Boa noite, leitoras! Espero que estejam tendo uma boa noite, e boa leitura!
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Esse tá especial também <3
Capitulo 23 – Uma mulher que eu não posso ter
Júlia
Nós estamos no jardim da casa da Marta, a noite está iluminada por alguns pisca-piscas que estão pendurados por toda a extensão da varanda e entre as árvores. A decoração também está impecável, com bandeirinhas e argolas de São João confeccionadas com folhas de revista. O jardim inteiro está cheirando a vinho fervido com especiarias e a molho de cachorro-quente.
– Você quer mais um? – Digo apontando para uma bacia repleta de pinhões cozidos e a pequena Sofia (em uma das suas primeiras versões que tive contato) acena positivamente com a cabeça.
Eu pego um e mordo a casca entre os dentes, e dou para ela.
– Eu sempre quis ter uma irmãzinha mais nova, sabia? – Digo enquanto vejo ela mastigando e observo as suas bochechas rosadas de blush com umas seis ou oito sardas de mentira que eu tinha ajudado a Marta a fazer nela. – Com você eu sinto que tenho o que eu sempre sonhei, baby girl.
Uma família de verdade.
Ela ri no meu colo, mostrando todas as janelinhas dos seus dentes de leite que haviam caído recentemente, e eu a aperto mais entre os braços, por reflexo, como se eu fosse perdê-la e ela fosse desaparecer ou evaporar das minhas mãos, por algum motivo.
– Que coisa linda vocês duas nesse chameguinho, fico até com ciúmes. – A Marta se aproxima de nós com a mão direita sobre as costas, apoiando a sua barriga extremamente saliente de quase nove meses de gestação. – Se despeça da sua tia, querida, já está tarde e eu preciso te colocar para dormir.
A mini Sofia vira o rosto para a mãe e enterra a cabeça contra meu peito, e eu olho para a Marta, um pouco sem jeito.
– Vai começar tudo outra vez. – Ela suspira, impaciente. – Boa sorte com isso. – Me diz antes de se afastar e nos dar as costas.
– Sofi, você precisa dormir. – Tento ser dura, mas falho miseravelmente, como em todas as outras vezes.
– Quero te ver cantar... – Ela choraminga e o meu coração já se desfaz na mesma hora. – Você vai cantar, não vai? – Ela desvia o olhar de mim para o violão que está pendurado nas minhas costas. Suas íris brilham ainda mais conforme faz isso.
– Vou, mas... – Mas era para ser um momento entre adultos, bebendo em volta da fogueira, sem crianças... Só que não digo isso a ela, claro. – Uma música, tá? Só uma e você vai dormir? – Me sinto ridícula por estar fazendo um acordo com uma criança de quatro anos, e ainda mais ridícula por já ter a certeza de que ela vai me passar a perna.
– Júlia... – A Marta me repreende ao me ver instantes depois, sentando em um dos troncos em volta da fogueira, com a Sofia ainda no meu colo.
– Só uma música, Marta. – Eu basicamente imploro para ela, como se a criança fosse eu, e não a Sofia.
– Tudo bem... Então me dá ela aqui. – A minha amiga estende os braços para a filha, que se encolhe e afunda ainda mais no meu colo.
– Eu quero ficar com você. – A Sofia se vira para mim, com olhinhos pidões, e eu me viro para a Marta, pensando em como vou me sair dessa maldita saia justa.
– Não acha melhor eu ficar com ela? Não está pesado o suficiente aí? – Digo, gentilmente, fitando a sua barriga.
– Pelo amor de Deus, Júlia, e como você pretende tocar com ela no seu colo? – A Marta parece impaciente, mas insisto.
– Posso colocar o violão em cima de nós duas. – Sugiro e a Sofia se anima no meu colo, batendo os pezinhos, bem diferente da mãe, que me encara com uma cara de poucos amigos, enquanto revira os olhos.
– Deixa as meninas, Marta. – O Seu Olavo intervém e eu relaxo um pouco, porque, quase sempre, pelo menos no que dizia respeito a criação da Sofia, a palavra dele acabava prevalecendo, no final das contas. – Você devia agradecer por tudo o que a Júlia tem feito por essa garotinha. – Ele desliza a mão pelas suas trancinhas e troca um olhar carinhoso comigo, que sorrio de volta, retribuindo o seu agradecimento.
