Ana
Logo cedo meu pai havia me avisado de que ele tinha feito uma proposta de serviço para uma garota que ele conheceu em uma festa e que ela apareceria mais tarde para provavelmente fecharem o acordo.
Ele já havia feito uma pesquisa com seu nome e os resultados não foram nada mal, eram bons o suficiente. Eu estava encarregada de buscá-la na portaria, levá-la a sala junto ao meu pai e depois mostrar a cidade e o apartamento, caso ela aceitasse o emprego. Achei aquilo um absurdo! Ele poderia muito bem ter mandado outra pessoa e não eu, a diretora geral da empresa com todos seus setores e sua filha.
Mas me lembrei, com tristeza de que ele nunca gostava que eu o lembrasse disso. Para mim, assim como para todos, ele era o Sr. Peter e o fato de teremos o mesmo sangue não parecia fazer muita diferença, pelo menos era assim que eu me sentia. Ou era isso que ele tentava deixar claro todos os dias.
Eu estava analisando algumas coisas quando meu telefone interno tocou. Era Vanessa me avisando que a tal garota havia chegado, seu nome era Lara, um nome que achei forte e suave ao mesmo tempo. Arrumei alguns papeis para não deixar nada muito desorganizado e fui de encontro a ela pensando ainda nas tratativas do caso que eu estava lendo e nas complicações que ele estava nos dando.
Só percebi que tinha chegado no saguão quando a vi. Deveria ser ela, não podia ter erro. Ela era a única pessoa na recepção junto com Vanessa. Primeiro de tudo, me veio uma surpresa, não sabia explicar. Foi como se eu tivesse sentido um choque, um baque. Sua aparência era muito boa, foi à primeira coisa que reparei, e ela olhava todo o ambiente, especialmente um quadro na parede. Pessoalmente, parecia muito melhor do que a pesquisa tinha nos apontado, pelo menos de primeira vista. A boca era grande e os cabelos eram chamativos, meio bagunçados, mas de um jeito que não ficavam desorganizados e sim arrumados. De todo o conjunto que formava aquele ser, o que mais chamava atenção era seu jeito deslocado, mesmo estando vestida de social ela parecia extremamente... Leve. Não sei explicar como, muito menos explicar como consegui sentir tanto de uma pessoa em pouco tempo.
Cumprimentei-a normalmente, como de costume com todos os outros funcionários e tentei ser apenas educada - como mandava a regra - e claro, direta.
-- Bom dia, Srta Lara. Sou Ana e vou levá-la até o Sr. Peter me acompanhe, por favor.
Não dei espaço para palavras. Ela apenas assentiu e seguimos. Dentro do elevador, nada falamos, mas reparei no modo como ela andava, como quem tenta ser fina, mas era de algum modo... desajeitada. A garota estava tentando, pelo menos, pensei comigo mesma tentando não ser critica demais.
De qualquer maneira de garota ela não tinha nada, já devia ter seus 25 anos por aí, mas algo me dizia que seu espírito devia ser muito jovem, talvez fossem seus olhos ou o jeito de andar que a entregavam. É claro que analisar as pessoas é meu trabalho, repeti isso pra mim mesma enquanto estávamos no elevador e seu perfume encheu o lugar. Bom gosto também, meio amadeirado.
Seguimos pelos corredores com várias pessoas tentando vê-la, dar uma boa olhada. Segui reto sem olhar para os lados, pois meu pai já nos esperava na sala de reuniões. Assim que entramos, ele se levantou e foi extremamente gentil com ela, mostrando um sorriso enorme. Deixei que ela entrasse e permaneci parada na porta sem nada dizer, nem sentar. Ele sequer olhou pra mim. Os dois conversaram e reparei como ela me lançava olhares furtivos de tempo em tempo e presumi que ela deveria estar nervosa, só isso. Mesmo que me pareceu haver algo além, escondido ali, por trás daqueles olhos que poderiam ser muito expressivos em algum momento. Seu olhar era forte e, de tudo até agora, foi o que mais gostei.
