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Preciso Dizer Que Te Amo por escrita_em_atos

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Palavras: 5719
Acessos: 2028   |  Postado em: 22/07/2024

Paralelos

 


A impaciência de Helena e Wladimir Campana parecia ser a mesma de Mateus. O empresário não precisava da confirmação de ninguém para saber que Julia já havia encontrado uma maneira de voltar para Manuela. Certas coisas simplesmente eram como tinham de ser, e com Julia e Manu era assim. Mateus sabia que era inevitável que as duas acabassem, eventualmente, ficando juntas. Quando ele parava para refletir sobre a história dos dois, ou melhor, a história compartilhada pelos três, ele sabia que havia pecado em diversos momentos.

Ter apresentado Manuela a Julia, ainda que indiretamente, já que a publicitária tinha acabado encontrando um jeito de sozinha se tornar amiga da ruiva, havia sido um dos primeiros enganos do rapaz. É claro que naquela época, Mateus estava muito mais preocupado em aproveitar a própria juventude e as facilidades que a sua condição financeira lhe proporcionavam, do que com qualquer outra coisa. E foi só quando as duas realmente começaram a namorar que ele percebeu que queria a ruiva para si.

No começo, provavelmente, ele sentiu uma mistura de sentimentos. Havia o ciúme pela mudança de estilo de vida da amiga, que era até então sua companheira inseparável e passou a dedicar praticamente todo o tempo livre à namorada. Depois, consciente da felicidade da amiga, ele passou a ter inveja do que ele nunca teve, um relacionamento de verdade. Mas, Mateus não demonstrou nada disso, pelo contrário, ele sempre pareceu apoiar o namoro das duas de forma incondicional. Era comum ouvir o rapaz dizer que era o principal responsável por aquela união, já que havia presenciado o momento em que Manu colocou os olhos em Julia pela primeira vez.

Para quem via de fora, a postura de Mateus sempre pareceu totalmente natural. Manuela não tinha o hábito de deixar que as pessoas se aproximassem com muita facilidade, mesmo tendo muitos conhecidos, poucos eram considerados por ela como amigos de verdade. Justamente por isso ela jamais desconfiou que Mateus pudesse ter mais que um ciúme natural de amigo “abandonado” depois do início do seu namoro com Julia, verdade seja dita, Manu não teve a mínima chance de se defender daquela traição pelo simples fato de nunca ter imaginado que ela poderia vir justamente dali. A situação era completamente conturbada e absolutamente injusta de todos os ângulos.

Porém, tudo isso era coisa do passado, sem a mínima importância agora. O fato era que Mateus foi quem se casou com Julia, foi ele quem alcançou a marca de ter a ruiva como esposa. Voluntariosa como era, naturalmente a arquiteta tinha conseguido o divórcio apelando para a única coisa que o pai havia conseguido impregnar no filho antes de sua morte, o medo de um escândalo. Mas, de uma forma ou de outra, ele estava decidido a ter a mulher de volta, mesmo que para isso ele precisasse ir pessoalmente tirar ela dos braços de Manu.

Foi com essas ideias rondando a cabeça que ele chegou na casa dos ex-sogros para o jantar. Era necessário um esforço conjunto entre eles para que as coisas saíssem como o planejado, algo que ele estava repetindo para si mesmo desde que havia entrado no avião ainda em Londres.

— Boa noite. — ele disse entrando na sala em que Helena e Wladimir o aguardavam. A mulher se levantou imediatamente e recebeu Mateus com um beijo no rosto, ao passo que Wladimir apenas apertou a sua mão rapidamente.

— Como foi a viagem? — Helena perguntou, como se aquela reunião entre os três fosse algo absolutamente comum e ordinário.

— Eu particularmente não gosto de voltar ao Brasil, ainda mais em um período tão curto de tempo. — ele respondeu seco, aceitando o copo de uísque que o ex-sogro havia preparado para ele.

— Naturalmente nós lamentamos o seu incômodo, eu mesmo também não poderia estar aqui agora, mas o que a gente não faz para colocar uma filha na linha não é mesmo? — Wladimir disse indo se sentar ao lado da esposa.

