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Palavras: 5328
Acessos: 2089   |  Postado em: 28/07/2024

Contrapeso


Muito mais tarde, depois daquela conversa tão desgastante em tantos níveis e ao mesmo tempo tão necessária, quando as duas tinham conseguido secar as lágrimas e comer a comida que Manuela tinha pedido, Julia ficou pensando que existe uma certa cumplicidade, uma conexão tão profunda entre duas pessoas que se amam, que por vezes quem observa de fora não é capaz de entender a profundidade de algo dessa natureza. Infelizmente essa percepção não tinha sido o suficiente para acalmar o coração da ruiva sobre o que viria a seguir.

— Você vai ficar aqui hoje? — Ela perguntou enquanto as duas limpavam a mesa onde tinham jantado.

— Eu posso, se você quiser que eu fique. — Manu disse com simplicidade, olhando nos olhos de Julia, mas isso não era o suficiente.

— Eu sempre vou querer que você fique, Manu, você sabe disso.

— Eu sei.

As duas se olharam nos olhos e Julia sabia que sempre ia ter muito que Manuela estava disposta a ceder quando achasse que a ruiva estava sofrendo, porém não era da empatia de Manu que Julia precisava, ela queria mesmo era saber das duas, de como elas ficariam depois de tudo aquilo.

— Mas…?

— Não tem nenhum ‘mas’. Se você quiser que eu fique, eu vou ficar. — Manuela falou por fim.

— Hoje. Você vai ficar hoje, mas e depois? — Julia insistiu.

— Eu não sei, Ju e eu não acho que… você está cansada, eu também estou, talvez a gente devesse deixar essa conversa pra um outro momento.

Julia concordou com um aceno de cabeça e talvez Manuela tivesse razão. Talvez aquele dia desgastante e interminável não precisasse de mais uma conversa que ela não sabia o que ia significar. Talvez ela devesse aceitar a oportunidade de contar com o suporte de Manu enquanto ela podia e pensar sobre o resto depois.

— Você acha que algum dia todas essas conversas e essas coisas que a gente não diz vão terminar?

— Eu não sei, mas eu espero que sim. E eu não estou negando o fato de que a gente ainda tem coisas a dizer, Ju, mas você precisa do descanso e eu também.

— Eu entendo o que você está dizendo, mas eu não consigo evitar essa sensação de ter um contrapeso que me impede de acreditar que eu vou conseguir realmente descansar até ter certeza que a gente está bem. — Julia falou por fim.

Manuela estava colocando o que tinha sobrado do jantar das duas na geladeira e Julia tinha acabado de colocar o último talher na lava-louça. A publicitária pensou que estar de volta na casa de Julia tinha sido menos traumático do que ela imaginava considerando a última vez que tinha estado ali, mas ela sabia que isso tinha tudo haver com o fato de Julia precisar dela naquela noite, precisar do apoio e especialmente de não ser deixada sozinha. Isso não queria dizer que Manu estava pronto para elas decidirem o que seria do futuro das duas, não quando a morena ainda não sabia como explicar tudo que estava sentindo naquele momento. Mas, ela não queria que Julia sofresse, ela nunca queria isso.

— Eu estou trabalhando na capa de um livro a convite de uma amiga e o título é: Marina. No começo eu pensei que devia ser uma personagem da história, mas quando a gente sentou pra pensar o projeto a primeira coisa que ela me falou do nome do livro foi a definição de dicionário. Local onde as embarcações geralmente estão atracadas ou estacionadas pra reparo, enfim, a coisa do lugar seguro. Eu acho que é isso que nós somos uma pra outra, o lugar onde você encontra sossego e segurança.— Ela respirou fundo antes de continuar — Eu não estou dizendo que a gente não vai conversar, mas eu queria… eu acho que a gente pode só ser o resto da noite e aproveitar isso que a gente tem — ela usou a mão para apontar primeiro para si e em seguida para Julia — pra tentar recarregar as energias.

— Marina. — Julia concordou.

