tivemos uma passagem de tempo, é verdade, mas ela voltou e agora? Não sei (eu sei né!?), mas saberemos em breve.

 

Beijo gigante para vocês todas, muito obrigada pelas leituras e os comentários e a gentileza de sempre que vocês tem comigo. Falta pouco, minha gente!!! 

 

Abraço! ♥

 

P.S: O título de hoje é insipirado na música 'Depois' da Marisa Monte e a música é boa demais viu!? Vale muito a pena ouvir!


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Comentários para 49 - Depois:
Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 03/08/2024

Depois que tu meteu o pé volta e quer abraço e beijo Manu. 

Tá certa Julia caí fora parte pra outra.

Responder

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LeticiaFed
LeticiaFed

Em: 30/07/2024

Seja bem-vinda de volta! Também AMO Olimpiadas e hoje fiquei emocionada e hiper feliz com as meninas da ginástica. Que dia!!
Quanto às nossas meninas...puxa vida, Manu. Depois de 6 meses aparecer assim de surpresa pra Julia (não tao poderosa ultimamente) foi sacanagem, né não? Mas enfim, espero que tenha posto a cabeça e o coração no lugar e se acertem finalmente. 
Até amanhã, ansiosa com o desenrolar e ja meio triste com o final (vai entender essa...haha)

Responder

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patty-321
patty-321

Em: 30/07/2024

Nada fácil. Agora elas estão no zero a zero e podem recomeçar, se fizer sentido pra elas.

Responder

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Sem cadastro
Sem cadastro

Em: 30/07/2024

.    Boa noite autora.

Que bom que a Manu voltou, agora mais centrada, ela não foi abandonada, mas preferiu se refazer longe e voltar inteira, mais madura. Ótimo capítulo!

Responder

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Mmila
Mmila

Em: 30/07/2024

Agora a atitude está com a Manu, senão vão ficar em um looping sem fim.

#MAJU

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