Let It Go
Manuela observava o tempo pela janela do escritório, provavelmente seria uma noite de chuva forte. A semana havia passado rápido, parecia ter sido ontem que ela tinha estado com Julia na casa de Pedro, mas na verdade faziam quatro dias desde aquele último encontro.
Como tudo que dizia respeito à ex-namorada, para Manu aquela conversa tinha sido absolutamente perturbadora. Ouvir da boca de Julia que ela ainda a amava havia causado um estrago bem grande nos já fragilizados sentimentos da publicitária e ela não conseguia pensar em outra coisa desde então. Julia não só havia confessado seu amor, como também jogado na cara de Manuela que sabia que ela também sentia alguma coisa.
— Manu, eu já vou indo. Você precisa de mais alguma coisa? — Teresa entrou no escritório interrompendo os pensamentos da publicitária.
— Não, Teresa. Pode ir, obrigada. — Ela respondeu se virando para a porta e sorrindo para a secretária.
— Ok. Bom fim de semana, nós vemos segunda-feira. — a mulher se despediu educadamente.
Manuela voltou a encarar a janela e decidiu que também iria para casa. Quando já estava deixando a sala sentiu o celular vibrar em sua mão, no visor ela viu que era Pedro quem ligava.
— Pedro, meu querido. Como vai? — ela atendeu indo em direção ao elevador.
— Tudo bem e você?
— Tudo ótimo.
— Estou ligando pra te intimar pra jantar amanhã lá na mamãe. Ela disse que não aceita não como resposta, quer todo mundo lá para comemorar a boa notícia.
— E a boa notícia é que você e Will finalmente vão morar juntos ou é porque ela conseguiu convencer você a fazer uma cerimônia de casamento? — Manu perguntou divertida.
— As duas coisas. — Pedro respondeu contrariado.
Manuela gargalhou antes de responder.
— Sendo assim pode confirmar a minha presença. Por nada nesse mundo eu perderia o jantar de noivado de vocês. Ainda mais sendo madrinha desse matrimônio. — Manu falou entre risos.
— Noivado!? Cala a boca. Eu sabia que você ia adorar a notícia. — Pedro respondeu aborrecido.
— Eu aposto que aquela gazela do seu futuro marido também está adorando. Bem que ele me disse pra eu já ir arrumando um vestido, que era questão de tempo até você ceder e aceitar a cerimônia. — Manuela já havia chegado no carro enquanto falava com o amigo.
— Ele e a mamãe são dois mafiosos que se uniram contra mim. Não tinha como eu não ceder.
— Imaginei. — a publicitária voltou a gargalhar do amigo — Quem diria que Pedro Magalhães, uma das bichas mais pegadoras de São Paulo, iria subir ao altar por livre e espontânea vontade. — ela continuou debochando.
— Livre e espontânea pressão, mas não vamos nem comentar. Se eu soubesse que isso ia acontecer, não tinha proposto pro Will da gente morar junto. Agora o estrago já está feito.
— Quem sabe até lá você não pensa em um plano de fuga.
— Até que não seria má ideia. — os dois riram antes de Pedro voltar a falar — Bom, então você vai amanhã mesmo?
Manuela sabia muito bem porque Pedro estava querendo aquela confirmação. Ele iria oficializar que iria se casar com o namorado, isso significava que as pessoas mais próximas a eles seriam convidadas, o que provavelmente implicava que Julia estaria entre os presentes durante o jantar.
— Vou, não precisa se preocupar.
— Ótimo. Nos vemos amanhã, no primeiro evento oficial do meu martírio. — ele respondeu sorrindo.
— Até amanhã. — a publicitária se despediu do amigo e deu partida no carro.
**
Julia estava concentrada no projeto de um apartamento que ela estava reformando quando o telefone tocou, ela viu que era a secretária e atendeu.
— Sim.
— O seu primo está aqui. — a mulher falou.
— Pode falar pra ele entrar. E Márcia, com essa chuva toda é melhor você ir pra casa, eu já estou encerrando aqui. — Julia respondeu.