Ela estava consciente de que não tinha outra alternativa se Manu não queria falar sobre as duas naquela noite, mas ela também apreciava que apesar de tudo a publicitária estava ali e disposta a ficar, disposta a admitir sentimentos que até então ela havia evitado verbalizar. No fim das contas Julia só podia torcer que aquilo seria o suficiente.

**

— Você sabe que não precisa se preocupar, ele vai ficar comigo menos de 3 horas se você analisar bem. — Manuela argumentou com Isa ao telefone.

— Eu sei, mas essa é a primeira vez que ele vai ficar sem uma de nós duas desde que ele veio aqui pra casa. Eu só não quero que ele fique com medo ou alguma coisa do tipo. — Isabela confessou.

— Mas vocês explicaram que ele vai estar comigo e a Mandys disse que ele lembrou dos desenhos que a gente fez no hospital. — Manu lembrou a amiga.

— Eu sei. Vai dar tudo certo. — Isa foi taxativa na reafirmação, que era mais para ela mesma do que para Manuela.

Meia hora depois, Manuela estava no elevador indo esperar Isabela e Samuel na porta da iDrawn. Isa tinha um compromisso com um cliente e Amanda estava de plantão no hospital até o fim da tarde. Como Samuel ainda não tinha sido matriculado na escola, por causa de algumas pendências com a documentação do garoto, Amanda e Isabela estavam revezando entre ficar com Samuca e trabalhar. Como naquele dia as duas precisavam estar no trabalho, Manuela se colocou à disposição das amigas para ficar com Samuel.

A publicitária sabia que as duas tinham total confiança nela, mas era natural que elas ficassem inseguras pela novidade da situação. Manu tinha combinado com as duas que Isa ia deixar Samuca com ela depois do horário do almoço, ela ia pegar o garoto e levar para sua casa, onde os dois iam passar a tarde juntos. Amanda ia direto do hospital para a casa da amiga para buscar Samuel.

Até o momento o plano era perfeito. Só dependia de como Samuca ia reagir a essa pequena mudança na rotina dos últimos dias, mas Manuela estava confiante de que tudo ia correr de maneira tranquila. Além do mais, como madrinha de Samuel, nada mais justo que ela ter um tempo de convívio com o menino. Especialmente para que ele se familiarizasse com mais essa presença em sua vida.

Manu não teve que esperar muito até a chegada dos dois e depois de uma despedida rápida da amiga, ela e o afilhado foram para o apartamento da publicitária passar o resto da tarde. Manuela estava muito feliz que depois de dias tão tensos e uma conversa com Julia que mesmo com um final tranquilo, tinha exigido tanto das duas na noite anterior, ela ia poder recarregar as energias ao lado daquele menino que já era tão importante para ela.

**

Mais tarde, depois de muitos desenhos, uma volta na rua pra tomar sorvete porque as madrinhas precisam mimar seus afilhados, Samuel estava dormindo no sofá da sala e Amanda, que tinha acabado de chegar, acompanhou a amiga até a cozinha para colocar o papo em dia.


— O Samuca apagou total vendo o filme. — Manu disse para a amiga — Mas, ele amou os materiais de desenho aqui de casa, eu fiquei pensando em levar ele pra ver a mesa gráfica lá do escritório qualquer dia desses.

— Se ele já não fosse totalmente apaixonado por tudo que você faz, aí é que ele ia ficar. — Amanda respondeu sorrindo, era bom ver a amiga bem e se apaixonando pelo filho dela com tanta facilidade. Mas isso não era surpresa, Samuel tinha conquistado todas e todos sem praticamente precisar fazer nada.

— Eu ainda fico chocada como uma criança entra na vida da gente assim totalmente do nada e vira uma chave né!? Mesmo com todas as loucuras, toda vez que eu penso: pelo menos tem o Samuca. Meu dia melhora uns 300%.

— Esse é o super poder dele, eu tenho que concordar com você. Agora, mudando um pouco o tema: e a Julia? Ela voltou ontem, não foi?

— É, ela chegou ontem e eu busquei ela no aeroporto e dormi no apartamento dela. A gente conversou e como sempre é complicado.

— Entendi. Você vai me explicar o que está acontecendo aí na sua cabeça pelo menos?