A maioria dos amigos do Seu Olavo e dos nossos colegas de faculdade já tinha ido embora, motivo exclusivo para que eu tivesse coragem de cantar, agora para uma roda bem menos cheia de gente. Estamos em umas sete ou nove pessoas, ao total, quando pego o meu violão e o posiciono em cima de nós duas, tomando bastante cuidado para não apertá-la demais com o peso do instrumento.
Eu começo a dedilhar os primeiros acordes de “Avôhai”, de Zé Ramalho, e já sinto a mini Sofia se agitar no meu colo, em expectativa. Ela adorava essa música, especialmente porque a letra e o ritmo eram muito semelhantes a uma contação de histórias, e eu sempre enfatizava certas palavras para soar engraçado e divertido para ela:
“Um velho cruza a soleira”
“De botas longas, de barbas longas”
“De ouro o brilho do seu colar”
“Na laje fria onde coarava”
“Sua camisa e seu alforje de caçador”
“O meu velho e invisível”
“Avôhai”
“O meu velho e indivisível”
“Avôhai”
Faço cosquinhas em sua barriga, e ela sorri de volta para mim. E ficamos assim ao longo de toda a música, e da segunda, porque, como eu já previa, ela não me deixou tocar apenas uma.
– Canta mais uma. – Ela olha para mim com aqueles mesmos olhos pidões de sempre, enquanto engatinha por sua cama e se aconchega no meu colo.
No final das contas, ela tinha convencido a todo mundo de ser eu a pessoa que a colocaria para dormir, essa noite. Quero dizer, eu e o Seu Olavo cedemos, como sempre, e a Marta apenas tinha cansado de relutar e preferiu não se estressar mais.
– Quero ouvir a música dentro de mim de novo. – Ela apoia as costas e a cabecinha no meu peito, e eu franzo a testa, intrigada.
– Como assim? – Questiono.
– Quando você canta comigo assim é como se a música tivesse tocando dentro de mim também. – Ela posiciona as duas mãozinhas sobre o próprio peito e eu deixo escapar uma risada, com a sua explicação e com o seu gesto.
Então começo a cantar “Semente”, de Armandinho, enquanto ela relaxa no meu colo:
Semente, semente, semente
Semente, semente
Se não mente fale a verdade
De que árvore você nasceu?
De onde veio
De onde apareceu
Porque que o meu destino
É tão parecido com o seu?
Eu sou a terra
Você minha semente
Na chuva a gente se entende
É na chuva que a gente se entende
Oh semente!
Ela fecha os olhos e depois sinto o seu corpo amolecer e pesar a cada verso. Até que a música termina e eu começo a movimentá-la com cuidado, com a intenção de deitá-la em seu travesseiro.
– Queria que você me colocasse pra dormir todos os dias. – Ela diz com a voz sonolenta, me pegando de surpresa, já que acreditei que estivesse dormindo a essa altura.
– Sua mãe ficaria magoada se eu fizesse isso todos os dias, Sofi... – Ajeito ela no travesseiro e a cubro com algumas cobertas, já sabendo que as noites costumam ser bastante frias nessa época do ano. – Ela que é a sua mãe e... ela ficaria bastante triste por não poder colocar a filhinha dela para dormir. – Improviso.
Era provável que a Marta realmente ficasse puta, mas não exatamente pelo motivo que citei.
– Ela vai ter o meu irmãozinho que tá na barriga dela pra poder colocar pra dormir. – Ela me surpreende com a sua resposta.
Mesmo com a pouca idade, ela já percebia uma certa diferença no tratamento que a mãe tinha com ela e com o irmão que ainda nem tinha nascido.
– Não fala assim, Sofi. Isso não é verdade. – Tento tirar aquela ideia da cabeça dela. – Sabe, eu daria tudo pra ter uma mãezinha agora mesmo para me ajudar com o banho, tirar a minha maquiagem todinha, me colocar para dormir... – Eu faço cócegas na sua barriga e a Sofia imediatamente sorri com seu sorriso banguela de dentes de leite.