— Tudo bem, eu vou mandar ele entrar e a gente se vê na segunda. Obrigada, dona Julia.
Julia retirou os óculos de grau e olhou para a porta esperando a entrada do primo. Era incrível como o trabalho estava ajudando a arquiteta nos últimos dias. Desde o encontro com Manu, na casa do primo, Julia andava mais calma com relação à ex-namorada. Ainda existia uma infinidade de coisas para as duas acertarem, mas Julia sabia que Manuela ainda sentia alguma coisa também, o que significava uma possibilidade. E isso era mais do que ela tinha há muito tempo.
— Oi. — Pedro falou entrando na sala.
— Olá. — Julia respondeu com um sorriso.
— As coisas estão indo ótimas por aqui né!? — o rapaz falou se aproximando da mesa da prima.
— Sim, realmente trabalho é o que não falta. — Julia respondeu com um sorriso — Senta, por favor. A que devo a honra da sua ilustre presença? — ela falou indicando uma das cadeiras para o primo.
Pedro se sentou e respirou fundo antes de começar a falar. O rapaz havia ligado para Manu antes de ir se encontrar com a prima, ele queria as duas no jantar que teria na casa da mãe no dia seguinte, mas sabia que aquele encontro devia ser tratado com ainda mais cautela depois da conversa das duas na segunda-feira.
— Eu vou me casar. — ele falou com um sorriso de canto.
— Uau. Isso é o que eu chamo de surpresa. Como assim? — Julia perguntou com um sorriso no rosto.
— Resumindo, eu resolvi chamar o Will pra nós oficialmente morarmos juntos, ele aceitou e quando a mamãe soube ela resolveu que nós dois devíamos nos casar de papel passado. Logicamente o Willian amou a ideia e eu não tive muita escolha a não ser aceitar.
— Que boa notícia. Aposto que a tia Silvia já está planejando uma festa daquelas.
— Pois é, esse é o problema. Mas não tem pra onde fugir agora. — Pedro respondeu.
— Então você não quer se casar? — Julia perguntou sem entender.
— Não, não é isso. Eu quero. — Pedro respondeu com convicção — Acontece que eu não preciso fazer uma festa gigantesca pra ter certeza que eu quero viver com Will o resto da vida. Se dependesse de mim a gente faria um jantar e já estava ótimo, mas ele e mamãe são impossíveis. — explicou.
— Poxa, Pedro, pensa na titia. Vai ser no mínimo divertido. — Julia concluiu com um sorriso.
— Sim, eu sei e tá tudo certo, mas não foi só pra dar essa notícia que eu vim até aqui.
— Ok. O que mais então? — Julia perguntou.
— Bem, a mamãe vai dar um jantar amanhã pra comemorar a novidade e pediu pra eu te convidar. — Pedro falou com cautela.
— Claro. Podem contar com a minha presença. — Julia respondeu com um sorriso.
Pedro se recostou na cadeira e cruzou as mãos antes de continuar. Se com Manu a conversa era sempre cautelosa e muito mais definida pelas palavras não ditas do que por aquilo que efetivamente era falado, com Julia o assunto tinha que ser sempre mais direto. Pedro não iria abrir mão da presença das duas em tudo que dissesse respeito ao seu casamento, mas sabia que teria que ser um malabarista dos bons para conseguir passar por aquela situação.
— Eu vou direto ao ponto, porque acho que a gente já passou da fase da cautela. — o rapaz começou.
— Certo. — Julia respondeu com curiosidade para o que viria a seguir, embora ela já tivesse certeza que o tema principal seria Manuela.
— Você sabe que a Manu e o Will são amigos, sócios e que ela é parte importante do meu relacionamento com ele. — Pedro fez uma pausa esperando pela confirmação de Julia que simplesmente acenou com a cabeça — Acontece que você também é parte importante disso tudo, porque eu acabei de te recuperar e, obviamente, eu vou querer você presente também. — o rapaz concluiu.
