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Palavras: 5601
Acessos: 1804   |  Postado em: 24/07/2024

Transitório

 


— Julia?

A ruiva estava tão perdida na vista e nas memórias de Manuela que pensou que a voz chamando pelo seu nome era produto do seu estado de espírito. Foi só quando Pedro tocou o ombro da ruiva, que ela percebeu que não estava mais sozinha na sacada. De todos os lugares do mundo em que Julia imaginou que um dia estaria junto com o primo, aquele era definitivamente o mais improvável de todos. Várias perguntas povoaram a mente de Julia no segundo que ela levou para se virar de frente para Pedro, mas o cérebro da ruiva resolveu vocalizar o mais curioso, na opinião de Julia.

— Como foi que você entrou aqui?

E Pedro não podia dizer que ficou surpreso com as primeiras palavras que saíram da boca da prima. Era mesmo impressionante não só ter conseguido entrar, mas encontrar Julia sem ser interrompido por ninguém, estando justamente na mansão de Wladimir e Helena Campana.

**


4 dias antes


Amanda chegou em casa e encontrou tudo silencioso, as coisas estavam tão quietas que ela chegou a pensar que Isabela e Samuel não estivessem em casa. Talvez a esposa tivesse resolvido levar Samuca para dar uma volta, Isa estava totalmente apaixonada pelo menino. A designer soube antes de Amanda que ele era filho delas e foi com muita calma que ela explicou para Amanda tomar o tempo que precisasse para entender que aquele menino que apareceu de forma tão inesperada na vida das duas era o filho delas e nesse meio tempo ela ia cuidar dele pelas duas. Se Amanda já não fosse totalmente perdida de amores por ela, certamente teria ficado naquela hora. Como era linda aquela sua mulher e como é surpreendente o tamanho do coração dela, Amanda pensou.

Acreditando que estava sozinha, a médica foi em direção ao quarto e, para sua surpresa, encontrou os dois dormindo juntinhos na sua cama. Um sorriso involuntário surgiu nos lábios de Amanda, ela não fazia ideia que era possível sentir tanto amor e ser tão feliz em um único momento. Tomando cuidado para não acordar os dois, ela deixou o quarto e foi em direção a cozinha. Enquanto bebia um copo d’água ela resolveu ligar para Manuela, mas a publicitária não atendeu, por isso Amanda resolveu deixar uma mensagem cobrando da amiga o almoço que ela havia prometido. O que Amanda ainda não sabia, mas iria eventualmente descobrir, era que Manu não iria responder aquela mensagem ou mesmo ligar de volta para combinar o encontro das duas. Manuela estava indisponível e em plena fuga após a recente descoberta sobre Julia e Mateus.

**

Julia subiu no elevador sem enxergar nada na sua frente, a porta do seu apartamento ainda estava aberta e ela deu de cara com Mateus, com um olhar bastante satisfeito, no meio da sala.

— Vai embora. — ela falou simplesmente.

— A nossa conversa ainda não acabou, Julia. Eu não vou deixar que essa entrada, providencial, eu devo dizer, da sua namoradinha, atrapalhe o que eu tenho a te dizer. — ele falou como se o aparecimento de Manuela, poucos minutos antes, fosse a melhor coisa que poderia ter acontecido.

— Vocês costumavam ser amigos. Melhores amigos, Mateus. Quando foi que você deixou de se importar com isso? Quando foi que você deixou de se importar com ela? — Julia questionou, não pela primeira vez, mas sempre com a mais absoluta perplexidade.

Mateus não respondeu, aquela pergunta era uma que ele nunca respondia. Ele desviou do olhar de Julia durante alguns instantes como se estivesse lembrando de alguma coisa que a ruiva não tinha direito de ver e quando voltou a encarar a arquiteta, seu rosto já trazia a mesma expressão de sempre. Uma que dizia para a ruiva que certas atitudes do ex-marido, jamais seriam explicadas e, ela acreditava que ainda que fossem, jamais poderiam ser entendidas.

— Okay. — Julia falou por fim — Se você não sai, saio eu. — e foi exatamente isso que a ruiva fez. Pegando o celular e as chaves do carro, ela decidiu que era melhor dar uma volta e tentar se concentrar em como lidar com a perda de Manuela pela segunda vez. Algo que ela tinha a impressão que jamais seria capaz de alcançar.