— Naturalmente. — Mateus respondeu apenas. Ele e o sogro nunca haviam se dado realmente bem, eles se entendiam porque eram bem parecidos. A mesma espécie de criação, as mesmas raízes e provavelmente por isso um certo desprezo um pelo outro. Mas, eles sempre estiveram conscientes das vantagens de se manterem unidos, tanto socialmente, quanto economicamente falando.

— O jantar já está servido. —  a governanta anunciou e os três se levantaram.

Durante o jantar, Mateus esclareceu que ficaria no Rio por alguns dias para tratar de negócios da empresa e que só então iria à São Paulo para conversar com Julia. Os ex-sogros preferiam trazer Julia para casa e participar da conversa junto com o empresário, mas Mateus sabia muito bem que Julia não viria voluntariamente a um encontro como aquele na casa dos pais dela. Além do mais, ele sentia que o casal tinha uma ideia mal estruturada de que Julia ainda era a mesma menina que eles haviam enfiado em um avião para viver exilada na Europa. Um engano que poderia colocar tudo a perder e que Mateus não estava disposto a cometer.

O caminho para ter Julia de volta era fazer com que ela e Manuela se separassem e a única forma de conseguir isso era se Manu tomasse a decisão do término. Julia jamais teria essa atitude independente do que acontecesse, somente a publicitária poderia colocar um fim no que existia entre as duas. E para isso, Mateus ia precisar ir conversar pessoalmente com a antiga amizade.

**

Manuela chegou ao escritório no dia seguinte apressada para resolver todos os compromissos da agenda. Entre a viagem do sócio e a considerável soma de tempo que ela estava reservando para lidar com os próprios problemas pessoais, as coisas no escritório andavam sendo resolvidas no limite dos prazos. E não bastasse todas as coisas que estavam acontecendo, Manu sabia que ia precisar viajar para Fortaleza muito em breve e não havia a menor possibilidade de Will fazer essa viagem em seu lugar, mesmo com a volta iminente dos amigos, a morena não ia querer separar os dois logo nos primeiros dias em casa após o casamento.

— Bom dia, Teresa. — Manu falou.

— Bom dia, Manu. — a secretária respondeu já pegando a agenda e seguindo a publicitária até o escritório.

— Vamos repassar os compromissos de hoje de uma vez e depois a gente resolve como vai ser a minha viagem da semana que vem. Pode ser? — Manu falou enquanto largava a bolsa e se sentava à mesa.

— Claro. — Teresa respondeu se sentando de frente para Manuela — O Will deve voltar depois de amanhã, então vai ser mais fácil organizar a sua agenda da semana que vem. Mas, eu já adianto que a sua viagem vai precisar ser antecipada. Hoje você vai precisar conversar com o pessoal de Fortaleza em uma videoconferência, tem a reunião com a equipe pra acompanhamento dos projetos e aquele seu projeto paralelo da capa do livro.

— Tudo isso antes do almoço? — a publicitária questionou.

— Exatamente. Pra depois do almoço você tem compromissos fora do escritório.

— Verdade, as reuniões fora. — Manu falou se lembrando — Você vai me acompanhar, né!?

— Sim. Aliás, nós já discutimos esse assunto, mas se você tivesse um estagiário eu não precisaria sair do escritório toda vez que você tem algum assunto para resolver fora. — Teresa argumentou.

— Falando assim até parece que você não gosta da minha companhia. — Manu brincou.

— Não é isso, você sabe que existe uma fila de pessoas querendo estagiar com você e eu não me lembro de você ter ficado tanto tempo sem um estagiário. Você sabe que eles facilitam o seu e o meu trabalho. — a secretária explicou.

— Eu sei, mas eu andei tão ocupada nesses últimos meses. Quando eu voltar de Fortaleza a gente conversa novamente sobre essa história de estagiário. Pode ser?

— Combinado. Vou te dar um tempo para os e-mails, a videoconferência é daqui 20 minutos e ainda sobre a capa do livro, você disse que queria marcar uma conversa com a sua ex-professora, então melhor pensar pra quando é isso. — Teresa concluiu se levantando enquanto olhava o relógio no pulso.

— Tudo bem, eu vou fazer isso. — Manu falou se virando para a tela do computador, mas antes que Teresa saísse da sala ela se lembrou de um detalhe — Teresa, você lembra daquela vez que eu te pedi para emoldurar um desenho?

— Sim. — a secretária respondeu se virando para a publicitária novamente.