Mas depois, subitamente, ela para e fica em silêncio por um momento, e vejo o seu semblante ficar cada vez mais entristecido.
– Eu queria que você fosse minha mamãe, tia Júlia. – Ela me aperta forte e sinto vontade de chorar. E é o que eu faço.
Acordo com o coração acelerado e os olhos marejados.
Puta merd*.
Estou sozinha no meu quarto, mas ainda posso sentir o seu cheirinho de tutti-frutti e visualizar aquela expressão melancólica em seu rosto que me fez partir em vários pedaços.
Não tinha sido meramente um sonho. Aquilo tinha acontecido de verdade e, à exceção de alguns detalhes que estavam um pouco diferentes, o sonho tinha sido basicamente fiel à realidade, e me fez lembrar de certas coisas que eu nem sabia que ainda estavam guardadas em algum lugar da minha mente.
Havia acontecido há quinze anos atrás, em uma dessas festas malucas que a Marta dava desde sempre, eu acho. Eu tinha uns vinte anos enquanto que a Sofia tinha uns quatro. A Marta ainda estava grávida do João Pedro, naquela época.
Eu lembro que aquilo que a Sofia me falou me atravessou de tantas maneiras. É claro que eu nunca contei para a Marta, ela ficaria arrasada, mas a verdade é que desde aquela época, eu já sabia que a Sofia tinha se apegado mais a mim do que à própria mãe e aquilo me fez perceber que talvez eu precisasse me afastar dela por um tempo. Porque eu simplesmente não podia continuar estremecendo ainda mais a relação das duas.
Então, depois de alguns anos, resolvi fazer aquela viagem que eu queria ter feito logo depois dela nascer. Aquilo nem estava mais nos meus planos, na verdade, mas achei necessário, achei que eu pudesse resolver isso e... por mais que me doeu muito lhe deixar – e só Deus sabe o quanto – eu saí com a sensação de que estava fazendo a coisa certa.
Mas, hoje, quando olho para trás, não sei até que ponto isso ajudou, já que quando eu voltei para o Brasil a Sofia estava ainda mais resistente à mãe, e a Marta ainda mais impaciente com ela e completamente apegada ao João Pedro. O Seu Olavo passou a ficar cada vez mais ausente e no final das contas, a Sofia só recorria a mim, de qualquer maneira. Até hoje sinto que eu falhei com ela, de qualquer forma, por tê-la deixado sozinha quando mais precisou de alguém. De mim.
Merda.
Sonhar com isso agora foi um verdadeiro choque de realidade. O que eu pensava que estava fazendo? Mas que porr*. A Sofia pode até não se lembrar dessas coisas, é claro que ela não lembra. Mas eu lembrava, e não é como se eu pudesse simplesmente apagar essa parte da nossa história.
Penso nas últimas coisas que temos feito e me sinto envergonhada, mas, ao mesmo tempo, meu corpo se acende inteiro apenas com a lembrança da sua boca salivando por mim enquanto sugava os meus lábios e ch*pava os meus seios e...
Puta merd*.
Como é que chegamos nesse ponto?
Jesus.
Eu nunca deveria ter procurado ela e sugerido aquele almoço, ou aceitado o seu convite para o cinema. Eu deveria saber que a Sofia estava completamente mal intencionada. O problema é que eu não esperava, ou não sabia, até que ponto eu também não estava tão mal intencionada quanto ela.
Só que agora ela acha que estou correspondendo, porque, de fato, é o que estou fazendo, não é? Mas que merd*, aonde eu fui me meter?
Tudo bem que eu basicamente não havia tocado nela – pelo menos, em nenhum lugar definitivamente comprometedor – e que não tínhamos ido para cama ou tirado as nossas roupas. Nenhuma de nós duas tinha goz*do, apesar de que ontem eu pude jurar que ia chegar lá, na porr* daquele banheiro.
Agito a cabeça, como se aquele movimento estúpido fosse capaz de afastar para longe todos aqueles pensamentos. E sensações.
Ela só estava me provocando, e eu só estava deixando que ela o fizesse. Eu podia parar na hora que quisesse.