— Eu já te falei lá em BH, Mandys. Eu estou cansada, exausta dessa sensação de não ter controle das coisas… de ser sempre pega de surpresa com alguma coisa.

— Mas isso não é basicamente o que significa estar viva?

— Você sabe muito bem sobre o que eu estou falando.

— Verdade, eu sei. Mas e aí? O que você pretende?

Manuela encarou o rosto da amiga antes de responder.

— Eu quero ter certeza de que ela está bem e eu quero encontrar um jeito de ficar também. A gente tem essa ligação que eu nunca consegui explicar o tamanho, mas que eu aprendi a lidar com o potencial de causar estragos, sabe? Talvez a gente precise de tempo, eu precise de um tempo.

— Se isso é o que você precisa, Manu, é o que você precisa e ponto final. Eu sei que você se preocupa com ela e as coisas que ela viveu não devem ter sido fáceis, mas tá tudo certo você fazer o que você precisa, seja lá o que for isso. Eu vou te apoiar não importa o que seja.

— Obrigada, Mandys. Ela literalmente me explicou tudo ontem e é muita coisa para processar, mas eu sei que eu preciso pensar em mim nisso tudo também e eu estou fazendo isso.

— E aquela ideia de procurar o Mateus?

— A Teresa já conseguiu marcar, ele estava vindo ou já está em São Paulo, eu não sei bem. Eu não falei nada com a Julia, eu acho que a minha conversa com ele é uma coisa que é entre eu e ele. Eu não vou ao extremo de dizer que não tem nada a ver com a Julia, mas de certa forma é exatamente isso. De toda forma a conversa vai acontecer.

— Eu entendo o que você está dizendo, eu juro que entendo, mas mesmo assim não era melhor eu ir com você? Você tem certeza que quer ir sozinha? — Amanda já tinha sugerido isso desde o começo, mas Manuela achava que o melhor era ela ter aquele encontro sozinha.

— Eu já te agradeci pela oferta, mas eu sinto que eu preciso fazer isso sozinha, Amanda. Sei lá, é um exorcismo que é só meu, sabe?

A médica concordou com o que a amiga estava dizendo.

 — Você parece diferente. Eu fui pra Minas esperando te encontrar de uma outra forma, essa história toda sempre pareceu te torturar, mas agora parece que você está mais tranquila com tudo.

— Eu acho que eu estou mesmo. Tem sempre um alívio em quando as coisas são todas esclarecidas, né!? E eu passei tanto tempo com medo de como tudo isso podia me deixar, mas o que eu tenho percebido é que tudo depende de como eu quero lidar com as coisas. De resto eu acho que é só resignação mesmo, depois de tantas semanas nessa montanha russa, eu já tô meio acostumada com o sobe e desce repentino.

— Não é uma coisa ótima, mas eu vou aceitar a pequena vitória de te ver mais tranquila. A Teresa marcou o encontro com o Mateus pra quando?

— Amanhã eu vou no hotel onde ele está hospedado.

— É, minha amiga, o que não tem remédio… Importante é você encerrar ou exorcizar essas coisas todas e bola pra frente. Pensar o que você quer do futuro.

Manuela concordou com um aceno de cabeça. Ela não tinha dito nada para Amanda ainda, mas ela achava que já sabia o que queria e não seria nada simples resolver aquilo tudo. No entanto Manu não era chamada de determinada atoa, saber o que queria era meio caminho andado e mesmo sofrendo e com medo, ela não pretendia recuar.

**

No dia seguinte Manuela saiu do escritório e foi direto para o hotel onde Mateus estava hospedado. Ela e Julia tinham se falado apenas por telefone desde o dia que a ruiva havia voltado do Rio de Janeiro, por isso a publicitária resolveu que só falaria sobre Mateus depois de conversar com ele e entender o que viria dali. As expectativas dela eram baixas, mas era bom sentir que estava ativamente tentando dar um ponto final naquela parte da sua vida.