— Eu vou precisar que você faça isso novamente, por favor. — Manu falou enquanto pegava um envelope da pasta de desenho — Esses dois aqui. Eu acho que pode ser um acima do outro, mas na mesma moldura. Entende? — ela disse, alcançando os dois desenhos para a secretária. Teresa recebeu os dois na mão e ficou curiosa, eram dois desenhos de uma casa, embora um fosse claramente obra de uma criança, o outro trazia a assinatura de Manuela no canto.

— Entendi. Qual dos dois por cima? — ela questionou.

— Esse. — Manu indicou o desenho de Samuel.

— Okay. Eu vou providenciar.

— Obrigada, Teresa. — Manu falou antes da secretária deixar a sala e ela voltar aos seus e-mails.

**

Ainda na garagem do prédio que morava, chegando em casa depois de um dia corrido no escritório, Julia pegou o celular para ligar para Manuela. As duas haviam conversado apenas por mensagem durante o dia e a publicitária precisava encontrar com a morena pessoalmente.

— Oi. — Manu falou com um sorriso.

— Oi. — a ruiva devolveu o cumprimento com o mesmo tom de satisfação.

— Tudo bem?

— Tudo. Eu liguei pra saber o que é preciso pra uma mulher conseguir te encontrar ainda essa noite. — Julia falou em tom de brincadeira.

— Depende.

— Depende de quê? — a ruiva havia resolvido passar pela portaria para pegar a correspondência.

— De várias coisas. Por exemplo: quem é a mulher que quer me encontrar, com que tipo de intenção e se ela sabe ser discreta. — Manu seguiu com a brincadeira.

— E por que motivo ela precisa ser discreta, posso saber? — Julia falou aguardando o elevador.

— Veja bem, é que tem essa mulher na minha vida e eu acabei de descobrir que ela é bem ciumenta. A última vez que ela achou que eu tinha alguma coisa com outra, eu acabei sendo severamente torturada. — a publicitária disse com um tom malicioso.

— Vai dizer que você não gostou da tortura? Vai negar que você não quer mais um pouquinho? — Julia desafiou.

— Na verdade eu ando é querendo uma oportunidade pra mostrar que eu também sei como torturar.

— Pois bem, essa é uma questão que nós teremos que resolver pessoalmente. O que me leva a minha pergunta inicial, o que é preciso pra uma mulher conseguir te encontrar ainda essa noite? — Julia terminou a frase quando a porta do elevador se abriu, já no seu andar.

— Se a mulher for você, não muito. — Manu respondeu encarando o rosto da ruiva com um sorriso que Julia retribuiu imediatamente. Parada na porta do apartamento de Julia com o telefone ainda no ouvido e aquele sorriso que deixava Julia sem chão, estava Manuela.

— Como foi que você veio parar aqui? — a ruiva perguntou se aproximando de Manu.

— Você não é a única que sabe usar o charme pra entrar e sair de prédios por aí. — a publicitária provocou, segurando Julia pela cintura.

— Hmmmm… sei. — Julia disse antes de beijar Manu, com saudade. — Melhor a gente entrar antes que algum vizinho apareça ou quem sabe o porteiro, te procurando. — a ruiva provocou já abrindo a porta. As duas entraram no apartamento rindo e Manuela colocou o celular junto com as chaves de Julia no aparador antes de se jogar no sofá.

— Como foi que as meninas ficaram ontem? — Julia perguntou se sentando ao lado de Manu.

— Tudo bem, considerando o furacão de mudanças que elas estão lidando em tão pouco tempo. — Manu explicou.

— Mas você acha que elas têm certeza? — Julia perguntou curiosa.

— Muita certeza. As duas são o casal perfeito pra ter um filho, um só não, vários na verdade. — Manu disse olhando para frente como se pudesse ver as amigas rodeadas de filhos bem diante dos seus olhos — Elas são esse casal, sabe? Que nasceu pra viver junto e formar família. — ela concluiu encarando o rosto de Julia.

— Sei. — Julia disse passando a mão pelos cabelos de Manu e a morena sorriu. Era tão surreal aquele tipo de sintonia que elas compartilhavam, como se nenhum tempo tivesse passado entre quando elas começaram a namorar na faculdade e agora.