**

Julia resolveu estacionar o carro e sentar na primeira lanchonete que viu, dirigir não pareceu uma boa ideia quando a arquiteta percebeu o quanto as suas mãos ainda tremiam. Ela não sabia o que fazer e muito menos como resolver toda aquela bagunça. Não era só o fato de Julia ter se recusado a falar sobre aquele assunto com Manuela, sempre encontrando uma desculpa para adiar aquele momento. Era também que agora a ruiva havia perdido a prerrogativa de ser ela a contar aquilo para a publicitária e isso Julia não tinha ninguém, a não ser ela mesma, para culpar. Ciente de que sozinha ela nunca ia conseguir acertar aquela confusão, Julia resolveu pedir ajuda para a única pessoa que talvez pudesse encontrar alguma alternativa para ela naquele momento.

— Julia? — Pedro se aproximou da mesa de Julia com cautela.

Julia estava tão concentrada em controlar o tremor das suas mãos, que só notou a aproximação de Pedro, quando o primo tocou o seu braço.

— Ju? O que foi que aconteceu? — Pedro questionou, muito preocupado com o estado de Julia.

A ruiva olhou para o rosto do rapaz e pensou em como explicar para ele o que havia acontecido, mas não conseguiu encontrar as palavras. Como ela ia fazer ele entender que ela havia partido o coração de Manuela ao meio pela segunda vez? Como ela ia conseguir justificar o fato de que toda aquela situação poderia ter sido evitada se ela tivesse sido honesta com a morena? Como Julia ia conseguir expressar o quanto o seu próprio coração estava despedaçado, que nunca mais seria o mesmo e a culpa era totalmente dela de novo? Por isso, a única forma de resposta que ela conseguiu dar ao rapaz foi um aceno de cabeça em negação com os olhos já carregados de lágrimas.

Pedro tinha uma boa ideia do que poderia ter acontecido quando recebeu a mensagem de urgência da prima e sem pensar duas vezes foi encontrá-la no endereço que a ruiva tinha enviado. A julgar pela aparência de Julia, o rapaz suspeitava muito bem quem tinha acontecido e ele sabia também que Manuela tinha chegado de viagem naquela manhã, era só somar dois mais dois e não havia muito mistério. Como a ruiva continuou encarando Pedro, sem o menor sinal de que iria falar qualquer coisa, ele resolveu se sentar. Não importava o que tinha acontecido entre aquelas duas naquele momento, o rapaz sabia que a prima ia precisar do seu ombro para chorar.

— Você vai me contar o que foi que aconteceu? — Pedro questionou quando Julia pareceu conseguir controlar o choro. Ele já havia pedido uma água pra ruiva e segurava a mão da prima entre as suas.

— Eu... — Julia tentou começar, mas era tudo tão doloroso. Não era só o fato de Manu ter deixado bastante claro que ela não queria mais saber de Julia, eram as palavras que a morena tinha escolhido usar e o tanto que elas tinham marcado a arquiteta de forma irreversível.

— Você contou pra ela? — Pedro questionou, imaginando que essa poderia ser a única razão para Julia estar naquele estado, mas Julia simplesmente negou com a cabeça. O rapaz estava tentando, mas se Julia não começasse a usar palavras para explicar ia ficar difícil de entender o que quer que fosse.

— Você não contou, então? Foi outra coisa? — ele tentou mais uma vez.

Vendo a dificuldade do primo, Julia respirou fundo e tomou um pouco da água que estava na sua frente. Ela precisava se acalmar e tomar o controle. Ela tinha feito isso durante todos aqueles anos, ela já tinha toda a prática necessária para fazer isso de novo. Ou pelo menos ela ia precisar continuar repetindo isso para si mesma até funcionar.

— Ela me ouviu conversando com o Mateus. — Julia finalmente conseguiu falar — E foi horrível, Pedro. — ela concluiu com os olhos enchendo de lágrimas mais uma vez.

— Como assim ouviu? — Pedro perguntou preocupado.

— Ela chegou lá em casa e o Mateus estava lá. Eu não escutei ela entrando, o Mateus começou a falar sobre tudo o que aconteceu e eu... Eu simplesmente não pensei. — Julia concluiu com sofrimento.