No elevador que levava até a cobertura, ela recebeu uma mensagem de Julia confirmando se as duas iam se encontrar mais tarde no apartamento da arquiteta e Manu pensou que se adaptar à nova rotina de ter Julia no seu dia a dia tinha sido muito mais fácil do que ela imaginou que seria. Atualmente ela não queria ficar questionando os sentimentos que eram sobre Julia, não tinha servido para nada no passado e parecia ainda mais inútil agora.

— Eu achei que você nunca teria coragem de vir me ver. —foi a primeira coisa que Mateus falou ao abrir a porta da suíte. Manuela encarou o rosto dele em silêncio, ela não queria estar ali, mas precisava.

— Ultimamente eu tenho feito muitas coisas que eu não quero, essa é só mais uma. — ela optou pela honestidade antes de entrar pela porta. 

— Eu sou um mal necessário então? — Mateus questionou depois de fechar a porta e caminhar em direção ao sofá da suíte de luxo que Manu observava ainda de pé. 

— Não é o que você sempre foi? Um inconveniente que com o passar do tempo se tornou transtorno em definitivo? — Manuela questionou irônica. 

— Essa não é a forma que eu vejo as coisas. — Mateus respondeu se sentando em um dos sofás e indicando o outro para Manu — Não tem sentido ficar remoendo as coisas que já passaram, minha cara. 

Se houvesse alguém marcando o placar naquele momento, Manuela tinha certeza que ela teria sido a primeira a fazer um ponto naquela conversa. O único problema era que ela sabia, com muita convicção, que aquele era só o começo de uma troca de palavras que ia afetar ela tanto ou muito mais do que o homem à sua frente e Mateus sempre teve um talento natural para a ironia e a maldade com as palavras. 

— Muito mais fácil dizer do que fazer, afinal, aqui estamos nós. — Manu retrucou se sentando e encarando Mateus de frente.

— Talvez. — ele foi evasivo — O que fez você mudar de ideia e decidir falar comigo afinal?

— Eu acho que isso não é da sua conta. — Manu falou com calma — Mas você insistiu por meses que queria falar comigo, então, aqui estou eu.

Mateus encarou o rosto de Manuela por longos segundos antes de se levantar e caminhar até o bar que ficava no canto da sala.

— Você ainda toma o seu cowboy? — Mateus perguntou com a garrafa de uísque em uma das mãos. Ele costumava dizer, ainda quando eles estavam na época da faculdade, que sua primeira experiência com álcool tinha sido surrupiando algumas doses do uísque do pai quando ainda era criança. Por causa da situação e também porque o pai do rapaz sempre repetia a frase ‘A única maneira de tomar uísque é cowboy. E se alguém te disser o contrário, não confie nessa pessoa’, ele tinha se acostumado a tomar a bebida pura. Manuela acabou aprendendo a apreciar a bebida por causa de Mateus e por isso também se acostumou a dispensar o gelo nas suas doses.

— Eu não vim até aqui para beber com você. — Manu falou olhando  para o copo estendido em sua direção, Mateus não pareceu se incomodar, virando a segunda dose no seu próprio copo e se sentando de frente para Manu novamente.

— Veio pra me ouvir falar então, mas eu aposto que você já sabe muito do que eu tenho a dizer. — Ele falou depois de um gole — Ela é minha mulher, Manuela. Não apenas no papel.

— Ex-mulher, até onde eu sei.

— Isso pode ser resolvido.

Era uma disputa e Manu não queria cair naquele jogo de quem era dono do quê, especialmente quando o assunto era Julia. Ela não queria falar sobre isso com Mateus, não mais do que o necessário e por isso ela resolveu mudar a rota. Manuela queria dizer muitas coisas para o empresário, várias das quais, se ela analisasse bem, não diziam respeito a Julia e sim a relação que ela um dia cultivou com o homem na sua frente naquele momento.

— A gente era amigo, eu achei que a gente fosse melhores amigos. Essa é a parte que eu nunca consegui entender. — Manu falou com incredulidade depois de um tempo — Como você foi capaz de fazer tudo isso comigo? Por causa de quê? Eu simplesmente não consigo entender.

— Você tinha tudo e você nem mesmo dava valor. Todo mundo te amava, todo mundo te achava brilhante. Todas as meninas da faculdade queriam ficar com você, todos os caras também. Você era a melhor e você nem mesmo se importava com isso. — Mesmo parecendo contrariado ele acabou confessando as palavras.