Manuela tinha passado tanto tempo dos últimos meses pensando nas dificuldades das duas se acertarem, que a normalidade com que tudo estava entrando nos eixos era assustadora. Fazia tanto tempo que ela não se sentia leve e feliz daquele jeito, parecia que os seis anos que elas haviam passado separadas era um longo mergulho em que as coisas não podiam ser vistas ou sentidas da maneira correta. Só agora, com Julia de volta em sua vida, a morena podia finalmente chegar à superfície outra vez e voltar a ser quem ela realmente era. Sem a presença de Julia, Manu não sabia como ser.

— E você conseguiu colocar o papo em dia com a Tati ontem? — Manu perguntou de forma corriqueira, mas Julia soube imediatamente que a pergunta tinha tudo a ver com a conversa que a namorada tinha interrompido no hospital.

— De certa forma. — Julia respondeu evasiva, mas sabendo que era melhor ser honesta sobre as novidades que Tati tinha compartilhado com ela.

— Certa forma? — Manu inquiriu com uma sobrancelha arqueada.

— É. A gente marcou de almoçar essa semana pra conversar com mais calma, ontem foi tudo muito corrido. — Julia explicou e Manu apenas acenou em concordância. — Você gosta dela? — Julia perguntou curiosa.

— Eu não conheço ela tão bem quanto você conhece, mas ela sempre foi muito simpática comigo e o Pedro acabou me esclarecendo em algum momento que ela era a sua Tati, o que fez com que eu não fizesse nenhum esforço pra me tornar próxima dela. Mas ela é sua amiga, é claro que eu gosto dela. — Manu explicou.

— Eu não sei se serve de alguma coisa, mas ela advogou a seu favor durante muito tempo. — Julia disse.

— Mesmo?

— É. Ela foi, provavelmente, a única pessoa com quem eu mantive contato depois que eu fui embora, ela chegou a ir me visitar em Londres. Ela nunca concordou totalmente com as minhas escolhas. — Julia disse com um sorriso amarelo. — Talvez eu devesse ter dado mais ouvidos ao que ela falava.

— Talvez. — Manu concordou com carinho. — Vocês mantiveram contato desde o começo?

— Não exatamente. Eu conhecia a Tati desde a época que eu morava no Rio, antes da faculdade. Como a gente escolheu cursos diferentes, a nossa amizade ficou um pouco à distância, tanto que você nem chegou a conhecer ela pessoalmente. Mas depois que eu fui embora, depois de alguns meses, ela me procurou, entrou em contato e depois disso ela foi a minha ligação mais próxima com o Brasil. — Julia explicou.

— Ela te dava notícias nossas? — Manu perguntou curiosa.

— Do Pedro sim, ela me contava tudo que ela sabia e ele também acabava tendo uma ou outra notícia minha através dela. Agora sobre você, nada, eu nem mesmo sabia que vocês se conheciam até que eu voltei pra cá. A gente teve uma conversa nada amistosa quando eu fiquei sabendo que ela te conhecia e não teve coragem de me contar.

— Eu acho que todo mundo andava pisando em ovos ao nosso redor quando o assunto era a outra. A Tati mesmo sempre foi muito cuidadosa nas ocasiões em que nós tivemos a oportunidade de conversar. — Manu disse pensativa.

As duas ficaram em silêncio por alguns minutos, o simples fato delas estarem abraçadas no sofá parecia ser suficiente, palavras eram desnecessárias. Mas Julia sabia que precisava falar com Manuela sobre Mateus, mais que isso, elas precisavam terminar a conversa interrompida na noite anterior.

— A Tati tinha uma novidade desagradável pra mim contar ontem. — a ruiva começou com cautela.

— É mesmo?

— É — ela falou olhando nos olhos de Manu, esperando pela mudança que surgiria ali em poucos segundos — É sobre o Mateus.

Manuela encarou a TV desligada em sua frente imediatamente, quando Julia falou desagradável, ela não imaginou que fosse tanto. Com um suspiro ela se desvencilhou de Julia e levantou.

— Eu sei que você não gosta de falar sobre isso, mas eu prefiro te contar do que deixar você ser pega de surpresa. — Julia falou antes que a morena pudesse se afastar dois passos do sofá.

— O que foi dessa vez? — Manu questionou se virando para Julia.

— Ele está de novo no Brasil. — Julia foi direta.