— Uou. — foi tudo que Pedro conseguiu dizer. O rapaz não queria ser insensível com Julia, mas o primeiro pensamento dele foi em Manuela. A publicitária devia estar totalmente perdida depois de ter sabido de tudo daquela maneira. Então Pedro resolveu ser prático. — Ela ouviu tudo? — ele questionou.

— Não. Só a parte do... da gravidez. — Julia concluiu por fim — Ela não quis ouvir mais nada depois disso.

— Okay. Eu preciso ligar pra ela, Ju. Só pra ter certeza de como ela está. — Pedro explicou.

— O telefone dela tá desligado. — foi tudo que a ruiva falou.

Verdade, Pedro pensou que era típico da publicitária desaparecer nesses momentos. De qualquer maneira, agora que ele sabia o que realmente tinha acontecido, provavelmente alguém ia precisar ir procurar Manuela. Afinal de contas, o rapaz não podia cuidar das duas ao mesmo tempo.

— Eu vou ligar pra Amanda, então. Com certeza ela vai conseguir encontrar a Manu e aí, depois que a gente tiver certeza que ela tá bem, a gente vai dar um jeito de vocês duas conversarem com calma. — Pedro falou já com o telefone na mão.

— Ela não vai querer falar comigo. Você não sabe como a Manuela é? — Julia falou com sofrimento.

— Eu sei, mas ela precisa saber a história toda. E a Manu pode ser bastante razoável quando ela quer, por isso é bom a gente ligar pra Mandys, ela é uma das únicas pessoas que consegue colocar alguma coisa na cabeça da Manu quando ela fica desse jeito. — Pedro explicou já com o celular no ouvido.

**

Amanda estava concentrada na cozinha preparando um lanche para Samuel quando o celular tocou na sala. Com um sorriso, Isa tomou a frente e foi atender o celular da esposa. A médica não tinha que voltar ao hospital até o dia seguinte, mas a vida de médico era assim, sempre podia surgir uma emergência e Amanda nunca deixava de atender o celular. Dessa vez, para alegria de Isabela, era Pedro quem estava ligando.

— Pedroca, meu querido! Como vai? — Isa respondeu sorrindo.

— Oi, Isa. A Mandys já tá em casa, que ótimo. — Pedro respondeu com alívio.

— Aconteceu alguma coisa? — Isa replicou, preocupada, já indo em direção a cozinha.

— É a Manu e Ju que se desentenderam. — Pedro falou com cautela.

— Já? — a mulher respondeu surpresa.

— Pois é, uma tragédia anunciada se você quer saber. Tem como eu falar com a sua esposa, por favorzinho?

— Só um segundo. — Isa respondeu. — O Pedro, amor. Parece que aconteceu alguma coisa com a Manu e a Julia. Pelo visto é sério. — Isa concluiu passando o telefone para Amanda.

— O que será que essas duas arrumaram agora? — Amanda falou com um suspiro — Oi, Pedro.

— Oi, Mandys. Você falou com a Manu hoje? — Pedro foi direto ao ponto.

— Eu tentei ligar pra ela mais cedo, mas ela não atendeu. Eu deixei uma mensagem e ela ainda não retornou. O que foi que aconteceu dessa vez? — Amanda questionou.

 — Eu acho que a gente vai precisar falar pessoalmente. E a gente também vai precisar encontrar a Manuela e ter certeza que ela tá bem. — Pedro explicou.

— Ruim assim? — Amanda falou.

— Eu queria poder dizer que não. — Pedro falou com resignação.

— Vem aqui para casa então, a gente conversa e vê o que dá pra fazer. — Amanda concluiu.

Trinta minutos depois Pedro e Julia estavam entrando no apartamento das amigas. Se Amanda havia ficado surpresa com a chegada do amigo acompanhado da ruiva, ela não disse nada. Pelo contrário, depois de tentar falar com Manuela sem sucesso, a médica achava mesmo que era uma boa ter alguém para explicar o que tinha realmente acontecido. Pedro foi simples e direto com a prima, ainda no carro ele disse para ela que a melhor chance de conseguir falar com Manuela era através de Amanda, o que significava que a doutora ia precisar saber de todos os detalhes daquela história. Julia não se opôs à ideia do primo, mas também não quis ser ela a contar tudo para Mandys, por isso Pedro foi quem conduziu a conversa, embora tenha sido bastante econômico em fornecer detalhes que acreditava apenas Julia ter direito a compartilhar com quem julgasse necessário.