— Eu não era tudo isso sozinha, Mateus. Você não lembra que todo mundo chamava a gente de super gêmeos? Todas as meninas e todos os caras também queriam ficar com você. Se eu me lembro bem, a faculdade inteira queria ser você. O milionário com dupla cidadania que tinha uma cobertura nos Jardins e nunca teve que aprender o significado da palavra não. Nós não estávamos no mesmo nível, simplesmente porque você estava um patamar acima. — Manuela falou por fim — E eu não estou reclamando da minha vida, muito pelo contrário. Eu sempre tive muito mais do que eu precisava. E sim, provavelmente eu não dei o devido valor a isso naquela época, mas eu nunca pensei que eu fosse melhor ou pior que você.

Mateus riu com sarcasmo e balançou a cabeça tomando um longo gole da bebida em seu copo.

— Isso é exatamente do que eu estou falando. Você nunca admitia quem era de verdade, você sempre teve essa versão pra agradar as pessoas. A rica boazinha que trata todo mundo bem e ajuda qualquer um que precisa, enquanto eu era o playboy mulherengo que não fazia nada direito.

— Isso é realmente o que você sempre pensou sobre mim? A nossa amizade inteira foi unilateral? Porque isso é um banho de água fria em tudo que eu achei que a gente compartilhou alguma vez na vida. Embora eu admita que deixa muito mais fácil entender porque foi tão fácil pra você me trair da maneira que eu acredito que você traiu. Toda a nossa amizade aconteceu na minha cabeça, nunca foi real? — Manuela questionou incrédula.

— Porque isso importa agora, Manu? Você realmente vai me dizer que você não superou isso? Sua vida ficou estagnada, por acaso? Não foi o que eu soube e muito menos é o que parece te vendo aqui na minha frente agora.

— Você está certo, eu não morri de desgosto ou de sofrimento, mas você era um dos meus melhores amigos, Mateus. Você me apresentava pra todo mundo como sua irmã. Quando foi que eu deixei de significar essas coisas pra você? E como foi que eu não percebi isso? — Manuela questionou com amargura.

Ele baixou os olhos por um instante e Manu se lembrou de quando os dois discordavam na época da faculdade, das brigas entre os dois. Eles nunca gritavam, era quase impossível poder chamar de bate boca, eles tinham uma sintonia até para divergir um do outro. Ela acreditava que eles realmente se gostavam e isso era o que menos fazia sentido para ela de tudo o que tinha acontecido. Porque ele ia simplesmente escolher trair a confiança dela daquela maneira.

— Eu não deixei de te considerar essas coisas, mas entre você e a mulher que eu — Mateus hesitou brevemente — amava, foi uma escolha simples. E você sempre soube que eu estava disposto a fazer o que fosse preciso pra conseguir o que eu quero.

— Eu acho então que eu fui ingênua o suficiente pra acreditar que a nossa amizade era uma linha que você jamais escolheria ultrapassar. — Manu respondeu com seriedade e os dois se olharam nos olhos, se mediram e tentaram desvendar mistérios que nenhum deles conseguia explicar em palavras.

— Eu pensei isso também, durante muito tempo. E eu não me arrependo de ter me casado, eu fiz acreditando que era o melhor pra mim. Mas às vezes, quando eu lembro daquela época... — Mateus concluiu bebendo um generoso gole da bebida em seu copo — Águas passadas, naturalmente. — ele encarou Manuela nos olhos de novo e pela primeira vez em muito tempo a publicitária admitiu que Mateus foi primeiro um muito bom amigo, ela não tinha como negar, ainda que os dois fossem completos estranhos agora.

— Águas passadas. — Manu concordou.

Os dois se encararam longamente. Manuela tentou encontrar ali uma memória que há muito tempo tinha deixado de ser a sua realidade. Mateus era um homem diferente agora, ao menos diferente daquele que Manu acreditou conhecer um dia. Não tinha um caminho de volta para o que um dia os dois foram e isso era tão triste quanto definitivo.