— Ele procurou por você?

— Não. Ele tá no Rio, aparentemente trocando figurinhas com os meus pais. — Julia explicou — Eu vou ligar pra ele e procurar saber qual a finalidade dessa visita.

— Eu não gosto nada dessa ideia. Por que você precisa procurar ele? — Manu questionou entre dentes.

— Eu não gosto disso também, mas eu conheço os meus pais e conheço o Mateus. Eu prefiro saber logo o que eles estão aprontando juntos. A única razão pra eu estar falando sobre esse assunto com você é porque eu não quero te esconder nada, é melhor que você saiba por mim. — a ruiva falou pragmática.

— Eu queria que as coisas fossem assim tão simples. Você me contar e a gente ficar de boa com isso, seguir o dia como se nada tivesse acontecido. — Manu disse se jogando no outro sofá, de braços cruzados e com cara de poucos amigos.

Julia respirou fundo e foi se sentar ao lado de Manu.

— Elas nunca são simples. — ela falou obrigando Manu a descruzar os braços para poder segurar as mãos da morena — Eu preciso resolver essa parte da minha vida, amor. Mas você não precisa se preocupar com nada disso, eu lido com os meus pais, eles são problema meu.

— Eu continuo não concordando com isso, mas que escolha eu tenho? — Manu respondeu contrariada.

— Desculpa. — Julia falou culpada — É nessas horas que eu me sinto pior, eu fico imaginando se comigo aqui do seu lado, te garantindo o tempo todo que eu não vou a lugar algum e dizendo sempre o quanto eu te amo, já te deixa desse jeito, como não deve ter sido quando eu te abandonei... — ela concluiu com tristeza.

— Você não precisa ficar pensando nesse tipo de coisa, não vai mudar nada e nem fazer nenhum bem pra ninguém. — a publicitária disse.

— Eu não consigo evitar. O jeito que Amanda ficou, naquela nossa primeira conversa, quando ela falou sobre como você ficou quando eu fui embora, aquilo me deu uma certeza absoluta que eu não merecia você de volta.

— E mesmo assim aqui estamos nós. — Manu falou com simplicidade — Nós duas sabemos os erros cometidos no passado, mas nós duas também já concordamos que é hora de seguir em frente ou pelo menos eu achei que isso estava implicito.

Julia concordou sem muita convicção e por isso Manu resolveu seguir falando.

— Olha, é lógico que eu fiquei super mal, mas no começo, no fundo, eu achava que a gente ia acabar se acertando. Sei lá, eu pensei que talvez você precisasse de um tempo. — Manu falou pensativa e depois de uma pausa para tentar encontrar as melhores palavras ela continuou — Foi só quando eu soube do casamento que eu realmente saí dos trilhos, mas eu me recuperei, minha vida seguiu. Você não precisa ficar remoendo essas coisas.

— Como assim saiu dos trilhos? — Julia perguntou com cautela.

— A gente não precisa falar sobre assunto, amor. — Manuela tentou.

— Eu quero saber.

Manuela ainda ficou em silêncio por um tempo e só depois finalmente resolveu ceder ao pedido da ruiva.

— Os dois meses depois que eu recebi a notícia são praticamente um borrão na minha cabeça. Eu estava bebendo um dia em uma balada e alguém me ofereceu um comprimido, eu aceitei. Daí eu continuei com isso por pelo menos uns dois meses direto, foi quando a minha mãe veio de BH e junto com a Amanda me fizeram enxergar o que eu estava fazendo com a minha vida. É um milagre completo que eu não tenha perdido o último semestre da faculdade. — Manu explicou.

Julia não soube o que dizer, agora aquela primeira conversa com Amanda fazia muito mais sentido. O que ela podia dizer? Como ela ia ser capaz de se perdoar sabendo que era a responsável por tudo aquilo que Manu tinha passado? E ainda havia tudo que Alice tinha dito para ela, não surpreende o quanto ela estava preocupada com uma possível reaproximação entre as duas.

— Ju? — diante do silêncio da ruiva, Manu se preocupou com o que podia estar passando na cabeça dela — Olha pra mim, por favor. — ela pediu, mas Julia não sabia se era capaz de encarar Manu naquele momento, por isso se levantou.