Fecharam o acordo e vi quando ele disse que eu a levaria até o apartamento. Bufei em silêncio, eu tinha esperanças de que ele mudasse de ideia. E pelo visto ele não mudou. Saiu da sala em passos rápidos e foi como se eu não estivesse ali parada bem ao lado da porta. Não abaixei a cabeça, deixando me mostrar desapontada nem nada do tipo. Depois de muitos anos você se acostuma com isso.
Olhei para ela que parecia perdida sem saber o que fazer ali. Senti quase pena, esperei que ele saísse e disse:
-- Vem... Vou lhe mostrar sua sala.
Assim que entramos no que seria sua nova sala, ela pareceu reparar em tudo de novo. Cheguei a conclusão de que ela era observadora e isso era bom. Seus sorrisos me pareceram sinceros e simples. Fiquei observando cada detalhe...
Ela era muito bonita, já disse isso? Era muito espontânea, mas acho que já disse isso também. Devia viver uma vida simples e extrovertida. Pensei em falar algo para quebrar o clima e voltarmos a realidade na qual eu tinha muito trabalho pela frente ainda hoje.
-- Sua sala. Pedi que a secretária desse uma geral, mas pode arrumar à sua maneira.
-- Adorei... - ela disse e seu rosto era o mais alegre que vi nos últimos dias. - Nunca tive uma sala só minha antes, para mim está mais que ótimo. Obrigada.
Primeiro eu me assustei pela revelação de que ela nunca teve uma sala antes. Mas depois pensando bem, os outros funcionários não tinham também. Eu quis rir junto com aquele sorriso que transmitia uma paz tão grande para gente. Mas eu não o fiz.
-- Se você quiser podemos sair agora e te mostro o apartamento que o Sr. Peter lhe disse ou fica a sua escolha comprar um jornalzinho e achar algo melhor.
Jornalzinho e achar algo melhor...?! - fui direta e talvez até meio grossa, mas o tempo estava correndo e por alguma razão muito esquisita, eu estava gostando da sua companhia nesses poucos minutos bem mais do que deveria ou bem mais do que eu me lembrava gostar da companhia de alguém que eu nem conhecia. Culpei depressa seu espírito leve pela leveza que eu estava sentindo depois de uma manhã horrível de trabalho. Ela disse sorrindo dando uma ultima olhada no lugar:
-- Tá bom, pra mim tá ótimo. Vamos!
Para chegarmos até seu apartamento, fomos no meu carro, pois ela estava sem um naquele momento. Mostrei a cidade e alguns pontos para ela, meu pai não gostava de serviço feito pela metade, justifiquei a mim mesma quando me peguei mostrando lugares que eu mesma frequentava e fazendo alguns comentários pessoais. Ela comentou que morava em Minas e que tinha um carro lá. Paramos em frente do apartamento e passar pelo moço da guarita foi fácil uma vez que ele já me esperava. Subimos de elevador e eu, um passo a sua frente, abri a porta do lugar e a deixei entrar primeiro sem querer invadir seu espaço. Parei na porta e fiquei lá reparando como ela prendeu o fôlego e reparou em tudo, cada detalhezinho de novo. Eu podia jurar que ela estava andando de um modo que fazia parecer que ela dava alguns pulinhos de alegria e seu sorriso era de uma criança que ganha um brinquedo ou um doce. Será que assim como a sala no serviço, ela também nunca teve um apartamento antes? Lembrei daquele momento e não consegui conter o sorriso dessa vez. Enquanto caminhávamos pela cozinha, ela comentou que não sabia usar o fogão e que isso não a incomodava, pois o mais importante depois da cama para ela era o micro-ondas. O máximo que consegui me conter foi transformando uma risada em um sorriso sem deixar virar uma gargalhada. Tentando disfarçar, limpei a garganta e disse:
-- Gostou?