— Eu sei aonde você quer chegar, mas não é comigo que você tem que ter essa conversa. Eu não tenho problema nenhum em estar no mesmo lugar que ela, é ela que não quer falar comigo de maneira nenhuma.
— É exatamente porque você pensa assim que é com você que eu preciso conversar. — Pedro foi direto.
— Desculpa, mas eu não concordo com você.
— Isso é porque você não está no seu juízo perfeito. — Pedro respondeu incrédulo.
Julia simplesmente balançou a cabeça em negação. Ela sabia que os dois estavam superando muito bem todas as coisas do passado, mas sempre que o assunto era Manuela eles discordavam.
— Julia, você sabe muito bem que eu estou certo. Eu não estou dizendo que não acredito no que você me contou sobre a conversa de vocês lá em casa. Cá entre nós é meio óbvio que a Manu ainda sente alguma coisa por você, essa é a única explicação pra como ela reagiu com a sua volta, mas daí a você pensar que basta uma conversa e vocês duas vão ficar juntas de novo é insanidade. E não adianta me olhar com essa cara, eu vou continuar repetindo isso até enfiar nessa sua cabeça dura. — Pedro falou olhando no rosto da prima.
— A gente não devia falar nesse assunto, não faz bem pra nós e afeta a sua posição de imparcialidade entre nós duas. — Julia respondeu com sarcasmo.
— Não vem com esse papo furado pra cima de mim, Julia. — Pedro respondeu.
— É a verdade. Desde que eu cheguei você fica falando sobre não querer se meter nessa história, mas a única coisa que eu vejo você fazer é proteger ela e acatar todas as decisões que ela toma. — Julia desabafou.
— São as decisões que ela tomou pra vida dela baseadas naquilo que ela viveu no passado, você queria que eu fizesse o quê? Te defendesse? Eu não estou protegendo só ela e você sabe muito bem. Não é possível que você não enxergue que insistir em vocês duas vai machucar os dois lados. — Pedro foi duro.
— Você não entende. Ninguém entende. — Julia falou enquanto se levantava e caminhava pela sala.
— Então me explica, Ju. Me conta como as coisas são e aí quem sabe eu não posso te ajudar. — Pedro respondeu.
Julia olhou para o primo com o mesmo olhar de angústia que o rapaz havia reparado que sempre surgia quando a conversa voltava ao passado dela. Pedro e a prima ainda não tinham tido uma conversa onde os motivos da arquiteta ter ido embora ficassem claros. A verdade era que Pedro sabia tanto agora, quanto na época em que tudo aconteceu. O rapaz não queria pressionar a prima, ele havia dito que ia esperar ela estar pronta para contar seja lá o que tinha levado ela a tomar as decisões que tomou, mas se Julia queria cobrar dele algum tipo de apoio sobre Manuela, ia ser preciso no mínimo que ele entendesse aquela história toda.
— Tá certo, eu vou te explicar. — Julia falou muito séria olhando para o primo.
**
No dia seguinte estavam reunidos na casa de Silvia, além da anfitriã, os noivos, Amanda, Isabela e uma Manuela que aguardava ansiosamente pela única convidada que ainda não havia chegado. A publicitária sabia que Julia viria, era óbvio que ela havia sido convidada, mas ela não estava lá quando Manu chegou e a expectativa de que ela chegaria a qualquer instante não estava fazendo bem para a publicitária.
— Tudo bem com você? — Amanda perguntou se aproximando.
— Tudo. — Manu respondeu distraída.
— Tem certeza?
Manuela acenou com a cabeça e tomou um gole da bebida que tinha acabado de servir em seu copo para tentar se concentrar na conversa ao seu redor.
— O Pedro me disse que vocês conversaram. — Amanda resolveu sondar a amiga.
— Ele me ligou ontem. — Manu foi evasiva.
— E eu imagino que tenha sido uma decisão difícil estar aqui hoje. — Amanda tentou mais uma vez.
— Pra ser sincera eu não tinha nenhuma outra opção, os meninos não mereciam que eu não participasse de um momento importante como esse. Mesmo tudo tendo acontecido tão de repente.