— Quem eu achei que era pra voltar pra sua vida desse jeito? — Julia falou mais para si do que para Manu, enquanto andava de um lado para o outro na frente da morena. A publicitária respirou fundo antes de voltar a falar.

— Você pode, por favor, sentar aqui do meu lado. — Manu falou e esperou até Julia voltar para o sofá — Eu sabia que você ia ficar desse jeito, por isso que eu não queria falar sobre esse assunto.

— Eu simplesmente não sei o que dizer ou o que pensar. — a ruiva falou depois de um tempo, com tristeza na voz.

— Você não precisa se preocupar pensando que a culpa é sua, porque nesse caso não é. Eu fui estúpida de me colocar naquela situação, mas depois de uns bons puxões de orelha e um bocado de análise, as coisas se acertaram. — Manu explicou.

— Como é que eu não vou pensar que a culpa é minha. É claro que a culpa é minha, de quem mais poderia ser!? — Julia falou irritada, se levantando mais uma vez.

— Eu sei que você tem culpa de várias coisas, isso tá basicamente óbvio pra nós duas. — Manu falou com seriedade — Mas não essa, Julia. Eu escolhi usar drogas, eu fiz isso. Essa é uma culpa que eu não posso dividir com ninguém.

— Então você quer dizer que nada do que eu fiz contribuiu pra isso?

Manuela cruzou as pernas e se ajeitou confortavelmente antes de voltar a falar olhando dentro dos olhos verdes.

— Não importa o que você ou qualquer outra pessoa fez comigo, eu nunca deveria ter escolhido esse caminho. Existe sempre outra solução, sempre. Ainda me escapa como eu fui capaz de me colocar vulnerável dessa forma, eu nunca aceitei nada nem ninguém me controlar, mas me envolvi com drogas? Não faz o menor sentido. O ponto é que essa é uma questão que diz respeito somente a mim, eu ferrei com tudo, sozinha. Não tem como dividir essa responsabilidade. — Manu explicou.

— Eu não sei se eu estou tão certa disso.

— Bom, várias horas de terapia me mostraram isso. Então eu estou bastante certa disso.

— Você ainda… você ainda faz terapia?

— Eu fiz durante alguns anos e gostaria de dizer que foi uma escolha minha, mas na verdade foi uma ordem da dona Alice. Praticamente uma condição pra eu continuar em São Paulo. — Manu contou — Logicamente eu percebi que era a melhor ideia e ela e a Mandys puderam ter algum sossego depois de um tempo.

— Por que você não me contou isso antes?

— Não sei, eu não gosto de ficar falando sobre esse assunto. Você sabe o quanto eu sou reservada e eu não tenho orgulho de como eu agi naquele período. — Manu explicou.

— Não. Você não queria me contar porque sabe que a culpa é minha. Você queria me proteger. — Julia falou infeliz.

— Ju, olha — Manu falou se colocando de frente para a arquiteta — essa é uma parte da minha vida da qual eu realmente não me orgulho, vários fatores contribuíram pra eu chegar até lá, mas todos eles são de responsabilidade minha. Eu não te contei antes porque não aconteceu, mas eu tô te dizendo agora, não pra você ficar assim infeliz, e sim porque isso é o que eu sempre fiz. Eu te conto as coisas, todas elas, essa é mais uma que você sabe sobre mim. Eu não me orgulho disso e você não é culpada disso. Simples assim.

Julia acenou com a cabeça antes de abraçar Manu. A ruiva não estava muito certa se concordava completamente com tudo aquilo, mas só o fato de estar nos braços de Manuela já tornava as coisas menos piores. Por hora, Julia ia precisar de um tempo para assimilar tudo aquilo. E mais uma vez elas se perdiam entre os emaranhados daquela separação sem conseguir colocar todas as coisas em pratos limpos, ainda que algumas levassem tempo e precisassem surgir de uma forma mais natural, como aquela daquela noite, outras pareciam importantes demais para serem adiadas, mas naquele momento parecia não haver nada que pudesse ser feito.