Amanda não fez nenhum comentário sobre o que ouviu. A única coisa que ela fez foi abraçar Julia e garantir para a ruiva que ela ia pessoalmente encontrar Manuela para conversar com ela e ter certeza que ela estava bem. A ruiva não sabia se aquilo ia adiantar alguma coisa, mas era bom ter a quem recorrer e por isso ela era grata. Agora era esperar e ver se Amanda ia mesmo ser capaz de convencer Manuela a ouvir alguma coisa que Julia tinha a dizer.

**

No dia seguinte Amanda passou pelo portão do sítio se sentindo absolutamente nostálgica. Ela nem sabia há quanto tempo não ia naquele lugar, mas o número de memórias que ela compartilhava com Manuela e aquele local era enorme. E apesar da raiva que ela sentia da amiga naquele momento, por fazer ela sair de São Paulo justamente naquele período tão importante para a vida da médica, Mandys se sentiu feliz por poder visitar aquele pedaço da sua adolescência.

Manuela estava ali, naquele lugar, mais uma vez fugindo do sufocamento que significava ficar no mesmo lugar que Julia. Como era possível o tipo de poder que a ruiva tinha sobre ela, Manu não sabia explicar. Sentada na varanda dos fundos da casa principal, perdida nos próprios pensamentos, Manuela não ouviu o carro de Amanda estacionar. Com a intenção de pegar a amiga totalmente de surpresa, a médica havia pego as chaves reservas do sítio, além do carro emprestado, com Alice. A mãe de Manu, embora quisesse desesperadamente ajudar a filha, não obteve sucesso em descobrir o que tinha acontecido entre ela e Julia para deixar a publicitária naquele estado. Amanda também preferiu não dizer nada, mas prometeu para Alice que iria tentar  resolver a situação.

Amanda desceu do carro e entrou direto na casa procurando por Manuela. Foi o cheiro de cigarro que denunciou onde a publicitária estava. Mandys encontrou a amiga sentada em uma cadeira da varanda dos fundos, com um aceno negativo de cabeça ela viu Manu levar o cigarro até os lábios e tragar. De costas para a porta, Manu só notou a presença de Amanda quando ela falou, mas a morena não se assustou. Ela já esperava aquela visita, era mesmo questão de tempo até a médica aparecer.

— Desde quando você voltou a fumar? — Amanda questionou puxando uma cadeira para se sentar ao lado de Manu.

— Talvez eu nunca tenha parado. — Manu respondeu, dando de ombros.

— Mesmo? — Amanda respondeu com rispidez.

— Você sempre assume coisas sobre mim, Mandys, nem sempre elas estão corretas. — Manu disse ainda sem olhar para o rosto da amiga.

— Nem sempre elas se convertem na pior das hipóteses também.

— Isso é um ponto de vista. O seu.

— Se eu soubesse que você estava tão divertida, eu teria vindo mais cedo. — Amanda desabafou, perdendo um pouco da paciência.

Manuela absorveu as palavras de Amanda enquanto apagava o cigarro no cinzeiro e só depois encarou o rosto da amiga.

— Ela tem um filho com ele, Amanda. O que você espera que eu faça? — Manu disse amargurada.

— Não. Ela teve. — Amanda respondeu entre dentes, sentindo a raiva pela amiga aumentar um pouco mais.

— O que foi que eu disse? — Manu falou impaciente.

— Como é possível que você, supostamente o amor da vida da Julia. A alma gêmea dela. Que teoricamente conhece ela melhor do que qualquer outra pessoa no mundo, não consegue perceber a situação que ela está vivendo? — Amanda falou se colocando de pé, finalmente perdendo o restinho de paciência que ainda tinha — Ela teve um filho com o Mateus e enfiou ele aonde? Onde está a criança? Hã? Onde foi que ela largou o bebê? O que é que você acha que ela fez? Abandonou o filho na Inglaterra e voltou pro Brasil pra correr atrás de você?

— Como é que eu vou saber o que aconteceu? Se você não percebeu ainda, com a Julia, eu nunca sei de nada e quando eu sei, sou sempre a última a saber. — Manuela também perdeu a paciência e se levantou acendendo outro cigarro.

Amanda respirou fundo, caminhou até onde a amiga estava e tomou o cigarro da mão dela antes de jogar no chão e pisar em cima. Depois disso ela voltou a falar, tentando manter a voz mais calma.