— Eu não sei o que você veio esperando encontrar, Manuela. Afinal de contas, de todas as pessoas, você foi sempre a que me conheceu melhor.

— Um ponto que nós teremos que respeitosamente discordar. — Manu falou com ironia encarando os olhos de Mateus — Se eu tivesse a mais remota ideia de quem você realmente era, provavelmente eu teria tido muito menos problemas e teria me poupado de muitas decepções.

— Eu não me lembro de você ser assim tão dramática. — Mateus falou com um sorriso.

— Eu não acredito que eu seja, honestamente, mas você precisa concordar que um dos seus melhores amigos casando com a mulher que você ama de surpresa, te dá uma certa licença para o drama.

Se concordava ou discordava daquela afirmativa, o empresário não deixou transparecer, ele parecia mais interessado em falar sobre outras coisas e aproveitar a oportunidade de exercer uma crueldade que Manuela não podia dizer que desconhecia, mas que nos anos de amizade com Mateus, ela nunca presenciou ser direcionada a ela.

E Manuela sabia muito bem o que Mateus estava tentando fazer e ainda assim o jogo dele estava funcionando perfeitamente bem. Manu devia mesmo ter esperado esse tipo de postura do empresário, a sutileza nunca tinha sido o forte dele. Longe disso, Mateus sempre desfrutou o ato de atacar logo de cara justamente no ponto que ele sabia que doeria muito mais no outro. Esse era o único modus operandi que o homem conhecia.

— A Julia gosta de dizer que o nosso casamento foi uma fachada, que na verdade nós ficamos juntos por conveniência. — Mateus falou com um sorriso felino brincando nos lábios — O que é uma fantasia que ela criou pra justificar as próprias atitudes. Ela era minha mulher, não tinha nada de fachada nisso. Muito pelo contrário, afinal, nós fizemos um filho juntos.

A raiva já era uma velha conhecida e Manuela estava surpresa por estar conseguindo controlá-la tão bem até ali.

— Eu não vim até aqui pra falar sobre a Julia com você. — Manu falou com convicção.

— Pra quê você veio então? Por favor, esclareça esse mistério. — Mateus respondeu com sarcasmo.

— Eu não sei, cara. Talvez eu achei que precisava te encarar uma última vez e você tem tentando com tanta vontade chamar a minha atenção, eu pensei que você quisesse me dizer alguma coisa afinal. — ela respondeu com sinceridade.

Mateus olhou para o último gole de uísque no seu copo antes de beber e levantar os olhos para Manu. Ela podia ver os cálculos acontecendo por trás dos olhos dele e alguma forma de resolução tomar conta do seu rosto.

— Eu não posso te dar as respostas que você quer, Manu. Eu amei a Julia quando vocês ainda eram namoradas e pensei em várias maneiras de ter ela pra mim, quando a oportunidade surgiu eu simplesmente peguei. Essa atitude tem muito pouco a ver com a nossa amizade, eu não pensei sobre você e eu não me importei em como você ia se sentir. Nada era mais importante do que ter a Julia pra mim.

— Bom, eu espero que tenha valido a pena.

— Não o tempo todo, eu admito e essa é toda a honestidade que eu tenho a te oferecer.

Manuela concordou com um aceno de cabeça.

— Eu vou te dar um pouco de honestidade também então. Eu não fui atrás da Julia esses anos todos porque antes de qualquer coisa ela tinha terminado comigo e eu aceitei isso. Eu aceitei a sua decisão também e eu ia viver o resto da minha vida sem te perguntar nada que eu perguntei hoje se vocês não tivessem voltado e aparecido na minha vida de novo. Eu não vou brigar com você por ela, Mateus. A Julia não é uma coisa pra ser ganha, ela é uma pessoa muito capaz de tomar as próprias decisões sobre a vida dela. Agora, sobre a minha vida, eu sei muito bem que não existe nenhum espaço para você nem como amigo e muito menos como inimigo. Meus sentimentos são todos meus pra lidar e eu não quero você fazendo parte de nada que diga respeito a mim. Portanto, eu espero que você não me procure mais e faça como da primeira vez que você foi embora sem avisar e sem se importar comigo ou com como eu estava. Isso é mais que o suficiente pra mim, a gente esquecer um do outro e cada um seguir seu rumo.