Ela se virou para mim e sorriu de volta. Ela poderia ser a garota dos sorrisos. Nunca vi alguém sorrir tanto assim com aqueles dentes brancos e grandes, os lábios meio cheios. Eu geralmente não reparava naquilo.
-- Adorei. Da pra fazer uma super festa! Se for barato, até compro!
Levantei uma sobrancelha e acho que fiz uma careta meio divertida. Pelo visto ela era mesmo doida. Esperava que no mínimo fosse tão responsável quanto maluca. Acho que ela percebeu minha expressão, porque meio sem graça falou:
-- Brincadeira... – E deu o que me pareceu um sorriso sem graça. - Mas gostei muito sim, obrigada. – Me senti meio culpada por talvez ter cortado o barato da garota, mas antes de ser gentil e me arrepender depois, cortei o barato dela mais uma vez.
-- Podemos ir? Ainda tenho um bocado de trabalho... - Olhei pro relógio tentando não ver o rostinho triste que ela fez. É, parecia que eu tinha mesmo cortado sua alegria, porque ela veio andando em minha direção com a cabeça meio baixa.
-- An.. claro, vamos. – Pelo menos a pose ela não perdia.
Entreguei as chaves em sua mão assim que fechei a porta e nossas mãos se tocaram no que pareceu um segundo e, talvez pelo susto que levei por não esperar o toque dela em minha pele, senti um tremor estranho. Para dispersar, disse:
-- É seu, divirta-se. - dei um sorrisinho e sai na frente.
Chegando à calçada ela me disse que iria de táxi, porque estava em um hotel, e sem perceber, me prontifiquei a levá-la até lá. Aquilo era meio que minha responsabilidade, não era? E alguma coisinha coçou dentro de mim quando ela disse sobre ir embora. Queria ver mais uma vez suas reações de criança ganhando doce, mais algum comentário muito bobo ou engraçado que ela dissesse. Meu pai tinha acabado com meu dia e ficar com ela era rir por dentro a quase todo momento. Me peguei tentando adivinhar que palavras ou o que faria surgir aqueles sorrisos e momentos leves nela.
-- Tudo bem, eu te levo de carro sem problemas, Lara. - seu nome soou doce em minha boca. Engoli a seco a sensação estranha que me percorreu por simplesmente pronunciar seu nome e comecei a achar aquela alegria e suavidade muito esquisita, mas me recusei a pensar nisso.
-- An... É meio longe, Srta.
-- Se acelerar, dá. – E de alguma maneira eu quis soar espontânea também. Acho que estava sentindo uma pontinha de inveja pela sua leveza, talvez. Dei um sorriso como não me lembro te dar dado a muito tempo.
Assim que entrei no carro, eu acelerei mesmo. O trânsito em SP era sempre louco e tinha que ser um bocado mais louca pra rodar nele como eu estava fazendo agora. Um pouquinho daquilo tudo era porque eu quis fazer graça. Me surpreendi com esse pensamento e mais ainda quando me peguei querendo mostrar minhas habilidades no volante, ou deixá-la de boca aberta um pouco. Muito estranho de novo. Eu estava rindo internamente.
Ela devia ter algum poder de fazer as pessoas se soltarem e tentei não pensar muito em como aquele poder era exercido sobre mim. Preferi pensar que isso seria bom com os clientes, nem quis voltar a pensar que estava achando aquilo bom pra mim também. Ela me falou aonde era e chegamos no que pareceu ‘rápido’ demais para mim... Tentei permanecer, pelo menos por fora, o mais séria possível. Eu só estava analisando tudo, repeti a mim mesma.
Antes de sair, ainda retirando o cinto, ela disse:
-- Humm, você dirige... Muito bem. Obrigada pela carona.
Dei um riso meio irônico, pelo tom que percebi em sua voz, ela deveria estar querendo dizer outra coisa. Para alguém acostumado com Minas, SP era uma loucura.