— Verdade. Isso não significa que tenha sido fácil pra você estar aqui. — Amanda falou.
Manuela simplesmente acenou com a cabeça concordando. Tinha tanto tempo que ela andava fugindo de conversar com Amanda que por um instante ela chegou a se sentir culpada. A amiga não merecia ser excluída da sua vida dessa maneira, talvez Manuela devesse tentar falar com ela de alguma maneira.
— Você tem plantão amanhã? — a publicitária mudou de assunto.
— Tenho.
— Então talvez a gente pudesse almoçar junto na segunda. O que você acha? — Manu sugeriu.
— Acho ótimo. — Amanda respondeu um pouco surpresa.
Manuela simplesmente sorriu em resposta. As duas não eram melhores amigas à toa, existia uma relação de mais de uma década entre elas que significava muita cumplicidade e compreensão. Amanda sempre havia acreditado que mais cedo ou mais tarde Manu ia querer conversar, parecia que finalmente ela pretendia contar o que andava passando pela sua cabeça. Mandys estava prestes a voltar a falar quando a última convidada entrou na sala, a médica respirou fundo e se preparou para o que poderia vir a seguir. Manuela tomou o resto da bebida que estava em seu copo e decidiu que mais uma dose viria a calhar naquele momento.
Julia foi recebida pela tia com um abraço. Assim que colocou os pés na sala ela viu Manuela e um arrepio correu da base da sua espinha até a nuca quando os olhos das duas se encontraram. Manu fugiu do olhar e Julia voltou a sua atenção para cumprimentar o restante dos presentes. Isabela, que estava conversando com Pedro e Will, sentada em um dos sofás da sala, se aproximou de onde Amanda e Manuela estavam assim que viu Julia chegar. Apesar de ter conversado com a amiga e esclarecido em que circunstâncias tinha se encontrado com Julia, Isa sabia que Manu ia precisar de apoio naquele momento.
— Quanto tempo você vai ter que usar as muletas mesmo? — Manu perguntou ao ver Isa se aproximar, tentando administrar aquela situação com uma naturalidade que não estava convencendo nem ela mesma.
— Acho que uns dois meses. Né amor? — Isabela respondeu.
— Provavelmente. — Amanda respondeu.
— E ainda tem que eu não posso beber por causa dos remédios. — Isa continuou tentando dissipar o clima estranho que havia se instaurado naquele momento.
— O que é uma sorte, porque sem muletas e bêbada você já não presta. Imagina você tendo que andar com isso e com o álcool de combustível. — Amanda falou de forma divertida.
— É, pensando por esse ângulo é melhor mesmo. — Isa concluiu.
Manuela apenas acenava com a cabeça para tudo que as amigas falavam. Apesar de estar ao lado das duas, ela já não prestava mais atenção a nenhuma palavra que elas diziam. Ela viu, pela visão periférica, Julia cumprimentar Silvia, Pedro e Willian e então os quatro agora estavam conversando e rindo sobre qualquer coisa. A publicitária imaginou que Julia viria até elas de uma forma ou de outra, não tinha como ela fingir que as três não estavam lá e como Manu não estava disposta a esperar pela iminente aproximação de Julia, resolveu que era melhor escapar daquele contato direto.
Ela imaginou ter encontrado um refúgio seguro na biblioteca da casa de Silvia. A publicitária teve que admitir para si mesma que estava se escondendo da presença da outra mulher. Não era a melhor situação em que já esteve, mas o medo de como iria reagir ao cumprimento de Julia fez com que ela escapasse para alguns instantes de tranquilidade onde ninguém podia vê-la.
Com uma dose de uísque em uma das mãos, enquanto olhava uma das estantes de livros, de costas para a porta. Foi assim que Julia encontrou Manuela ao entrar na biblioteca a sua procura. Depois da conversa no dia anterior, Julia tinha prometido a Pedro que não iria causar nenhuma situação desconfortável durante o jantar. Julia resistiu ao primeiro impulso de se aproximar dela imediatamente, mesmo assim todos os seus sentidos estavam acompanhando os movimentos de Manuela, por isso ela viu quando ela deixou a sala e resolveu ir atrás com a desculpa de que iria ao banheiro.