— Você não tem medo que eu consiga convencer ela a voltar pra mim?

Mateus parecia genuinamente curioso sobre aquilo.

— Você ficou casado com ela por seis anos e não conseguiu fazer ela me esquecer. Eu gosto de pensar que eu estou segura quanto a isso.

Manu respondeu seca, se levantou e foi em direção à porta. Ela não tinha mais nada o que fazer ali.

**

— E aí, como foi? Você tá bem? — Amanda perguntou assim que atendeu o telefone, antes mesmo de dar oi para a amiga.

— Uma das coisas mais estranhas que eu já vivi na vida. — Manu falou, a publicitária tinha acabado de sair da conversa com Mateus e  o humor dela não era dos melhores, mas era bom que a coisa toda finalmente tinha acabado.

— Eu posso imaginar. Eu queria era ter participado dessa conversa, inclusive tem uma coisinha ou outra que eu queria dizer na cara daquele cretino. — Amanda não escondeu o rancor que sentia quanto a Mateus.

— Eu não duvido, Mandys. Mas você e eu sabemos que essa é uma conversa que eu precisava ter sozinha. — Manu falou com simpatia.

— Eu sei, mas isso não muda o fato de que eu tenho umas verdades pra dizer na cara dele. — Amanda seguiu impassível.

Manuela ficou em silêncio durante alguns instantes contemplando as palavras da amiga. Amanda era um dos melhores presentes que a vida tinha dado para Manu e às vezes a publicitária sabia que se esquecia de agradecer por essa dádiva.

— Quando eu descobri tudo que ele tinha feito, naquela época a única coisa no mundo que fez com que eu não me fechasse pro mundo foi você. Ele era meu amigo e aquilo foi um tipo de traição que eu não conseguia entender, eu não consigo até hoje, mas foi só porque eu sempre tive absoluta certeza do que nós sentimos uma pela outra que eu continuei acreditando em amizade e eu nunca te agradeci por isso. Obrigada.

— Pra alguém insensível como você gosta de fingir que é, você certamente tem um jeito com as palavras, minha querida. — Mandys respondeu com um sorriso — E não existe nada pelo que agradecer, não quando a recíproca é tão absolutamente verdadeira.

— Não é uma questão de sensibilidade quando eu apenas estou dizendo a verdade. — Manu respondeu também sorrindo, pela primeira vez naquele dia.

— E a Julia? — Amanda mudou um pouco o rumo da conversa.

— Eu não falei com ela ainda, mas eu vou.

— Boa sorte? — a médica respondeu tentativa.

— Provavelmente é uma boa pedida. Sabe o que eu realmente gostaria? Que essas conversas emocionalmente exaustivas chegassem ao fim. — a publicitária falou com desânimo.

— Seis anos não são seis dias, Manu. Vocês vão chegar lá. 

— Eu espero que você tenha razão.

**

— Agora que nós estamos oficialmente casados, com documento que comprava e tudo mais, eu posso te contar coisas e você é obrigado a guardar segredo, não posso? — Willian e Pedro estavam deitados no sofá vendo TV quando o publicitário resolveu que era uma boa hora como outra qualquer para contar uma novidade que ele tinha descoberto enquanto Pedro ainda estava no Rio de Janeiro.

— Isso quer dizer que antes você não me contava todos os seus segredos? — Pedro devolveu com um sorriso.

— Isso é uma dúvida para a qual eu nunca darei uma resposta.

Os dois riram, mas Will sabia que o assunto era na verdade bem sério e Pedro pareceu notar só pelo semblante do esposo.

— O que aconteceu?

— Enquanto você estava no Rio, eu descobri que a Manu recebeu uma proposta de trabalho.

— E?

— Fora do país.

Pedro não soube o que dizer imediatamente, mas a julgar pela cara de Willian a situação era ainda pior.

— Como assim?

— Não é segredo para ninguém o quanto ela é talentosa, Pedro. Ela tem sempre algum projeto paralelo a todas as funções dela no escritório e ela é muito boa mesmo no que ela faz.