— Pensa só por um segundo no assunto, Manuela. Você acha mesmo que a sua Julia ia fazer uma coisa dessa natureza? Largar um filho pra trás pra o Mateus criar? Eu sei que você é melhor que isso. Você tem o maior coração do mundo, mesmo negando. Eu me recuso a acreditar que você seria tão injusta com a mulher que você ama. — Amanda concluiu com pesar.

Manuela encarou os olhos da amiga tentando entender o que ela queria dizer. Porque Amanda estaria ali, defendendo Julia daquela maneira? Qual poderia ser a razão para a amiga, tão claramente, tomar o partido de Julia naquele momento? A menos é claro que alguma coisa muito séria estivesse escapando de Manu, mas ela não queria pensar naquela possibilidade. Não existia nenhum cenário possível no qual Manuela ia suportar que Julia passasse por um sofrimento como aquele.

— O que você está dizendo? — Manuela questionou e, tão cristalina como água, Amanda viu a verdade atingir a amiga.

— O que você acha? — ela respondeu com carinho antes de receber nos braços a amiga, já com lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Como é que eu ia saber, Amanda?

— Você não tinha como, minha amiga, mas conhecendo você como eu conheço, eu imaginei que era importante que você soubesse agora.

Depois de mais algumas lágrimas, as duas voltaram a se sentar e Amanda reparou que além do maço de cigarro, tinha também um copo e uma garrafa de uísque ainda fechada ao lado da cadeira da amiga.

— Eu não sei o que dizer. — Manu falou depois de um tempo.

— Você não precisa de dizer nada, eu só queria que você soubesse. — Amanda queria mais que isso, ela também sabia que era importante descobrir como estava a cabeça de Manuela e o que ela estava planejando fazer dali em diante, especialmente ter certeza que ela não iria recorrer a medidas extremas para lidar com tudo aquilo. — Segunda garrafa do dia?

Primeiro Manu não entendeu a pergunta, depois ela viu para onde Amanda estava apontando e viu o temor nos olhos dela. Ela estava com medo de tudo aquilo ser o ínicio de problemas, mas ela não precisava.

— Meu pai insistiu em me trazer aqui quando eu cheguei ontem, ele não queria que eu dirigisse e eu entendi ele, eu estava uma bagunça, mas eu também disse pra ele que tem quase 3 meses que eu não bebo.

Amanda ficou surpresa, mas não achou que era uma boa interromper quando a amiga claramente ainda não tinha terminado de dizer tudo que precisava.

— Quando ela chegou aqui, quando eu soube, eu me senti tão fora de controle e foi o mais perto que eu realmente já cheguei de ter algum tipo de recaída e, sendo bem sincera com você, isso foi mais assustador do que a realidade de que ela estava de volta. Então eu ouvi você, minha mãe e eu decidi cortar a bebida também, só por precaução. Eu achei essa garrafa aqui ontem, mas surpreendentemente eu ainda não bebi.

— Eu sei que você está sofrendo, mas eu estou feliz por essa sua decisão e ainda mais que você esteja conseguindo manter ela de pé agora.

— Não é assim tão difícil como eu achei que seria e também não significa que eu esteja me sentindo totalmente fora de controle de novo. — Manu foi honesta.

— Então porque você escolheu ficar aqui sozinha pra lidar com isso?

— Porque eu estou cansada, Amanda. Eu estou realmente cansada disso tudo.

**

Manuela tinha conseguido uma passagem para voltar à São Paulo junto com Amanda ainda naquele dia. Sem precisar pensar muito no assunto ela decidiu ir procurar Julia, a morena sentia que devia a ela desculpas. Amanda não havia explicado muita coisa e até onde Manu havia entendido, só a própria Julia sabia todos os detalhes do que tinha acontecido.

Como o voo era só à noite, Amanda aproveitou para visitar a casa dos pais e deixar que Manu tivesse a oportunidade de conversar com os dela em particular. Depois de deixar a amiga na porta da casa dos pais da morena, elas se despediram com planos de se encontrarem ali mais tarde para irem juntas ao aeroporto. A médica sabia o quanto a amiga estava perturbada com as descobertas dos últimos dias, mas tinha esperança que tudo ainda pudesse se resolver quando Manu conversasse com Julia. A publicitária não tinha dito nada sobre o que pretendia dali em diante, apenas que queria conversar com Julia.