**

São Paulo, terra da garoa, como era bom estar de volta. Nada contra a lua de mel, que havia sido nada menos que um espetáculo, mas os rapazes não podiam negar que estar em casa era muito bom. Involuntariamente, tanto Pedro quanto Willian, estavam em um estado de pura ansiedade pela rotina de agora casados. Mesmo tendo um relacionamento sólido, com total confiança do sentimento que os unia, era só agora, após o casamento, que eles iriam morar juntos de verdade. Não ia mais ter o apartamento de um ou o do outro, seria o lar dos dois. E a sensação de não apenas poderem sempre voltar um para outro, não importa o quão longo fosse o dia, mas necessariamente só terem um único lugar para estar, era algo que trazia uma nova dinâmica, ainda bastante irreal para os dois.

O casamento agora era real, não era mais sobre planejamentos sem fim ou expectativas exacerbadas sobre a cerimônia. A vida real os esperava. E foi com o bronzeado em dia e malas cheia de presentes que os dois chegaram na capital paulista. Prontos para retornar às rotinas e rever as várias mulheres de suas vidas.

— Nossa, amor, foi tudo lindo na nossa lua-de-mel, mas eu não posso negar que estava doido pra chegar na nossa casinha. — Will falou enquanto abraçava o esposo pelas costas. Pedro concordou com um aceno de cabeça lavando as mãos na pia da cozinha.

— A mamãe ligou agora a pouco. — Pedro falou, se virando de frente para o marido — Ela disse que hoje a noite nós estamos livres pra aproveitar a volta pra casa, mas amanhã nós estamos intimados a jantar na casa dela junto com as meninas.

— Todas quatro? — Will perguntou curioso.

— Sim, senhor. Parece que agora, finalmente, você vai ver a Manu e a Ju de casalzinho do jeito que você estava morrendo de curiosidade pra ver. — Pedro brincou.

— Viado, você tem que concordar comigo que no dia da nossa união matrimonial não contou. É agora que a gente vai realmente conhecer a verdadeira Manuela do lado da Julia. — Willian falou animado.

— Pra te falar a verdade, — Pedro disse dando um beijo no rosto do moreno e saindo do abraço para abrir a geladeira — eu também nem sei bem como é isso. Eu até conheci a Manu naquela época, mas a gente não conviveu tanto assim e depois que a Julia foi embora a Amanda cansou de repetir que a Manu nunca mais foi a mesma. — Pedro comentou enquanto servia suco para os dois.

— Será que era mesmo tão diferente quanto a Amanda diz? — Will disse pensativo — Porque do jeito que ela fala que a Manu ficou quando a Ju foi embora, dá a entender que ela ficou no fundo do poço, mas quando a gente se conheceu, a Manu não parecia com alguém nessa situação.

— É, amor, mas você tá esquecendo de alguns detalhes aí. Quando você conheceu a Manu, já tinha mais de um ano que a Ju tinha ido embora e tem também o tanto que a Manuela é resiliente. É bem capaz dela ter decidido sair do fundo do poço em um dia e no outro já estava vivendo como se nada tivesse acontecido. — Pedro argumentou.

— É verdade, tem isso mesmo. — Will concordou — De uma forma ou de outra, vai ser no mínimo divertido ver como ela vai agir de agora em diante.

— É. Eu só espero que essas duas tenham se acertado de vez, nenhuma das duas consegue ou merece sofrer mais do que já sofreram. E elas são perfeitas uma pra outra. — Pedro comentou pensativo.

— E ainda por cima formam um casalzão da porr*, meu amor. — Will disse rindo, arrancando uma gargalhada de Pedro. O que Willian ainda não sabia era que o marido estava preocupado com o que poderia acontecer entre aquelas duas quando Julia finalmente tomasse coragem de dizer o que precisava. Pedro continuava acreditando que Manuela seria mais do que capaz de entender a situação, mas para isso Julia precisava ser sincera. Continuar deixando Manuela no escuro sobre tudo aquilo, era um erro que a prima não podia se dar ao luxo de cometer.

**

— Titia, sabe que eu fiquei bem curiosa com o seu sumiço no outro dia!? — Julia falou com Silvia enquanto a advogada servia o próprio prato. As duas estavam de costas para os outros sentados à mesa e não podiam ser ouvidas — Se eu não te conhecesse até diria que você está escondendo alguma coisa? — Julia falou com um sorriso displicente roubando um pedaço de brócolis direto da travessa.

— Escondendo alguma coisa? Eu? — Silvia respondeu sem olhar para a sobrinha.