É o que eu ficava repetindo na minha cabeça o tempo todo, a todo instante. Não ia deixar que atravessássemos nenhuma linha que eu me arrependeria depois, ou que não teria mais como voltar atrás.
Sinto um calafrio, temendo que já não tivesse.
Porque, merd*, nós não tínhamos feito nada daquilo, é verdade, mas eu não podia negar que fomos longe demais. Antes eu tivesse guardado tudo aquilo dentro de mim e explodido com todos aqueles sentimentos. Pelo menos, acho que eu estaria me sentindo bem menos culpada.
Sinto o meu celular vibrar em cima da mesinha e meu coração chacoalha. Tão estúpido.
“Vem aqui em casa hoje. Vamos fazer a nossa noite de filmes na piscina.”
Leio a mensagem e dou razão para o meu coração. Ela nem sequer pergunta, apenas afirma, tão irritantemente confiante... E gostosa pra caralh*, porr*.
“Sofia, hoje não é dia 13.”
Eu digo como se não fosse óbvio, e como se eu não soubesse que ela teria uma resposta pronta na ponta da língua para me dar.
Me arrepio apenas com a junção daquelas últimas palavras e com a maneira que elas soaram e... Deus, qual é o meu problema??
“Mas a gente não fez a de fevereiro. Acho que estamos nos devendo isso, né?”
A garota tem lábia, isso eu não podia negar.
Merda.
Eu sabia que não deveria. Que mesmo com a Marta em casa e o escambau, aquela piscina inflável com certeza seria muito apertada para nós duas. Sabia que eu deveria evitar isso ao máximo, com todas minhas forças, mas... eu não tinha mentido quando disse que não queria me afastar dela de novo.
Eu me sinto ótima com a Sofia, ótima por podermos contar uma com a outra, por termos encontrado e construído a nossa própria família, eu e ela, juntas. Eu só preciso tomar cuidado para não me sentir ótima demais.
“Tudo bem, eu vou.”
“Mas você que vai encher a maldita piscina inflável dessa vez.”
Digo com um sorriso idiota no rosto, tendo a certeza de que estou indo atrás de motivos para me sentir ainda mais culpada – e idiota – depois dessa noite.
xxx
– E então, você não me contou os detalhes sobre você e o Clóvis. – A Marta me pressiona enquanto espero a Sofia na área da piscina.
Ótimo.
Achei que seria uma boa ideia aguardá-la aqui fora, porque, sabe-se lá Deus o que aconteceria caso ficássemos sozinhas no seu quarto – no nosso cantinho – de novo. Mas agora eu tinha minhas dúvidas, porque com certeza ter que aturar isso conseguia ser ainda pior.
Só que eu nem podia dizer que a culpa disso tudo não era minha. Eu que inventei essa mentira – e que seguia com ela. Só que admitir que não estávamos mais juntos, tanto para a Marta quanto para a Sofia – que é basicamente a mesma coisa – seria como uma resposta minha, de que estou de acordo, de que eu estou cedendo, que estou permitindo que isso aconteça, o que, de uma forma ou de outra, eu meio que estou fazendo, mas...
Eu nunca poderia permitir algo assim.
Tá certo que, aparentemente, estar ou não com o Clóvis não tem feito diferença nenhuma para a Sofia e não tem impedido-a de fazer certas coisas, ao menos, não mais. Mas eu ainda sentia que pelo menos era eu tentando fazer alguma coisa para que não nos afundássemos ainda mais nessa merd*.
– Bem, não tem muitos detalhes... – Começo. – Ele tentou conversar comigo, naquele pub, eu não quis ouvir muito a princípio, então fui com a Sofia para outra boate que ela queria, e... – E a gente se beijou, porr* – E eu comecei a pensar que talvez fosse uma boa ideia reconsiderar. Então liguei para ele, ele me levou para a casa e... eu nem deixei que ele falasse nada, se é que me entende. – Dou um sorriso meio sem jeito, e ela sorri de volta.
Mas que bela mentira eu tinha inventado.
Como sou uma péssima mentirosa, tentei me aproximar ao máximo da verdade, o que, ainda assim, continuava sendo algo muito, mas muito distante dela.
