Capítulo 13
Laila ficou em pé do lado de fora do bar, esperando até o carro dela aparecer. Marisa encostou perto da calçada e ela se aproximou do vidro do carona:
— Vai descer?
Não era o que queria, mas achou melhor não arrumar mais objeções:
— Vou procurar uma vaga… Me espera aqui?
Por sorte, apesar de ser uma sexta-feira, não precisou ir longe. Pegou o celular e desceu, só então se dando conta de que tinha saído de casa com a roupa que estava vestindo na hora, um tênis velho, e os cabelos presos de qualquer jeito.
Quando Marisa virou a esquina do bar, Laila deixou escapar baixo, sem que ninguém mais ouvisse:
— Puta que pariu!
Ela estava com um short jeans e uma camisa preta, os cabelos presos deixavam mechas caírem de forma natural sobre o rosto. Nunca a tinha visto assim, vestida de maneira tão casual, nem mesmo quando tinha ido à casa dela. Aquela simplicidade despertou em Laila a atração instantânea que sentia sempre que a via, mas dessa vez muito mais forte. Foi inevitável olhá-la de cima a baixo quando se aproximou:
— Oi.
Marisa sorriu, um pouco envergonhada:
— Oi…
Tentando se lembrar que estava chateada com ela, por tudo que ela havia dito, falou:
— Achei que fosse sair pra se divertir.
Marisa baixou o olhar e pediu:
— Desculpa…
Depois voltou a olhá-la:
— Eu fiquei cega de ciúmes.
Completamente tomada pela vontade de se jogar nos braços dela, Laila desviou os olhos para conseguir se manter firme:
— Marisa… Mesmo se nós duas fôssemos casadas, o que não é caso… Isso não te daria o direito de ser rude, ou de fazer pirraça como uma criança.
Ela meneou a cabeça, antes de repetir:
— Desculpa… Você tem razão.
Finalmente deixando a paixão e a atração que sentia por ela falarem, se aproximou. O tom de voz foi doce dessa vez:
— O que você achou que eu estava fazendo aqui? Você não confia em mim?
Marisa tocou o rosto dela numa carícia:
— Não é isso… É que não temos nada estipulado, não sei o que você pensa sobre essa relação… Se você…
Laila a incentivou a falar, apenas com o olhar, e ela completou:
— Se você fica com outras pessoas.
Laila sorriu e colocou as duas mãos no rosto dela. Quase achou graça da situação. Estava se justificando para uma pessoa casada, o que não mudava a verdade, de qualquer forma:
— Eu não consigo nem olhar pra mais ninguém…
Aproximou o rosto para beijá-la, mas Marisa desviou, segurando seus pulsos com delicadeza:
— Vamos sair daqui?
Até entendeu aquele afastamento, mas a sensação de não tê-la por completo a incomodou:
— Preciso avisar meu amigo antes…
Apontou na direção do interior do bar e perguntou:
— Você quer entrar?
Marisa iria negar, mas antes disso, ouviu alguém dizer atrás delas:
— Te achei! Pensei que tivesse ido embora sem falar comigo.
Quando ele se aproximou, olhou para Marisa sem esconder a curiosidade:
— Olá, tudo bem?
Laila os apresentou rápido, pois conhecendo bem o amigo, sabia que ele poderia falar demais:
— Esse é meu amigo Tales…
Hesitou um pouco sobre como apresentá-la. Acabou sendo sucinta:
— Essa é Marisa.
Os dois se cumprimentaram com dois beijinhos, depois Laila disse para ele:
— Nós já vamos. Acerta minha parte hoje?
Tales sorriu e piscou para ela:
— Tá bem, gata, não se preocupa.
Depois disse para Marisa:
— Prazer em te conhecer… Na próxima, venha mais cedo, pra sentar com a gente.
Marisa sorriu timidamente:
— Claro…
Se despediram e as duas caminharam lado a lado até onde o carro de Marisa estava estacionado. Laila perguntou:
— Quer conversar na minha casa?