— Mamãe? — Manu falou entrando na sala, onde a mãe estava concentrada em alguma coisa no notebook.

— Filha. — Alice respondeu já se colocando de pé — A Amanda conseguiu conversar com você afinal.

— É, ela me explicou umas coisas. A gente vai voltar para São Paulo ainda hoje. — a publicitária explicou.

Manu respirou fundo antes de encarar o rosto da mãe. A publicitária tinha chegado na casa dos pais sem muitas explicações, tudo que ela disse foi que precisava de uns dias de descanso e que ia ficar no sítio da família. Manuela sabia que devia ter ao menos conversado com os pais, mas ela não soube como. Claro que Alice estava preocupada, ainda mais com a insistência de Manu de não deixar ninguém se aproximar, mas ela conhecia muito bem a filha e por isso resolveu dar uns dias para que ela esfriasse a cabeça.

Alice não podia evitar o frio na espinha que ela sentiu quando viu o mesmo tormento do passado nos olhos da filha. O medo de que tudo fosse se repetir era inevitável, ainda mais com a maneira melancólica que Manu disse que precisava de um tempo sozinha para pensar. O lado positivo era que ela estava em casa, ao alcance dos olhos e dos cuidados de Alice, ainda que a filha se recusasse a aceitar qualquer tipo de conforto.

A razão principal para Manuela ter ido para a casa dos pais era justamente para que eles soubessem que ela estava bem, não da maneira que ela gostaria, mas para garantir para os dois que os erros do passado não iam se repetir. A publicitária precisava ficar sozinha, precisava rearranjar seus sentimentos e organizar as ideias, mas ela também sabia que as pessoas que se preocupavam com ela mereciam a certeza de que ela não ia cair nos mesmos hábitos do passado.

Claro que Alice esperava que Amanda fosse ligar, para ter notícias e ver se Manu estava bem. O que Alice não esperava era que Amanda fosse ligar procurando por Manuela, porque a filha tinha saído de São Paulo sem dizer para onde estava indo. A chegada de Amanda em Minas também pegou Alice de surpresa, a médica e melhor amiga da filha não quis se meter no que parecia ser mais uma confusão causada pela volta de Julia para a vida de Manuela, mas garantiu para Alice que faria de tudo que pudesse para colocar alguma forma de juízo na cabeça da amiga. 

— E você vai me dizer o que foi que aconteceu ou eu estou proibida de me preocupar? — Alice falou com cautela.

Manuela resolveu se sentar no sofá oposto ao que mãe estava sentada quando ela chegou, indicando com a cabeça para mãe acompanhá-la, Manu respirou fundo mais uma vez antes de falar.

— Eu tive um desentendimento com a Julia. — Manu tentou colocar em palavras a complexidade da situação.

— Desentendimento? — Alice questionou.

— É uma maneira de colocar o que aconteceu. — Manu foi econômica.

— E agora você resolveu se entender com ela de novo? — Alice insistiu.

— Eu não sei com certeza ainda, mas eu sinto que eu devo pelo menos um pedido de desculpas pra ela. — a publicitária foi sincera.

Alice olhou para as próprias mãos por um momento para refletir as palavras da filha.

— O que foi que aconteceu? — Alice questionou por fim.

— Eu encontrei ela e o Mateus conversando no apartamento dela. Os dois estavam falando sobre — Manu precisou respirar fundo mais uma vez — um filho. Um filho deles. Ela quis que eu ficasse pra gente poder conversar, eu não quis ouvir e a Amanda veio até aqui pra tentar me explicar que eles tiveram um filho, mas — Manu não conseguiu terminar.

— Eles perderam. — Alice concluiu com um sussurro lendo nos olhos da filha o que ela não foi capaz de dizer em voz alta e Manuela apenas acenou com a cabeça em concordância.

As duas ficaram em silêncio por alguns minutos. Alice absorvendo aquela nova informação e Manu tentando controlar os próprios sentimentos.

— Eu sinto muito por ela, perder um filho deve ser devastador. — Alice falou com pesar e Manu amargou o sentimento de culpa que tomou conta dela com as palavras da mãe — Quando você diz que não quis conversar com ela, como foi isso?