-- Como uma louca, você gostaria de dizer? – Dessa vez, não consegui conter uma risada.
Seus olhos brilharam e ela sorriu para mim de um jeito maroto. Abriu a porta e antes de sair disse:
-- Isso aí já são palavras suas. Até semana que vem Srta. Ana.
E saiu me deixando sem resposta. Me permiti um outro risinho e acho que ela ouviu.
Depois de deixá-la no hotel me senti mais leve no decorrer do dia como não me sentia a muito tempo. Também não vi mais meu pai.
Lembrei de Lara e seu jeito durante algum tempo antes de dormir e apaguei com um sorriso nos lábios. Mas isso seria algo que eu nunca confessaria, nem mesmo para mim.
Uma semana depois cheguei na empresa com meu mal humor de sempre, eu odiava acordar cedo e mais ainda acordar cedo para vir para essa empresa e trabalhar com meu pai. Não importava o qual bem eu dormia a noite pelo efeito dos remédios, eu acordava indisposta e desanimada do mesmo jeito.
-- Bom dia, Srta. – Pelo menos Vanessa, minha secretária era sempre educada.
Murmurei um:
-- B'dia, meus papeis, por favor, e os recados... – E fiquei olhando para os lados enquanto ela fazia seu serviço.
Ela logo mexeu no computador e anotou algumas coisas enquanto me avisava algumas programações do dia. Assim que ela entregou os papeis mais importantes do dia continuei andando e não escutei suas ultimas frases direito, só fiz um ' Aham..'. De repente dei um passo para trás, me lembrando de que dia era hoje.
- Vanessa, hoje é segunda, certo?
- Sim, Srta. – ela me olhou meio espantada pela pergunta obvia.
- A nova funcionaria já chegou? – Olhei para os lados, como se pudesse encontrá-la em algum lugar, eu queria vê-la.
- Sim senhora, está na sala dela com o Lucas.
- Lucas? Qual Lucas? – ela já estava se engaçando com o primeiro que aparecia, essa hora da manhã? Bufei.
- O Lucas Ribeiro Srta. Ele está ajudando-a.
- Ah, sim. – Uma nuvem negra de mal humor saiu de cima de mim e dei um risinho para mim mesma. Aquele Lucas...
- Quer que eu a chame? – Ela me perguntou interrompendo minha linha de raciocínio.
‘ Sim, claro!’ pensei.
- Não, não. Obrigada. – Eu disse.
Eu queria vê-la. Meu coração bateu um segundo mais rápido assim que percebi que hoje seria o dia que ela começaria efetivamente aqui. E eu quis ignorar isso com todas minhas forças, começando por ignorar sua presença, repetindo para mim mesma ‘Que isso, eu nem me importo se ela está aqui ou não. É só uma funcionária, não faz diferença.’
E logo entrei em minha sala e fechei a porta suspirando. Passar pela recepção era sempre uma tortura, ver aquele tanto de rostos e pessoas. Eu gostava mesmo era de me esconder aqui, onde eu não precisava conversar, nem ser gentil com ninguém. Meu telefone tocou, era meu pai. E ele foi rápido e seco como sempre.
-- Ana, Lara já está na empresa, quero que vocês trabalhem em equipe, passe alguns serviços a ela, a ajude e a acompanhe na resolução dos outros, com certeza ela pegará o ritmo rápido.
-- Claro. - concordei em poucas palavras também, eu não tinha outra escolha mesmo. Ele nem me deu bom dia.
-- Depois peço Vanessa para lhe entregar mais algumas coisas sobre aquele caso que já devíamos ter entregado e feito a segunda reunião semana passada! Vamos agilizar isso, você sabe como esses caras são chatos e grossos. Coloque Lara a par disso.
-- Certo. – Existia pessoa mais direta do que ele? Ou mais seco?
Não tinha o que dizer. Nunca tinha. Antes de desligar ele apenas acrescentou:
-- E, por favor, melhore ou disfarce seu humor, garota, já está chato as reclamações e comentários sobre isso.