Não era certo, nem justo, eu sei. Eu continuava o usando, de qualquer forma. Mas não conseguia visualizar outra saída. Se é que tivesse mesmo uma.
– Mas eu não quero que você se meta mais nisso, Marta. – Fico pensando na hipótese dela ligar para ele, só para saber como estão as coisas e a minha mentira cair por terra. Mais do que isso: o Clóvis ficar sabendo disso. – Você já conseguiu o que queria, não foi? – Pergunto, não conseguindo esconder a minha impaciência, e irritação.
– Tudo bem, Júlia. Mas um dia você ainda vai me agradecer por isso.
Rolo os olhos, mas depois me arrependo, porque, bem... Isso é uma coisa que a Sofia faria.
– Você e a Sofia estão bem próximas de novo, né? – Congelo, merd*. – Pensei que vocês só faziam isso – ela diz acenando a cabeça para a piscina inflável – e por algum motivo que eu nem quero saber... apenas no dia treze.
– É, nós realmente fazíamos, mas... a gente não fez no último mês, então... – Dou de ombros, como se não fosse nada demais.
– E ela tem lidado bem com a sua retomada com o Clóvis? Afinal, foi por isso que vocês brigaram da primeira vez, não foi? – Ela me pega de surpresa com o seu interrogatório repentino.
Sinto vontade de revirar os olhos de novo e deixar ela falando sozinha, exatamente como a Sofia faz, mas não posso fazer isso, no entanto.
– Acho que sim, acho que esse tempo que ficamos afastadas fez bem para a Sofia. – Invento uma desculpa qualquer, dizendo o que acredito que ela queira ouvir e torcendo para que alguma coisa a faça parar até que...
– O que fez bem pra mim? – A Sofia se aproxima de nós duas com o seu notebook e um DVD embaixo do braço.
Estava tão envolvida com as perguntas da Marta que nem percebi ela chegando.
Os nossos olhos se cruzam e eu não consigo evitar o sorriso que se forma nos meus lábios, enquanto – lamentavelmente – a olho de cima a baixo, notando que colocou um shortinho de pijama minúsculo e uma blusa com a porcaria de um decote que tenho certeza de que ela sabe que valoriza muito bem os seus seios.
Puta merd*, essa garota ainda vai ser o meu fim.
– Nada. – Digo voltando para a realidade.
– Bom, vou deixar vocês sozinhas. – A Marta diz e começa a se afastar, enquanto agradeço mentalmente por ela ao menos continuar respeitando esse nosso momento.
– Sobre o que estavam falando? – A Sofia pergunta enquanto coloca o notebook e o DVD dentro da piscina inflável.
– Sobre nada... Só a sua mãe me fazendo um maldito interrogatório. – Digo, de mau humor e ela sorri, por algum motivo, se divertindo muito com aquela situação de merd*.
– Sobre a noite do meu aniversário, ainda? – Ela quer saber.
– Sim, e... sobre estarmos tão próximas de novo. – Deixo escapar um sorriso, que acaba saindo sem querer pelo cantinho dos meus lábios.
Mas que droga.
– Bem... daqui a pouco ela vai começar a perceber. – Ela sugestiona, com um olhar malicioso que eu já conhecia muito bem.
– Perceber? – Pergunto, assustada.
– Que você não consegue tirar os olhos de mim, ou me olhar sem ficar babando... – Ela me olha com aquele maldito sorrisinho sacana, partindo dos meus olhos e seguindo para a minha boca.
Toda convencida...
– Sofia... – Minha respiração pesa na mesma hora, mas ainda tento a repreender.
– Eu sei, eu sei. – Prometo que vou ficar na minha. – Ela levanta as duas mãos, como se tivesse se rendendo.
Tento acreditar naquilo, até porque não tinha me sobrado muita opção.
– Que filme você escolheu pra hoje? – Procuro fazer uma pergunta normal na tentativa de afastar todos aqueles pensamentos, e torcendo para que não fosse nenhum que me fizesse querer enlouquecer ainda mais do lado dela.
– Uma linda mulher. – Diz enquanto vira a capa do DVD para eu poder ver.
Era um dos meus preferidos e ela sabia disso. Tava na cara que a Sofia queria me agradar. Mas antes fosse só isso.