Com a chegada dos meninos no dia anterior, finalmente eles conseguiram se reunir novamente depois do casamento, agora com a presença do mais novo membro daquele grupo e certamente o mais requisitado daquela noite, Samuel. Todo mundo estava encantado com aquele menino de olhar desconfiado e poucas palavras, e o rapazinho parecia totalmente fascinado com a nova vida que ele estava levando nos últimos dias, ainda ia levar um tempo até tudo se acertar definitivamente, mas no momento todo mundo estava radiante de felicidade.

— Justamente. Eu não quero me meter na sua vida, mas hoje quando o Pedro ligou para as meninas e ficou sabendo a história toda do Samuca surgindo na vida delas, ele ficou bastante curioso pelo fato do seu escritório não estar envolvido na questão. Tão curioso que até me ligou pra perguntar por que eu levei a Tati até elas como advogada. — Julia explicou.

— Isso é simples, todo mundo sabe que direito de família não é a minha área. Eu sou advogada criminalista e a Tatiane é uma excelente advogada, as meninas estão muito bem assistidas com ela.

— Desculpa, tia, mas eu duvido muito que o Pedro vá cair nessa. — Julia falou com um sorriso condescendente — Mesmo porque ele sabe muito bem que no dia que a Isa encontrou o Samuca, todas nós tentamos falar com você e não conseguimos. — a ruiva concluiu com um sussurro quando elas já se aproximavam dos outros.

Silvia refletiu sobre as palavras da sobrinha e concluiu que ela estava absolutamente certa. Conhecendo o filho como ela conhecia, era apenas uma questão de tempo até ele começar a desconfiar de alguma coisa. Por isso, quanto antes ela resolvesse aquela situação, melhor.

— E aí, falou com ela? — Manu questionou assim que Julia sentou ao seu lado no sofá.

— Falei. Você tem certeza que ela tá namorando? — Julia questionou.

— Tenho, amor. Pode até ser que não seja namoro, namoro. Mas eu já te expliquei que isso já aconteceu antes, ela começou com esses desaparecimentos e quando a gente descobriu ela estava namorando. O Pedro ficou puto por ela ter escondido o tal cara. — Manu explicou.

— Mas por que ela não conta de uma vez? Não é como se alguém tivesse alguma coisa a ver com isso, nem mesmo o Pedro. — Julia argumentou.

— Eu entendo a Silvia, ela gosta da privacidade dela. De repente ela ainda nem sabe pra onde o relacionamento vai ir ou vai ver ainda nem é um relacionamento. — Manu falou.

— Eu espero que vocês não estejam falando sobre mim. — Silvia pegou as duas de surpresa sentando ao lado delas no sofá.

— Talvez. — foi Manu quem respondeu.

Silvia encarou o rosto da publicitária durante alguns segundos.

— O Pedro já sabe? — ela questionou por fim.

— Eu acho que ele ainda não ligou os pontos. — Manu disse rindo da cara de surpresa de Julia pela forma como a tia havia resolvido abordar o tema.

— Então é melhor eu dar uma ajudinha pra ele. — ela falou calmamente antes de se virar para o centro da sala. Amanda, Isa, Pedro e Will estavam tão entretidos com Samuca, que não prestavam atenção na conversa entre as outras três e foi justamente por aquele motivo que Ju e Manu haviam escolhido aquele momento para falar com a advogada.

— Meninos. — Silvia chamou a atenção de todos — Eu queria aproveitar que finalmente nós estamos todos reunidos de novo pra fazer um anúncio.

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Olá, gente bonita! Aproveitando aqui o horário de almoço pra postar o capítulo de hoje, que como sempre eu espero que agrade vocês pelo menos um pouquinho.

 

Se eu fosse definir esse capítulo assim com uma frase, acho que ia ser: a calma antes da tempestade.

 

E com essa frase muito promissora eu me despeço por hoje, mas amanhã tem mais. Grande beijo, obrigada por tudo e bebam bastante água sempre. ♥


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Comentários para 42 - Paralelos:
Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 23/07/2024

Que conversa é essa que Julia não desenrolar, estou morrendo de curiosidade.

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Mmila
Mmila

Em: 23/07/2024

E a Júlia continua com esse puxo encolhe. Affff

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Brescia
Brescia

Em: 22/07/2024

.   Boa noite autora.

Gostaria muito de dar uma surra virtual na Julia, que mulher bocó, não aprende.

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