E desligou assim, sem tchau, até mais, nada. Coloquei o fone no gancho e fiquei encarando o objeto, como eu fazia praticamente todas as vezes. Bufei, eu não iria melhorar humor nenhum! Estava muito bem assim. Já não era suficiente ele ter uma filha toda certinha, ele ainda queria risadinhas de brinde? Passei a mão no rosto e lembrei de que ela já estava na empresa. Em algum lugar muito intimo dentro de mim para que eu pudesse encarar e analisar o fato, eu estava esperando esse dia de novo.
Primeiro porque precisava me testar ao lado dela, eu queria provar para mim mesma que eu era com ela igual era com todos os outros funcionários, pois uma voz chata me dizia que eu fui gentil demais como nunca costumava ser. E que também existia aquela tal leveza esquisita, a qual eu precisava aprender a lidar e disfarçar. Segundo e podem me dar um tapão na cabeça e me chamar de louca, mas eu queria sentir um pouquinho mais de tudo aquilo. Sentir aquela coisa que ela passa pra gente e você nem percebe. Contraditório, não?
Liguei pra Vanessa e a mesma me disse que Lara ainda estava sendo ajudada por Lucas em sua sala e me perguntou se eu gostaria que ela a chamasse agora, pensei bastante mais preferi que a chamasse depois do almoço em minha sala e tentei continuar a trabalhar, era muita coisa a ser feita e de acordo com meu pai, muito pouco tempo.
Perdida em tanta burocracia me perdi no tempo, mas depois do almoço uma batida na porta me chamou de volta para terra e era ela. Por algum motivo me lembrei do meu pai me dizendo pra melhorar meu humor. Arrumei minhas roupas e me endireitei na cadeira em um pulo. Depois prendi o ar e o soltei três vezes, entrando na pose de chefe. Esperei que ela abrisse a porta, colocasse a cabeça para dentro, averiguando se podia entrar e, assim que ela entrou na sala com aquele rosto tão vivo, não precisei me esforçar muito para melhor minhas feições ou melhorar meu humor. Mas, ainda sim, tentei manter a pose fina.
-- Entra, Lara. Bem vinda de novo. – Ela entrou na sala e seus olhos viajaram o lugar em uma espiada só, analisando e reparando cada cantinho e detalhe, eu tinha certeza.
-- Obrigada. Tudo bem? – Perguntou ela com uma expressão curiosa. Aquela pergunta me era feita varias vezes por dia por pessoas que passavam por mim quase voando e não esperavam de fato uma resposta, mas ela parecia mesmo interessada em saber a minha resposta. Talvez, como ela parecia ser tão observadora, o meu olhar ou minha cara me entregaram. A indiferença do meu pai nunca era indiferente para mim.
-- Tudo, tudo.. Senta. – Me apressei em dizer antes que eu acabasse desabafando algo.
Fui logo ao assunto e ela parecia um pouco mais séria dessa vez, mais concentrada. Fiquei pensando se algo errado tinha acontecido com ela e esperei do fundo da alma que não tivesse.
-- O Sr. Peter te ligou, certo?
-- Aham... – Ela apenas concordou.
-- Ótimo. Trabalharemos a partir de hoje assim, eu te passo alguns casos, você resolve lá na sua sala, alguns a gente senta e discute aqui, você vai ser meio que minha...
-- Parceira. – A-há! Lá estava ela de novo... ousada, como quem vive sem consequências. “Já estava demorando” pensei me divertindo. No fundo, gostei que sua verdadeira face tivesse aparecido, mas por fora meu posicionamento foi outro:
-- Assistente. – Curta e grossa.
Puxei um sorriso torto no rosto. Eu também sabia ser irônica. Eu também tinha meus outros lados. Ela murmurou sem graça:
-- Ahhh... Certo. – E foi ponto para mim dessa vez. Continuei...