Manuela estava tão distraída, tentando acalmar os seus sentimentos para poder voltar para sala, que ao se virar e dar de cara com Julia, ainda na porta, soltou o copo que estava em sua mão e ele se quebrou imediatamente ao chegar ao chão. Manu se abaixou no mesmo instante para tentar limpar a bagunça que havia feito.
— Desculpa. Eu não quis assustar você. — foi a primeira coisa que Julia falou.
Manuela começou a juntar os cacos espalhados no chão e não ousou responder Julia, muito menos voltar a olhar para ela.
— Deixa eu te ajudar. — Julia falou muito próxima de Manu, já se abaixando para ajudar a publicitária a catar os cacos do copo.
— Droga. — Manuela falou ao se cortar com um pedaço de vidro, com o susto que levou por causa da aproximação repentina de Julia.
As duas que estavam no mesmo nível, muito próximas uma da outra, se olharam nos olhos. Dessa vez o arrepio não foi sentido somente por Julia, Manu ficou tão desconcertada com o efeito daquela troca de olhares que se levantou de uma vez e se afastou alguns passos de onde Julia ainda estava agachada.
— Você tá bem? — Julia perguntou preocupada, já de pé.
Manuela mais uma vez não respondeu e resolveu se concentrar no corte no dedo indicador, o ferimento era superficial, mas pareceu a desculpa perfeita para Manuela sair daquela sala. O único problema é que Julia estava entre ela e a porta, e ainda por cima usava aquele vestido perturbador e tinha um olhar que Manu sabia que a faria fraquejar.
— Você não vai falar nada? — Julia perguntou dando um passo em direção a Manuela.
— Não foi nada. — Manu respondeu dando um passo para trás e se encostando na escrivaninha. Naquele momento a publicitária se sentiu totalmente encurralada, Julia percebeu e aquilo a deixou com uma vontade incontrolável de descobrir até onde aquela situação podia ir.
— Deixa eu dar uma olhadinha. — Julia arriscou mais um passo.
— Não! — Manuela falou mais rápido do que devia e isso deixou Julia com mais vontade ainda de se aproximar.
As duas se encararam por alguns instantes e Julia percebeu ali, naquele momento, que existia uma força entre elas que desafiava qualquer lógica da realidade. Mesmo com toda a história que existia entre elas, toda mágoa, toda dúvida e todo medo, era só os olhos se encontrarem que tudo parecia ir parar no lugar certo. Manuela também conseguia sentir e era justamente isso que mais a aterrorizava.
— Eu sei que você também consegue sentir. — Julia falou com calma.
— Isso não é suficiente. — Manu respondeu com amargura.
— Como você pode ter certeza? — Julia insistiu.
— Nós sentíamos a mesma coisa no passado e olha onde nós estamos agora.
— Nós éramos pessoas diferentes no passado.
— Esse é o ponto. Eu mudei e não estou disposta a sofrer mais uma vez. — Manuela foi sincera.
— E não passou pela sua cabeça, nem por um segundo, que talvez eu possa te ajudar nisso? — Ju também foi sincera.
Manuela baixou os olhos por um instante e sentiu, pela primeira vez desde a volta de Julia, que talvez precisasse entender toda aquela história. Talvez ela só fosse conseguir lidar com tudo aquilo quando soubesse por que Julia a abandonou e se casou com Mateus, mas entre perceber aquilo e aceitar, existia uma distância enorme. No fim ela preferiu usar a única alternativa que desarmaria Julia, a culpa.
— Eu pensei nisso mais vezes do que eu gostaria, mas depois de um tempo eu percebi que eu estava enganada. A sua ausência serviu pra eu entender que esperar qualquer ajuda vinda de você era idiotice. — Manu foi dura.
— Mesmo assim você pensou e desde que eu voltei você tem pensando nisso de novo. — Julia não se abalou.