Ela concordou com a cabeça antes de dizer:
— Onde tá seu carro?
Laila apontou para frente:
— Logo ali... Te espero lá então.
Quando estacionou o carro na sua vaga da garagem, Laila deixou que todas as suas inseguranças a atingissem. Não sabia o que estava fazendo. Onde aquilo iria dar? E quando Marisa se cansasse ou a situação ficasse ruim para ela? Ou quando ela achasse que não valesse mais a pena…
Desceu e foi esperá-la na entrada do prédio. Subiram conversando apenas amenidades. Já no apartamento, Laila se sentia mais segura e decidida a conversar abertamente com ela. Não ofereceu nada, não perguntou se ela queria se sentar, foi direta:
— O que essa relação é pra você, Marisa?
Não era a primeira pergunta que esperava. Além de ter que vencer a surpresa, Marisa precisou escolher as palavras:
— Eu estou apaixonada por você… Completamente apaixonada.
Laila negou com a cabeça e disse:
— Não foi isso que eu perguntei.
Cruzou os braços na frente do corpo, numa posição inconsciente de desconforto, e continuou:
— O que é que nós temos? Qual é o propósito disso aqui?
Marisa se aproximou e colocou as mãos nos braços dela, uma de cada lado:
— Laila… Você sabe que eu… Você sabe como é a minha vida.
Laila se soltou delicadamente das mãos dela. Precisava não se deixar levar naquele momento:
— Sim, eu sei. E é por isso que acho que tenho o direito de saber no que estou metida…
Olhou Marisa nos olhos ao perguntar:
— Esse é o nosso presente e o nosso futuro? Isso é tudo que essa relação pode ser?
Quando Marisa baixou o olhar, Laila pediu:
— Olha pra mim.
Só quando os olhos voltaram a se encontrar ela continuou:
— Eu quero que você seja sincera. Não estou te cobrando nada, nem quero te colocar contra a parede… Eu só quero ter certeza de qual é o meu lugar na sua vida.
Marisa ficou em silêncio por alguns segundos. Já tinha vivido esse momento várias vezes com outras mulheres, e sempre era a hora de dizer adeus. Mas com Laila era diferente. Ela já sabia de tudo, sabia que Marisa tinha um casamento de fachada, sabia onde ela trabalhava, sabia onde ela morava… E, mais importante ainda, foi a única que conheceu Marisa por inteiro, como ela realmente era, sem segredos, sem desculpas, sem mentiras:
— É o que eu posso oferecer agora.
Laila descruzou os braços e balançou a cabeça em sinal de aprovação:
— Era o que eu precisava saber.
E falou o que Marisa menos esperava naquele momento:
— Eu vou tomar um banho… Você vai ficar?
Depois do que tinha dito, ficou na dúvida se ela queria sua presença ou não:
— Você quer que eu fique?
A resposta dela foi firme:
— Sim.
Por isso também falou sem hesitar:
— Então eu vou ficar.
*****
Sentada sozinha na varanda, enquanto esperava Laila sair do banho, imaginou milhares de maneiras de finalmente se libertar da prisão que ela própria tinha se colocado anos atrás. Não tinha entendido bem se a conversa havia sido positiva ou negativa. O que Laila faria a partir daquele momento, como ela passaria a enxergar a relação, o que ela esperava… Eram questões para as quais não tinha respostas. Na verdade, até tinha medo de ter.
O cheiro maravilhoso que inundou suas narinas indicou que Laila havia terminado o banho. Marisa se levantou e voltou para a sala. Poucos minutos depois ela apareceu, com os cabelos ainda molhados:
— Vou preparar alguma coisa pra gente comer. Está com fome?
— Um pouco.
Laila sorriu e foi na direção da cozinha. Marisa a acompanhou, tentando se concentrar apenas no prazer daquele momento. Ela e Laila, na casa dela, à vontade, como se fosse a rotina do casal.