Nós estamos terminando de comer a nossa pizza quando a Sofia coloca uma playlist no seu celular. Nós já tínhamos terminado de ver o filme e – não sei como – eu tinha conseguido sobreviver a ele.
Então, “Look What You Made Me Do” começa a tocar e imediatamente começo a me lembrar do clipe da música. Aquele em que todas as versões anteriores da Taylor estão juntas numa espécie de purgatório (?) super louco. Eu me lembro de achar fodidamente bizarro e genial nas mesmas proporções quando a Sofia me mostrou pela primeira vez.
A música avança e quando chega no seu ápice – onde a Taylor canta basicamente gem*ndo – a minha cabeça simplesmente me trai quando me leva para um universo completamento paralelo em que eu e a Sofia estamos na minha cama e ela está aberta e gem*ndo, pronta pra mim.
Puta merd*. Ela fez isso de propósito? Ou é só algo normal que está me deixando louca porque eu não estou mais no meu estado normal?
Mas então ela responde a minha pergunta quando simplesmente se deita do meu lado e – como se não bastasse ou não fosse o suficiente para acabar comigo – rola por cima do meu corpo e fica em cima de mim, colocando uma perna de cada lado da minha cintura.
Ela começa a roçar os seus lábios nos meus e eu subitamente fico mais quente em baixo dela por sentir que está tão quente quanto eu e por constatar, com isso, que os tecidos dos nossos shorts são finos demais.
Ela se inclina e alcança o meu pescoço, beijando, lambendo, ch*pando...
– Você gosta de montar nele? – Ela pergunta e demora apenas meio segundo para que eu entenda do que está falando. Ah, sim, ela ainda pensa que estou com o Clóvis. – Você pode montar em mim, se quiser, eu deixo. – Ela provoca e sinto o meu sangue ferver por debaixo da pele.
Meu clit*ris pulsa entre as pernas, apenas com a ideia.
– Sofi... O que está fazendo?
– Te deixando molhada. – Ela sorri de um jeito cínico.
Ah, jura?? Porque eu não tinha percebido.
Porr*... Essa garota ainda vai me matar.
– Mas que merd*, Sofia, seus pais estão logo ali. – Olho sobre os ombros dela, em direção à casa.
– Já tá tarde, eles já devem estar se arrumando pra dormir uma hora dessas, Júlia.
Não dá nem meio minuto e vejo as luzes da casa se apagarem, como uma provocação do universo.
– Não falei? – Ela termina de dizer aquilo com um sorriso de quem estava prestes a aprontar e uma onda de pavor e excitação me atravessa ao mesmo tempo.
– Eu não vou fazer nada com você aqui... – Sussurro.
“Nem aqui nem em lugar nenhum”, era o que eu deveria ter acrescentado, mas por algum motivo, não o faço.
– Tudo bem, eu posso viver com isso, por enquanto. – Ela diz e volta a aproximar as nossas bocas.
O seu cabelo cai sobre o meu rosto e fico tonta com o cheiro do seu shampoo. Aquele maldito shampoo com cheiro de melancia e... quando me dou por conta, já estou com as mãos nela também, nas suas costas, na sua cintura e em todo “espaço seguro” do seu corpo que encontro pelo caminho.
Ela retribui os meus toques, apertando um dos meus seios por cima da minha camiseta e descendo até o meu short. Quando eu menos espero, sua mão já está dentro dele.
– De renda? – Ela sorri, provavelmente sentindo a textura do tecido da minha calcinha na ponta dos seus dedos. – Eu posso tirar isso aqui, se você me pedir... – Ela sussurra no meu ouvido e minha bocet* pulsa entre as pernas, sedenta.
Vai sonhando.
Digo em pensamentos. Mesmo que fosse tudo o que eu mais quisesse no mundo agora mesmo.
Mas então, sem a menor cerimônia ou aviso prévio, ela coloca a mão por dentro do tecido fino da minha calcinha e... puta merd*. Gemo, sem conseguir me conter.
Coloco a mão por cima da dela, por puro extinto, para fazer com que pare, mas meu corpo me trai mais uma vez e minha mão não é firme quanto eu gostaria, de modo que meus dedos apenas ficam em cima dos seus, acompanhando cada movimento.