-- Por enquanto você pode ir para sua sala e o Lucas vai te ajudando como ele já está. - Quis mostrar que eu estava informada de seus passos aqui, intimidar ela um pouco, talvez. - E mais tarde ou amanhã te chamo e começamos a analisar algumas coisas aqui. Precisamos de um bom plano de marketing para o nosso próximo negocio com alguns alemães, caso grande. Sei que você fala e entende alguma coisa. Então vamos começar trabalhando e vendo os talentos que o Sr. Peter diz tanto ouvir que você tem.
Olhei para ela esperando que ela falasse algo, se havia alguma dúvida e também para ver sua reação depois das minhas palavras. Eu havia colocado uma pressão ali, mas cada cantinho de mim tinha certeza de que ela se sairia bem, eu sentia isso.
-- Ok. – Disse ela, simplesmente, e seu rosto era ainda indecifrável para mim.
Ela sempre falava poucas palavras comigo, e analisando por um momento, era bem assim que eu agia com meu pai. Será que eu a intimidava tanto quanto ele a mim?
Senti um incomodo no fundo do peito com esse pensamento, não queria que fosse assim, de maneira alguma. Fiquei olhando-a e esperando que dissesse algo, mas ela me encarou como se esperasse algo também e nada disse. Seu olhar era profundo como se ali a gente pudesse se perder em várias histórias e ao mesmo tempo era penetrante... me fazendo tremer toda por dentro. Ela tinha potencial. Ela não me deixava ter dúvidas quanto a isso, com cada sorriso e aquele olhar.
Eu juraria para quem fosse que eu estava pensando nela apenas com uma visão de negócios. Como uma chefe analisa seus funcionários, e era importante para mim acreditar naquilo. Me intrigava o porque de que com ela tudo era muito mais leve. Até porque, eu mal me lembrava do nome dos outros, mas eu não conseguia esquecer de maneira alguma do seu sorriso.
No mais, eu usaria isso ao nosso favor com os alemães e com todos os outros trabalhos que tínhamos pela frente.
- - Então está bem assim, qualquer coisa te ligo no seu ramal. Pode ir.. – E voltei a mexer em algumas coisas, tentando parecer indiferente a ela.
-- Estarei esperando então, Srta. Qualquer coisa... – Ela se levantou e sua voz tremeu em o que me pareceu uma risadinha presa quando ela disse. - Me liga.
Ela caminhou para porta com aquele sorrisinho que eu estava começando a odiar e a amar ao mesmo tempo. Pensei em ser um pouquinho informal, afinal, eu queria ter esse gostinho também. Ela fazia, sem perceber, eu querer me soltar.
Não que eu não fosse solta com minhas amigas, mas com minhas AMIGAS, porém ela... Ela era só a nova funcionaria.
Não adiantava, quando percebi, eu já a tinha chamado.
-- Lara?
Ainda com a mão na maçaneta ela virou o rosto para trás e me olhou...
-- Parceiras me soa bem, também. – eu disse com um sorriso nos lábios. O dela foi bem maior e muito mais chamativo. Ela balançou a cabeça e saiu da sala. Eu balancei a cabeça também e, sorrindo de verdade, voltei para o mundo do Sr. Peter que me esperava.
Fim do capítulo
E aí, meninas! O que estão achando? Sabia que toda escritora é como um carro e você, seu comentário, opinião e pensamentos sobre a história são o combustível que nos faz funcionar? E sem combustível, o carro para, né?
Ou seja, o seu comentário é muitoooooooooo importante para mim!!! <3
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S2 jack S2
Em: 23/06/2024
Oie!!!
Adorei conhecer o ponto de vista da Ana e saber que ela não é indiferente a Lara...ansiosa pelo que vem pela frente.
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Leticia Petra
Em: 21/06/2024
Caramba!!! Obrigada por voltar. Passei anos tentando achar tu escrita, até email mandei. Que felicidade.
Obrigadaaaaaaaaaa.
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