Não conseguia raciocinar muita coisa, tratei de subir rapidamente para meu cômodo, entrei no quarto, tranquei a porta e me encostei nela, deslizei até cair no chão, o que foi isso afinal ? Tirei os calçados fazendo uma leve massagem nos pés, dobrei as pernas e as abracei, um sorriso bailou no meu rosto. Então eu mexia com ela? Ela estava me correspondendo? Não tinha nenhuma resposta, nem queria no momento, tudo o que eu sentia, era a sensação de formigamento no meu corpo, por lembrar de tê- la tão perto de mim...Comecei a apertar meus braços gelados ao redor das pernas para ter certeza de que era um momento real, e não mais um dos meus delírios como muitos que já tive com tal figura. Ainda estou com medo de acordar desse sonho. Me joguei na cama, com a mesma roupa que estava, não queria trocar, queria senti-la mais próxima. Estar com ela deixava meu coração acelerado, um calor subia pelas minhas pernas. Dormi como um bebê naquela noite, ou quase, visto que um bebê não teria tais pensamentos impuros dos quais eu compartilhava naquele momento.

Acordei na minha cama, CLARO, onde mais seria ? Flashs de ontem a noite pairavam em minha mente, eu me retorcia na cama lembrando da proximidade e do cheiro do diabo em pessoa, aquela mulher era puro fogo, me queimava pelas beiradas, eu era tão dela, mesmo sem nem ter chegado a ser. Me caiu em mim, que ela possivelmente sabia dos meus sentimentos ou parte de meus desejos não ditos por ela, pois todas as indiretas e até mesmo diretas que ela me lançou ontem, me faziam acreditar que aquilo era tão verdade...Pois como Rubs disse, eu dava tão na cara que ficava até vergonhoso.Me levantei da cama joguei uma água no rosto, hoje ainda era domingo, eu não trabalharia e não tinha a mínima ideia do que fazer, seria tão perfeito ter outro encontro com aquela deusa dos meus sonhos, aquela proximidade no carro, ela me beijaria? Fiquei pensando mil coisas antes de dormir do que poderia acontecer ali, se eu tivesse ficado mais um pouco que fosse. Droga ela me deixava nervosa, deve achar que eu sou uma criança.

 Estava tão eufórica que precisava compartilhar isso com alguém. Quem melhor que a Rubs que me viu esses meses todos louca pela Carolina? 

Terminei de trocar de roupa e desci para a cozinha para tomar café, Rubs estava comendo e mexendo em algo no celular.

--Bom dia! –eu disse mais animada do que gostaria.

Rubs levantou os olhos para cima, me fitando interrogativa, eu normalmente não era assim ao acordar, tão animada.

--Bom dia? –inquiriu.

--Tá o seguinte, não vou conseguir segurar por muito tempo, então desliga esse celular e presta atenção. –eu disse me sentando de frente para ela.

Ela recostou na cadeira esperando eu falar.

--Eu sai com uma pessoa ontem, tipo um encontro eu acho.

--Sério? Mas como assim, você não estava interessada e nem conversando com ninguém!

--Rubs pensa! –eu disse estimulando que ela falasse sem eu precisar dizer.

--NÃO ACREDITO, ELA?

--SIM, EXATAMENTE ELA! –Eu disse novamente surtando.

--Não acredito, eu sabia que ela tinha o pé no arco-iris! E eu te disse que ela estava a fim de você, me poupe, isso era até palpável demais Elizabeth.

--Mas achei que você não gostasse dela. –disse confusa.

--O que? Não, eu prefiro que você fique com ela, do que ficar se iludindo com a Carolina. –disse cruzando os braços.

--Espera, de quem você está falando? –perguntei confusa

--Como assim, da Regina não é? Você saiu com ela né?

--Não. Mas espera que ideia louca essa de achar que a Regina está afim de mim, somos amigas apenas isso.

--Calma aí, com quem você saiu que está toda eufórica? Não consigo pensar em ninguém que.... NÃO! Ta de sacanagem? –levantou-se da mesa de supetão.

Levantei-me também.

--SIM, EU TIVE UM ENCONTRO COM MINHA DEUSA! –Disse rodopiando na cozinha.

--Eu devo te adiantar que eu não gostei nada disso, pelos últimos acontecimentos não devo dizer que ela é uma boa pessoa. Te tratou mal, passou meses vindo aqui e nem te dando bola. Agora só porque você estava quase conformada e até saindo dessa, ela inventa de puxar papo?Isso não faz nem sentido –disse Rubs bem contrariada.

--Senta aí, deixa eu te dizer o que rolou, e daí talvez passe a enxergar ela com outros olhos.

Após quase meia hora de explanação minha sobre a dita-deusa. Rubs se levantou servindo-se da oitava xícara de café, pelas minhas contas.

--Olha, não sei nem o que dizer, sobre esse estranho acaso do cinema, essa carona e atitudes tão estranhas por parte dela, é que você me fala e eu não consigo crer ainda.

--Tão pouco eu, Rubs eu acho que ela pode sentir algo por mim, foi tão terno o jeito que ela me olhou no carro quando me trouxe em casa, que foi mágico, nunca senti algo assim se quer saber.

--Só não quero que você se machuque, te tenho como irmã. –disse calmamente.

--Eu sei, pode tentar ficar feliz por mim ao menos? –perguntei.

Rubs girou os olhos, pensou por longos minutos, logo após soltou um riso sacana.

--Tá legal! 

--Que bom, eu preciso ter uma confidente para contar as coisas que acontecem. 

Após aquele café da manhã muito animado da minha parte, Rubs e eu passamos o resto do dia adiantado os trabalhos universitários, na verdade eu fazendo e ela copiando. Basicamente isso, quando a tarde chegou sentamos no sofá e começamos a ver Netflix, vários filmes românticos que Rubs particularmente odiava, mas eu não, lógico, me iludia mais ainda. No final do dia, jogamos um jogo que adorávamos de cartas e fomos nos deitar, pois amanhã nossa rotina voltava cedo.

...[ ela jogou os cabelos para o lado, o loiro contrastava com sua alva pele, que parecia ter sido esculpida por anjos, ela me olhava com um fervor nos olhos, mas estranhamente em seu peito pairava apenas o gelo, e como um quebra-cabeças ela se desmaterializa em minha frente, uma porta se abriu, e de lá uma mulher encantadora surgiu, com o sorriso doce, e a gentileza no olhar, em seu coração brotava um fogo, que não necessariamente queimava, mas sim emanava através de mim, eu podia sentir meu corpo extremamente quente, mas não um quente ruim, um quem confortável ]...

Acordei suada.

Olhei para o redor do meu quarto, eu estava nele. Sozinha, que sonho. O que foi isso? Eu parecia ter sido transportada para meu próprio filme, em que algum narrador estava falando. Quem eram essas mulheres? A coração de gelo encantadora, e a coração de fogo gentil? Que diabos era isso afinal?

Fim do capítulo