Ela brinca com os seus dedos por toda a extensão da minha bocet*, indo e voltando, e mesmo que esteja fazendo movimentos lentos e com quase nenhuma fricção, aquilo é o suficiente para me fazer ver estrelas e me deixar completamente excitada.
– Olha só pra você... – Ela faz questão de me mostrar como seus dedos deslizam com facilidade, para que eu sinta o quanto estou molhada. Como se eu já não soubesse. – Olha o quanto você quer isso, Júlia, porr*... – Ela não consegue esconder a sua própria excitação, e quase gem* ao falar aquilo.
– Sofia... Merda... – Sussurro, me desfazendo aos poucos enquanto travo uma batalha mental dentro de mim e me sinto derreter na sua mão, ficando ainda mais encharcada a cada maldito segundo.
– Isso tudo é tesão acumulado, sabia? – Ela diz e eu deixo escapar um gemido, não aguentando ouvir ela falando daquele jeito enquanto me toca. – Deixa eu cuidar de você, Jules... Eu sei que você quer goz*r pra mim...
Ela fala aquilo e sinto aquela onda de calor querendo descer pelo meu ventre. Estou tão molhada e tão perto... Eu quero... eu quero muito... porr*, mas eu não posso, simplesmente não posso querer. Forço o meu cérebro a me lembrar daquele sonho e a imagem daquela menininha de dentes de leite aparece na minha mente.
Eu pego a sua mão bruscamente, a tirando dali pelo pulso.
– Para, Sofi. – Peço.
– Você não quer que eu pare. – Ela diz completamente certa do que está dizendo.
– Mas eu tô pedindo pra você parar. – Sou mais firme, e ela se afasta, descendo de cima de mim, visivelmente chateada por eu ter sido tão dura.
– Eu não sei o que fica dizendo a si mesma. – Ela olha no fundo dos meus olhos, e eu sinto como se ela fosse capaz de enxergar tudo, através deles. – Porque não me deixa ir até o final ou... porque não encosta em mim. – Ela diz com uma boa dose de ressentimento. – Mas já está feito, Júlia. – Afirma, totalmente segura de si. – Sabe quantas vezes eu já me toquei pensando em você? Muitas... e... eu g*zei muitas vezes, também.
Puta merd*... Minha bocet* lateja só de pensar.
A vontade que eu tenho é de enfiar a mão dentro da calcinha dela e mostrar o que é goz*r de verdade. Mas ao contrário disso, finco os dedos com força naquela piscina inflável, enquanto tento levar a minha mente de volta para aquela festa junina outra vez.
Eu fico ali, séria, sem dizer nada, e ela me olha com atenção, como se tentasse decifrar o que estou pensando no momento.
– Você ainda me vê como uma criança. – Ela não pergunta. Apenar afirma, enquanto vejo frustração em seus olhos.
Congelo, por um momento quase acreditando que ela realmente pudesse ler os meus pensamentos naquele instante.
“Como uma criança”.
Quase deixo escapar uma risada, pensando naquilo.
A Sofia não era mais aquela criança, com certeza. Ela me dava provas disso a cada maldito segundo. Sem falar que todos aqueles sentimentos fraternais da minha parte já tinham ido para o espaço há muito tempo.
Mas ainda assim, eu já tinha sido aquela garota, e ela já tinha sido aquela menininha, e não havia borracha nesse mundo que fosse capaz de apagar algo assim.
Infelizmente.
– Não, Sofia, eu te vejo como uma mulher. – Os nossos olhos se encontram, dizendo tudo aquilo que não cabem mais em palavras. – Como uma mulher que eu não posso ter.
Fim do capítulo
Boa noite de novo, leitoras que eu amo!
O que acharam desse capítulo? Estão gostando do ritmo que a história está ganhando?
Confesso que adorei escrevê-lo, pois sempre gosto de entrar na cabeça da Júlia.
Escrevi esse flashback da festa junina há meses e eu já sabia que seria nesse capítulo que, coincidentemente, caiu em junho! hahaha
E o que acharam do sonho e desse paralelo que a Júlia fez entre esse acontecimento do passado e do momento atual dela com a Sofia?