Enquanto ela cozinhava, colocou a mesa e depois ficou sentada admirando. Se sentia em um beco sem saída. Não conseguia mais imaginar sua vida sem ela. Por mais que já tivesse se apaixonado e sofrido com separações antes, parecia que agora morreria se tivesse que se afastar de Laila. Por outro lado, só de pensar em ter que contar aos pais que se divorciaria de Edgar, e principalmente, que estava namorando uma mulher, sentia o estômago embrulhar.
Laila se aproximou com um pedaço de macarrão enrolado no garfo:
— Prova…
Levou o utensílio até a boca dela e perguntou, enquanto Marisa ainda mastigava:
— Tá bom pra você?
O sorriso de Marisa refletiu a satisfação dela:
— Uma delícia.
Comeram sentadas na cozinha, sem voltar a falar sobre o assunto de mais cedo. Depois que Marisa fez questão de lavar a louça, foram para o quarto.
Marisa deitou primeiro, depois de ter escovado os dentes com a escova que já era dela. Quando Laila também se deitou, de lado, ficaram de frente uma para a outra, apenas se olhando. Marisa acariciou o rosto de Laila devagar, completamente ciente de que estava perdida em cada detalhe dela. Ficaram assim por alguns minutos, em completo silêncio. Até Laila se mover e deitar com o corpo por cima do de Marisa.
A beijou devagar, com delicadeza, saboreando cada pedaço da boca dela. As mãos acariciavam o rosto, o pescoço, a nuca de Marisa, com a mesma suavidade. O encaixe dos corpos era tão perfeito que pareciam feitos apenas para aquele propósito. Entre um beijo vagaroso e outro, sussurravam palavras de carinho, misturadas com palavras de desejo.
As mãos desceram juntas, escorregando por dentro dos elásticos das calcinhas. Os gemidos soltos eram abafados nos lábios colados, as respirações se misturavam com a proximidade dos rostos. Os olhares se encontravam, se perdendo quando uma das duas fechava os olhos tentando controlar o próprio corpo.
Marisa se perdeu e se encontrou completamente nela. Estavam tão conectadas que pareciam um único ser, um só organismo, como se tivessem se fundido. Tocar e ser tocada por Laila daquela forma fez com que um sentimento supremo se apossasse dela. A sensação que tinha era de que estava transbordando pelos poros, derretendo, se partindo e se refazendo.
Quando Laila gem*u mais alto e o corpo dela começou a tremer, Marisa afastou as bocas e a olhou. Gozou junto com ela, com a imagem do rosto de Laila tomado pelo prazer fazendo o seu próprio aumentar, quase de forma insuportável.
O corpo dela relaxou em cima do seu, enquanto as duas ofegavam, sentindo a respiração de Laila no seu pescoço. Marisa abriu os olhos e ficou encarando o teto. Sentiu uma lágrima escorrer do olho esquerdo, resposta do próprio corpo pelo momento sublime que havia acabado de viver. Não a enxugou, sequer se moveu, apenas ficou paralisada com o pensamento de que nunca, jamais, em toda a sua vida, tinha se sentido daquela forma.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 07/08/2024
Mulher tenha coragem.
AlphaCancri
Em: 07/08/2024
Autora da história
Ta faltando bastante!
[Faça o login para poder comentar]
Julika Sempre
Em: 31/07/2024
Sublime
AlphaCancri
Em: 02/08/2024
Autora da história
Espero que esteja gostando da história! (:
[Faça o login para poder comentar]
HelOliveira
Em: 30/07/2024
Muito sentimento e pouca coragem, ninguém disse que ia ser fácil né Marisa, até quando cai conseguir levar tudo isso em segredo....
AlphaCancri
Em: 02/08/2024
Autora da história
Concordo plenamente rsrs
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
AlphaCancri Em: 17/08/2024 Autora da história
Oi, Dessinha! Muito obrigada! Fiquei muito feliz com seu comentário. Espero que esteja gostando da história :)