— Eu fui uma estúpida. Eu fui tão errada com ela, mamãe. Honestamente eu não sei se ela vai querer falar comigo depois de todas as coisas inacreditáveis que eu disse pra ela. E ela tem toda razão de se sentir dessa maneira, mas eu preciso me desculpar. — Manu falou com lágrimas nos olhos.

— Como assim estúpida? — Alice falou com seriedade.

Manu não queria ter que repetir aquelas palavras para mãe, mas ela também sabia que nunca seria capaz de mentir diretamente para a mãe daquela maneira.

— Eu não parei para pensar. Eu fiquei tão brava quando eu vi os dois juntos e eu, eu não pensei.

— E? — Alice insistiu insatisfeita com o rumo daquela conversa.

— Eu não fazia ideia do que tinha acontecido, mãe. — Manu tentou se explicar — Se eu soubesse eu nunca — Manu não soube como concluir.

— Independente do que você possa ter achado, te conhecendo, eu esperava que você pelo menos fosse ouvir o que ela tinha pra dizer, filha. Diante de um assunto dessa natureza. — Alice de forma áspera.

— Ele estava lá, mamãe. No meio da cozinha dela. Eu simplesmente não pensei. — Manu tentou se explicar mais uma vez.

— Ele é o ex-marido dela, Manuela. Eu sei que você não parou pra pensar nessa particularidade da situação da Julia desde que ela voltou, mas seguir em frente não significa apagar o passado e fazer com que o Mateus inexista na vida de vocês. E agora nós duas sabemos que eles tiveram um filho e é justamente nesse tipo de situação que você precisa ter uma postura muito mais compreensiva. — Alice foi dura.

— Eu sei, eu não estava pensando.

— Pois se você pretende ter um relacionamento com a Julia novamente, um que vá durar, já passou da hora de você começar a pensar. Inclusive porque o Mateus faz parte do seu passado tanto quanto faz do dela. Ou você se esqueceu que antes mesmo de saber da existência da Julia, vocês dois eram amigos? — Alice constatou firme — Eu sei que essa é provavelmente uma das coisas que mais doeu em você, sabendo o quanto de consideração você costuma ter pelos seus amigos e não vai ser fácil, mas se você realmente decidiu escolher a Julia e ficar com ela, já passou da hora de você também fazer as pazes com o fim dessa sua amizade.

— Eu sei. — Manu admitiu com pesar.

— A julgar pela sua cara eu posso imaginar que não tenha sido uma conversa justa da sua parte com a Julia, mas mesmo assim você vai tentar pedir desculpa, certo? — Alice escolheu mudar um pouco o ângulo da conversa.

— Que outra escolha eu tenho. É minha obrigação pelo menos, eu sei lá, dizer eu sinto muito por certas que eu falei. Eu fui tão mesquinha e tão, tão insensível, mamãe. — Manu falou secando os olhos e respirando fundo.

— E você tem certeza que é uma boa ideia voltar pra São Paulo hoje? Depois de como você passou os últimos dias? — Alice questionou.

— Eu não vou procurar ela hoje direto, eu vou esperar até amanhã de manhã. Provavelmente eu vou estar melhor até lá. — Manuela explicou.

Alice acenou com a cabeça, ela não achava que uma única noite ia ser suficiente para aquelas duas conseguirem resolver com palavras tudo que elas compartilhavam, mas já era um começo.

— Eu não sei exatamente quais foram as palavras que você usou e, o universo sabe, a minha opinião com relação a você e a Julia ainda é muito cautelosa, mas eu sei muito bem o quão gentil você pode ser quando quer. Seja gentil com ela. Eu sei que essa não é a situação mais confortável pra você, mas independentemente de qualquer sentimento que você possa estar sentindo, agora é hora de ser a filha que eu e seu pai criamos você pra ser. Entendeu? — Alice falou olhando nos olhos da filha.

— Sim, senhora. — Manu respondeu sem conseguir sustentar o olhar da mãe. A resposta não tinha nada de petulante, muito pelo contrário. Alice tinha consciência do respeito absoluto que os filhos tinham por ela e pelo marido. Mesmo já adultos eles sabiam muito bem quando eram chamados à atenção por causa de algum mau comportamento.

— Só conversa com ela, tá bom? Seja sincera nas suas desculpas, é o melhor que você pode fazer. — Alice falou com carinho e Manu se apegou nas palavras de mãe para tentar se controlar até o reencontro com Julia.