Como sabemos, todos esses sentimentos são bem mais difíceis para Júlia, mas, já adiantando e dando um spoiler: Ela não vai conseguir se segurar por muito mais tempo! kkkk
Então, fiquem comigo, porque ainda teremos muitos desdobramentos e cenas quentes entre as duas, claro!
Não esqueçam de comentar, por favor!
Obrigada por estarem comigo, pelos comentários, pelo engajamento, pelo carinho, por tudo. Alcançamos mais de 21 mil leituras essa semana, e eu só tenho a agradecer!
Obrigada!
E até semana que vem!
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Zanja45
Em: 17/06/2024
Como sabemos, todos esses sentimentos são bem mais difíceis para Júlia, mas, já adiantando e dando um spoiler: Ela não vai conseguir se segurar por muito mais tempo! kkkk
Justamente, são dificílimas, sim, porque, tudo é novidade pra ela, além do fato de as situações se entrelacarem, em que passado e presente se conectam. Essa dualidade de tempo chacoalha bastante o coraçãozinho da Júlia.
......
Isso está bem nítido. ( Kkkk). Pois, as emoções estão bem afloradas.
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Zanja45
Em: 17/06/2024
E o que acharam do sonho e desse paralelo que a Júlia fez entre esse acontecimento do passado e do momento atual dela com a Sofia?
Foi muito interessante, mas isso afetou mais a cabeça da Julia. - Que já estava uma bagunça -. Essas memórias que somente ela tem acesso, justo agora ela foi acessar. Se ela já estava com dúvidas em relação a Sofia. O sentimento de culpa vai castigá - la por um bom tempo. Mas, os novos sentimentos estão tentando se sobrepor ao que foi na fase pueril da Sofia.
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Zanja45
Em: 17/06/2024
Escrevi esse flashback da festa junina há meses e eu já sabia que seria nesse capítulo que, coincidentemente, caiu em junho! hahaha
Você é uma escritora brilhante, consegue antever os acontecimentos de forma surpreendente. Ficou muito massa, as cenas dos flashbacks de Júlia e Sofia, quando ela era tão pequenininha. Minhas emoções chegaram a níveis catastróficos, só lendo as falas das interações das duas.
Que amor, enorme das duas! Que atravessa o tempo e mexe com todas as estruturas imagináveis. Entendo, Julia, ela que mais sofreu "interperies físicas", porque tem fatos que só ela tem conhecimento. - por isso, essa batalha que está passando, tem motivações tão fortes.
Para Sofia , as coisas fluem de forma mais fáceis, mas para Julia é mais lentamente, porque para ela tudo é novo - É um quebra- mar- Em as ondas marítimas tem um limite para avançar.
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Zanja45
Em: 17/06/2024
Confesso que adorei escrevê-lo, pois sempre gosto de entrar na cabeça da Júlia.
Então, Lina, você é muito suspeita para falar.Ha, ha, ha!
Amo esse tipo de narrativas da forma que você aborda, que envolve o psicológico dos personagens; faz um debate mental, aumenta os níveis de dificuldades das coisas, colocando - o num dilema intenso.
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Mmila
Em: 16/06/2024
Jules ainda resistente, mas Sofi está na batalha.
A Júlia rebobina sempre as fases da Sofia, e até então, acredita que não está fazendo a coisa certa.
Então, entendo essa forma gradativa que você autora está levando essa história.
Vou continuar, sempre, acompanhando esse desenvolvimento entre as duas.
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S2 jack S2
Em: 16/06/2024
Eu adorei o capítulo e estou gostando muito da forma como a história está caminhando…
Nossa! Eu definitivamente não queria estar na pele da Júlia…e até que ela está conseguindo se segurar, ainda bem que por pouco tempo…kkkk
Já estou ansiosa pelo próximo capítulo. <3
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bfz
Em: 16/06/2024
Eu imagino o que a Júlia está passando, ser presente na vida da Sofia desde sempre e ferremos se ver apaixonada por ela não deve ser fácil ou tranquilo.
Não vejo a hora do próximo capítulo, poderia postar mais um para comemorar as 21 mil leituras.
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