— Aparentemente você voltou bastante convencida do seu poder sobre mim. — Manu foi sarcástica.
— Pelo contrário, eu voltei totalmente consciente do poder que nós exercemos uma sobre a outra. A única diferença entre eu e você é que eu já aceitei, eu já entendi que não tem explicação lógica pra o que existe entre nós.
— A única coisa que existe entre nós duas é um passado conturbado. O resto não importa e eu pretendo ignorar terminantemente. Com licença. — Manuela falou séria e decidiu que era hora de sair dali, por isso foi em direção à porta.
Manuela passou por Julia tão repentinamente que por alguns segundos a arquiteta ficou estática. Então, algum sentimento inominável e irracional tomou conta da ruiva que alcançou Manu antes dela chegar à porta, Julia segurou o braço da outra e a virou para si. No momento em que as peles se tocaram, as coisas ao redor pareceram sair de ordem, tudo que elas conseguiam sentir era aquele toque forte, delicado e preciso da mão de Julia no braço de Manuela. Os olhares se encontraram. O verde era uma mistura de coragem e hesitação, vontade e medo. Os castanhos pareciam assustados, acuados. Houve um momento em que tudo pareceu se calar e tudo que as duas conseguiram ouvir foram as pulsações aceleradas. Quando Julia deu o passo derradeiro em que os corpos ficaram a centímetros de se encontrar, Manu sentiu todos os pelos do corpo se arrepiarem. Nenhuma das duas se lembrava mais da conversa de segundos atrás, não existia mais nenhum passado entre elas, era só o presente que importava.
Manuela baixou o olhar para os lábios de Julia por uma fração de segundos, mas foi mais que o suficiente para deixar os olhos verdes em brasa. Foi o olhar de Julia que derrubou qualquer resquício de dúvida que ainda existia em Manu, a publicitária sentiu um impulso imediato, colocou uma das mãos na cintura da ruiva e acabou de anular a pouca distância que ainda existia entre elas. O beijo foi inevitável, as duas queriam. Quando os lábios se encontraram foi como voltar para casa depois de uma viagem muito, muito, muito longa. Então o beijo se aprofundou, as línguas se tocaram e o que era irracional se tornou indomável. Não era só um beijo, era quase uma combustão.
Só quando o fôlego acabou é que os lábios se separaram, mas nenhuma das duas teve coragem de abrir os olhos. Elas ficaram abraçadas, com as testas coladas, sem conseguir pensar direito. Quanto tempo aquele beijo durou nenhuma das duas sabia, mas o sentimento era que não tinha sido tempo o suficiente para satisfazer aquela loucura. Manuela foi a primeira a abrir os olhos e com um esforço que ela achou que não seria capaz de fazer, se afastou. Quando Julia voltou a abrir os olhos, Manu já havia saído da sala, mas isso não impediu o sorriso que se formou nos lábios da ruiva.
Fim do capítulo
Ei, gente!
Alguns capítulos são inspirados em músicas ou pelo menos tem alguma cena fortemente impactada por alguma música, é o caso desse aqui. Na verdade eu só escrevo com música junto, seja ela me guiando ou me ajudando ou só estando presente pra tornar a história possível. O próprio título dessa história é inspirado em uma música, então a música está sempre presente. No capítulo de hoje essa inspiração foi tão forte que virou o título e é uma música do James Bay (Let It Go), pra quem gosta vale a pena ouvir durante a leitura.
Falei muito! Beijo procês e até amanhã! ♥
P.S: Me contem TUDO que vocês acharam desse pequeno momento Manu e Julia de hoje kkkkkk
Comentar este capítulo:
jeslima
Em: 26/06/2024
Desse jeito tá muito fácil para Júlia. Ela não precisa fazer esforço algum para reconquistar Manuela, porque essa já tá caidinha de novo. rsrs
Júlia também vai precisa ser sincera e explicar direito as escolhas que fez no passado e que feriram demais a pessoa que ela diz amar. Vai ter que provar, hein?!
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]