— Eu sei disso e sei também que essa não é a primeira vez que ela recebe esse tipo de proposta. O que é diferente agora?

— Pelo o que eu entendi a proposta é pra ela fazer uma residência nos Estados Unidos, mas não foi a proposta que me preocupou, foi ela ter me contado e me perguntado se eu achava que o escritório podia ficar sem ela por um tempo, como se ela estivesse considerando dizer sim.

— Você acha que ela quer ir embora?

— Eu acho que o que aconteceu entre ela e a Julia, dessa vez pode ter levado ela a um extremo que a gente ainda não tenha visto e eu também acho que ela tem direito de considerar a possibilidade de passar um tempo longe. Profissionalmente seria ótimo para ela e para o escritório. Eu não sei o que isso pode significar para o relacionamento das duas, amor, mas ela não ia me perguntar o que eu acho da ideia se ela não estivesse pensando sobre o assunto.

— Merda. — foi tudo que Pedro conseguiu dizer.

— Você não pode falar nada disso para a Julia. — Will foi categórico.

— Eu sei, mas merd*, vai ser horrível. Você tem noção?

— Não, eu não tenho, mas eu achei que você ia querer saber.

— A Julia vai ficar devastada.

— Talvez a Manu não aceite ou talvez as duas mantenham o relacionamento à distância, Pedro, não tem como a gente saber ainda.

 

— Eu não sei, amor. A Manuela é uma das melhores pessoas que eu conheço e eu sei que ela vai fazer tudo que puder para ter certeza que a Julia está bem depois de tudo que aconteceu entre elas nos últimos dias, mas às vezes como você falou dessa vez a coisa tenha sido a gota d’água que faltava para ela e eu ia entender se esse fosse o caso.


Fim do capítulo

Notas finais:

Olá! Diretamente da madrugada pq a vida não é fácil.

 

Explicações: estou na estrada, bagunçou minhas coisas do dia pq foi de surpresa e como eu não vou dormir por enquanto, resolvi postar mesmo já sendo  1 da madrugada. Amanhã durante o dia eu devo postar mais um, a boa notícia é essa.

 

Muita gente me perguntando sobre o título do capítulo anterior, nesse eu explico, mas não é uma pessoa de nome Marina, é a palavra marina. Enfim, fez sentido pra mim e por isso ficou esse.

 

No de hoje temos conversas e mais conversas e mais revelações e Manu dando umas na cara do Mateus (não literalmente) e Julia sumida, mas nunca esquecida... Vamos nesse ritmo e o fim está logo ali.

 

Beijo no coração. ♥


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Comentários para 47 - Contrapeso:
patty-321
patty-321

Em: 28/07/2024

Meu coração ficou bagunçado com essa estória da Manuir pra outro país. Num sei. Essa conversa foi ótima com o falso amigo. Até q enfim manu sabe que o Mateus foi um falso e manipulador. 

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 28/07/2024

Cretino esse Matheus.

Eita Manu vai caí fora aguenta Julia.

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Brescia
Brescia

Em: 28/07/2024

.   Boa tarde autora.

Gostei de saber que a Manu reagiu melhor do que ela mesma pensava, talvez essa viagem tenha sido providencial e uma alternativa para essa higiene mental que ela precisa ter para se dar valor e uma recuperação física e mental que  estava buscando pelos longos 6 anos que a Júlia foi viver a sua vida sem pensar como ela ficaria.

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LeticiaFed
LeticiaFed

Em: 28/07/2024

Bom dia, bela surpresa ver o capitulo novo agora pela manhã. Aproveite a viagem.
Manu, pode dar nos dedos, na cara, nas "partes" do Mateus mala, ia até gostar se fosse não literalmente, mas vamos pela paz haha E ainda se achando, acredita que pode convencer Julia a voltar? Vive num universo paralelo o rapaz...

Obrigada pela explicação do marina, pertinente para nossa duplinha. Podem conversar bastante mas se acertem, please. Aqui ou nos Estados Unidos, juntinhas, OK autora? Bom domingo!

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