**

Pedro chegou ao Rio de Janeiro ainda repetindo mentalmente que aquela era a melhor ideia. Julia precisava dele e ele podia muito bem encarar a família Campana inteira se fosse preciso, mesmo não tendo gostado da ideia da prima de ir se atirar dentro da cova dos leões. Claro que saber que Manuela estava disposta a conversar com Julia era um alento, ao menos quando os dois voltassem para São Paulo, a prima ia poder tentar se entender com a morena outra vez. Fora o fato de que a publicitária tinha voltado para São Paulo para se desculpar com Julia, coisa que Pedro entendia perfeitamente bem dada a situação.

Depois que o rapaz tinha tomado conhecimento do que tinha acontecido com a prima, Pedro tinha insistido mais de uma vez que ela fosse sincera com Manu. Se Julia tivesse dado ouvidos a ele, provavelmente aquela situação poderia ter sido evitada, mas o mais importante era que apesar da resistência inicial da morena, bastou ela tomar consciência da gravidade do que Julia havia vivido no passado para que ela mudasse de atitude. Mudança que não trazia nenhuma garantia de um final feliz, mas ao menos era um começo.

Sem querer protelar o inevitável, Pedro foi do aeroporto direto para casa dos tios. Era lá que Julia estava e era onde o restante do clã Campana também estaria. Na teoria era tudo muito simples, ele iria entrar na casa dos tios, convencer Julia de que tudo ia ficar bem com Manuela e sair de lá o mais rápido possível. Claro que seria imensamente menos complicado se Julia não tivesse parado de responder as mensagens do rapaz no dia anterior, mas a ruiva aparentemente tinha certeza que o otimismo de Pedro com relação ao comportamento de Manuela era inútil e ignorar o rapaz era a melhor ideia possível.

 

Analisando bem, Julia e Manuela não estavam assim tão distantes uma da outra no que dizia a respeito ao modo de encarar as suas dores. Fugir e reagrupar. Era o que Manuela tinha feito indo para Minas e era exatamente a mesma coisa que Julia estava escolhendo fazer ao ignorar todos os chamados do primo. O ponto era que Pedro não ia esperar até a volta de Julia para São Paulo, dessa vez o rapaz não ia ser pego de surpresa ao descobrir que a prima tinha resolvido se mudar para a Suíça ou para qualquer outra parte do mundo sem deixar rastros ou explicações. Dessa vez a ruiva ia ter que ficar e encarar tudo de frente. Pedro ia garantir que isso acontecesse, era o pensamento do rapaz parado em frente a mansão que ele jurou nunca mais colocar os pés.


Fim do capítulo

Notas finais:

Olá, como estamos?

 

Uma frase filosófica pra vocês hoje: antes do sol nascer, tem sempre a hora mais escura e é importante se lembrar que às vezes o sol nasce com céu nublado.

 

Vamos refletir...

 

Apesar do momento delicado das nossas queridas, quero agradecer as leituras todas e os comentários. Vocês sofrem, eu sofro também viu!? Talvez eu não sofra? Enfim, obrigada pela gentileza de sempre.

 

Super beijo pra vocês, amanhã tem mais! ♥


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Comentários para 44 - Transitório:
Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 25/07/2024

Sofrência da peste eu que sinto e tu gosta kkkkk.

Coragem Julia.

Se ferro Manu dessa vez tu pisou feio.

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edjane04
edjane04

Em: 24/07/2024

Me causou estranhamento a Julia ter ido parar na casa dos pais, o último lugar onde ela teria o mínimo de acolhimento possível.
Que elas consgam se entender e que esse escândalo que Mateus tanto tem medo seja esclarecido também
Falta muito pra amanhã? rs

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LeticiaFed
LeticiaFed

Em: 24/07/2024

Mas agarrei uma raiva eterna e infinita desse Mateus...

Dito isso, acredito que nossa querida autora sofra, sim. Pra historia ser bem realista tem que ter dificuldades e personagens que erram e acertam. Afinal, na vida nao é tudo cor de rosa, impossivel!  Entao a gente vai levando e acreditando que a hora mais sombria vai passar...Mas que to com um enjoamento do Mateus, ah, estou. Ok, pronto, parei hahaha

Vambora que agora estamos perto do ultimo postado na outra vez. Até amanhã!! 

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